Sujeitos que não entendem patavina daquilo que não gostam, não conseguindo passar da repulsa bárbara assente em clichés, transformando os diferentes em idiotas para facilitar o caminho do nojo, estão encantados com o proibicionismo catalão antitaurino. Pois, muito bem, meus caros, perder ou ganhar é a mesma democracia. Por mim, fico à espera que o proibicionismo chegue à Andaluzia, o que talvez não aconteça já na próxima semana. Mas os proibicionistas Rui e Luís podiam ter dito uma palavrinha sobre o fundo da questão, a do nacionalismo de faca e alguidar, pois aqui a tourada é mero pretexto de anti-espanholismo. Aquilo não é repulsa a sangue de toiro bravo. É sede de ver a Espanha partir-se aos pedaços. Se necessário, com outros sangues. Como aqui comentou o meu amigo Daniel:
No dude usted de cuáles son los verdaderos motivos por los que en Cataluña se han prohibido las corridas de toros: Porque son un símbolo de España. Lo de la tortura al animal y esas milongas es secundario.
No se trata de un asunto de compasión hacia los animales, sino de manipulación política. Esta vez la víctima fue la tauromaquia.
Cataluña sigeu dando pasos atrás en la historia. Ahora, los aficionados catalanes se verán obligados a viajar a Perpiñán, en Francia, para ver una corrida de toros. Como en la época de Franco, cuando iban allí a comprar los libros y ver los films que la dictadura prohibía.
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Correspondendo a um convite mui honroso fui até aqui. Com direito a passadeira vermelha, vermelhona, foi o que se chama um convite bem equipado.
O nacionalismo, incluindo o nacionalismo inscrito no internacionalismo, ou já não é o que era ou é outra coisa diferente de há poucas décadas atrás. Por exemplo, o Kosovo. Lembro-me das secas que levava nas décadas de setenta e oitenta dos maoístas pró-albaneses que, sempre tão profundamente internacionalistas e tão minimamente nacionalistas, colocavam a autonomia e a independência do Kosovo como a causa maior do proletariado mundial. Quanto aos brejnevistas, longínquas já as décadas de nojo perante o titismo, a Jugoslávia integrava como suporte da ditadura local e camarada o reconhecimento da supremacia sérvia e, portanto, o Kosovo não passava de um tabu. Nos conflitos balcânicos que trouxeram a guerra de regresso à Europa, viu-se que o crime, a guerra, a carnificina, não iam parar até tropeçarem na questão do Kosovo. A Jugoslávia foi-se descascando como se fosse uma cebola em streap-tease, triturando ódios e corpos, repetindo crimes até à obscenidade. A orgia de crime e sangue só parou com a adição das bombas da NATO em cima dos sérvios. E, depois, quando parecia que nem a Albânia já estava interessada e motivada pelo Kosovo, este território decidiu-se independente. Entre a indiferença quase geral. Até os sérvios, em vez de bombardearem Pristina, protestaram politicamente e recorreram ao Tribunal Internacional. Perderam a causa e continuam a não bombardear Pristina. E os kosovares fizeram assim a modos que uma festinha. Não mais que isso vale hoje o Kosovo. Andaram tantos a matarem pelo Kosovo para quê?
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Não, não é vontade de repisar o pisado. Apenas um gozo a ferver baixinho, mas a ferver, de, encerrado o ciclo do festival do futebol inter-nacionalista, empanturrada que está La Roja de comemorações que já ninguém se atreve a prolongar (e que na fase final já deram para o torto com os do Barça a quererem afirmar-se acima da selecção), ver regressar em força a essência do futebol, o futebol dos clubes. Ou seja, a passagem da circunstância e do ritual patriótico para a força da paixão bruta, a mais genuína e intensa no futebol. E tanto que um adepto a sério se dispõe a – simbolicamente – morrer por ela. Porque é isso que acontece todos os anos nos estádios, jogo a jogo, um tipo entra e senta-se em estado morto, umas vezes como morto desanimado e outras como morto confiante, depois só os golos e as vitórias o trazem de volta à vida. Caso contrário, leva o seu cemitério interior para casa. Não há hino nacional que consiga uma e outra coisa. No mínimo, há uma distância de solenidade que não o permite, além de outras inibições (a mim basta-me que Cavaco seja um dos símbolos da soberania portuguesa para engalinhar com esta, onde quer que se manifeste). Mas com o clube tudo se rompe e se mistura - a cor, o emblema, os cânticos, os cachecois, a ilusão de que estamos em comunhão com os nossos. Transformando, quantas vezes, o incréu mais desconvicto no místico mais exuberante.
