O futebol mais badalhoco foi o que Mourinho mostrou ontem em Camp Nou, num autêntico festival de anti-futebol, na linha do que o Marítimo, o Leixões, o Olhanense ou o Rio Ave praticam quando vão à Luz, exibindo eficácia cimenteira em não deixar que o futebol do Barcelona existisse. Mourinho parecia um mestre tardio de Honecker na construção de muros defensivos para que a arte do futebol não oxigenasse a rigidez de um resultado vantajoso adquirido com benquerença na primeira mão. No final, Mourinho festejou exuberantemente a sua passagem á final, derrotando o futebol. Antes, já tinha recordado o que pensa da ética e do respeito para com os adversários, ao sentar ao seu lado o “pesetero” mais odiado pelos catalães, provocação que casa bem a ambos (cheguei a preparar-me para ver que Figo levava Sócrates para o ladear no banco, cobrando pela companhia por mor do PEC). Sucesso e coerência são assim. Munique, Baviera e Bayer não me despertam boas recordações, lembram-me comícios em cervejarias, progroms, experiências médicas em prisioneiros de campos de concentração e reaccionarismo demo-cristão de um tal Strauss, grande amigo de Salazar. Coisas do passado. Agora, para a final, só posso ser do Bayern. Em nome do futebol.
Cada vez que a crise aperta, o pessimismo depressivo aumenta. Nada mais natural, dir-se-á. Mas também, e será o pior, há um baixar de guarda em todas as vertentes da cidadania. Em vez de estratégias de respostas com projectos e a mobilização de vontades e brios, os governados sabem que os governantes vão aproveitar a oportunidade para questionar o adquirido e rasparem euros e cêntimos nas âncoras do Estado social. E nunca é aproveitada a crise como oportunidade, que é, de, impulsionando solidariedades, redistribuir os contributos consoante a capacidade para contribuir, tornando a sociedade menos desigual. Não, os bolsos que se atacam, os direitos que se corroem, são sempre os dos mesmos: os assalariados, os reformados, agora até os desempregados com direito a subsídio. Assim, falando dos partidos charneira dos governos, se o PS, desde Guterres, cristalizou a sua “identidade socialista” no assistencialismo aos deserdados pela intensificação da polarização dos lucros e da selva capitalista e financeira, o PSD, por sua vez, justificando a sua natureza classista, atira as responsabilidades dos problemas para as costas do Estado, propondo sempre e monotonamente a diminuição do seu alcance social. Do lado do PS, invoca-se que a regressão social é uma necessidade para viabilizar o Estado social, o que, no mínimo, é um paradoxo. Pela parte do PSD, não se disfarça a evidência que a pulsão insaciável pelas privatizações mais não visa que inventar novos mercados, mercantilizando os serviços que dão corpo aos direitos sociais. E o Estado, o grande ponto de unidade de interesses entre o PS e o PSD, na medida que alimentam as suas imensas clientelas de beneficiários das ocupações massivas e partilhadas, com ou sem alternância, do aparelho de Estado e dos aparelhos municipais, verdadeiras molas reais do poder político efectivo em Portugal, surge no debate público concentrando a aparente disparidade ideológica entre os partidos governantes. Mas entendendo-se, se for caso disso, como parece ter resultado do acordo saído da cimeira entre Sócrates e Passos Coelho e com bênção cavaquista que, de tão evidente, não necessita ser explicitada. Entretanto, os portugueses que trabalham, os reformados e os desempregados sabem que vão ficar mais pobres num país ainda mais injusto porque, enquanto apertam o cinto, os intocáveis, os das grandes fortunas, manterão as suas isenções de contributos para os sacrifícios, sob o argumento sofismático de que são eles, os ricos, que criam emprego e geram riqueza. E mais pobreza com mais injustiça social gera menos cidadania, menos democracia e menos interesse pelo valor supremo da liberdade. O que, evidentemente, e como costume e natureza, não incomoda as hienas dogmáticas do revolucionarismo e da violência como parteira da história. Pelo contrário, mais e pior crise, segundo os revolucionários de tacticismo democrático, aproximam o apocalipse redentor, o momento revolucionário. E para que este ocorra, julgam os dogmáticos teimando num engano recorrente, o desespero ajuda mais que a cidadania. Recusando-se a aprenderam que, olhando para as lições dadas pela história, a extrema-direita sempre soube melhor e mais vezes tirar as castanhas do lume das grandes decepções.
