Quarta-feira, 27 de Maio de 2009
O Cardeal Antonio Cañizares, da Congregação pelo Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, encontrou uma estranha e obscena forma de desculpar a matilha de padres e freiras abusadores de menores que lhes são entregues para educarem: relativizou-os por comparação numérica com o número de abortos que se realizam. Quase apetece perguntar-lhe se a sua repulsa pelo aborto se deve a considerar que ele reduz o potencial de recrutamento de abusados por graduados da Igreja Católica.
É claríssimo que a movimentação professoral desta semana, a greve de uma manhã e a manif de uma tarde, coincidente com a campanha eleitoral, tem mais a ver com as eleições propriamente ditas que com as causas do ensino e dos professores. Força a nota, serve interesses partidários evidentes e, assim sendo, é um abuso sindical. Mário Nogueira, como costume, serve uma agenda política que suplanta a problemática da educação. E, por isso, prejudica a educação, os alunos e, sobretudo, os professores. Porque, quanto a estes, os que saírem sábado à rua com uma bandeira sindical na mão, quem os vir passar sabe que ali vão professores que amam mais o partido que ensinar, desfilando numa caravana da CDU disfarçada com as siglas da Fenprof. E não adianta que os professores lhe neguem o voto em eleições sindicais e depois meta na rua a desfilar a marcha dos vencidos como se de vencedores da luta se tratassem, pois toda a manipulação disfarçada tem um limite para a eficácia do engano.
Há mais de trinta e cinco anos, quarenta e quatro balas tiraram a vida a um cantor, cujas canções eram ouvidas por jovens de todo o mundo. O cantor era chileno, chamava-se Victor Jara. Sempre se soube de onde veio a ordem para assassinar Jara e, assim, roubar à juventude um dos seus símbolos na crença da possibilidade desejada de um mundo mais livre e mais justo. Uma ordem daquelas só podia vir do círculo de comando dos esbirros de Pinochet. Mas o segredo sobre a identidade dos carrascos de Jara, os que empunharam as armas do crime e as dispararam, foi bem guardado, mesmo após o regresso do Chile à democracia. Finalmente, sabe-se agora quem são e como se chamam os matadores de Victor Jara.
Um dos muitos insólitos de tempos idos (e muito esquecidos): um quartel da GNR plantado dentro de uma fábrica. Lembrado aqui.
Terça-feira, 26 de Maio de 2009
Mais um testemunho sobre a morte falhada e a morte concretizada de Amílcar Cabral.
Bernardino Soares, esse, dirá não ter a certeza que estes mísseis não sejam democráticos.
Mas eis que, no meio da desvergonha generalizada, surge o anúncio de uma coligação para a Câmara de Lisboa, provavelmente com o intuito abstruso de reeditar a A.D. dos tempos do PREC, que inclui um “cadáver” político, utilizado por um aventureiro sem escrúpulos a soldo de inconfessáveis interesses, que dá pelo falso nome de P.P.M..
E digo falso porque, depois dos tempos em que algumas figuras monárquicas de inegável prestígio, discordantes do rumo a que o Estado Novo conduzira o País o criaram para ocuparem um espaço político no pós 25 de Abril, foi esse partido, com o nome de Monárquico, tomado de assalto por gente que, imaginando-se com direitos a um hipotético trono, melhor estariam internados junto dos que se julgam Napoleões, do que na política activa.
Mas mais grave do que a existência destes doentes sem tratamento, é a irresponsabilidade dos dois partidos que com eles se coligaram, embora conhecedores de que tal partido não representa monárquicos eleitores em Lisboa.
Segunda-feira, 25 de Maio de 2009
É uma lástima empresarial que César das Neves não se dedique à venda de burkas e cintos-de-castidade:
Se vivêssemos há uns séculos, ver-nos-íamos envolvidos em discussões, hoje abstrusas, acerca do sistema político, empresarial ou religioso. Aliás são os mesmos activistas revolucionários que, órfãos dessas antigas lutas político-económicas, vêm agora atacar a instituição familiar com a fúria dos velhos combates laborais. A alcova substituiu a empresa e o direito à greve foi trocado pelo direito ao deboche. Os esquerdistas andam agora paradoxalmente aliados a marialvas e proxenetas.
