
Uma aberração promete sempre reproduzir-se: 1) O partido do ditador deposto da Tunísia (o RCD) era membro efectivo da Internacional Socialista; 2) Fugido o ditador, repudiado o regime e o partido do poder, este foi expeditamente expulso da Internacional Socialista. Caso para dizer: escolhem mal os camaradas mas são rápidos a repudiá-los depois destes caírem em desgraça. (notícia aqui)
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Manuel António Pina, no JN:
"Pensem bem o que significa alhear, deixar àqueles que são mais medíocres, àqueles que têm menos conhecimentos e capacidades, àqueles que são menos sérios, o poder de decisão", alertou o professor os jovens no Português que lhe foi possível. É certo que Cavaco Silva não é propriamente o Pe. António Vieira. Não precisava, contudo, de ter espoliado o pobre "alhear" do complemento directo e/ou do pronome. E, pensando bem, talvez aquele "pensem bem" estivesse a pedir uma preposição, nunca se sabe...
Mas se a gramática de Cavaco Silva dava um "Prós & Contras", a sua semântica e a sua humildade davam dois.
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Óscar Mascarenhas, no JN:
É visível que as muitas dúvidas que têm sido levantadas acerca dos negócios de Cavaco Silva o deixaram de asa ferida e este choro sobre a reforma da mulher é o contra-ataque aos que lhe movem a «campanha suja». Mas contra-ataque vesgo e bisonho que não o deixa mais limpo, pelo contrário.
É pequena a reforma da senhora professora? Há três explicações para isso: ou os professores ganham muito mal - o que não consta; ou a senhora não trabalhou, afinal, «a vida inteira» e está a receber uma fracção proporcional ao tempo de serviço efectivo; ou o cálculo das pensões é um roubo ao trabalhador - coisa que nunca se ouviu Cavaco Silva denunciar em dez anos de primeiro-ministro e cinco de Presidente - mas não percamos a esperança, que ainda falta uma semana de campanha onde vale tudo, até promulgar os cortes salariais de Função Pública e sair à rua a clamar que é uma injustiça, que muitos ricos ficaram de fora!
Como pode um candidato-presidente, perante uma modesta velhinha que teve a infeliz ingenuidade de lhe pedir ajuda na rua, queixar-se de que a mulher tem uma reforma pequenina - e que tem de ser sustentada por si, porque «merece»? Quantas piscinas municipais de chá precisa um homem destes de beber antes de ser digno do lugar que ocupa?
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Rui Bebiano, com a lucidez da azia crítica (que partilho):
Não me posso refugiar em esquisitices pessoais, não me posso abster, quando, para além de Manuel Alegre, não existe alternativa capaz de impedir que por mais cinco anos tenhamos de conviver diariamente com a cabeça rústica mas perigosa daquele senhor esguio, azedo e de direita.
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"Esta ha sido la revolución de Facebook", reconoce Tarek Chaabouni, uno de los dos únicos diputados que el partido de oposición Ettajdid tiene en el Parlamento nacional. Los hechos le corroboran: frente a unos medios de comunicación clásicos sometidos a la propaganda oficial, las redes sociales, los blogs y las webs críticas han sido el canal utilizado por los tunecinos para informarse y denunciar los abusos del régimen desde el inicio de las protestas, el 17 de diciembre.
Páginas web como Nawaat, cuya vocación declarada es contrarrestar la propaganda de las autoridades, han sido claves en la denuncia de las muertes de manifestantes a manos de la policía. Cuando el Gobierno tunecino reconocía sólo tres muertos, los vídeos, los testimonios de los familiares y las fotos de los heridos que difundía este sitio contribuyeron a que las autoridades tuvieran que reconocer que las víctimas eran muchas más.
Uno de los manifestantes que el viernes gritaba contra el ahora ex presidente frente al Ministerio del Interior resumía: "internet es demasiado grande para que Ben Alí lo censure". No será porque no lo haya intentado. Túnez ha dedicado ingentes recursos materiales para proveerse de filtros de contenidos como Websence y Smartfilter para impedir el acceso a determinadas páginas. En la nación magrebí existe un cuerpo de ciberpolicías dedicado a tal menester.
Si internet resultaba difícil de censurar, en el caso de redes sociales como Facebook ha sido casi imposible. Y ello porque aunque cerrar un perfil concreto es fácil, los vídeos que su titular haya compartido con sus contactos siguen siendo accesibles para estos. Así, miles de tunecinos, sobre todo jóvenes convertidos al periodismo ciudadano, se han dedicado en el último mes a colgar vídeos hechos con teléfonos móviles.
Lina Ben Mhenni, es una bloguera de 27 años. Su blog A Tunisian Girl , ha sido regularmente censurado durante dos años , una situación que "acabó hace dos o tres días".
