O debate que tem vindo a ser travado, no seio do PS de Coimbra, com transvase para a opinião pública, tem sido muito útil. De facto, ambos os lados da contenda têm expressado com clareza o que pensam sobre a actual conjuntura política, o que os aproxima e o que os separa na avaliação do modo como o Partido tem sido conduzido nos últimos anos.
Particularmente elucidativa, tem sido a diferença que se tem verificado existir pelas ideias que cada um dos lados tem manifestado, quer a propósito da actual fase da vida da União Europeia, quer a propósito do que parece ser uma crise da Internacional Socialista na Europa.
Especialmente interessante foi também a troca de ideias entre as duas partes a propósito da crescem afirmação da economia social no nosso país. E foi quase comovente o apoio caloroso que ambas as partes deram ao projecto de revisão constitucional do PS, que criteriosamente elogiaram.
Por isso, os militantes estão satisfeitos, os eleitores socialistas estão satisfeitos, o povo de esquerda em geral, está confortado com o modo como o PS de Coimbra tem, nestes últimos dias, evidenciado na praça pública a sua grande vitalidade político-ideológica.
De facto, tem-se assistido a um vivo debate de ideias em que cada uma das partes, não escondendo diferenças, soube sempre ouvir com atenção o outro lado, sem que isso significasse renúncia a ser ela própria.
Se conseguirmos manter o nível de debate político dos últimos dias, tendo especialmente em conta o interesse dos temas discutidos, podemos confiar num apoio crescente do povo do distrito de Coimbra às nossas ideias e às nossas propostas.
Não duvidemos: seja qual for o resultado nacional das próximas eleições legislativas, sejam elas quando forem, por este andar, no círculo eleitoral de Coimbra, se não elegermos os deputados todos, seguramente que andaremos lá perto.
(no blogue de Rui Namorado)
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Lapsus: Hortefeux parle d'empreintes... "génitales"
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Vai ser interessante saber-se qual o efeito sobre a população berlinense da exposição hoje iniciada sobre Hitler instalada no Museu Histórico Alemão em Berlim. Exibindo muita da simbologia nazi, a exposição pretende colocar aos visitantes a interrogação sobre como foi possível que o monstro nazi tivesse alcançado uma adesão e um empenho como aquele que obteve em praticamente toda a sociedade alemão dos anos 30 e 40 do século passado. Após 65 anos da derrota do nazi-fascismo, reduzida a peste neo-nazi a resíduos grupusculares, poder-se-á ser tentado a dizer que sim, passou tempo suficiente para a distância, tendo até um efeito terapêutico e de catarse colocar-se os alemães a olharem retroactivamente para as vergonhas do seu passado. Mas este género de se lidar com a memória comporta sempre o risco de se avivarem feridas e algumas reacções desagradadas de pessoas que foram vítimas do Holocausto ou delas descendem é um sinal de como estas iniciativas arrastam inevitavelmente a controvérsia. Um caso para acompanhar, pois.
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Habituados aos dogmas e a furtarem-se ou contornarem o contraditório, os hierarcas católicos, não perdendo o gosto pelos juízos decretados, perante opiniões públicas menos reverentes, resvalam com facilidade para o ridículo e quanto mais pregam mais se enterram. Agora foi o arcebispo belga André-Joseph Leonard que catalogou a sida e o cancro como expressões de justiças castigadoras.
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Não é fácil que uma força dominante instalada proveitosamente em regimes tirânicos, como foi o caso do catolicismo europeu e latino-americano nos fascismos de cariz do nacionalismo clerical, aceite o fim dos privilégios e predomínios. Sempre que pode, e pode muitas e demasiadas vezes, a Igreja Católica, pelo menos em Espanha e em Portugal, gosta de se comportar como se estivesse sentada sobre “povos católicos” com estes a deverem-lhe obediência decorrente de predomínio e tentando adiar ao máximo todos os avanços e traduções da laicidade, mesmo quando esta está consagrada na lei. E, como últimos redutos, confiam no efeito dos movimentos de inércia social e cultural, entranhados nos usos e costumes, que lhes continuam a permitir, como exemplos, o prolongamento das capelanias católicas (nas prisões, nas forças de segurança, nas forças armadas) e o predomínio nos rituais associados aos acontecimentos sociais, como sejam baptizados, casamentos e funerais.