Em consequência, o Governo, incapaz de resolver desemprego e falências, preocupa-se com a facilitação do divórcio dos casais e a promoção do casamento de homossexuais. Os ministros, que fizeram explodir o défice, subsidiam abortos e querem distribuir preservativos gratuitos nas escolas.
Assim, se as boas ideias não passam para o mercado, como pode o país progredir?
Imagino-lhe a pose nos “passos perdidos” da Europa parlamentar. Imagino ainda os fatos e as gravatas que vestirá nas suas novas funções, ele roído de saudades de apoiar Manuela e questionar José. Só a voz não vai conseguir mudar. Mas vai falar longe e só de vez em quando, intercalando com o Vital, a Ilda, o Miguel, talvez o Nuno. Na vida, pelos votos, nem tudo são perdas. Também há ganhos. Este está garantido.
Autódromo do Algarve, ontem: a extraordinária sensação de uma velocidade nunca antes experimentada.
Comício de Coimbra, hoje, com Sócrates e Zapatero. Um sucesso político no arranque da campanha.
Matosinhos, encontro com arquitectos, para discutir arquitectura e urbanismo no quadro da UE.
Sexta-feira, 22 de Maio de 2009
Seria pedagógico que a Associação de Pais da Escola António Arroio organizasse uma excursão para os seus associados à Ilha de Santiago (Cabo Verde) e visitarem ali o que resta do Campo do Tarrafal. Na condição de depois explicarem aos filhos o que foi o fascismo.
Mais um jornalista iniciou-se na escrita de romances. Agora coube a vez a Manuel Acácio (uma das vozes conhecidas da TSF) (*). E, literariamente, trata-se de uma agradabilíssima surpresa. Como já tinha acontecido, aliás, com Francisco Camacho e o seu excelente “Niassa”. E em ambos os casos temos, com ritmos diferentes, uma escrita de primeira água.
Manuel Acácio escolheu como trama do seu romance de estreia a voz da antítese na descolonização, ou seja, o sentir (agora com o peso e a maturação, também a nostalgia amarga, da distância) dos colonos regressados, através de figuras vindas de Angola gravitando à volta da narrativa do protagonista, um antigo funcionário da administração colonial angolana. Diga-se que a empresa escolhida foi arriscada ao dar voz a uma parcialidade com visão apaixonada sobre o colonialismo e a descolonização. Mas se o projecto foi de risco, diga-se que o resultado foi plenamente conseguido. E sabe-o quem (ou seja, quase todos nós) ouviu os chamados “retornados” a falarem dos seus dramas e dos seus ressentimentos e hoje, passada a fase agressiva dos ajustes de contas, lhes sente nos silêncios e nos olhares uma mágoa enlutada e uma desentranhável saudade apaixonada por África mitigada numa nostalgia ressentida mas, normalmente, serena. Porque o irreversível deu-se, porque Europa substituiu África como destino pátrio e com vantagens indiscutíveis para todos, porque a integração na sociedade metropolitana se verificou com traumas mas com sucesso. Mas essas centenas de milhares de patrícios nossos, os que foram a África e voltaram, os que já não distinguimos na sociedade portuguesa actual, têm direito à sua nostalgia, á memória das suas dores, até a conservarem os fios dos seus ressentimentos. Obviamente que estes são uma das muitas partes dos dramas da colonização, do colonialismo, da guerra colonial, da descolonização, associados à presença de Portugal em África. Uma parte não é o todo mas faz parte dele. No mínimo, merecem que Manuel Acácio se tenha lembrado deles. E talvez o que lhes corrido melhor tenha sido, ao isso acontecer pelo romance, ter-lhes calhado alguém com tanto talento literário para lhes dar voz à nostalgia e ao ressentimento. As “outras partes” do drama colonial de tanto não se poderão gabar.
