Terça-feira, 5 de Maio de 2009
Arrojo, audácia, tenacidade precisam-se – para enfrentar e para afrontar tudo o que aí está e o que ainda está para vir.
Ele é dos que assina por assinar e não cuidando saber o que assina. Ou seja, gere e geria negócios como um futebolista dá autógrafos numa promoção de roupa desportiva. Como conselheiro de Estado, está lá para assinar actas? Então é uma desnecessidade não fora ter Cavaco como amigo.
Lendo-se aqui, a propósito de Maio 68, que:
A França dos anos 60 era muito fechada e conservadora (…). Nas escolas imperava uma disciplina rígida, a família tinha um funcionamento centrado na autoridade do homem e subjugação da mulher e a homossexualidade era diagnosticada como doença.
Entende-se como era o Portugal dos anos 60. Aquele em que uma parte deu, então, o “grande salto” para França.
Segunda-feira, 4 de Maio de 2009
Sem ele, muito menos portugueses teriam aprendido a gostar de cinema.
Até tu, Jorge Sampaio, transversas?
César das Neves, um dos mais empenhados paladinos de causas e contra-causas (contra o Estado, contra o aborto, contra o casamento de pessoas do mesmo sexo, contra praticamente tudo que seja progresso e modernidade dos costumes, pela ditadura do Mercado, pelo Papa e pelo Vaticano), no seu posto de comando das segundas-feiras:
Um dos aspectos mais tontos e perigosos da sociedade mediática é o fenómeno das causas. De repente, ninguém sabe bem de onde nasce uma campanha que se transforma momentaneamente num grande movimento aglutinador de pessoas de todas as origens. Muita gente abandona as suas vidas, esquece o trabalho ou dedica horas vagas a promover o propósito, enquanto a massa anónima toma partido e discute o tema.
(…)
Internet e blogs pareceram democratizar o processo. Agora todos têm possibilidade de criar um sítio e fazer a sua campanha. Basta uma breve visita à Net para ver o enorme empenhamento que por lá pulula, frequentemente enraivecido, amargo e extremista. Existem mesmo exemplos de movimentos de massas que, nascidos em blogs ou SMS, tomaram dimensão nacional, como nas eleições espanholas após o atentado de 11 de Março de 2004 e a oposição ao aeroporto da Ota.
Mas esta democratização é uma ilusão. Os grandes jornais e televisões mantêm bem firme o domínio sobre todo o processo. Só se torna nacional aquilo que é adoptado centralmente pelos meios oficiais. A Net apenas substituiu tabernas e cafés como viveiro de causas.
Domingo, 3 de Maio de 2009
José da Silva Lopes tem 77 anos e nasceu em Seiça, uma freguesia do concelho de Vila Nova de Ourém. Nos anos 60 e 70, em pleno Estado Novo, negociou a adesão de Portugal à EFTA. Mais tarde, esteve também envolvido nas negociações de adesão à então CEE. De 1975 a 1980 foi governador do Banco de Portugal.
Esteve à frente das Finanças várias vezes, tanto nos governos provisórios como nos constitucionais. Antes tinha sido secretário de Estado das Finanças com Adelino da Palma Carlos, no I Governo provisório. No meio de tanta actividade, ainda teve tempo para ser deputado entre 1985 e 1987. Mais recentemente, foi presidente do conselho de administração do Montepio Geral, cargo que ocupou de 2004 a 2008. Quando saiu do banco de toda a gente terá recebido qualquer coisa como 500 mil euros.
Pois bem. Este economista, que sempre navegou nas águas socialistas e que no meio desta crise financeira e económica veio defender a baixa dos salários, foi agora nomeado administrador da EDP Renováveis. António Mexia, presidente da EDP, ex-ministro das Obras Públicas de Santana Lopes e grande amigo de Manuel Pinho e José Sócrates, só pode ter feito esta escolha condoído com as reformas miseráveis de Silva Lopes. Haja Mexia.
Sábado, 2 de Maio de 2009
Duque disto, conde daquilo, marquês de uma coisa qualquer. Trinta e nove é o número de títulos nobiliários que Franco, ditador de Espanha por graça de Hitler, Mussolini, Salazar, Pio XI e Pio XII, espalhou em Espanha para brasonar militares golpistas, chefes falangistas e grandes patrões, utilizando um poder que a si próprio atribuiu por decreto em 1948. Fazia parte dos seus poderes e caprichos. Não surpreende. O que admira é que, com a Espanha devolvida à democracia há trinta e quatro anos, estes títulos de nobreza continuem a ser oficiais e constar da ”lista de títulos e grandezas do Reino” registada no Ministério de Justiça. E que continuem a ser legados aos descendentes dos figurões do fascismo espanhol graduados em nobres por Franco. Com o rei a não enjeitar a companhia desta nobreza canalha. Uma vergonha entre as vergonhas muito pouco nobres.
