A nossa selecção de futebol é muito inferior à espanhola. A nossa selecção de jornais também. A de colunistas nem se fala, embora seja difícil imaginar com quem se pode comparar um imbecil ilustrado como VPV, um católico ultramontano como César das Neves ou um diletante como MST. Se nos compararmos, perdemos em quase tudo: na poesia, na novela, na viola de gamba, na saúde oral e no tamanho dos narizes. Ontem viu-se, quando as câmaras focavam a assistência: uma mulher guapíssima passando bâton pelos lábios, alternava com um broeiro lusitano, atarracado e hirsuto.
A Espanha teve de tudo e a sério. Teve anarquistas e falangistas, brigadas internacionais e fossas comuns. Na primeira metade do século XX a Igreja Católica em Portugal foi nojentinha. Em Espanha foi mesmo nojenta.
Hoje estamos como sempre fomos - se excluirmos o breve período em que um bruxo brasileiro, com o apoio do Marcelo das bandeiras, fez psicoterapia de grupo à selecção de futebol e hipnose ao País. Condenados ao Sócrates e ao clone barítono, aos socialistas entre a jugular e a estomáquica, aos sociais-democratas revirgens como um rapaz de Blake, aos estalinistas e à esquerda alternativa. Ao senhor Silva e ao comendador Loureiro. Ao fartote, ao rega-bofe, à depressão cortical, ao fado da humanidade imaterial, à maldição insular que atingiu Antero e ainda chega até nós, como um anticiclone que vem dos Açores.
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David Villa não foi convocado para a Assembleia da PT e a Telefónica viu o seu negócio na Vivo furado por uma golden share num penalty duvidoso.
Cheira-me que vamos ter muita tinta a correr nas secretarias judiciais transeuropeias. Pode uma golden share vetar uma decisão maioritária dos accionistas relativamente à venda de uma participação numa empresa estrangeira e a actuar num mercado estrangeiro? Ou trata-se de uma mera exibição do poder majestático e patrioteiro do São Estado, normalmente do agrado do radicalismo nacionalista que por cá se usa? Cheira-me que o governo, pressionado pelo ultra-liberal PSD e pela Comissão Barroso, comprou mais uma trapalhada.
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A crise económica e financeira, a degradação política e social e o aviltamento das lideranças partidárias empurram muitos cidadãos para a desvalorização da democracia e para o transbordo das margens institucionais do regime, exigindo, antes, soluções fortes, uns de punho fechado e outros com a palma da mão estendida, ambos rivais mas ambos convergindo na pressa em verem a democracia e as liberdades serem suficientemente desvalorizadas pela inépcia de governantes incompetentes, coleccionando e pondo a render juros os mais que justos descontentamentos sociais. Foi sempre assim quando se chega a um ponto em que a democracia não enche barriga.
Vasco da Graça Moura terá direito a ser considerado como o intelectual mais orgânico e mais oportunista do reaccionarismo laranja. E paga com fogosidade escrita as sinecuras com que sempre cobrou as suas fidelidades calculadas. Não se esqueceu de agradecer a Durão Barroso a misericórdia de um lugar de deputado europeu; seguiu Manuela Ferreira Leite como um pajem das letras e das crónicas; insultou os eleitores portugueses pelas suas últimas escolhas que não premiaram as suas (dele); tendo cometido a gaffe de, no afã de entronar Rangel, dizer que a eleição de Passos Coelho seria uma desgraça para o PSD, rapidamente meteu essa viola no saco; agora agarra-se a Cavaco como um partigiani sidonista.
Enquanto os leninistas dúplices salivam pela sempre eminente derrocada do sistema capitalista que engula a democracia portuguesa, cumprindo-se assim e postumamente a profecia de Cunhal de que em Portugal não é possível existir uma democracia burguesa, Vasco – claramente – e outros - pela surdina – , olham para Belém com a esperança dos neo-sidonistas, mostrando já sinais de impaciência:
Enxofrado fico eu, por o Presidente da República ainda não ter posto esta gente no olho da rua.
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Ontem à noite, com Madrid sem Metro (parado por uma greve sem serviços mínimos), sob ameaça de chuva, 2.500 madrilenos prescindiram de ver a transmissão televisiva do derby ibérico na África do Sul e não faltaram na Puerta del Ángel para ouvirem a guitarra que Paco de Lucía transforma em magia andaluza feita de flamenco. Levaram rádios a pilhas para seguirem o massacre dos navegadores inocentes e acobardados vindos das praias lusitanas e ali festejaram o desfecho, enquanto o genial guitarrista que Algeciras viu nascer aguentou em espera que passassem vinte minutos sobre a confirmação e festejo da vitória de La Roja para entrar em palco e pegar na guitarra. Depois da lide espanhola dos nove mansos chefiados pelo manso-maioral Queiroz, em que só Eduardo e Fábio destoaram mas não chegaram para as encomendas da bravura que se pedia e esperava, a faena da passada noite madrilena tinha, guardada para climax, a forma de uma guitarra entregue a um deus da música. Assim, como ser-se anti-hispânico? Antes, apetece é ouvir-se um pouco do genial Paco. Para limpar os resquícios da xenofobia peninsular, a de cá e a de lá. E que a música reúna o que o futebol obriga a separar.
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O pessimista diz que "há bastante tempo que o país se encontrava numa situação económica insustentável". O optimista que "nos primeiros três meses o crescimento da economia portuguesa foi muito positivo, nos primeiros cinco meses a execução orçamental foi muito encorajadora e devemos deixar uma palavra de confiança a todos os empresários e agentes económicos", até porque, se são já 285 mil as pessoas que recorrem diariamente ao Banco Alimentar Contra a Fome, há, desde o ano passado, mais 600 milionários em Portugal, ou, postas as coisas à maneira de Cesariny, "se há gente com fome/assim como assim ainda há muita gente que come".
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Confirma-se, não existiu segundo golo de Inglaterra. A bola não passou o risco da linha de baliza.
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É preciso ser-se muito virtuoso para alguém, ao ler esta notícia, não pense logo na Madeira e em Porto Santo. É o meu caso, mas eu sou uma raridade santificada em questões de patriotismo.
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É isso. E sigam as rusgas nas capelas e nas sacristias.
Imagem: Foto de 1985 com o bispo pedófilo Roger Vangheluwe a acompanhar o Papa João Paulo II numa visita à Bélgica.
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O número de milionários aumentou em Portugal, que seguiu a tendência mundial, mesmo em ano de crise e recessão, revela um estudo mundial feito todos os anos realizado pela Cap Gemini e pela Merrill Lynch e relativo a 2009.
De acordo com este estudo, há 11 mil pessoas com uma fortuna acima de um milhão de dólares, ou seja mais de 800 mil euros, mais 5,5 por cento que em 2008, ano em que foram contabilizadas menos de 10500 fortunas desta dimensão.
Ao longo dos últimos anos, Portugal tornou-se um país de dependentes. Um número crescente de pessoas usufruiu de subsídios e a falta de acompanhamento e avaliação das situações levou a uma espécie de "turismo" da falsa pobreza pelos meandros do sistema, acumulando prestações dentro do mesmo agregado e conseguindo viver de expedientes, ou seja, à custa de todos nós. Em flagrante e ofensivo contraste com a classe média e média baixa que trabalhava, pagava os seus impostos e não tinha um único almoço grátis.
(Deputada Maria José Nogueira Pinto, no DN)
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