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Para uns, a festa das papoilas (não opiáceas). Para outros, a marcha da marijuana (para esquecerem).
Nada como a crise e o PEC para que kotas ex-jotas nascidos e crescidos politicamente na mesma cor afinem nostalgias e se entendam mais cedo do que era expectável. Não foi gratuitamente, muito menos em vão, que Maria Cavaco coleccionou presépios nos aposentos presidenciais em Belém. Se foi para o Belenenses não ir hibernar na Liga Vitalis, falhou. Se pretendia juntá-los, contra todas as ameaças e promessas, acertou. Depois de Cavaco ter iniciado campanha eleitoral no 25 de Abril, numa parasitária boleia da gesta dos honrados capitães, então vale tudo. Venha, agora, o papa.
Como diria António Mexia, o melhor dos nossos gurus a teorizarem (e a praticarem em proveito próprio) o processo de acumulação capitalista por via das remunerações dos gestores, transformando-os de assalariados em pessoas ricas, passando ao lado dos escrúpulos próprios das ricas pessoas, a crise não é para ser questionada na praça pública nem sequer opinada, é uma decisão que compete exclusivamente aos accionistas (FMI, BCE, empresas de rating). A ser assim, democracia accionista oblige, qual a oportunidade, a importância e as consequências de Coelho se reunir com Sousa?
Se um tipo como Aguiar Branco cita Lenine, escolhendo um momento institucional e solene, no palco parlamentar e nas barbas de Cavaco Silva, como posso eu passar sem invocar o mestre de todos os mestres revolucionários? Mal parecia, atendendo às trajectórias políticas e partidárias tão diferentes que me distanciam do antigo ministro da justiça e candidato falido à liderança do PSD. Para mais, durante o PREC, ensinar Lenine em horário pós-laboral aos camaradas então mais atrasados em teoria e leituras foi uma das tarefas revolucionárias que me couberam em sorte. E que, como todas e tantas outras, cumpri com disciplina e fé. Pois quanto a Lenine e ao leninismo, tenho pergaminhos velhos e lustrosos que nada têm a ver com o fascínio incipiente que agora por ele nutre este barão provocador das hostes laranjas.
O grande problema de Lenine e do leninismo é que ambos só se adequam, se for esse o caso, a momentos históricos em que a política se centra e se decide pela brutalidade, pela violência, pelo terror, pela revolução ou por golpes. E, nesse sentido, Lenine e o leninismo entendiam-se e serviram (com a eficácia reduzida das particularidades da dimensão lusitana) nos momentos de desmantelamento da ditadura derrubada e na resposta à violência contra-revolucionária liderada por Spínola e outros. Como aprender com Mao, Giap e Che só fazia sentido se a perspectiva fosse a opção pela guerrilha de base camponesa (o que significou que, em Portugal, mesmo no PREC, o maoísmo e o guevarismo nunca tenham passado de excitações juvenis e … urbanas). Numa democracia estabilizada, em que o problema que se coloca é o seu aperfeiçoamento, não se questionando o regime mas sim a governação, citar Lenine, invocar Lenine, ou alimenta um jogo perverso de duplicidade entre democracia e revolução (em que a primeira só serve de “sala de espera” até que a segunda opção, a estimada, adquira condições objectivas e subjectivas), categoria de que dispenso incluir Aguiar Branco, ou então é recurso usado na área da retórica da ironia de alfinete. Ter-se-á, claramente, verificada a segunda hipótese. O que, sem a profundidade da autenticidade ou da oportunidade, teve o efeito do insólito. Sobretudo ao provocar risos nos companheiros parlamentares e leninistas que nunca invocam Lenine ali, na Assembleia da República, templo da democracia burguesa por quem o mestre dos mestres revolucionários nutria um profundo e coerente desprezo.
