Quarta-feira, 30 de Março de 2011

Entende-se a indignação do venerando Vasco Lourenço sobre a anunciada falha comemorativista do 25 de Abril neste ano e na Assembleia da República. E este entendimento tem a ver com a compreensão necessária acerca da importância do simbólico. E da sua ritualização, é claro. Que, para os militares do MFA ainda vivos, são aspectos que, naturalmente, ocupam grossa dimensão na sua prática de gratificação pela memória. E, no entanto, bem vistas as coisas, o fim das solenidades parlamentares sobre o golpe militar de derrube da ditadura não será muito mais que a abolição de um acto revivalista, esforçado mas forçado. E que, para mais, seria inevitavelmente pontuado por mais um discurso à nação de sua excelência cavaquista, sem cravo na lapela nem cheiro dele no nariz e muito menos na consciência. Mas o que talvez devesse incomodar mais Vasco Lourenço é que já quase não há partido ou sindicato, colectividade, associação, manifestação, concentração ou ajuntamento espontâneo, blogue ou página do facebook, que clame (sequer) pela "defesa das conquistas de Abril", a maioria das quais foram murchando e sem darem lugar a mais e melhor, como a boa dialéctica assim o exigia. Devido à força do sentido das realidades e porque o "comemorar Abril" foi sendo cada vez mais uma romagem de saudades do que projecto renovado para alargar as liberdades. O que representa, politicamente falando e quanto à revisitação do 25 de Abril, que já se foram muitos dos dedos e quase todos os anéis. Vire-se de página, então. Porque a nostalgia de olhar para trás também cansa.
Terça-feira, 29 de Março de 2011

Sócrates consegue até o impensável. Que também é este cavalheiro ser ainda mais insuportável quando a caminho da oposição do que, antes, em governação contente e insensível. A forma como hoje convocou a comunicação social para celebrar más notícias na economia e nas finanças públicas, espetando dedos à responsabilidade das oposições, é prova disso. O salto de optimista de propaganda infantilizada para a pele do pessimista exaltado com bode expiatório pela trela, foi o passo agora dado por Sócrates, o da descida à náusea, a nossa.
Terça-feira, 15 de Março de 2011
Parece um comunicado da Autoridade da Segurança e Ordem Pública mas não, é sobre um comunicado dos bispos:"Apraz-nos verificar que estas (...) centenas de milhares de pessoas em todo o país se manifestaram de uma maneira muito ordeira, muito pacífica", afirmou o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Morujão, em Fátima, onde hoje reuniu o seu Conselho Permanente.
Para Manuel Morujão, "o povo português, mesmo descontente, mesmo que se sinta à rasca, como assim chamaram esta geração, sabe portar-se com dignidade".
Segunda-feira, 14 de Março de 2011
Em certo sentido, sim, terão razão os que comparam como de mais parecido com a manif de 12M a que foi única e irrepetível no 1º de Maio de 1974. Não em termos de número, pois agora a enxurrada de gente não desaguou tão tranversalmente como a mãe de todas as manifes, embora gozasse do privilégio de ter "descido" no protagonismo de faixas etárias. E o mais parecido, numa espécie de retorno, foi a componente caótica, o amadorismo e a espontaneidade. Passados trinta e sete anos, festejando e reivindicando coisas diferentes, desfilou-se pelas ruas sem o enquadramento profissional das cliques dos serviços de ordem e de propaganda dos bolcheviques de turno. O que não impediu que os funcionários da política e dos partidos, gente da que menos está à rasca, não tenham andado por lá, só que tiveram de experimentar o sabor da desorganização, inimiga da manipulação eficaz. E se gostaram é porque lhes fez bem. E, assim, talvez os burocratas apparatchicks das bandas e das marchas se tornem mais paisanos nas suas próximas actuações.
Sexta-feira, 11 de Março de 2011
Reconheça-se que devemos a Sócrates a teimosia de resistir à intromissão mandante do FMI. E tão determinado está nessa missão (patriótica de esquerda) que se dispõe a adoptar todas as medidas que o FMI tomaria. Eventualmente mais algumas, como bónus para brilho de zelo.
Terça-feira, 8 de Março de 2011

Rasca ou à rasca, uma boa contestação merece o melhor, incluindo boa música. Caso contrário, nivela-se como pechibeque do saudosismo abrilista.
Infelizmente:
- A canção “emblemática” dos Deolinda é o pior trabalho musical apresentado por este simpático e talentoso grupo.
- Os “lutadores festivaleiros” estão na miséria lupen do espectáculo e daí não saem.
Domingo, 6 de Março de 2011
Quinta-feira, 3 de Março de 2011