Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009
Nuno Rogeiro, especialista em mísseis balísticos, fez ontem na SIC-N, depois do discurso presidencial, a mais insana das defesas cavaquistas neste tempo de desnorte em Belém. Defendeu a liquidação de um governo PS logo na votação do programa do governo pelos votos conjuntos e desfavoráveis de uma coligação parlamentar PSD-CDS-BE-PCP, o que facilitaria a tarefa de Cavaco de não aturar Sócrates e podendo, a seguir, “com toda a legitimidade”, entregar a chefia do governo a MFL. Os outros comentadores e a moderadora ainda lembraram ao Rogeiro cavaquista que os programas de governo não vão a votos. Ele, recordando a sua formação como jurista, teimava contra todos dizendo que votar programas de governo no parlamento era o b-á-bá do direito constitucional. Donde se conclui que Cavaco não só perdeu a sensatez, anda a contaminar de pandemia de inépcia a sua troupe.
Esta mulher até para a recolha do anedotário tem talento:
«Mudou para a medicação do JPP e foi este o resultado.»
«Cavaco acaba de ser visto a atravessar a rua com um chapéu de Napoleão.»
«O papa poderá chamar o homem à razão. Mas vem só em Maio.»
Que fumo saíu da reunião de balanço eleitoral do Comité Central do PCP? Uma amostra de reflexão política acerca dos motivos pelos quais o PCP não consegue transformar significativamente em votos a seu favor o protesto que mobiliza e organiza através da sua máquina sindical? Ou porque, no rescaldo do acto eleitoral, numas eleições de profunda hemorragia de votos do governo e do primeiro-ministro que tão encarniçadamente combateu, a CDU se vê relegada para o lugar de “lanterna vermelha” das forças partidárias com assento parlamentar, deixando-se ultrapassar pelo CDS e pelo BE? Ainda sobre as razões pelas quais tantos participam em iniciativas organizadas pelo PCP de protesto social mas não têm para com este partido a confiança suficiente para lhe entregarem as chaves de um poder que possa ser alternativa? Nada disso. Este Comité Central não sabe o que é a autocrítica e por isso não a usa. Vangloria-se das migalhas de uns tantos votos a mais, desclassifica os votos dos eleitores que preferiram outras forças de protesto, reenfatiza a luta de massas e de rua. E queixa-se, em desculpa esfarrapada mas sempre repetida, que foi vítima da discriminação da comunicação social, aspecto que no concreto nunca provaram ou sequer apresentaram durante a campanha por se tratar de um mero tique vitimizador e sem qualquer suporte na realidade. O costume num partido virado para o seu umbigo vanguardista. Que vive as eleições, sabendo-se incapaz de produzir mudanças políticas através de uma disputa eleitoral taco a taco com outros partidos, como sendo apenas um “intervalo” no caminho de uma imaginada revolução.Confirmando o eterno problema do PCP relativamente a eleições: os eleitores topam-no.
Este prémio dado à incompetência mais clamorosa vai ter consequências desastrosas. A vida dos portugueses é, e vai continuar a ser, uma verdadeira trampa, mas eles acabam de mostrar que preferem chafurdar na porcaria a encontrar soluções verdadeiras, competentes, dignas e limpas. A democracia é assim. Terão o que merecem e é muitíssimo bem feito.
O País acaba de mostrar que prefere a arrogância e a banha de cobra. Pois besunte-se com elas que há-de ter um lindo enterro.
Terça-feira, 29 de Setembro de 2009
Assino por baixo o que Daniel Oliveira escreveu:
Acrescentando apenas: Cavaco Silva demonstrou hoje não possuir as condições necessárias de dignidade, isenção e responsabilidade requeridas a um Presidente da República. Por isso, deve demitir-se ou ser impugnado pela opinião pública.
Mário Soares não pára de surpreender nesta sua fase de segunda adolescência. Agora, foi reler a vulgata leninista e (re)descobriu a teoria do “homem novo”:
O próximo será o parlamento em que Manuel Alegre mais vai fazer falta como deputado, exactamente o primeiro em que, por vontade sua, não se sentará no hemiciclo. Ninguém no PS, como Manuel Alegre, tem a mesma capacidade de “fazer pontes à esquerda” e essa capacidade era utilíssima na complicada engenharia parlamentar que se vai congeminar para suportar o governo de Sócrates. Manuel Alegre não é deputado pelo PS porque houve “pouca esquerda” no anterior governo e não acreditou que houvesse “suficiente esquerda” no que vai sair destas eleições. Alegre abdicou mas, por devoção partidária, deu um contributo decisivo na campanha eleitoral não só para que o PS vencesse as eleições mas também para que o seu camarada e amigo José Lello garantisse um lugar como deputado.
