Terça-feira, 31 de Março de 2009

Não era melhor que em vez de terem um Papa teólogo arranjassem um Papa sexólogo?

Não entendo esta surpresa sobre o número de professores na lista da CDU para o Parlamento Europeu e que relegaram os representantes do proletariado para dois lugares honoríficos faz-de-conta, 25º (para um metalúrgico) e 28º (para um pescador). Haverá classe profissional melhor avaliada pelo Comité Central que a dos professores?

A integração do País Basco na vida democrática teve, com os resultados das últimas eleições regionais, uma evolução mais precária que positiva. A dualidade que durante décadas sustentou a demorada adolescência basca de adaptação democrática (a ETA pela bomba, o PNV no governo regional) deu sinais de querer amadurecer, embora tenha dado resultados sucedâneos demasiado frágeis. O bloqueio à vista só foi superado pelo entendimento entre PSOE e PP, em que a troco da atribuição do cargo de “lehendakari” ao socialista Patxi López, se concedeu à ultra-conservadora do PP Arantza Quiroga (na foto) o lugar de presidenta do Parlamento Basco. Entretanto, os sindicatos nacionalistas marcaram uma greve geral para 21 de Maio, o PNV remói vingança política e a ETA continua a meter detonadores nos explosivos. Não está nada fácil a moenga, isso não.

Há autores com que colamos ficando-nos metidos na pele de leitura. Nenhum livro deles nos decepciona, todos são esperas confirmadas que nos compensam a ansiedade da escrita publicada. Esta empatia simbiótica só acontece quando o talento, o estilo, o olhar e o percurso nos colocam a ler aquilo que gostávamos fosse obra nossa. Não a pessoa, mas os seus livros, numa espécie de roteiro de autobiografia transfigurada. É um género de que, pela degola das decepções, só me restam dois titulares: José Cardoso Pires e Jorge Semprún. O primeiro foi-se, Semprún tem 85 anos e publica pouco. Por isso, resta-me relê-los. E é assim que, volta e meia, quanto a Semprún, me reencontro com o personagem Federico Sánchez (que foi o seu apelido de clandestino na Espanha franquista do fim dos anos cinquenta) que o escritor, quase há duas décadas atrás, decidiu suicidar como alter ego literário (e político), o que foi uma forma simbólica de deixar de autobiografar-se.
Eis senão quando leio que Frederico Sánchez voltou, fez uma breve palestra no Senado espanhol e voltou a desaparecer. Pelo resumo jornalístico, fica-se a saber que fez revelações que ainda causam furor, perturbando alguns clichés fixados na memória colectiva. E também contou anedotas do tempo de clandestinidade, como a do risco corrido quando num bar de Madrid dos anos cinquenta perguntou com inocência perigosa quem era esse tal Di Stefano de que todo o mundo falava à sua volta. E dá para imaginar, comparativamente, o risco de estranheza que um clandestino aqui correria, por chamada de atenção para a sua pessoa desentranhada do mundo, se na década de sessenta do salazarismo final mostrasse em público a sua ignorância acerca de quem era um tal Eusébio.
Foi brevíssimo e soube a pouco este reencontro com um meu escritor de pele. Mas foi. E do outro nem isso, para minha desgraça de leitura, posso esperar.

Um dos aspectos menos abordados na literatura histórica difundida, por isso entre os menos conhecidos e discutidos, acerca da guerra civil em Espanha (1936-39) é o envolvimento soviético ao lado da Frente Popular. Sobre este aspecto, ou abundam os silêncios ou os clichés que romantizam o “lado republicano” ou o demonizam. Este artigo de António Elorza, professor de Ciências Políticas, é uma síntese equilibrada e sugestiva sobre a forma como Estaline lidou com o conflito espanhol que emocionou e envolveu praticamente todo o mundo no final da década de 30 do século XX, desencadeando paixões maniqueístas cujos ecos ainda contaminam a actualidade ideológica.

Vital Moreira e a figura do Referendo:
Quem pensava que o ilustre candidato embirrava com referendos desengane-se. Porque se estes são maus para a Europa, são bons para ... o Sporting.
Segunda-feira, 30 de Março de 2009

A posição do Presidente Obama sobre a GM atinge as tripas de um símbolo (legível na frase célebre e gasta de “o que é bom para a GM é bom para a América”), dando-lhes, como escolha, serem salsichas ou nada. Que chorem os neo-liberais porque assim são úteis ao produzirem água barata.

