É evidente que o Benfica joga para vencer todas as finais em que participa, mas a de domingo – final do Troféu António Pratas – terá sempre um travo amargo. Julga que esta final poderá funcionar como a melhor forma de homenagear alguém que faleceu a jogar basquetebol, para exorcizar as imagens e os momentos vividos por todos vocês que estavam presentes naquela fatídica tarde?
Esta final só pode ser encarada como uma forma de homenagear o Kevin. A vitória deixa de ter qualquer significado depois da tragédia que aconteceu no domingo. Não devemos esquecer nem enfiar a cabeça na areia como se nada tivesse acontecido. Não podemos permitir que o mínimo obrigatório exigível por lei seja a presença de uma maca, quando, a nós atletas, exigem o máximo em todos os sentidos. Se existissem no pavilhão meios de socorro disponíveis para a reanimação do Kevin era provável que ainda estivesse vivo. Um desfibrilhador teria dado ao Kevin uma última oportunidade de lutar pela sua vida. Infelizmente não existia nenhum e a tragédia aconteceu.
Sei que lidera uma petição com o objectivo para que algo seja feito no sentido de modificar as condições necessárias a uma prática desportiva. Quer aproveitar a ocasião para divulgar aquilo que pretende?
Todos nós, como atletas e cidadãos responsáveis, temos o dever de lutar para mudar uma lei que está obsoleta e ultrapassada. Devemos exigir que seja obrigatório a presença de desfibrilhadores, não só em recintos desportivos, mas também em escolas e em locais públicos com grande aglomerado de pessoas (aeroportos, centros comerciais, etc…,), bem como a utilização dos mesmos por pessoal não médico devidamente formado. É neste sentido que vai ser criada uma petição online, liderada pela Associação Desportiva Ovarense e com o apoio de grande parte dos basquetebolistas nacionais, com o objectivo de sensibilizar o governo e as entidades competentes para a importância de serem adoptadas estas medidas com o intuito de salvar o máximo de vidas possíveis. Esperamos que se possam unir a esta causa, não só o basquetebol, mas todas as outras modalidades, bem como cidadãos em geral.
Não podem estar em causa as competências e apetências da ministra do trabalho. O tempo o dirá. Face a duas das maiores espinhas no mundo laboral espetadas na sociedade portuguesa e que sangram dramas em tantas famílias e na esperança colectiva num futuro melhor – o gigantismo do desemprego e a medonha mancha do trabalho precário. Mas tem direito pleno ao benefício da expectativa. Badalados que foram a origem e o passado sindicalista da senhora ministra, o patronato reagiu de imediato com o seu preconceito pavloviano de classe, como se uma façanhuda metalúrgica, com músculos inchados à força de colocar rebites, fundamentalista de plenários, greves e pontapés nas canelas de encarregados e patrões, se tivesse içado ao gabinete ministerial da Praça de Londres. Ou seja, procurou logo, a abrir, pressionar o governo e o lado sindical, expelindo alergias e desconfortos. E, no entanto, estes mesmos chefões patronais, sabendo e sublinhando que a senhora ministra foi de facto sindicalista, também conhecem qual o seu sindicalismo curricular – uma passagem pelo aparelho burocrático das relações internacionais da UGT que desembocou numa carreira internacional no aparelho burocrático da CES. Ao fim e ao cabo, uma carreira técnico-burocrática no mundo do sindicalismo conciliador, o que não tem nada de mal se, como todos os testemunhos confirmam, o fez com zelo e competência, mas com muito mais gabinete, relatórios, pareceres, intercâmbios e viagens que vivência concreta dos problemas e conflitos laborais da fábrica que fecha, do despedimento colectivo, no abuso do lay-off e dos pontapés na contratação colectiva e nos direitos sindicais. Porquê então a rábula patronal de asco anti-sindical? Perguntando de outra maneira, a rábula não estava montada na própria nomeação? O tempo, tempo breve, responderá.
