Segunda-feira, 29 de Setembro de 2008

A presente crise nada tem de extraordinário. Como os furacões que assolam regularmente a costa americana, o susto da catástrofe é duro mas não deve gerar previsões drásticas ou medidas radicais. Enfrentado o tufão, reconstrói-se e regressa-se ao normal.
(…)
Entretanto, no mercado, quem mantiver a cabeça fria fica rico.

Estava longe de supor, mas rendo-me à evidência, com o agrado de assim não me sentir um masoquista solitário, que a estimadíssima companheira Maria da Conceição, lá no doce remanso das Caldas, se tenha metido a ler as Teses do PCP para o seu Congresso de Novembro:
A proposta da Igreja para os crentes, é segurá-los o mais possível - vão ficando os idosos e crentes submissos. Mas deveria ser libertá-los e ensiná-los a ousar. É essa a mensagem evangélica. É esse o compromisso baptismal.

O autarca de Peniche não esclareceu, convindo que o fizesse, se o projecto, aqui referido, de instalação de uma Pousada no Forte de Peniche, a ser adjudicado ao Grupo Pestana, inclui ou não um centro de atendimento psiquiátrico. Tratando-se de uma ideia promotora de “turismo de qualidade”, é impensável que a nova unidade hoteleira não preveja o tratamento da saúde mental dos hóspedes sado-masoquistas disponíveis para, pagando, se albergarem num antigo centro prisional para os presos políticos no tempo do salazarismo-marcelismo.

Perfaz hoje exactamente 70 anos sobre a data de uma das maiores vergonhas da cobardia democrática, quando Neville Chamberlain, pela Grã Bretanha, e Édouard Daladier, pela França, baquearam perante Hitler e Mussolini através da assinatura do famigerado Tratado de Munique, em que aqueles estadistas entregaram aos dentes dos dois ditadores que buscavam o domínio do mundo o “osso” da Checoslováquia democrática na esperança oportunista de que, assim, lhes saciavam os apetites expansionistas e evitavam ter de defrontá-los pelas armas.
Caracterizar assim o Tratado de Munique é, obviamente, um julgamento com o saber do posterior. Porque, na altura, quando Chamberlain e Daladier regressaram de Munique, eles foram saudados efusivamente, nos seus países e um pouco por toda a parte, como verdadeiros heróis pacifistas que tinham salvo a Europa e o mundo de uma guerra mundial. O que só pode significar que, então, as opiniões públicas não só estavam dominadas pelo medo do nazismo como se acreditava que os ímpetos bélicos de Hitler podiam ser saciados com alguns nacos. Ou seja, que a besta, quando de estômago cheio (supondo-se que a anexação da Áustria e das Sudetas, ambas habitadas predominantemente por povos germânicos, a iria saciar), se deitaria a remoer, adormecendo, desta forma, os seus instintos de gula. E Hitler, formalmente, tinha para esgrimir perante a diplomacia conservadora e clássica que Chamberlain e Daladier representavam, um trunfo poderoso de legitimidade para anexar as Sudetas checoslovacas: ali viviam maioritariamente três milhões de alemães que, mobilizados pelo Partido Nazi das Sudetas, chefiado por Honrad Henlein, haviam votado esmagadoramente pela integração daquele território no Reich. E, formalmente também, os nazis afirmavam que da Checoslováquia lhes bastavam as Sudetas e que o resto da Checoslováquia se manteria independente e autónomo (o que desmentiram rapidamente ao ocuparem a Boémia e a Morávia sob a forma de um “Protectorado” e permitindo a separação da Eslováquia onde se instalara um regime clerical-fascista).
Munique não foi uma traição isolada por cobardia e hipocrisia no processo do conflito gerado pelo expansionismo nazi. Em simultâneo com as negociações de Munique, Espanha estava ainda a ferro e fogo, numa guerra civil e internacionalizada, onde as mesmas democracias que baquearam em Munique já se haviam prestado a deixarem cair a República legítima espanhola através da representação da comédia da “não intervenção”, enquanto Hitler, Mussolini e Salazar apoiavam e armavam Franco e Estaline prestava, com a companhia distante e pouco relevante do México, um apoio moderado e insuficiente ao lado republicano. Pior que isso, a traição de Munique foi, em si mesmo, um álibi indutor de novas traições e novos arranjos, como o que ocorreu no ano seguinte, quando Estaline, fazendo ainda pior que Chamberlain e Daladier (pois que se mostrou parte interessada no anexionismo), se aliou a Hitler, quando este deu o passo bélico seguinte, invadindo a Polónia (dividindo-a com a URSS e permitindo a esta que se apoderasse das repúblicas bálticas).
As consequências de Munique são conhecidas: a Checoslováquia foi desmembrada e desapareceu como Estado; em vez de se ganhar a paz acelerou-se a vontade de Hitler em precipitar a guerra; a guerra veio a travar-se em 1939 com o exército nazi mais forte do que estava no ano anterior; perdeu-se a oportunidade de travar Hitler por uma coligação antifascista e quando este estava confinado em território alemão.
Se o filme da história não é rebobinável, que lições se podem tirar hoje e à distância dos 70 anos de Munique? Muitas. Porque o hábito inveterado de as democracias contemporizarem com as ditaduras e os apetites expansionistas, hoje em nome dos interesses comerciais ou do fornecimento de energia, esse permanece. Em muitos lados, muito perto, aqui. E tal como as multidões que, em Setembro de 1938, ovacionaram Chamberlain e Daladier pela sua "esperteza pacifista", não faltam hoje os filisteus que trocam importações e exportações por liquidações de direitos democráticos e direitos humanos, nem um numeroso séquito de claques fascinadas pela maravilha pragmática da supremacia da “diplomacia económica” que ajusta défices comerciais e sustenta gorduras energéticas, descuidando, se for caso disso, os princípios e os valores.
Domingo, 28 de Setembro de 2008