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Hoy, la economía empieza a pensar en la mujer para mucho más que la belleza o la casa. Las cifras obligan. Eso es lo que piensa la consultora estratégica internacional The Boston Consulting Group (BCG). Según sus cálculos, los casi 2.000 millones de mujeres que trabajan en el mundo ingresan 7,1 billones de euros anuales. Y en el próximo lustro sus sueldos crecerán en 3,8 billones de euros debido, por una parte, a un aumento anual del 2,2% en el empleo femenino mundial y, por otra, a que la brecha salarial que existe entre la mujer y el hombre se va a ir recortando. Son palabras mayores.
Aunque van a sonar más alto pues, además del poder económico que tienen a medida que se incorporan al mercado laboral, las mujeres controlan el 65% de las compras mundiales, porcentaje que en Estados Unidos se eleva hasta el 80%. Según los datos que maneja BCG se trata nada menos que de un presupuesto anual de 8,7 billones de euros. Gasto que en 2013 habrá aumentado en 3,5 billones de euros, es decir, una magnitud superior al crecimiento esperado en los mercados de consumo chino e indio juntos, afirma el socio de la consultora estratégica BCG, Pedro Esquivias.
Conclusión: en los próximos años, las mujeres manejarán más de 23 billones de euros. De ahí que, en palabras de Tubella, nos encontremos ante "la próxima revolución de la mujer, que va a modificar la forma de trabajo y las organizaciones". No en vano, recuerda. En Estados Unidos y en Europa las estudiantes universitarias son prácticamente el 60% del total. Y no sólo son más, sino que sacan mejores notas que los hombres. Por eso pueden convertirse en las nuevas directoras de la orquesta económica internacional, como propugna el movimiento womenomics.
Avivah Wittenberg-Cox invita a las compañías a que aprendan a hablar el lenguaje femenino, a que introduzcan la cultura y los valores de mujeres en sus decisiones estratégicas. "Hombres y mujeres difieren y se complementan en sus comportamientos, física, neurológica y sociológicamente. En los últimos 100 años nos hemos acostumbrado a ignorar las diferencias para luchar por la igualdad. Ha llegado el momento de impulsar ambas, igualdad y diferencia", afirma la autora del libro How women mean business y fundadora del website www-WOMEN-omics.com. Ganamos todos.
Pero, aunque sólo sea por interés económico, las empresas tienen que contar con las mujeres, cubrir sus necesidades específicas con productos y servicios y dejar que se desarrollen en las organizaciones, mediante el acceso a los puestos de máxima responsabilidad y la adaptación de los métodos y horarios de trabajo a sus requerimientos. Es rentable, según los defensores de womenomics.
(ler aqui texto completo do artigo de Cármen Sánchez-Silva em “El País”)
Eu aceito as decisões da Justiça e as sentenças dos tribunais, mais ainda o princípio democrático que confere soberania de poder independente aos tribunais. Já sobre os juízes, há que avaliar-se caso a caso. Assim sendo, devia-se investigar e tornar público os resultados sobre saber-se se os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa que consideraram Domingos Névoa como absolvido do crime de corrupção, embora esta tenha sido provada mas (mal) dirigida para o corrupto errado, justificam ou não, com ganhos honestos e devidas deduções para o fisco, eventuais sinais de riqueza que lhes lustrem o status.
