Quinta-feira, 30 de Abril de 2009
No mesmo dia, enquanto o “Avante” desanca nos bispos, teimosos em regressarem ao “passado, negro e profundo”:
Tal como o capitalismo, também a Igreja Católica se debate com obstáculos que os bispos não sabem remover. E é sabido que os grandes problemas da teologia católica sempre foram combatidos pela hierarquia reforçando a imposição da sua autoridade e regressando ao passado, negro e profundo. Erguendo muralhas irracionais e isolando-se.
Jerónimo de Sousa, generoso, leva-lhes um pouco de marxismo-leninismo para os iluminar:
A pedido do PCP, uma delegação integrando o seu secretário-geral, Jerónimo de Sousa, foi recebido pelo Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga. No Encontro, deu-se a partilha de opiniões sobre a realidade nacional e sobre as respostas que, aos vários níveis de responsabilidade, as situações exigem e impõem.
Completando: À imagem de cima (um cartaz soviético ilustrando a caracterização marxista da religião como ópio do povo) pode juntar-se a reprodução, em baixo, do cartoon do mesmo exemplar do "Avante" (o de hoje) que sublinha a dúvida (mais que legítima) sobre a declarada apoliticidade dos bispos portugueses. Então como entender que no dia em que o "Avante" se radicaliza no ataque aos bispos portugueses (com especial foco em Jorge Ortiga, arcebispo de Braga), inclusive através de verbalismo e grafismo extremamente violentos, Jerónimo de Sousa vá ao beija-mão à Sé de Braga, encenando uma partilha de preocupações com a Igreja sobre a situação social portuguesa? A resposta só pode estar no descarado oportunismo eleitoralista do PCP que este partido pratica por movimento de inércia da sua facilidade em recorrer á duplicidade. E, no caso desta acção de marketing perverso que Jerónimo hoje levou a cabo, agarrando-se às sotainas, as mesmas em que o "ateísmo científico" da ideologia do PCP cospe, não lhe será alheia que Ilda Figueiredo, cabeça de lista do PCP ao Parlamento Europeu, tenha tido um passado de activa militância católica antes de se tornar comunista. É tão revolucionária, tão marxistas-leninista, esta direcção do PCP que, como a revolução não se faz com votos, para caçar votos tudo vale.
Quarta-feira, 29 de Abril de 2009
Outra das romagens foi prestada por um grupo de alunos do Centro de Formação Profissional de Águeda que ali fizeram uma visita de estudo. João Caseiro, formador do centro e responsável do grupo, contou à Lusa que "é preciso deixar de pensar no Salazar como um fantasma e compreendê-lo como um homem do seu tempo". Um destes alunos esclareceu que Salazar "não deu a liberdade à população, mas não nos envolveu na II Guerra Mundial".
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Adenda: Uma leitora (Helena Velho) deixou o seguinte comentário:
Mais uns tempitos e os meus netos ou minhas netas vão aprender nos livros oficiais que ele, o tal que não nos envolveu na II Grande Guerra (era um humanista! bof!), foi o maior Chefe de Estado deste País de brandos, brandíssimos costumes e parca memória!
E eu digo que esta é uma hipótese-pesadelo mas hipótese. De qualquer modo, e para já, temos este dado espantoso: um Centro de Formação Profissional (!) organiza, em 2009, num dia de semana, excursões de formandos ao cemitério do Vimeiro para visitar a campa de Salazar no dia do seu aniversário. E a pergunta que salta é esta: ser salazarista já é profissão? Ou uma outra: o formador-excursionista, em vez de formar, abusa?