Num artigo publicado em “El País”, Nicolás Sartorius, um velho militante contra o franquismo, sindicalista e activista político da esquerda espanhola, alerta e propõe:
Milhares de milhões para os bancos e milhares de trabalhadores para o desemprego é uma mistura explosiva. Os sindicatos estão a adoptar uma atitude muito responsável mas não seria bom que fossem ultrapassados pela revolta das pessoas. É que toda a paciência tem limites.
É evidente que os sectores “sistémicos” da economia não se podem deixar cair – a parte financeira, a energia, as comunicações, a actividade do meio ambiental -. Mas, por isso mesmo, estes serviços públicos globais têm que merecer uma eficiente supervisão e regulação a diferentes níveis e, em certos casos, têm que estar em mãos públicas.
Desta crise pode-se sair com mais do mesmo ou com outro modelo, mais democrático, mais social e, desde logo, sustentável. Penso que a época em que os EUA e a Europa faziam e desfaziam está ultrapassada. Há que democratizar todas as instituições internacionais; fomentar os processos de integração regional de forma a criar uma rede de governação coordenada e global; apostar num novo paradigma energético baseado em energias limpas; estabelecer novas regras no comércio mundial que incluam cláusulas de coesão social; acabar com os paraísos fiscais que são autênticos roubos aos fiscos enquanto as pessoas continuam a perguntar-se “onde está o dinheiro?”. Numa palavra, ir criando, paulatinamente, um Estado de bem estar global, única maneira, em minha opinião, de manter para o futuro aquilo que desfrutamos no Ocidente.
Esta grande operação de criar um novo modelo de desenvolvimento democrático, social e sustentável tem que ser liderado pelas forças progressistas, políticas e sociais, passando à ofensiva no terreno das ideias, dos valores, das políticas e das alianças.
(ler o artigo completo aqui) A direita e o centro (que a direita arrastou para o neo-liberalismo), incluindo toda a banda social-democrata que, a partir de Blair e imitando-o, se vergou ao primado absoluto do privado e do mercado até às suas últimas aberrações, estão incapacitados de responderem à crise. E, neste “museu da crise”, Cavaco Silva, Sócrates, Ferreira Leite e Portas ficam bem como “figuras de cera”. Muito menos esta gente é capaz de a aproveitar para a construção de um novo paradigma global que, partindo dos escombros da crise, resolva não só os graves problemas económicos e sociais do momento, mormente a relação entre o económico e o financeiro, como a construção de uma nova ordem global que previna os entorses e as disparidades toleradas como crie os alicerces de uma nova era de prosperidade, espalhando-a e não restringindo-a. Só a esquerda, se for propositiva e reformista, ousada a pensar, a agir e a unir, alijando o projecto que parasita a face simétrica do neo-liberalismo que é o sonho obsessivo e apocalíptico da revolução redentora agarrado à pele dos leninistas serôdios, tem essa oportunidade e missão. Terá ambição para isso?
Da crise de 29 do século passado, os EUA foram para o New Deal, enquanto a Europa se encafuou nos extremismos mórbidos e assassinos do fascismo e do comunismo. Agora, nesta crise, a América foi buscar Obama. A Europa quer ir para onde com Durão Barroso ao leme?
Domingo, 29 de Março de 2009

Não há justificação possível que justifique um espectáculo público (aberto ao público pagante de bilhete) ser atrasado pelo atraso de quaisquer personalidades. A não ser a da banalização do abuso de poder. Esse crime de entorse democrático foi cometido no CCB pelos abusadores atrasados e pelos servis que ordenaram que o público pagante de bilhete tivesse de esperar a chegada de Sua Excelência, a namorada de Sua Excelência e os convidados de Sua Excelência.
Sexta-feira, 27 de Março de 2009

Mas se o mérito existir mesmo qual é o problema em divulgar como é que esse mérito é remunerado? É uma ideia muito - mas muito - estranha considerar o segredo como a defesa dos valiosos. Ou esta meritocracia defendida por Granadeiro tem os pés de barro de um igualitarismo elitista em que, mais pela posição que pelo mérito de desempenho, a partir de um certo patamar, as empresas perdem o sentido das proporções quanto aos vencimentos (+ prémios + ...)?