Um dia qualquer, que não tarda muito porque o excesso ou falta de sexo leva à bebida (digo eu, lembrando-me dos dois anos a “seco” mas “bem bebidos” passados na guerra colonial), o Miguel Marujo, ainda nos vai transformar esta anedota com o padre a fazer de bêbado. Porque o álcool desprende a língua e desliza os travões sociais e institucionais. Vamos ter, então, estou certo, uma inspirada e deliciosa heresia. Porque o mais interessante no humor corrosivo ou simplesmente questionante não é quando o bobo questiona o poder, essa coisa vulgar, é quando o poder se despe perante o bobo e é este que se dasata a rir. Antecipando-me à inspiração, ofereço-lhe, desde já, uma hipótese de imagem ilustrativa.
António Lorca, sobre José Tomás, em “El País”:
"Se ha llegado a decir", declaró [José Tomás] en México, "que salgo a la plaza para que me mate un toro, y ésa es una de las barbaridades más grandes que he escuchado; yo toreo para vivir y no para morir".
Lo cierto es que José Tomás ha dado pruebas de que no conoce el miedo, de que posee un escalofriante y, a veces, temerario valor; que prescinde del cuerpo y parece olvidarse de sí mismo ante el toro, que pisa unos terrenos inverosímiles con una quietud escalofriante y, al mismo tiempo, con serenidad, con temple y solemnidad.
José Tomás es un arqueólogo de la pureza, un virtuoso del toreo, capaz de emocionar no sólo por su valor infinito, sino por su concepción artística de la lidia. Es un compendio de torería, vibrante y emotivo, cuando con el capote en las manos. Es Tomás un artista excelso cuando, muleta en mano, se despoja del miedo, y consigue que todos piensen en su cuerpo menos él, sólo absorto en ocupar y conquistar los terrenos de su oponente, y crear, así, la belleza de interminables tandas de muletazos poderosos, ceñidos, auténticos, desbordantes de hondura, especialmente por naturales, en los que ha llegado a alcanzar la perfección soñada.
Como torero sigue siendo el más público de todo el escalafón, porque, por derecho propio, se ha convertido en el centro de todas las miradas. Es diferente a todos y, quizá por eso, interesa a todos. Busca el triunfo y la pureza con auténtica desesperación. Quiere torear como lo siente en su cabeza y en su corazón. Su objetivo es la búsqueda de la perfección, desde el convencimiento de que, cada tarde, todo está por hacer.
Sólo así se puede entender que José Tomás sea un perfeccionista en sentido ético: hay que dar el máximo, hay que buscar la excelencia y una depuración técnica y estilística. Hay que darle al toro todas las ventajas y alcanzar la pureza mediante la técnica y el sentimiento artístico.
Con esta particular filosofía como equipaje salió seis veces por la Puerta Grande de Madrid, dos por la del Príncipe de Sevilla, triunfó allá donde fue y tocó la gloria con las yemas de sus dedos. La gloria y el fracaso, también, cuando en 2001vivió la amarga experiencia de que un toro se le fuera vivo en las Ventas. Ése fue un momento crucial en su carrera. En septiembre del año siguiente, en el curso de una temporada irregular y cuajada de percances, se retiró y estuvo cuatro años y nueve meses desaparecido del mundo de los toros.
Por sorpresa, igual que cuando se fue, el torero decidió resucitar en Barcelona en junio de 2007, y lo hizo en medio de una expectación sin precedentes. Justo un año después se anunció dos tardes en la plaza de las Ventas, cortó siete orejas y, a cambio, se llevó tres cornadas. Aquella gesta provocó un auténtico revuelo nacional y acalló las voces que le recriminaban una cómoda vuelta a los ruedos en cosos de escasa responsabilidad, donde el toro es chico, y el billete, grande.
Este año vuelve a estar anunciado dos tardes en la plaza de las Ventas, después de que rehusara hacer el paseíllo en la Feria de Sevilla, donde no reaparecido todavía. Ojalá una pronta recuperación de esta gravísima cornada de Aguascalientes le permita triunfar de nuevo en Madrid.
Sendo “ossos do ofício”, não posso deixar de desejar, com o fervor da admiração, que José Tomás, o “maior” entre os seus, se safe e recupere. Assim é.
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