Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010
Já me apeteceu não poucas vezes e não serei caso único perante falhas que, da bancada, parecem incompetências crassas. Mas para fazer a figura deste indonésio impaciente (veja-se o vídeo), ou muito pior, ainda bem que o juízo me tem predominado em última instância.
Resolvido o problema dos professores, espera-se que educação seja o que deve ser: ensino. Acalmado o corporativismo e o longo autismo da petulância governativa, venha de lá a vaga da transmissão de conhecimentos com pedagogia. Com o mesmo empenho e talento que os colocados na luta e na contra-luta.
Hoje, é um dia que fica marcado dupla e contraditoriamente na história das discriminações na sociedade portuguesa. É o dia um da finitude da exclusão dos homossexuais do direito a casarem-se. É também dia um da discriminação das crianças à espera de adopção por exclusão do direito a terem, como pais substitutos, homossexuais casados com competências para adoptarem crianças. Ganharam os homossexuais, perderam as crianças, num empate congeminado por trapezistas da táctica dos costumes. Merece o quê, champanhe, vergonha ou tristeza?
Quinta-feira, 7 de Janeiro de 2010
Os casos de padres tarados não param de surpreender. Como este. E se por cada sermão sobre os bons costumes cristãos os bispos ordenassem a frequência de uma aula de terapia sexual aos sacerdotes seus subordinados?
Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2010
Apesar de não ter votado Cavaco nunca pensei que deitasse saturação de Cavaco pelas pontas dos cabelos. Estou farto da parolice cavaquista e da sua politiquice palaciana em que não cumpre funções abusando das funções ao tentar remendar permanentemente o enorme vazio partidário que é o PSD, esse útero e tumor irremediável do cavaquismo. Cavaco, como presidente, é um zero a banalizar zeros, o do seu staff e do lamaçal do tédio laranja. E, pior de tudo, Cavaco é tão zero que, por comparação, dá relevância política, tirando-a do zero, a uma outra insignificância do tempo que passa, a instalada na tristeza acinzentada e arrastada da espécie de governo da nação. Assim, e inevitável, a alternativa só pode ser Manuel Alegre. Outra vez para ser de vez. No mínimo, para levantar a fasquia já próxima do chão. Porque, no estado em que isto está, anda por aí uma multidão de pinguins a mostrarem medalhas de ouro em salto em altura.
Todas as evocações do saudoso Mestre Augusto Cabrita não são demais. Aqui está uma.
O livro recentemente editado da autoria de um sargento-mor paraquedista na reserva e actualmente empresário na Guiné-Bissau (*), com uma transcrição da sua tese de doutoramento pela Universidade de Évora em 2005, suscita, desde logo, a curiosidade em se tentar saber se, nos doutoramentos universitários, também se fazem saldos de títulos académicos. É que, no caso vertente, sobra manipulação e faltam investigação e rigor, mingua o suporte e abunda a glorificação autobiográfica, onde devia encontrar-se distância e isenção tropeça-se a eito numa espécie de corporativismo castrense (relativamente à classe de sargentos e ao corpo de paraquedistas), fixam-se ódios, amizades e preferências entre os militares e classes de militares que combateram na guerra colonial, abusam-se das generalizações sem suporte e estribam-se alinhamentos políticos, notoriamente ao serviço de um revisionismo histórico que sirva o realinhamento à direita do corpo militar, numa vingança fria e tardia relativamente ao MFA e ao 25 de Abril.
Claro que o doutor sargento mor Rebocho tem direito à sua catarse, mesmo que perversa, relativamente à sua participação activa no levantamento dos paraquedistas em 25 de Novembro de 1975 (em que comandou a ocupação das instalações da Força Aérea em Monsanto, ao serviço da extrema-esquerda militar) e de que pagou um preço disciplinar alto (esteve sob prisão e residência fixa, como consequência da sua participação no 25 de Novembro, entre 1975 e 1982). Como de fazê-lo pela via ideológica de um ajuste de contas tardio com os vencedores do 25 de Novembro, atacando-os agora “pela direita” já que foi então derrotado, com as armas na mão e com uma força de elite sob seu comando, quando os enfrentou “pela esquerda”. Mesmo não parecendo muito valoroso, sobretudo se tivermos em conta que se trata de um antigo “senhor da guerra”, que tenha mudado tanto de campo, “ontem” com Otelo e o Copcon, encostando-se agora à cumplicidade com a direita militar, a que, na ressaca de Novembro, ultrapassou os militares de Abril e se cristalizou há muito na hierarquia militar. Esses direitos do doutor sargento mor Rebocho não são, julgo e repito, questionáveis. O que é interrogável e preocupante, só isso, é que a universidade (no caso, a Universidade de Évora) se preste a premiar com títulos de doutores um candidato ressabiado, sem méritos de objectividade, investigação e estudo, que decide bater-lhe à porta. Para que conste e se registe para vergonha futura, o júri que aprovou o doutoramento foi constituído pelos académicos Adriano Moreira, Joaquim Serrão, Maria José Stock (orientadora da tese) e Maria Colaço Baltazar e ainda pelo Coronel Nuno Mira Vaz.
(*) – “Elites militares e a guerra em África”, Manuel Godinho Rebocho, Roma Editora
Terça-feira, 5 de Janeiro de 2010
Só o período de alergia relativamente ao uso da internet, autodecidido na mudança de ano e facilitado pelo pretexto de uma fuga curta - mas sincera e empenhada - para o sul, explica e justifica o ligeiro atraso na evocação da efeméride histórica dos 50 anos passados sobre a “fuga de Peniche”, acto maior na vulnerabilização do aparelho repressivo da ditadura fascista e com enormes consequências políticas de que ainda hoje colhemos réplicas.
Este enorme acto de resistência e combate à ditadura, decerto o máximo momento conspirativo, heroicista e mítico na história do PCP, representando também o ponto mais baixo na escala de eficiência do aparelho repressivo montado por Salazar para neutralizar o comunismo clandestino, passados cinquenta anos, permanece como um problema não totalmente resolvido para a nossa memória histórica. A direita que acoita os saudosistas do fascismo ainda engole em seco o feito de Peniche e procura tapá-lo com o manto do esquecimento pois não suporta a ideia de um Salazar frágil e fintado na repressão (e logo no seu presídio com maior empenho securitário). Do outro lado, persistem as omissões e segmentações por mor de juízos políticos e partidários retroactivos e pelo primado de glorificações propagandísticas ao serviço de poderes constituídos pós-fuga. Deixo agora, pela solenidade da evocação e por cedência ao seu peso no meu imaginário de viajante entre lutas, utopias, enganos e desenganos, as manipulações e os silêncios repousarem na paz desta época. E remeto, antes, para o excelente trabalho jornalístico que encontrei no JN (não esqueçam a visualização do vídeo).
Não sei se é isso que se espreme da osmose futebolística entre Zé Neves e o mítico Cândido de Oliveira (um burguês democrata e anglófilo que a ditadura enfiou no Tarrafal – mas com direito a moradia decente fora do Campo – sob acusação de ele espiar ao serviço de Churchil, numa denominada “rede Shell” activa mas desarticulada pela PIDE durante a II Guerra Mundial). Mas parece e tem todo o sentido. Potsdam ainda estava, então, bem lembrada, embora a guerra fria já fosse crescida e pese ainda o Jesus não ter, em 1958, idade para ler “A Bola”.