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Adenda (21/7/2010): Obrigado pelas simpatias manifestadas (que incluíu a presunção altamente favorável de que pertenço ao número dos eleitos que só "pausa" para férias...). Agora, como se diz noutro domínio, há que ir treinando para recuperar o ritmo competitivo.
Os primeiros prisioneiros políticos libertados das masmorras de Cuba já chegaram a Madrid. Outros se seguirão por “lotes” nos próximos dias até que se cumpra a meta garantida pelo ministro dos negócios estrangeiros espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que invoca um compromisso formal do governo cubano, de que “todos os presos políticos de Cuba vão sair dos cárceres”. Esta é, naturalmente, uma excelente notícia. Relativamente à qual, não há que duvidar sobre a intenção de serem honrados os compromissos negociados entre o governo cubano, o governo espanhol e a Igreja Católica.
Mas tratando-se de uma notícia que só pode ser festejada com toda a alegria pelos que estimam a liberdade como bem supremo (uma espécie de remake para os portugueses mais velhos, os que festejaram com lágrimas de alegria incontida a libertação, no 25A, dos "nossos" presos saídos de Caxias e Peniche), e partindo-se do princípio que o governo cubano não está a esvaziar as prisões políticas para mais tarde as povoar de novo, está lançado um crucial desafio à sociedade cubana e que é a de como vai viver (ou sobreviver) sem repressão política e social e sem presos políticos. E, é claro e concomitantemente, sem perder a sua soberania e acrescentando direitos sociais aos que alcançou com a revolução e poder viver melhor, respirando os novos ventos da liberdade. Porque nada do que se consideram "conquistas da revolução" é automaticamente posto em causa por se acrescentar liberdade e democracia. Pois o maniqueísmo da falsa escolha entre liberdade e igualdade sempre foi o alibi paranóico dos dogmáticos, dos fanáticos e dos impositivos de toda a espécie. Naturalmente que não o poderá fazer sem o fim do regime de partido único, permitindo o pluralismo, a liberdade de expressão e de organização cívica, social (nomeadamente, permitindo a liberdade sindical e o direito à greve) e política. Ou seja, substituindo a “ditadura do proletariado” degenerada em Estado Policial (como aconteceu, sem qualquer excepção, em todos os casos de "socialismo real") por um regime democrático, o que implica, como primeiro passo, uma profunda revisão constitucional. Este é um desafio (o da evolução para a democracia) que, no passado, nenhuma ditadura comunista instalada conseguiu resolver. Mas a criatividade e a capacidade de aprender com os erros incluem-se entre os talentos humanos mais estimáveis. Veremos (e digo-o com expectativa e esperança) se Cuba vai ou não, mais uma vez, surpreender o mundo, repetindo a comoção universal que causou quando um grupo de guerrilheiros desceu da Sierra Maestra para apear um ditador corrupto. Agora para regenerar por dentro, cívica e pacificamente, um sistema ditatorial que implantou em 1959 em alternativa - dicotómica mas siamesa - a Baptista, bisando-se, assim, a morte da ditadura em Cuba. Se todo este sonho a construir, numa utopia de regeneração assente na crença nas três irmãs liberdade-igualdade-fraternidade (que só entendo como gémeas e inseparáveis), se mostrar irrealizável, resta esperar que a senilidade (mesmo que belicosa na sua agonia) do marxismo-leninismo pague as suas dívidas para com a civilização.
