Um texto agudo de Juan Cruz em balanço sobre os previsíveis 53 anos (!) de poder dos Castro em Cuba:
Cambio de viento en Cuba, parece. Pero de eso no iba a hablar; iba a hablar de un extraño record, el de la permanencia de la familia Castro en el poder; el mayor de los Castro dirige los destinos de la isla desde el 1 de enero de 1959, ininterrumpidamente. Desde hace unos años su hermano lleva las riendas, al menos aparentemente, aunque atendiendo sin duda el aliento al parecer omnisciente del pariente de mayor edad. Es extraño, tanto tiempo creyendo imprescindible su propia opinión, sus propias decisiones, su propia estima sobre la hacienda pública y sobre las personas que la revolución puso a su mando. Es extraño, además, que durante años (y aún ahora, sin duda) a muchos nos pareciera bien, que consideráramos que, en aras de la revolución, era bueno que lo inaceptable entre nosotros (el gobierno omnímodo de un hombre sobre los demás hombres) nos resultara perfectamente adecuado para los cubanos; que nos pareciera bien acusar de reaccionarios a los que nos contradijeran en nuestra manera de verlo: el mejor gobierno de Cuba es aquel que conduce Fidel. Fuimos guevaristas, fuimos fidelistas, fuimos procubanos, en el sentido de que éramos procubanos de la Cuba mandada por Fidel; la otra Cuba era la Cuba que no estaba en Cuba, o que al menos no merecía estarlo. A lo largo de la historia ha habido quiebras en esas vocaciones, y algunos, ay, las hemos perdido. En un tiempo perderlas, quebrarlas, era signo de debilidad y de impureza; eso ha cambiado a lo largo del tiempo, no ha habido manera de aguantar ese pantano sin que se derramara el agua empozada que contenía. Pero esto ya es política, o ética. Yo hablaba de otra cosa, de esa extraña apropiación del poder por parte de un apellido, quería hablar del poder de una familia, o de un jefe de familia, para atribuirse el mando como algo propio. Y no sólo del poder político, grande, enorme, el poder sobre los otros. Ni siquiera en el poder chiquito conozco una tan larga permanencia al mando. No tengo en la memoria ninguna esfera de la vida en la que un solo hombre lleve durante más de medio siglo los destinos de una sociedad, de una tienda, de una firma, a lo largo de más de medio siglo sin otra interrupción que la que él mismo administrara. Dudo que aquellos logros que muchos de nosotros defendimos a favor de la Cuba de los Castro (la educación, la medicina, etcétera) sirvan como datos suficientes para recordar ya como positivo tan largo periodo, pero todo este tiempo quizá sirva, me parece, para anotar a favor de esta familia un record mundial. Es triste que tanta historia se traduzca tan solo en un record, pero así son las cosas, a lo mejor lo que en algún momento se propuso Fidel fue cumplir años en el poder para poder exhibir un día el dudoso record que ahora ostenta. 53 años mandando. No está mal, estando, por cierto, bastante mal.
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VGM no DN. Ou toda uma revelação do que pensa a tropa fandanga e trauliteira acolhida nas fraldas das vestes presidenciais de Cavaco:
Cavaco Silva não se desviou um milímetro do quadro de actuação que tinha traçado em 2005 e, só por isso, o País devia estar-lhe grato e reflectir em que a parte mais funda do icebergue das relações entre o Presidente e o Governo nunca ficou à vista. Não custa nada imaginar a quantidade de vezes em que, sem que nada transparecesse em público, o desastroso Sócrates terá sido chamado à pedra por um Presidente que sabe muito bem analisar factos e situações e que certamente detesta ser mal informado. Também não custa perceber que, se Portugal ainda não teve um lindo enterro, isso se deve à magistratura de influência e à intervenção moderadora de Cavaco Silva. É de supor que ele tenha levado o Governo a emendar sucessivos dislates e também que a este tenha travado as veleidades aldrabonas sempre que isso lhe foi constitucionalmente possível.
No seu primeiro mandato, Cavaco Silva soube ser realmente o presidente de todos os portugueses, mesmo daqueles que não o mereciam como Presidente. À sombra de uma Constituição que não presta para nada mas que ele jurou guardar, exerceu o seu mandato com a prudência, a sensatez e o rigor que o caracterizam.
Nota: É claro que quanto à "cavacada BPN", VGM disse nada.
