Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 2007

PORQUÊ COMPLICAR?

0011364b

Mas, para quem insista em complicar e em mistificar, o Pedro Freire de Almeida, com a sua clareza habitual, troca por miúdos e ainda sobram uns trocos para a paz entre as consciências:

 

De todas as razões para se votar NÃO no referendo de Domingo, o argumento da vida humana no útero da mulher grávida merece toda a atenção. Recorrendo a argumentação científica, às ecografias e outro material, tudo demonstra que ali está um ser humano em formação, antes e depois das dez semanas.
Demonstrado isto, passa-se à argumentação sobre a impossibilidade legal de atentar contra a vida humana e ao primado do direito à existência do filho-no-ventre sobre a vontade da mãe.

É óbvio que se trata duma vida, vida humana…que mais poderá ser?! Embora não haja consenso científico sobre as consequências a retirar daí. A polémica complica-se com a questão do “ser” humano (abrindo portas à abordagem filosófica, não menos inconclusiva) e ao seu estatuto jurídico (refém do argumentário científico-filosófico escolhido).

A meu ver, a decisão em interromper uma gravidez torna-se mais difícil e dolorosa perante toda a informação, cada vez melhor documentada visualmente, que está disponível em todo o lado. Independentemente de se falar num ser humano-criança-filho ou num embrião sem autonomia, sem consciência, sem sensibilidade.

Para a mulher do início do sec.XXI será mais difícil decidir por um aborto, tendo a imagem duma ecografia diante dos olhos, do que a uma mulher dos inícios do sec.XX com a imagem dum anjinho na cabeça.

Este é um drama existencial profundo que nenhuma legislação poderá resolver. Mas há legislação que agrava as consequências duma decisão. É ao nível das consequências que a pergunta do referendo se situa.

O que se propõe é decidir se, até às dez semanas, a mulher grávida tem autonomia para optar ou não.

Votando SIM, não se está a encorajar o aborto (ninguém é a favor de políticas abortivas), não se encerra o debate sobre o que é posto em causa em cada aborto (ninguém nega que existe um dilema moral), não se prejudicam iniciativas de incentivo à natalidade, com apoios à maternidade e às crianças (toda a gente concorda).

Se tiver tranquilidade para ponderar uma decisão, a mulher em dúvida poderá optar em consciência. Nas circunstâncias actuais, essa tranquilidade é prejudicada pela ansiedade permanente sobre o onde/quando/como/com que meios, além do temor pelas consequências à sua saúde e perante a justiça. A ansiedade mais depressa conduz a uma decisão precipitada, mal pensada. As dificuldades para encontrar uma "solução" roubam tempo à reflexão. A consciência do ilícito aumenta o isolamento e torna complicado o aconselhamento pessoal e profissional. A incerteza é o terror.

Ganhando o SIM, a mulher que coloca em dúvida continuar sua gravidez poderá concentrar suas energias naquilo que realmente interessa. Se houverem serviços públicos e privados para sua orientação, instituições de apoio à maternidade onde se possa informar, é óptimo que ela se sinta livre para os consultar.

E se decidir interromper a gravidez, é bom que o possa fazer em segurança.

Publicado por João Tunes às 17:56
Link do post | Comentar

j.tunes@sapo.pt


. 4 seguidores

Pesquisar neste blog

Maio 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

Nas cavernas da arqueolog...

O eterno Rossellini.

Um esforço desamparado

Pelas entranhas pútridas ...

O hino

Sartre & Beauvoir, Beauvo...

Os últimos anos de Sartre...

Muito talento em obra pós...

Feminismo e livros

Viajando pela agonia do c...

Arquivos

Maio 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Junho 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Junho 2012

Maio 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

Fevereiro 2004

Links:

blogs SAPO