Nas Teses do PCP para o XVIII Congresso, sobre Propaganda, incentiva-se:
“A valorização e desenvolvimento da presença do Partido na Internet, potenciando os meios existentes e a sua crescente massificação e tomando novas iniciativas” (ponto 4.9.4.6.)
Mas respeitando:
“a recusa de que os seus membros expressem publicamente opiniões contrárias à orientação do Partido” (ponto 4.3.3.4.)
Então, os bloggers que sejam militantes do PCP, os da espécie de bloggers auto-censurados, o que podem exprimir nos seus blogues? Reproduzir comunicados do PCP? Noticiar comícios, festas e manifestações do PCP? Citar o “Avante”? Copiar os discursos de Jerónimo de Sousa?
Ao fim e ao cabo, batendo certo, o mesmo que se permite na China, em Cuba e na Coreia do Norte, os regimes apontados nas mesmas Teses como sendo os do "bom socialismo".
Sábado, 27 de Setembro de 2008

Permanecendo o perfume de representação de um dos grandes actores do cinema que apetecia ver.
Sexta-feira, 26 de Setembro de 2008

Os “maus da fita” e os “bons exemplos” nas Teses do PCP para o seu XVIII Congresso em Novembro próximo:
“Perante a tragédia que o processo de reprodução capitalista significa para o mundo…”
(…)
“A caminhada da humanidade para o socialismo e o comunismo sofreu profundos revezes com a destruição da URSS e as derrotas do socialismo no Leste da Europa.”
(…)
“O reforço da União Europeia como bloco imperialista (…) torna ainda mais clara a natureza de classe da UE como instrumento do grande capital e das grandes potências imperialistas da Europa Ocidental…”
(…)
“Importante realidade do quadro internacional, nomeadamente pelo seu papel de resistência à «nova ordem» imperialista, são os países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.Coreia.”

Ora, caro Luís. Um beija mão a Ingrid só lhe fica bem. Que, no entanto e embora ninguém seja apenas o seu passado, não apaga outras idas confraternizações.
Quanto ao abraço, claro que ele só pode ser retribuído. E com todo o gosto.
Quarta-feira, 24 de Setembro de 2008

A actriz Nicole Kidman, a qual se considerava biologicamente infértil, afirmou, muito convicta, que finalmente engravidou ao tomar banho numa cascata na Austrália, durante a rodagem de uma película cinematográfica. Não só ela como mais seis colegas suas da equipa de filmagens e companheiras nos banhos. Assim, César das Neves e Manuela Ferreira Leite vêm ruir o argumento de que o casamento tem a procriação como finalidade. Pois se basta um banho numa cascata com dons fertilizantes… E a castidade até fica a ganhar.

Atenção, muita atenção, aos imigrantes finlandeses. Sobretudo olho atento aos que nos andam a vender telemóveis da Nókia, parecidos ou não com o tal Matti Saari. São uma raça não fiável, muito perigosa. Como os pretos, os brasileiros e os ciganos.

O líder da longa marcha contra o revisionismo não lhe escapou, sobretudo na fase póstuma. No sistema e na estatuária de exaltação ao Pai. Restou o regime. O que é insuficiente e demais.

Não é banal mas acontece: um jornalista saiu da prisão. É o senhor da foto. Chama-se U Win Tin, é birmanês, tem 79 anos e passou os últimos dezanove na prisão, uma forma prolongada de cumprir a pena de três anos a que foi condenado em 1989 acusado de “distribuir propaganda antigovernamental”. Vou, confiadamente, preparar-me para ler as notas de boas vindas à liberdade dirigidas a U Win Tin que decerto os muitos jornalistas-bloggers vão dirigir a este colega. Venham elas. Ou U Win Tin não é notícia nem merece um simples post?
Terça-feira, 23 de Setembro de 2008

Estou a guardar-me para no próximo sábado atestar o depósito do meu veículo. Como acto de protesto por o crude estar a subir de preço enquanto a gasolina e o gasóleo estão a descer.