Como disse, o romance de Manuel Acácio centra-se e fecha-se sobre uma das partes da colonização/descolonização, a dos colonos escorraçados de África. Neste sentido, “A Balada do Ultramar” é ainda uma forma de seccionar as partes desse drama sublimado, mas não extinto, na sociedade portuguesa. Mas não é tarde para a síntese. Só passaram trinta e cinco anos sobre as feridas abertas com a despedida portuguesa de África. E quem se estreia assim no romance tem muitos livros para nos levar a navegar. Não de cá para lá nem de lá para cá, apenas entre cá e lá e entre lá e cá. Uma fatalidade para um povo com tanta gente com África nas veias.
(*) – “A Balada do Ultramar”, Manuel Acácio, Oficina do Livro.
António Avelãs vai continuar a dirigir o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), a maior estrutura da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), ao vencer com 63 por cento dos votos as eleições realizadas terça-feira, foi hoje anunciado.
Com cerca de mil votos condicionais e por correspondência ainda por apurar, a lista A, liderada por António Avelãs, tem uma vantagem de 1 308 votos sobre a outra lista, encabeçada por Rui Capão Andrade, refere um comunicado sindical.
No propósito de «eleger uma direcção de confiança», e por considerar haver «debilidades e insuficiências organizativas e de acção de uma direcção que se revelou incapaz de acompanhar a luta que se desenvolvia nas escolas, a Lista B, unitária, apresentou-se sob o lema, «Unir os professores e educadores para reforçar a luta, Elege uma direcção de confiança».
A candidatura à maior estrutura sindical da Fenprof, «unitária, plural e de renovação, com muitos jovens candidatos, dirigentes, delegados e activistas sindicais com mais experiência salienta que «ao contrário da actual direcção do SPGL, participámos empenhadamente na eleição do actual secretário-geral da Fenprof que, como sabem os professores, veio dar nova dinâmica ao movimento sindical, à qual se colaram, nos últimos tempos, aqueles que a todo o custo tentaram impedir a sua eleição para disfarçar a sua incapacidade de praticar um sindicalismo participado e combativo, no qual os professores se revejam e em quem possam confiar», considera-se no documento de apresentação da candidatura da Lista B.
O que significa que, na maior estrutura sindical dos professores entre as filiadas na Fenprof, a lista pró-Mário Nogueira/PCP (este foi a principal bandeira, estranhamente fulanizada, ao identificarem-se com o “actual secretário-geral da Fenprof que, como sabem os professores, veio dar nova dinâmica ao movimento sindical”) foi derrotada. Ao usarem a colagem com Mário Nogueira como seu principal trunfo eleitoral, o resultado da lista B (apoiada pelo “Avante”) significa que os professores da Grande Lisboa manifestaram rejeição relativamente ao líder principal do sindicalismo dos professores. O que demonstra que nem tudo o que luz é oiro.
Ele devia era ter vindo antes da crise e das trapalhadas do BCP, BPN e BPP. Assim e agora, o Colina veio foi dar a desculpa aos gestores que se até o melhor dos árbitros errou…
É uma notícia animadora: "Manuel Pinho acredita que a Autoeuropa vai manter-se em Portugal". Podem faltar-lhe outras coisas, mas fé não falta ao ministro Manuel Pinho:
"Manuel Pinho acredita que Portugal pode sair bem desta crise " ('Diário Económico', 30/9/ /08); "Manuel Pinho acredita na competitividade das empresas portuguesas" (TSF, 10/11/08); "Manuel Pinho acredita que défice pode ser reduzido a 3%" ('Jornal de Negócios', 2/10/06); "Manuel Pinho acredita no plano para salvar Quimonda" (RTP, 27/1/09); "Manuel Pinho acredita que o país pode passar de importador a exportador de energia" ('Sol', 30/6/07); "Manuel Pinho acredita que sector do turismo resistirá à crise" (TSF, 12/9/08); "Manuel Pinho acredita no cluster do mobiliário" (Paços de Ferreira, 30/5/08); "Manuel Pinho acredita que Douro será zona turística de 'altíssima qualidade'" (JN, 5/5/ 09); "Manuel Pinho acredita numa nova maioria do PS" (TSF, 10/5/09); e por aí fora, que a crónica não dá para mais…