Terça-feira, 28 de Abril de 2009
Na infância queria ser santo. Rezei, fiz penitências, dei o lanche que trazia de casa aos pobres. Era uma espécie de investimento, que esperava cobrar com juros no Céu. Tinha sido mal informado. Um dia li uma biografia de Santo Inácio de Loyola e descobri que o caminho para a santidade era um pouco mais tortuoso do que pensava, e começava - antes de passar às orações propriamente ditas - por matar franceses em Navarra e perseguir mouros que duvidassem da virgindade de Nossa Senhora. Matar espanhóis e enforcar camponeses sublevados, como S. Nuno Álvares Pereira, e ser filho de prior e neto de arcebispo, senhor de Barcelos, Braga e Guimarães, Montalegre e Chaves, Ourém e Porto de Mós, Alter do Chão e Sousel, Borba e Vila Viçosa, Estremoz e Arraiolos, Montemor e Portel, Almada, Évora-Monte, Monsaraz, Loulé e mais reguengos e lugares, também ajudava. Como não tinha terras nem tencionava matar mouros ou espanhóis, desisti da santidade. Continuei a partilhar o lanche com os colegas pobres (e, como S. Francisco de Assis, com os animais vadios da vizinhança) apenas, que Deus me perdoe, por humanidade.
Segunda-feira, 27 de Abril de 2009
João Vasconcelos Costa, virologista entre outras competências, dá o seu contributo de esclarecimento sobre a pandemia que circula de avião:
Considero uma situação muito preocupante, porque estamos perante condições muito diferentes do que eram as tradicionais na emergência de novas pandemias de gripe. A sua origem não é em zonas rurais da Ásia mas sim numa área metropolitana de 20 milhões de pessoas, em estreito contacto favorecedor de transmissão por via respiratória. Em segundo lugar, os vírus hoje viajam de avião. Finalmente, como disse atrás, trata-se de um tipo de vírus contra o qual há dezenas de anos que não há qualquer resistência imune nem há vacinas rapidamente disponíveis.
Que fazer, em Portugal? Para já, a nível individual, nada. A nível das autoridades de saúde, vigilância, controlo a nível de medicina das viagens, planeamento desde já de condições de hospitalização e isolamento de milhares de possíveis doentes (atenção, vai ser a esta escala, transformando a FIL em hospital). O que faria agora eu, como indivíduo? Obviamente, cancelar qualquer viagem marcada para o México ou para o sul dos EUA. Informar-me junto do meu médico sobre todos os sinais de alerta, os sintomas da gripe, que muita gente confunde com os de uma vulgar constipação. Se começar a haver casos em Portugal, usar máscara, deixar de frequentar locais com muita gente, isolar em casa, como prisioneiros, os nossos pais septuagenários. E, se a religião ajuda, rezar frequentemente.
Mas também ter em conta que o mesmo progresso e actual modo de vida que nos vai trazer o vírus de avião também vai permitir o diagnóstico muito precoce da doença, a produção limitada mas razoável de medicamentos e de vacinas.
A ler aqui, sem falhas por inconsciência, a versão integral do texto de João Vasconcelos Costa.
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Adenda (28/04/09): Ver ainda a nota mais recente de JVC.
Rui Tavares, no “Público” de hoje, propõe:
“Para transformar o país precisamos de três is. O primeiro é o de idealismo: uma motivação que não seja mesquinha nem interesseira mas ampla e generosa. O segundo é o da igualdade: que todos os cidadãos tenham acesso às ferramentas necessárias para conseguir um futuro melhor para o país e para si mesmos. O terceiro é o da inteligência: que o acesso ao conhecimento seja entendido como um meio, e talvez sobretudo como um fim, de uma existência com mérito.”
Subscrevo e acrescento um quarto i: Isto é, que a lógica aparelhística na esquerda evolua e Rui Tavares deixe de ter um terceiro lugar de adorno nas listas de candidatos e com isso seja conivente.
Quando Paulo Rangel lembrou os passados políticos revolucionários e não democráticos de Augusto Santos Silva, Vital Moreira e Mário Lino, deu-lhe a “branca” e esqueceu-se de Durão Barroso, o Comissário Mor. Talvez Pacheco Pereira e Zita Seabra o repreendam pela injustiça amnésica.