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Os últimos ataques repetidos e repetitivos de Cavaco Silva acerca do BPN, disparando sobre a sua actual comissão liquidatária, são um desconchavo face às obrigações presidenciais em termos de descrição e decoro. Mas confirmam o péssimo carácter do sujeito que se manifesta escancarado quando é apanhado nas suas falhas, ignorâncias, contradições e sindicalizações de interesses. E demonstra que, a par de Sócrates, Cavaco Silva é o mais profissionalizado dos políticos em exercício (mais que Francisco Lopes, o protótipo acabado do sujeito robotizado pela funcionalização partidária levada ao extremo), com um staff evidenciando capacidade de suprir as suas falhas de talento.
Dêem-se as voltas que se derem, incluindo o consabido truque da vitimização pelos ataques à honra, o BPN (e a tão esquecida e associada SLN) é a grande espinha na garganta de Cavaco, capaz de esfarelar o mito atrás do qual a personagem esconde a nudez da sua vacuidade cultural, ideológica e política. Porque as fortes ligações (por antigos interesses próprios e porque parte dos criminosos da fraude faziam parte do seu séquito) de Cavaco ao BPN/SLN liquidam a ideia de identificação (salazarenta mas eleitoralmente vendável) entre os “homens das finanças” e a honestidade a toda a prova. E é esta evidência, eleitoralmente mortífera, que Cavaco e o seu staff querem evitar, pois perderiam o grande trunfo que colocava o eleitorado no sossego do respeitinho que asseguraria uma campanha-passeio para a reeleição tranquila. Assim, a tentativa de desviar as atenções, a discussão e as notícias sobre o BPN/SLN para a sua actual gestão (apanhando de tabela o governo e a Caixa), mesmo salpicando alguns dos “seus homens”, evita que se discutam as partes do essencial: a fraude do BPN/SLN, o envolvimento nela de uma parte do séquito de Cavaco Silva, os antigos interesses pessoais de Cavaco e da sua família que foram em tempo acarinhados através da espiral especulativa construída naquele pólo bancário e empresarial.
A forma voluntarista como Cavaco Silva está a contra-atacar no caso BPN/SLN seria automaticamente periclitante para as suas ambições políticas se não fosse artilhada perante um eleitorado redondamente ensonado. Assim, como a míngua e a desesperança baixam a ambição e a exigência, talvez Cavaco se safe. Veremos.
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Manuel António Pina, no JN:
Quando digo (e digo-o vezes q.b.) que o jornalismo é a mais antiga profissão do mundo e me observam "A mais antiga não é a outra?", costumo responder: "Sim, é a outra, isto é, a mesma".
(…)
Nos últimos dias foi, primeiro, a falsa notícia da SIC sobre os "aumentos" de dirigentes da Segurança Social, que os demais media repetiram sem se darem ao trabalho de confirmar. Ontem foi a manchete do "i" sobre as conclusões de "despesismo injustificado" de uma auditoria do TC ao Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH) que foi, do mesmo modo, repetida acriticamente por tudo quanto é media, da RTP à RR e do "Público" a "A Bola" e, do mesmo modo, sem ninguém descobrir que tal relatório, se bem que só agora disponibilizado, tem mais de meio ano, refere-se a 2007/2008 e foi uma das razões, em Junho, da demissão da presidente do Conselho de Administração do SUCH.
O jornalismo pela-se por más notícias. Mas não há más notícias que cheguem. Por isso é preciso inventá-las ou ir à procura delas ao sótão.
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La culpa de que sacerdotes abusen sexualmente de menores no la tienen ellos, sino la sociedad. Así opina el nuevo arzobispo secretario de la Congregación para el Clero, Celso Morga, que lejos de condenar los casos de pederastia en el seno de la Iglesia, los ha achacado a la la crisis moral de toda la sociedad occidental.
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Óscar Mascarenhas, no JN:
Existe uma senhora que canta fados e que, na sua inteira liberdade, decidiu apoiar a candidatura de Cavaco a Belém há cinco anos. Nada a dizer, gostos não se discutem.
Cavaco fê-la mandatária juvenil da sua candidatura. 'Nihil obstat.' Os candidatos escolhem mandatários, numa troca de honrarias: sente-se incensado o representado, ungido se sente o mandatado. É bonito.
Mas esta doce sinfonia de elegâncias e reverências é desafinada pelos ferrinhos do tinir de maravedis e dobrões que, neste caso, se ouve, quando se abre a celebérrima «página oficial» de Sua Excelência na Internet. Digitando o nome da fadista, ele aparece-nos DEZ vezes em outros tantos concertos «oferecidos» pela Presidência, na Índia, na Turquia, ou mesmo no sabe-se lá onde é Viana do Castelo!