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Registe-se o sintomático quase silêncio perante o desaparecimento de Basil Davidson (*), inglês, jornalista, historiador e militante anticolonial. E, no entanto, se há personalidade estrangeira que se cruzou ininterrupta e fortemente com a história portuguesa nas décadas 60 e 70 do século passado, o calmeirão Basil Davidson está no alto do podium com medalha dourada ao peito.
Tendo desempenhado várias e arriscadas missões de maquis para os serviços secretos britânicos na Segunda Guerra Mundial, Davidson começou a interessar-se por África na década de 50, coincidindo com o declínio do império britânico e do colonialismo. De tal forma que se tornou o grande especialista mundial na história de África, praticamente órfã (ainda) de historiadores africanos e relativamente prisioneira de olhares académicos eurocêntricos sobre África. Com o aspecto paralelo de que o seu trabalho de investigação e estudo ser complementado com uma forte intervenção publicista, escrevendo crónicas e reportagens para alguns dos principais meios de comunicação social ingleses. A este africanismo de historiador-jornalista, Davidson juntou, pela sua descoberta da profundidade hedionda do esclavagismo e do colonialismo em África, particularmente chocantes enquanto elementos de destruição de uma parte da civilização, uma intervenção cívica de inteira disponibilidade para suporte das causas anticoloniais. Quando se inicia a década de 60, com as grandes potências europeias a largarem os seus últimos bastiões coloniais em África, a militância anticolonial de Davidson depara-se com a subsistência da última excrescência teimosa do colonialismo (o português) que queria contrariar uma evidência de resolução histórica pela força das armas, enquanto, do outro lado, os nacionalistas das colónias portuguesas decidiam que se Salazar só tinha a resposta da metralha às suas aspirações de dignidade e soberania então havia que responder com o fogo das armas às armas do ocupante.
As guerrilhas que combatiam o colonialismo português em Angola, Guiné e Moçambique, rapidamente perceberam a importância de Davidson como seu aliado para dar eco às suas causas na opinião pública internacional. O jornalista-historiador tinha uma profunda influência nos media ingleses (e daí irradiar para a comunicação mundial), não era passível de ser confundido como agente do comunismo internacional pois nem sequer era marxista, antes tinha um “respeitável” currículo de antigo agente dos serviços secretos britânicos, o que lhe dava respeitabilidade perante o Establishment britânico (embora visto como um esquerdista excêntrico mas tolerado), era um homem de Opinião, de Academia e de Acção, com influência nas universidades e os seus livros eram referências bibliográficas incontornáveis sobre a História de África. Além de que a proximidade de Davidson com a ala esquerda do Partido Trabalhista, quando este partido estava no governo ele era uma via muito útil para se "fazerem pontes" que contrabalançassem o poderoso lobby da ditadura portuguesa junto do governo britânico. Estabelecidos os contactos, Basil Davidson tornou-se, até à independência das colónias portuguesas, na personalidade ocidental mais empenhada nas causas dos movimentos de libertação (do MPLA mas, sobretudo, da FRELIMO e do PAIGC) que incluíram a realização de várias reportagens que Davidson fez junto das guerrilhas e em território colonial já libertado por estas (na foto, Davidson numa visita a uma zona controlada pelo PAIGC no interior da Guiné-Bissau, em plena guerra colonial naquele território), tanto mais que a sua experiência de guerrilha durante a Seginda Guerra Mundial lhe facilitava a adaptação à cultura e às circunstâncias da vivência dos que combatiam o exército colonial português. Em paralelo, Davidson, até porque “cavava” no terreno geoestratégico mais favorável ao salazarismo-marcelismo, tornou-se no inglês mais odiado pela ditadura portuguesa, um sujeito que tirava o sono à PIDE.