Tinha lido esta apreciação de Vital Moreira:
Hoje, no “Público”, na apreciação de VM sobre os resultados eleitorais, repete-se quase tudo. Quase porque o último blogo-parágrafo, aquele da referência à “campanha inteligente e civilizada “ do CDS, desapareceu.
Seria um exercício estulto desvendar significados de lapsos falhados através de parágrafos perdidos na viagem da blogosfera para a imprensa. Porque as hipóteses são várias e podem, até, encadearem-se. Fica apenas o registo de que para VM, um eurodeputado que nos garante há anos e sem desfalecimento que é de esquerda e socialista, tanto como o PS e José Sócrates, uma campanha eleitoral centrada no combate aos “preguiçosos” do rendimento mínimo, na baixa dos impostos com aumento das reformas, das pensões e do subsídio de desemprego, no nacionalismo bolorento e na xenofobia dirigida aos imigrantes, na histeria securitária, tentando cavar contradições entre a família e a modernização nos costumes, no namoro aos pequenos, médios e grandes lavradores do sol na eira e chuva no nabal e na graxa obscena aos antigos combatentes da guerra colonial, foi “uma campanha inteligente e civilizada”. Campanha esta que VM considerou como tendo sido responsável pela erosão do PS no eleitorado do centro-direita (!). E espera-se, agora, o reflexo parlamentar desejado, embora não confessado, por VM e outros, deste atestado de inteligência e civilidade passado a Paulo Portas e ao seu bando demagógico e extremista. Mostrando ou escondendo parágrafos, é cada vez mais previsível este notável comentador, político e eurodeputado de esquerda e socialista. Obviamente que da esquerda e do socialismo possíveis.
Segunda-feira, 28 de Setembro de 2009
Nem o PS teve uma vitória “extraordinária” como disse Sócrates pois tem que lidar com a passagem de maioria absoluta para relativa nem este partido sofreu uma derrota “clamorosa” como proclamaram as oposições dado que venceu as eleições e com uma nítida vantagem sobre o segundo partido.
O que é razoável dizer-se é que o PS e a esquerda ganharam as eleições. O PS porque foi o partido mais votado (e, aqui, tem um mérito de assinalar dada a governação que praticou, as condições de conjuntura da segunda parte do mandato e o “desastre europeu” com que partiu para a campanha). A esquerda porque obriga o PS a guinar à esquerda; a governação vai politizar-se pois que, mais escrutinada e “negociada”, definha a tendência para o autismo e a tecnocracia gestionária dos actos de poder (favorável às receitas neo-liberais); defronta uma direita esfrangalhada e com o seu pólo dinâmico acantonado na extrema-direita de Portas; ganha mais e melhores condições para tirar a direita da Presidência da República.
O CDS com apenas mais 0,61% de votos que o BE, a nível nacional, consegue colocar mais 5 deputados que os bloquistas.
O BE com mais 1,97% de votos que a CDU (ou seja, mais do que o triplo da diferença entre CDS e BE) coloca apenas mais 1 deputado que os comunistas.
O Sporting não existe. Não se vê. Do Sporting aparece lá de vez em quando um antigo grande jogador (que só o era também de vez em quando) não se sabe bem a fazer o quê.
O treinador Paulo Bento é o grande dono no bom e no pior. Quase sempre no pior. Não sei se o Sporting não deveria mudar de registo e passar a chamar-se Paulo Bento Club de Portugal.
Ontem quem perdeu o jogo não foi o Sporting. Foi Paulo Bento. Aquela equipa de base não entra na cabeça de ninguém: Polga e Grimi? Polga há muito que se arrasta e Grimi que nunca mostrou saber jogar e ainda por cima após uma paragem longa sem ritmo!. É evidente que Hulk fez dos dois "gato-sapato" e sobrou-lhe tempo.
Mas Paulo Bento como Secretário Geral ou Presidente de Partido garante lugar sempre a uns quantos.