Imagem: Franco cumprimenta o Conde de Alcázar de Toledo (uma fortaleza militar na cidade de Toledo que sediou um dos episódios mais propagandeados da ofensiva fascista pelo cerco e conquista de Madrid), título que atribuíra ao general Moscardó, um dos oficiais golpistas que, como coronel, o apoiara a lançar Espanha numa guerra civil que destruíu grande parte do país e ceifou as vidas de um milhão de espanhóis.
Sexta-feira, 1 de Maio de 2009
Trinta e cinco anos é pouco tempo como distância favorável à caracterização histórica. Mas, quando os factos são marcantes, é muito tempo enquanto acumular de clichés, “verdades” (muitas vezes contraditórias entre si), condenações, ressentimentos, cultos e marcenaria de mitos. E quando chegar o tempo certo, sobra o quê para os historiadores e outros investigadores da memória? Os documentos, os que resistam aos ímpetos e acasos de destruição, as versões construídas, muitas delas inevitavelmente ideologizadas. E a memória transmissível e transmitida é que paga.
Se nos documentos não está tudo pois nem tudo é registado e preservado, a recolha de registos testemunhais dos depoimentos dos protagonistas, enquanto são seres comunicantes, dos acontecimentos de realce, tem uma importância nuclear na abrangência e na comunicação historiográfica. O trabalho prestigiado da historiadora e investigadora Maria Manuela Cruzeiro, ligada à Universidade de Coimbra, no campo de testemunhos associados ao 25 de Abril, é já hoje (mais será amanhã, quando completo o ciclo de distanciação) um conjunto de peças fundamentais e incontornáveis na construção do puzzle que ilumine as dimensões polifacetadas das mudanças profundas da sociedade e da política operada em 1974, em que uma revolução substituiu uma ditadura por um regime democrático e a que se seguiu um numero altíssimo de episódios e convulsões. Sob a forma de entrevistas orientadas para a descodificação das participações nos actos relevantes, MMC consegue dos seus entrevistados relatos pessoais de envolvimento e participação que nenhum documento poderia revelar e nenhuma autobiografia decerto o faria. Para mais, MMC denota que consegue aquilo a que só chega uma genuína sedutora por inteligência, missão e intuição - a criação de uma empatia favorável à recomposição temporal e factual dos entrevistados, fluidificando-lhes o fio da memória com a recriação, inclusive, do ambiente emocional em que os factos foram vividos (de igual importância ao da frieza dos factos em si). Se, finalmente, se acrescentar a estes atributos um cuidado quase maníaco com o rigor e uma escrita fresca e envolvente (agora o talento da sedução virada para os leitores), tem-se a ideia do papel de MMC na construção histórica da memória do trauma e da exaltação da revolução do 25 de Abril.
Após a publicação das entrevistas feitas por MMC a dois militares e figuras charneira da revolução, Melo Antunes e Vasco Gonçalves, acaba de ser editado o volume (volumoso) da entrevista a Vasco Lourenço (*) que, como os outros, só consegui ler de um fôlego. Este é, sem dúvida, o depoimento mais revelador e mais significante. Não só porque Vasco Lourenço, excepto no episódio do levantamento militar em si mesmo (estava desterrado nos Açores, o que o levou a ceder o comando operacional do 25 A a Otelo), esteve “em todas” (na cúpula da conspiração e nas cúpulas militares em todos os acontecimentos posteriores à revolução, incluindo a contra-revolução) como desempenhou nelas o papel compósito do organizador, agitador e clarificador político. Naturalmente, como todos os militares a partir do desdobramento crítico do MFA em fracções (verdadeiramente, o MFA sempre foi um aglomerado de fracções, inclusive na sua génese), o que foi uma sucessão ininterrupta, Vasco Lourenço foi homem de fracção, jogando nas regras do jogo grupal, o do grupo que foi mantendo e depurando. Mas, pesem os acidentes de percurso, Vasco Lourenço foi um vencedor quase permanente (só perdeu quando a direita que saltou da cortina do “novembrismo” se apoderou dos efeitos do 25 de Novembro, marginalizando quase todos os que, de algumas formas, haviam construído e desconstruído o castelo das várias revoluções – ou golpes – que fizeram “a revolução”, em vingança tardia sobre os “capitães de Abril”). E por isso, envolvido nos cordelinhos das conspirações e das contra-conspirações, logo um depositário de memória privilegiada sobre os principais acontecimentos, os mais e os menos conhecidos. Vasco Lourenço, possuidor de uma memória prodigiosa, dá aqui, para mais com uma frontalidade que muito enriquece o depoimento, um contributo para o entendimento do 25 de Abril e acontecimentos preparatórios e conexos de consulta obrigatória para uma visão integrada e abrangente do MFA na liquidação da ditadura e na construção da democracia enquanto projecto de legitimação da soberania através da via eleitoral. Em que ressalta, repito, o talento da entrevistadora-guia.