Para esta profesora de lingüística, "las redes sociales han tenido un gran papel en esta revolución y ello ha sido posible porque, en mi país, existe ya una cultura de este tipo de medio de comunicación". Los datos avalan su afirmación: Túnez tiene la tasa de conectividad a internet más alta del norte de África, con un 4,12% de los hogares, según datos del ministerio de Comunicación. De los poco más de diez millones de habitantes, casi tres millones son internautas habituales.
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Para os que conhecem a Tunísia e podem comparar a sociedade daquele país com as dos restantes países árabes (mesmo que este conhecimento seja obtido através do turismo), pese embora a dura ditadura de Ben Ali que parecia querer igualar o diferente, não terão estranhado que “ali”, na conquista popular das ruas, algo de diferente se passava pois que diferente tinha de ser. O que pode surpreender os uniformistas da “política saída à rua”, cegos pela nostalgia das revoluções que cantem e limitados pela atracção descontrolada pelo cheiro a partos da história, seja em coro ou em cacofonia, muitas vezes esquecendo que das ruas não foram poucas as vezes que a barbárie subiu ao poder. E daí não se darem conta que, como explica - e bem - Juan Goytisolo, algo de novo esteve e está a passar-se em Tunes.
La revuelta de Túnez es la primera revolución democrática de los países árabes desde su acceso a la independencia. Las que se produjeron con anterioridad fueron fruto de golpes de Estado, a veces con amplio apoyo popular como fue el caso de la de Naser en Egipto y, más a menudo sin él, como en Irak en 1958 y Libia en 1969. Las aspiraciones democráticas de los líderes independentistas argelinos sucumbieron pronto, como sabemos, a la dictadura de un partido único sostenido por el Ejército. En la década de los sesenta los Gobiernos nacionalistas árabes sentaron las bases de un poder autoritario que tendía a perpetuarse en el molde de las nuevas dinastías republicanas (las de Sadam Husein, Hafez el Asad, Mubarak). En Marruecos, las tentativas golpistas contra Hassan II mostraban también que la alternativa a la monarquía alauí era una dictadura militar, como lo sería más tarde un régimen islamista, esto es, remedios peores que la enfermedad. La falta de educación cívica de los pueblos para los que la democracia era una palabra hueca importada de Europa explica las derivas autócratas de los regímenes árabes y el fracaso de revueltas populares como las de Casablanca en 1965 y 1980. El declive del nacionalismo y el auge del islam político fueron las causas asimismo de la sangrienta guerra civil que sacudió a Argelia en la década de los noventa.
No se puede pedir lo que se ignora. La democracia exige un conocimiento previo de los valores laicos que la alimentan. Y dicho conocimiento no existe en ningún país árabe con la profundidad y arraigo que tienen en Túnez. El Gobierno de Burguiba desde la independencia hasta los años ochenta sentó las bases de un Estado laico y democrático. Un sistema educativo abierto a los principios y valores del mundo moderno, el estatus de la mujer incomparablemente superior al de los países vecinos y un nivel de vida aceptable en comparación con estos, pese a la carencia del maná del petróleo, formaron una ciudadanía consciente de sus derechos. En ello estriba la diferencia existente entre Túnez y los demás Estados árabes de la orilla sur del Mediterráneo.
El declive del poder de Burguiba y el golpe de palacio de Ben Ali, llevado supuestamente a cabo para preservar la democracia se tradujeron al punto en una pesadilla orwelliana. Con el pretexto de cohabitar a la amenaza islamista y ganarse así el sostén incondicional de los países europeos, Ben Ali creó poco a poco un Estado policiaco cuyas redes se extendieron como una telaraña en el conjunto de la sociedad. Toda oposición política fue barrida sin piedad con métodos que recuerdan el peor despotismo.
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Quando do seu anúncio, mereceu-me estranheza que a solenidade do programa “grande entrevista” liderado por uma eminência jornalística (Judite de Sousa) fosse canalizada para tratar de um crime cometido em Nova Iorque, mesmo sendo portugueses o agressor (e presumido/confesso homicida) e a vítima. Embora o convite dirigido a um eminente psiquiatra (Carlos Amaral Dias) moderasse o espanto pois o recurso a uma autoridade académica prenunciava certificação de seriedade no tratamento do tema. Equilibrado o espanto com a certificação de qualidade, abri-me a receber e perceber ao que ali se vinha.