Com a perda de Davidson e olhando os livros mais antigos que povoam as minhas estantes, alguns nas edições originais, aqueles em que mais aprendi sobre África, o esclavagismo, o colonialismo e o anticolonialismo, saídos da escrita limpa e valente de Basil Davidson, guardo-me num silêncio de respeito perante este honorável cavalheiro britânico, um dos grandes amigos não africanos de África. Porque, cá para mim, ele fica-me como tendo sido um verdadeiro Sir e sem que isso engulhe o meu republicanismo.
Nota para eventuais interessados: algumas obras de Basil Davidson foram traduzidas e editadas em Portugal (sobretudo na "Caminho").
(*) - Todas as regras, como costume, incluindo nas do alheamento, têm as suas excepções honrosas. A Joana Lopes demonstra que continua a tomar pontualmente os comprimidos contra a amnésia e a injustiça do desdém e da ignorância perante os justos e os valentes.
(também publicado aqui)
Esta entrada "amarela" (!) porque macia, como as pétalas das tulipas que inundam de cores quentes e variadas os jardins e campos planíssimos da Holanda:
Da mesma pessoa (que muito considero) e no mesmo blogue, o seu.
1) O Inter ganhou a Liga de Campeões da Europa (em clubes). De quem foi o mérito?
2) A Espanha ganhou o Campeonato do Mundo de Futebol (em selecções). De quem foi o mérito?
Ou seja, temos futebol com geometria de mérito variável. Consoante seja jogado por equipas ou por selecções. Sempre a aprender.
Bem sei que posso ser acusado de divulgar aquilo que na blogosfera é mais repelente e assim oferecer a um ninho neo-nazi uma publicidade escusada. Só que este tipo de propaganda viola claramente a lei (que proíbe a propaganda racista) e, por isso, constitui crime. E se lerem os outros posts do mesmo blogue de ódio (que descobri via um post do Luís Rainha) verificarão que se trata de um crime continuado. O que levanta a questão da impunidade com que se utiliza a internet para cometer crimes que, se utilizada outra forma de difusão (por exemplo, em documentação escrita), decerto levaria os seus autores a estarem a contas com a justiça. A internet existe como espaço de alargamento da informação, da cultura, da liberdade e da cidadania, uma ferramenta de globalização da civilização, construída numa pluralidade nunca antes alcançada mas cujos únicos limites devem ser os de não permitir nem incentivar os ódios dos bárbaros. Quem usa a internet com convicções para que a humanidade “pule e avance”, independentemente da escolha dos caminhos que a cada um cabe definir, pode continuar a assobiar para o lado face à sua utilização criminosa?
Antes que respondam e se conseguirem suster os vómitos, leiam se fazem favor este "texto":
Um bom resultado final, o deste Mundial de Futebol - a vitória da alva selecção espanhola sobre a quase-alva selecção holandesa, a qual tinha dois ou três negros, a Holanda, mas mesmo assim a sua equipa está muito mais branca do que há dez anos... e, por coincidência, foi desta vez, com esta equipa muito mais branca do que as anteriores, que a Holanda voltou a atingir uma fase final do Campeonato do Mundo de Futebol...
Mais uma vez se provou que as equipas mestiças não são forçosamente superiores às monorraciais, e que um país europeu pode vencer tudo e todos contando apenas com os seus nacionais, sem naturalizados.
E isto no aspecto prático, atenção - porque no essencial, que é o aspecto ético, não há dúvida de que toda a competição desportiva de países é visceralmente falsificada pela naturalização de atletas estrangeiros, tanto mais grave quanto mais afastados racial e etnicamente estiverem esses atletas do País que os naturaliza. Quer portanto isto dizer que mesmo que o Mundial tivesse sido ganho por uma equipa mestiça, como a desgraçadíssima França, por exemplo, ainda assim a equipa mestiça seria em si uma aberração.
Como brinde do resultado de hoje tem-se o para nós sempre saboroso rancor impotente que a hoste antirra deve estar a sentir no momento, por ver uma equipa totalmente branca a vencer a mais importante das competições futebolísticas, já não bastava esta mesma competição ter sido vencida há quatro anos por outra selecção branca, a Itália...
(publicado também aqui)
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