Um bom exemplo da dificuldade que um não crente tem em contornar os rituais catolicizantes que armam os mecanismos de absolutização do predomínio ideológico clerical, é-nos contado num artigo do jornal espanhol “Público” acerca da saga da cidadã Camélia Casas para enterrar a sua avó comunista e ateia Teresa Morán Tudó, no passado mês em Corunha, sem ter crucifixos a acompanhar-lhe a descida à terra como era sua vontade (a defunta só queria como companhias na descida à última morada, a bandeira do seu partido, o PCE, e uma coroa de flores dos seus camaradas de partido). Pode parecer fácil, numa sociedade oficialmente laica, deixar-se testamentado que se quer um funeral ao modo das suas convicções, sem cruzes católicas nem outros símbolos religiosos. Leia-se este artigo e confirme-se como o sistema catolicista de domínio espiritual está de tal maneira montado hereditariamente de uma forma totalitária e com margem de escape difícil e improvável (a que, no caso, nem a notícia necrológica no insuspeito “El País” escapou, encimada que foi da fatal cruzinha católica).
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A libertação dos mineiros no Chile é, também, um exercício de libertação desejada, da fraternidade genuína. Assistindo-se, em directo, às imagens vindas das minas de San José, comprovando-se, mais ou menos comovidamente, como o melhor se pode unir pelo bem comum que inclui os mais necessitados (no caso, os soterrados), fica a sensação, infelizmente tão escassa, de como a retórica, a propaganda, incluindo quando usadas pelos hoteleiros das utopias, gastando pelo uso imoderado as palavras da fraternidade e da solidariedade, é parte da ganga que esconde o minério das causas nobres que a humanidade é capaz de se mobilizar. A cadeia solidária que está a trazer os mineiros soterrados no Chile para respirarem a liberdade da superfície faz parte daquilo de que nos orgulhamos enquanto humanos. O suficiente para esquecer as imagens degradantes passadas ontem numa televisão (TVI 24) do desgraçado de um dirigente partidário – precisamente, o que mais fala em liberdade, fraternidade e solidariedade - que não foi capaz, entre os longos minutos em que enrolou o texto e as escapadelas, de largar uma palavra de solidariedade para com um prisioneiro político soterrado na ditadura chinesa.
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“A minha avó morreu nos anos setenta, depois de alguns meses no hospital. A minha mãe aproveitou o internamento dela para arrumar os seus armários e gavetas e deitar fora o “lixo” que continham, já que a minha avó era uma célebre coleccionadora de todo o tipo de objectos. O conteúdo do enorme armário de carvalho revelar-se-ia bastante normal (…). Já o outro armário era, de facto, um pequeno armazém ou um barco a vogar por águas desconhecidas. Estava cheio de detergentes que os anos tinham praticamente petrificado, garrafas de óleo rançoso, diversos quilos de açúcar, farinha e café (aparentemente, os produtos base da dieta familiar), algumas embalagens de chá, biscoitos, massas, latas de polpa de tomate (a Avó adorava cómoda italiana), feijões, e até um ou dois quilos de sal, embora ninguém se recordasse de ter havido falta disso. Os produtos alimentares ocupavam as prateleiras de baixo. As de cima estavam atafulhadas de objectos de todo o género: um rolo de tule branco, lãs de diferentes cores, meias de lã e de vidro novas e remendadas (algumas, creio, do tempo da II Guerra Mundial), tinta preta e castanha para o cabelo, champôs, sabões, cremes para as mãos, papel higiénico, antibióticos fora de prazo, aspirinas, insulina (embora não houvesse diabéticos na família) e diversas outras cápsulas sem rótulo, algodão em rama, e cerca de cinco ou seis embalagens de toalhetes higiénicos. Mais do que um armazém, o armário era um museu dedicado à escassez comunista.”
“Mas só ficámos verdadeiramente surpreendidas quando abrimos uma das gavetas. Aquilo era demais até mesmo para nós, tão propensas quanto ela a acumular objectos. A gaveta estava a abarrotar de sacos de plástico. (…)”
“Estou convencida de que as gavetas da minha avó explicam não apenas como sobrevivemos ao comunismo, mas também o porquê do seu fracasso. O comunismo falhou devido ao medo e à falta de confiança no futuro. É certo que as pessoas acumulavam todos estes objectos devido à pobreza – mas estamos a falar de um tipo de pobreza muito específico, uma pobreza generalizada, partilhada por toda a gente, um estado de carência e privação praticamente irremediável, pois não podia ser resolvido pelas palavras, as declarações, as promessas ou as ameaças dos políticos. Além disso, mais importante ainda, estas práticas de acumulação e reutilização constituíam uma necessidade, porque no fundo ninguém acreditava num sistema que, ao longo de mais de quarenta anos, se mostrou continuamente incapaz de satisfazer as necessidades elementares dos cidadãos. Enquanto os líderes acumulavam palavras sobre um futuro luminoso, as pessoas comuns acumulavam quilo de farinha e açúcar, frascos e copos, meias de vidro, pão duro, rolhas, cordas, pregos e sacos de plástico. Se os políticos tivessem olhado, uma vez que fosse, para dentro dos nossos guarda-fatos, caves, armários e gavetas – sem ser para confiscar livros proibidos ou propaganda subversiva -, teriam visto o futuro que estava reservado aos seus magníficos planos e ao próprio comunismo. Mas não o fizeram.”