A entusiasmada mandatária juvenil é, agora, paga pela Presidência para encantar convivas com a sua bonita voz e assustá-los com o seu desmedido contorcionismo de esgares de parto (é a minha opinião, a que também tenho direito!).
O assim-chamado «presidente de todos os portugueses» não é, pelo menos, de «todos os fadistas»: tem a sua favorita, a sua Salomé que, não recebendo cabeças em bandeja, se contenta com um simpático cheque.
Maravilhoso exemplo para a juventude sonhadora e idealista: apoia aquele, que ficas logo a ganhar! Faz pela vida, pá! É o toque de Midas de Cavaco: apareça quem tenha ficado mais pobre depois de o ter servido.
Nascer duas vezes... Vamos a isso! Não é tarde para integrarmos uma promissora Jota Cavaquista, que vêm aí mais cinco anos de prebendas. Nasçamos segunda vez para este horizonte de tilintante venalidade!
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Já tinha decidido que não dava mais prémios blogueiros, interrompendo, se fosse caso, todas as “correntes” que me calhassem e mais algumas. Como toda a regra tem excepção, abro já o primeiro rombo no prometido: o Prémio Pasternak 2010/2011 vai para o Rui Bebiano que ganhou um Blogo-Óscar atribuído pelos teleouvintes da TVI. Porquê? Porque além de o Rui ser um blogger requintado deu-se ao luxo de repudiar com olímpico e merecido desprezo anti-chapelada uma distinção que alguns se esforçaram por lhe estragar a eventual piada. É isso, a palermice deve matar-se à nascença. Como o fez Pasternak que, em tempos idos, não embarcou na manobra imperialista e antisoviética de lhe atribuírem um Nobel traiçoeiro, recusando-o com uma firmeza militante idêntica àquela com que Chico Lopes irá jurar cumprir e fazer cumprir a Constituição.
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Alberto Gonçalves, no DN:
O eng. Sócrates detecta sinais de recuperação económica em Portugal. O eng. Sócrates sabe que a crise é internacional e a maior das últimas oito décadas. Apesar da crise, o eng. Sócrates encontra-se optimista. O eng. Sócrates não recua perante as adversidades. O eng. Sócrates possui energia interior. O eng. Sócrates aposta nas energias renováveis. O eng. Sócrates mudou o país. O eng. Sócrates é fanático da educação. O eng. Sócrates é reformista. O eng. Sócrates é nosso amigo. O eng. Sócrates é solidário. O eng. Sócrates é confiante. O eng. Sócrates é responsável. O eng. Sócrates é exigente. O eng. Sócrates é consciente.
Esta torrente de banalidades, anedotas, delírios, alívios, sentimentalismo e descaramento foi emitida no dia 25 de Dezembro, mas podia tê-lo sido na semana, no mês ou no ano anterior. A bem dizer, desde 2008 que, na época natalícia ou na época que calha, o homem não diz coisa diferente. E embora, como os sequestrados que levantam o jornal do dia para confirmar a data da fotografia, o eng. Sócrates tenha mencionado pormenores e proezas recentes, isso qualquer truque de montagem explica.
Truques à parte, eis um mistério: por um lado, o carácter intemporal e absurdo das proclamações do eng. Sócrates sugere que ele já não partilha a realidade connosco; por outro, o estado calamitoso dessa realidade sugere que ele não deve andar longe. As ruínas que ele não parece habitar exibem a sua marca inconfundível. Se o eng. Sócrates não existe, terá de ser imaginado.
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Manuel António Pina, no JN:
(…) em Portugal, no Ano Europeu do Combate à Pobreza, o risco de pobreza, em vez de diminuir, aumentou de 18 para 23%, atingindo sobretudo os mais vulneráveis, crianças, jovens e velhos . E que, em contrapartida, os nossos ricos enriqueceram ainda mais, ocupando agora Portugal (onde os 20% mais ricos auferem rendimentos 6 vezes mais altos do que os 20% mais pobres) o 2º lugar no ignóbil pódio europeu da desigualdade, só ultrapassado pela Letónia e ex-aequo com a Roménia e a Bulgária.
Eram objectivos Ano Europeu do Combate à Pobreza, com que os governos europeus se comprometeram, o reconhecimento do direito a uma vida digna dos que vivem em pobreza e o "empenho politico e acções concretas para erradicar a pobreza". Em Portugal, tal "empenho" traduziu-se em políticas anti-crise assentes quase exclusivamente em cortes nos apoios sociais e no desmantelamento do modelo de Estado Social. Por imposição da mesma Europa...
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