Pedir a insolvência parece ser agora o melhor que os gestores e empresários conseguem fazer para salvar as empresas no contexto da crise. Mas quando do “Compromisso Portugal” davam ideia que tinham solução e pregação para este mundo e o outro.

No debate suscitado pela atitude da deputada dinamarquesa do Parlamento Europeu Hanne Dahl de levar a sua filha-bébé para os trabalhos parlamentares a questão que eu gostaria de ver abordada era o efeito daquela sessão de politização intensiva sobre a criança. Por mim, acho que não lhe dá saúde e pode inibi-la de querer voltar a entrar num Parlamento quando crescer. Sobretudo se teve de ouvir o Le Pen. Mas como é costume, discute-se maternidade, mulheres-trabalhadoras, mães-trabalhadoras (de pais não, porque o pai da bebé parece que não é deputado), esquecendo-se o mais importante, o direito ao sossego de quem foi para ali arrastada sem meio de resistência.

Aqui fica, para conhecimento dos interessados.

E quem não tem lucros pode despedir? Esqueceram-se das culinárias e engenharias contabilísticas e financeiras que permitem fabricar e encolher lucros (um auditor interno da EDP acusou Mexia de tê-lo feito este ano para levantar os lucros até aos mil milhões para melhor “remunerar” os accionistas mas podia ter feito ao contrário para cumprir o “critério de despedimento” do Bloco de Esquerda). O Bloco, neste cartaz, mostra-se ingénuo ou benevolente para com o Capital, mas objectivamente colaboracionista, isso sem dúvida. É que fazer depender a garantia do emprego dos resultados de uma empresa é colocar estes no centro de verdade da mais-valia e com imediatas consequências sociais sobre os trabalhadores. Uma enormidade que só pode advir de uma pressa incontida em assassinar o que resta de Marx. Depois da xenofobia do spot de apelo ao 1º de Maio, este desaforo capitalista selvagem da ligação lucros-empregos, é uma péssima notícia sobre a competência da agitprop bloquista. Antes contratarem um publicista que andarem por aí a dar tiros nos pés e no velho Karl.
Quinta-feira, 26 de Março de 2009

A Presidência checa tem sido das piores de sempre, distinguindo-se pelo vazio de ideias e pelo minimalismo na liderança - na linha neo-liberal da Comissão Barroso.
Com presidências assim, que ninguém se queixe se, em Washington, a "posição europeia" for vista como pouco mais do que a soma das vontades de Paris, Berlim e Londres...
É por esta e por outras que precisamos urgentemente de uma Presidência da UE menos dependente das vicissitudes internas dos Estados Membros e mais permanente e profissional, tal como está prevista no Tratado de Lisboa.
A queda do governo checo deixa a União Europeia com uma presidência enfraquecida, logo agora que a crise económica e financeira torna mais necessário uma liderança forte.
Se o Tratado de Lisboa já estivesse em vigor, teria deixado de existir este "risco nacional" das presidências europeias, visto que o Tratado prevê um presidente próprio do Conselho Europeu.
Poucas vezes tenho encontrado, na opinião socialista, uma apologia tão aberta, como remédio para debilidades políticas, das putativas virtudes de uma liderança “profissional”. O que não abona, a meu ver, do conceito subjacente da “Europa democrática” … deles. Mas é coerente com a fuga ao referendo do Tratado de Lisboa (que, segundo Vital Moreira, é muito bom mas não é entendível pelo cidadão comum). Aí, o PS, violando uma promessa eleitoral, acabou por preferir uma votação “profissional” ao pronunciamento popular. Joga.
Esta expressão de pendor autoritário da candidatura socialista ao Parlamento Europeu confirma Vital Moreira como uma espécie de alter ego catedrático de Sócrates, nos tiques de pendor altaneiro e autoritarista que este adquiriu na gestão desastrada, em termos de liderança e escolha das tensões, da maioria absoluta. O que Sócrates tem de provinciano com fascínio pela tecnologia, Vital Moreira dá-lhe complemento com o verniz doutoral mas usando a mesma forma de navegar sobre a plebe a fazer contas à vida. E, mãe nossa, desta vez com Ana Gomes a ajudar à missa.