(De: “Como Sobrevivemos ao Comunismo Sem Perder o Sentido de Humor”, Slavenka Drakulic, Edições “Pedra da Lua”)
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Dá que pensar que o livro entre nós editado e que é mais fulminante no desmontar das experiências das sociedades subjugadas ao “socialismo real”, seja um livro que, já com dois anos de edição portuguesa (a edição original é de 1991), tenha passado discretamente pelos escaparates das livrarias e seja da autoria de uma mulher. Refiro-me a “Como Sobrevivemos ao Comunismo Sem Perder o Sentido de Humor” (edições “Pedra da Lua”) da escritora, jornalista e feminista croata Slavenka Drakulic. O fraco impacto do livro terá a ver com o facto de tanto o comunismo como o anticomunismo serem causas de empenhamentos dominantemente masculinos e este libelo de desmontagem da engenharia social do marxismo-leninismo, feito por uma feminista que viveu “o comunismo por dentro” e sobretudo assente no quotidiano das pessoas comuns, ser uma excepção num universo temático dominado por ensaísmo histórico-político sobre as experiências comunistas (dito melhor: das sociedades governadas por partidos comunistas) e de autoria masculina.
Segundo Slavenka Drakulic, as sociedades do “socialismo real” desfizeram-se menos pela resistência política e ideológica ao comunismo, em que o conformismo e a repressão (com a sofisticação da transformação das sociedades em estados policiais) terão bastado para conterem os ímpetos de derrube das tiranias instaladas (fora durante as poucas erupções focalizadas na RDA, Hungria, Checoslováquia e Polónia) e mais pelo arrastamento insuportável de uma penúria assente e prolongada pelo completo desprezo pela qualidade de vida das pessoas comuns e cujo peso maior recaía sobre as mulheres. O facto de Slavenka Drakulic ter vivido na ex-Jugoslávia, o único “país socialista” onde era permitida a livre circulação para países estrangeiros, o que lhe dava o privilégio de comparar o estilos de vida nos dois sistemas, ao mesmo tempo que circulando nos “países socialistas” ia recolhendo os testemunhos dos desencantos femininos pela difusão do igualitarismo assente na penúria. E são esses testemunhos que recheiam o seu livro e o transformam numa das mais conseguidas desmontagens não só das sociedades comunistas como da extensão da mentira enquanto instrumento básico e incontornável da prática comunista. Assentes nos sofrimentos e desencantos provocados por uma penúria que era excluída da discussão pública mas que atingia, pelo arrastamento bloqueado durante décadas, o âmago da qualidade de vida dos cidadãos, como foram a espiral de acanhamentos sucessivos dos espaços de habitação, a ausência de escolha dos produtos, a escassez de bens não básicos, o desprezo perante bens essenciais como o papel higiénico ou os pensos e tampões higiénicos. Esta erosão do quotidiano, numa sociedade em que a penúria era um sinal político e ideológico, mas que acumulava as evidências do desprezo congénito do vanguardismo comunista cavando as suas zonas de privilégios (restritas às cúpulas político-ideológica e construindo uma "camada privilegiada") e votando o povo comum ao destino da indigência dos sobreviventes, transformou as sociedades sujeitas às navegações dos timoneiros marxistas-leninistas em sociedades de cínicos, passivos e indiferentes. Ao mesmo tempo que o brilho das luzes consumistas “ocidentais” eram mitificado e desejado.
“Como Sobrevivemos ao Comunismo Sem Perder o Sentido de Humor”, um livro a resgatar do pó do esquecimento.
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Imbuindo-nos da alegria fraternalmente festiva do desfile militar (com 20.000 soldados) que amanhã vai render homenagem ao general de quatro estrelas Kim Jong-un e ditoso membro do Comité Central do Partido do Trabalho da Coreia, filho de Kim Jong-il e neto de Kim Il-sung, com uma idade situada entre os 27 e os 28 anos, augurando-lhe o apoio a um lugar sucessório no trono da mais grotesca e mais monárquica entre as ditaduras comunistas, aprendamos o hino para amanhã o cantarmos afinados.
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