Voltei ao espanto quando findo o programa. A jornalista de topo e o psiquiatra eminente conseguiram o previamente inimaginável no tratamento de um crime (crime de violência inaudita, sublinhe-se): trataram do agressor (explicando-o, contextualizando-o, quase o desculpando) e esqueceram em absoluto a vítima. Carlos Castro, o silenciado, a vítima, o assassinado, o do cadáver mutilado, não existiu naquele crime, senão enquanto elemento reflexo e causador de problemas e danos no agressor. Provavelmente, Carlos Castro foi evitado para ser poupado a diagnósticos desabonatórios. Infelizmente, pois estes interessavam ser revelados e muito. Ou seja, assistir-se a que duas personalidades públicas (a jornalista de topo e o psiquiatra de referência) dissessem, com saber sofisticado, cada qual em sua função, o que o senso comum na opinião dominante já decidiu em tomada de partido: o agressor foi vítima, triplamente vítima: da sociedade (nos seus apelos ao sucesso, à fama), das suas debilidades de personalidade e eventuais desvios psicóticos e ainda vítima da vítima (conspurcado que foi pelo “velho, porco e homossexual Carlos Castro”). E na poupança das referências à vítima, entrevistadora e entrevistado até ocultaram o dado essencial que deu o pano de fundo aos acontecimentos: fazendo fé nas teorias pró-agressor, este foi na época antecedente do crime um prostituto (eventualmente, prostituindo a sua heterossexualidade) e, pelo acontecido, um prostituto virado arrependido, insuportavelmente arrependido, violentamente arrependido, um arrependido homicida e profanador de corpos rejeitados. Com o preço de uma vítima, uma pessoa assassinada (com requintes de malvadez).
Este caso mostrou e mostra que a legislação, em Portugal, vai muito à frente da consciência social e cultural. A sociedade portuguesa, pesem as leis de evolução dos costumes, é profundamente conservadora (salazarenta em modalidade cavaquista) e, nos seus atavismos, particularmente homofóbica. Como manda a tradição. Ou seja, a sociedade é, culturalmente, muito mais cavaquista, incluindo em parte importante da esquerda, que aquilo que a esquerda pensa. E, perante isto, um homossexual, mesmo que assassinado, barbaramente assassinado, não pode esperar compaixão, respeito, indignação. Porque o afecto colectivo, a solidariedade de valores, desloca-se inteirinho, no caso, mesmo no caso deste crime horrível, para o agressor, o jovem, bonito, ambicioso, ingénuo/provinciano, transitoriamente equivocado sobre as suas preferências sexuais. Muitos atributos para disputarem inclinações públicas e afectivas relapsas a inclinarem-se para um homossexual, idoso, mesmo que ingenuamente convencido da paixão de um prostituto. Obviamente que Carlos Amaral Dias não partilha da onda homofóbica que se instalou por quase tudo quanto é sítio, o que seria feio em psiquiatra com fama académica. E tanto é assim que cuidou de avisar, apesar de nunca se ter referido a Carlos Castro, num despropopósito revelador, que nada o movia contra a homossexualidade. Exactamente o mesmo que declara, em abstracto, a larga maioria dos homofóbicos.
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Manuel Maria Carrilho, no DN:
Olhando agora para o desperdício de tempo e de oportunidades dos últimos anos, o Tratado de Lisboa aparece como uma boa ilustração dos equívocos em que se tem vivido. Vale a pena reler a abundância de declarações então feitas sobre o seu extraordinário significado, e compará-las com as suas insignificantes consequências. Vale a pena rever as caríssimas encenações que então se multiplicaram para glorificar um acordo que repetidamente se apresentava como "histórico" para o futuro da Europa, e confrontar toda essa tagarelice com os impasses em dominó que, justamente desde então, têm bloqueado a União Europeia.
E isto aconteceu muito simplesmente porque o Tratado de Lisboa passou completamente ao lado do grande problema da Europa, que era e continua a ser o do enorme desajuste entre as suas instituições e aquilo que hoje se exige de uma economia integrada. A tarefa era certamente muito difícil, mas era essa a tarefa que era decisivo assumir. Ignorá-la, como o Tratado de Lisboa acabou por fazer, só podia ter estas consequências.
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Vasco Graça Moura, um cavaquista de canil, traça o cenário em que gostaria de testar as capacidades presidenciais de Cavaco. Por aqui se vê o perfil da dentadura cavaquista:
Portugal está numa situação de falência iminente. Não sabemos o que é que amanhã pode acontecer. E se, um destes dias, o cidadão comum não puder levantar o dinheiro que depositou na banca, seja ela pública ou privada? E se, de repente, deixar de haver dinheiro para o pagamento das pensões e dos salários? O que é que, nesse caso, o PR pode exigir ao Governo? O que é que faria Cavaco Silva? O que é que faria qualquer dos outros?
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OS MEUS BLOGS ANTERIORES:
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