Domingo, 26 de Abril de 2009
Leio sempre o Marcelo Ribeiro com um ritual prévio de expectativa, paramentando-a com um salivar de cumplicidade iminente. Será isto o que se chama de camaradagem de escrita ou talvez tenha a ver com coisas que são outras, entre os géneros das emoções ou dos valores forjados em trajectórias nada iguais mas suficientemente cúmplices e que são comuns naqueles que “andaram ao mesmo” por vias tortas e algumas direitas. Confesso que, na blogosfera, me acontece pouco disto. No cinema, na música e na literatura, lá aparecem um ou outro, todos somados a fazerem um pelotão pronto para combate. Com amizades vividas, isso sim, porque é esse o sal que as temperam e lhes dão uma benigna hipertensão. O caso do Marcelo Ribeiro é diferente: não o conheço ao vivo, não fugimos juntos à polícia, não nos cruzámos sequer numa esquina, não sei se tem voz grossa ou fininha ou se prefere tinto velho ou branco novo. Mas ao ler esta nostalgia irónica, parece-me, em irrealidade conveniente, que a Figueira e o Barreiro são aldeias do mesmo concelho:
Que ironia sentir-me vivo, rodeado da morte de outros, da morte de ideais, da morte de uma certa forma republicana de governo, da melancólica apatia dos ideais socialistas que agora nem sequer se notam de tão puídos, na máscara rugosa de um punhado de ministros todos igualmente fungíveis, todos igualmente espertalhões, todos tristemente votados, e a história aí está para os marcar, ao anémico desaparecimento das primeiras páginas, da política e do resto.
Desafiado a contar o meu “24 de Abril” pela Sofia Loureiro dos Santos, satisfazendo também a curiosidade da Cristina Vieira, esse dueto de simpatias, aqui fica a síntese de memória que a distância ainda me permite ser capaz de fazer:
Em 24 de Abril de 1974, a ditadura preparava-se para estrangular o cineclubismo, movimento em que participava como dirigente do ABC. Na noite de 24 para 25 de Abril, quase não preguei olho. Não por causa da PIDE a apertar o cerco sufocante aos cine-clubes. E nada sabia das movimentações dos militares. A vigília tinha outro motivo - a minha filha Catarina, então com três anos, com uma amigladite, desafiava a escala do termómetro com um febrão consistente. Quando um amigo e meu vizinho me tocou à porta a dar-me a novidade e dizendo-me para ligar o rádio, seriam umas cinco da madrugada, estava acordado embora zonzo de uma noite quase não dormida. Depois, foi a escuta, partilhada de sobrolho carregado, do que a telefonia dizia e cantava, intercalada com os banhos de água tépida para refrescar a Catarina. O meu amigo e vizinho palpitava que era o Kaulza que tinha metido a tropa na rua. Eu inclinava-me por Spínola. Em sintonia, achávamos que estávamos tramados. Quando a manhã rompeu, a Catarina melhorou repentinamente pois o antibiótico começava a evidenciar o seu efeito. Podia, então, tirar as dúvidas, saber. E havia ruas para encher. Enquanto os cine-clubes iniciavam a marcha da ausência de utilidade rumo à inacção que a PIDE tentara e não tivera tempo para conseguir.
Sábado, 25 de Abril de 2009
Somos muitos, mais que um milhão, uma multidão, fora os mais que ainda virão para ultrapassar os que se vão. Não podemos, pois, escolher as companhias pintadas numa amável t-shirt oferecida por um artista catita e que inclui desde gente que muito estimo até socratistas e reaças. Toma lá que é democrático, não é caríssimo Rui Perdigão? Tá, thanks.
Sexta-feira, 24 de Abril de 2009
Eventualmente para cumprir o preceito católico de não usar preservativo, um bispo paraguaio (deixou de o ser em 2007) vê-se agora a braços com uma legião de senhoras com quem terá pernoitado e que se dirigem ao palácio presidencial, algumas com passagem pelos tribunais para meterem acções, exigindo ao Presidente Fernando Lugo (o ex-bispo) que reconheça a paternidade da presumida numerosa prole do fecundo reprodutor de sotaina. E Lugo, o da foto, tem a permanência no cargo presidencial em causa, tamanho é o escândalo. Para descanso de Ratzinger, esta barafunda não sobra para ele pois Lugo não só é homem de esquerda como deixou os hábitos há dois anos. Mas, prevenindo a possibilidade de casos homólogos com bispos de direita e em funções, e muitos são estes, seria prevenido que o Papa vencesse as suas resistências ao preservativo. Pelo menos, para uso dos curas que gostam de companhia na pernoita.
(notícia aqui)