O assassinato, durante o seu exílio em França, de Mehdi Ben Barka, há exactamente 44 anos, teve contornos que apelam a semelhanças com a liquidação pela PIDE de Humberto Delgado. Ben Barka, um dirigente marroquino da oposição ao regime despótico do rei Hassan II, muito imbuído da influência pela revolução cubana, foi assassinado em 29 de Outubro de 1965 depois de uma cilada montada em Paris, onde se encontrava refugiado. O cérebro da operação foi Mohammed Oufkir, ministro marroquino do interior e carrasco sinistro de qualquer dissidência no reino, mas esta operação criminosa (o cadáver desapareceu e foi incinerado) contou com o apoio da CIA, dos serviços secretos franceses (De Gaulle era o Presidente) e da Mossad israelita. A liquidação de Ben Barka, como foram as de Trotsky, Delgado e muitos outros (em número, foi a NKVD/KGB e suas filiais quem mais assassinou opositores e dissidentes exilados), hoje ainda uma rotina criminosa na Rússia, pertence à galeria dos crimes cometidos por tiranias que estendem o seu “braço longo do crime político” para decepar lideranças de oposições que incomodam ou de vozes de denúncias proibidas, onde quer que se encontrem. Normalmente, contando com cumplicidades não menos criminosas que as acções dos mentores e capangas. Lembrar Ben Barka é repetir a afirmação de um princípio que devia ser básico: a política não pode ser lugar nem motivo para o crime (só ficam dispensados deste axioma político, por coerência, os que consideram Oufkir, Silva Pais ou Ramon Mercader como santos dignos de um altar).
Durante esta semana, a ONU aprovou, por esmagadora maioria (com o voto de Portugal), mais uma resolução favorável ao fim do embargo económico dos Estados Unidos a Cuba. A revogação da estupidez deste embargo é um dos desafios colocados a Obama e vai ser uma demonstração conseguida ou falhada da eventual capacidade de, ao contrário dos seus predecessores, se libertar do sequestro político do lobby dos cubanos anti-castristas, fortíssimos em Miami e congelados no ressentimento. Que está a dar passos nesse sentido, já Obama deu sinais ao liberalizar algumas medidas restritivas das remessas permitidas de dinheiro por parte dos familiares emigrados. Falta o grande passo, o da coragem e inteligência, terminando com uma estupidez entre as mais antigas nas relações internacionais e para condenação de regimes ditatoriais. Se não se entende como é que os filo-castristas se abespinham contra o embargo pois que não explicam como é que a falta de comércio com a pátria do imperialismo possa afectar uma sociedade socialista livre do capitalismo, menos entendível é que a Administração dos EUA não vislumbre esta evidência meridiana: o incremento no acesso a bens por parte dos cubanos, a sua distanciação da penúria, só aproxima os cubanos dos valores da liberdade e da democracia, sabendo-se, como se sabe, que barriga vazia nunca ajuda à apetência pelo prazer de se viver livre. Além, é claro, de retirar à propaganda nacionalista da ditadura castrista um dos álibis com que justifica a pobreza e opressão na Ilha-Prisão.
Jean-Christophe Miterrand, na foto, não degenera dos seus. O filho de um Presidente da República Francesa que fora funcionário de Vichy e depois se transformou em figura grada da brutal repressão colonial francesa na Argélia (uma mancha inapagável na história do PS francês) até se guindar à Presidência da República com suporte numa coligação entre socialistas e comunistas, acaba de ser condenado a uma pena de prisão suspensa pelo seu envolvimento no Angolagate, um caso de tráfico de armas com Angola em meados dos anos 90 em que o exército do MPLA, por contrabando e à margem das leis e autoridades francesas, era abastecido com armas adquriridas nos territórios ex-soviéticos.
Quando comprei o "Red Pass", a minha ideia era fazer poupança comprando por atacado um lugar marcado para assistir a uma época de um dos melhores espectáculos do mundo. Preparado para alegrias, tristezas e umas tantas demonstrações de génios e outras mais de mediocridades enfadonhas. Mas sempre com o sossego contemplativo a dominar, admitindo uma ou outra excitação, moderada, à mistura. É que, sendo o Benfica a minha única religião, sofro de falta de espírito de claque (não insulto árbitros, não assobio adversários, sei ver benefícios e prejuízos para os dois lados, defendo o fair play). Além de que a principal (enorme) vantagem de se ver uma partida de futebol ao vivo é a visão de conjunto, com a possibilidade de se estar a desenhar o início de uma jogada e, ao mesmo tempo, adivinharem-se as hipóteses de finalização, numa espécie de ballet aleatório em que se fazem apostas permanentes sobre finais de lances (a televisão dá o pormenor mas é incapaz de dar a visão mais bonita e mais expressiva, a de conjunto, em que as duas equipas se encaixam ou desequilibram). Afinal, no que me fui meter, ando num quase permanente senta-levanta, pareço mais um ginasta histérico de bancada que o pacato adepto de futebol que sou. Acabem com os exageros, 2-0 chega perfeitamente para se ser um campeão tranquilo. E, por este andar, uma próxima vitória curta e sofrida, a mais gostosa, vai saber a decepção.
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