Um outro livro lançado em simultâneo com a entrevista de MMC a Vasco Lourenço, o da historiadora Joana de Matos Tornada (**), um resumo de uma tese de mestrado, dedica-se especificamente ao “ensaio” (ou “antecipação) falhado do 25 de Abril, o golpe de 16 de Março de 1974 de oficiais do MFA do quartel das Caldas da Rainha. Como episódio que ganhou uma relativa irrelevância, porque falhou e porque foi abafado pela vitória nos acontecimentos de 25 de Abril, ele tem sido insuficientemente prezado. E, no entanto, difícil é entender o 25 de Abril e o papel posterior dos “spinolistas” (golpistas incorrigíveis até o 11 de Março de 1975) sem se iluminar o que esteve dentro e por trás do 16 de Março. Num misto de recolha documental e de depoimentos, o livro de Joana Tornada tem uma acuidade que o recomenda (nomeadamente quanto ao controlo de perto pela GNR e pela PIDE). Mas, infelizmente, a obra estampada é um desastre para a leitura por infelizmente, não ter havido o devido cuidado, ou talento, em refazê-lo a partir do texto da tese de mestrado. O resultado editado é um martírio para o leitor (***), recurso excessivo e constante para as notas, repetições atrás de repetições, um estilo de escrita pesado e sem mérito literário. Com tempo, talvez uma segunda edição permita melhorar a obra, trabalhá-lo para leitura, permita salvar o essencial – o seu contributo útil para o melhor deslindamento de um episódio essencial no entendimento do MFA e da resposta da ditadura.
(*) – “Vasco Lourenço, do interior da Revolução”, entrevista de Maria Manuela Cruzeiro, Editora Âncora.
(**) – “Nas vésperas da democracia em Portugal, o golpe das Caldas de 16 de Março de 1974”, Joana de Matos Tornada, Edições Almedina.
(***) – As 312 páginas do livro de Joana de Matos Tornada deram-me cinco vezes mais de “dias de leitura” que as 575 páginas da entrevista a Vasco Lourenço.
Lília Bernardes não está com rodriguinhos. E, aqui, mete os pontos nos ii sobre os candidatos falhados a terem lugar de mordomos póstumos dos senhores da foto com aspectos de múmias.
Trata-se de um 1.º de Maio em que os trabalhadores virão afirmar a sua disponibilidade de luta e a sua determinação de lhe dar continuidade, alargando-a e intensificando-a, atraindo a ela novos segmentos das massas trabalhadoras.
Para os comunistas e restantes activistas da CDU, esse será um dia de carregar baterias para as muitas batalhas que têm pela frente, designadamente as que dizem respeito ao ciclo eleitoral, para as quais lhes é exigido, para além do esforço, sempre grande, que faz parte do seu dia-a-dia militante, o esforço ainda maior, suplementar, indispensável para superar os muitos obstáculos que se lhes deparam. E será também um dia em que no pensamento de todos estará a data de 23 de Maio: o dia da Marcha de protesto contra a política de direita; de ruptura com essa política; de confiança na força da luta das massas populares como caminho para alcançar esses objectivos, rumo a Abril de novo.
Definido ficou o que era, segundo o PCP (que cada vez mais se assume como controleiro público da CGTP), o 1º de Maio para os “trabalhadores” e o que ele representava para “os comunistas e restantes activistas da CDU” (numa estranha separação entre trabalhadores e entre membros de um “partido dos trabalhadores”). Para os últimos, este 1º de Maio estava marcado para ser apenas um dia “de carregar baterias”. Pela amostra de hoje, imagina-se o que auguram quando eles tiverem as baterias com carga plena.
Sendo muito o que dele me separa politicamente, hoje estou com Vital Moreira. Com ele e não com os fanáticos cobardes com pressa de viverem na Coreia do Norte. Em democracia, as vitórias e as derrotas saem das urnas de voto.
Juntamente com o "cumprimento de ordens", a "legalidade" sempre foi (foi-o em momentos sórdidos do século XX e continua a sê-lo) a explicação mais à mão para justificar o injustificável. Como se só o que é ilegal fosse condenável.
Lembra-me, bem sabendo que é uma associação forte, que os pides se desculparam das piores barbaridades cometidas dizendo que não só cumpriam ordens como recebiam orientações legais que cumpriam com toda a legalidade. No fundo, ilegais eram os outros, os presos e os torturados, violadores da legalidade da época. A continuidade está aqui, para os burocratas da vigilância e da delação: o que não é formalmente ilegal é permitido. Mas esquecem-se que nós não esquecemos que há sempre uma escolha entre o leque das legalidades. E eles, inspectores em serviço na escola de Fafe, escolheram o que escolheram, o de recrutarem e formarem adolescentes como delatores. Os outros também fizeram o mesmo. Pode ter sido um impulso, um acto irreflectido, um excesso de zelo repentino, mas houve um momento em que foram iguais. Que limpem a nódoa e não a alastrem com desculpas que são piores que a falha.
Aqui, recordo quando, por um Primeiro de Maio, troquei de namorada por uma noite. Enquanto muitos, muitos mil, demoraram dez anos a responder à convocatória.