Domingo, 31 de Agosto de 2008
Sexta-feira, 29 de Agosto de 2008

Se o alto dirigente José Neto, retomando as teses do anarquismo infantil e semi-analfabeto do século XIX, diz que:
então, quem não gama, não assalta, nem dá tiros, é porque não é “vítima da fome” nem “famélico da terra”. Ou seja, em tempo de crise, é um privilegiado. E, se calhar, até se dá ao luxo de ler livros em vez de assaltar uma bomba de gasolina. Então, metam “chips” nos livros e localizem-se, para procedimentos, os que escapam à “degradação da situação social e económica do País” sem contribuírem para o indicador da correspondência automática entre criminalidade violenta e as carências sociais e económicas.

O Museu de História Alemã vai expor uma colecção de desenhos e caricaturas de Arthur Szyk na sua acção pública de propaganda, entre 1939 e 1945, contra o nazismo. Judeu fugido da Polónia após a invasão deste país pelas tropas de Hitler, Szyk (1894-1951) não só escapou aos crematórios do Holocausto como colocou os seus talentos de desenhador e caricaturista ao serviço da denúncia da barbárie nazi. Assim, foi um caso bem conseguido de quem não só se recusou a entrar na fila do matadouro do ódio anti-judaico como, à sua maneira, publicitou a monstruosidade da besta, ajudando a mobilizar a opinião pública para a rejeição da extremofilia nazi. Em tempos em que se avolumam o revisionismo e o negacionismo, é absolutamente oportuna esta revisita ao horror nazi através do lápis de Szyk.
Quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Força Obama!

O Daniel procedeu a um curioso e pertinente (re)cálculo dos méritos medalhísticos relativos obtidos pelos países nos JO de Pequim. Em vez da contabilidade oficial bruta por número de medalhas conquistadas, como se o potencial desportivo de meios humanos em todos os países fosse uniforme, o Daniel relacionou o número de medalhas conquistadas com o número de habitantes e de que resultou o seguinte ranking do “top 12” (interessante, sobretudo, constatar como pequenos e muito pequenos países demonstram uma superioridade de capacidade competitiva relativamente aos “gigantes” que oficialmente foram considerados os “mais medalhados”):
1º Jamaica 407,4
2º Eslovenia 248,7
3º Australia 227,7
4º Nueva Zelanda 225,0
5º Noruega 212,7
6º Cuba 212,3
7º Bielorrusia 186,2
8º Mongolia 137,9
9º Georgia 130,4
10º Letonia 130,4
11º Dinamarca 129,6
12º Eslovaquia 113,2

- Qual a distância entre a estatura artística de Maria Keil e a de um ministro da cultura, silencioso quando devia falar?
- A do tamanho de uma picareta com um “metro” de envergadura, utilizável para arrancar azulejos de nossa companhia.

Preso por “perigosidade social” relativamente à “normalidade comunista”, o cantor cubano Gorki tem aqui uma apropriada definição:
Es un tipo raro, todos lo notan; más raro aún en una sociedad donde el modelo del “hombre nuevo” es la versión, a color, del tonto del aula.
Desgostoso deve estar Ruben Carvalho (dou-lhe, com toda a sinceridade, este benefício de suposição) por, assim, não poder contar com Gorki para abrilhantar o naipe artístico da “Festa do Avante”.
Segunda-feira, 18 de Agosto de 2008

Está feliz, a Yoani. Já não era sem tempo. Agora vai ter um elevador novo que lhe evite subir a pé os duzentos e trinta degraus que lhe separam a casa da rua. O pior é que, não havendo bem que não traga mal, o marido de Yoani vai perder o hobby com que compensava o desemprego como jornalista por ser dissonante do marxismo-leninismo à cubana.

Só é segundo quem tudo fez para ser primeiro. Parabéns, Vanessa.
Adenda: E, é claro, parabéns também para os igualmente (bem) medalhados Nelson e Di Maria. Mas, da prestação portuguesa, fica o nosso genuíno retrato desportivo que não anda longe do resto, do essencial: um país com muito poucos casos de sucesso e uma longa fila de condenados à mediocridade da vulgaridade.

como seres sociais e criaturas de Deus que somos, só com gratidão nos é possível viver plenamente. Gratos pelas pequenas e grandes coisas que nos acontecem e que em tão pouco verdadeiramente dependeram de nós: um amigo que nos telefona, uma gracinha duma criança, uma árvore cheia de pardais ao fim duma tarde de Verão. Gratos por uma noite bem dormida, o ordenado ao fim do mês, ou por alguma paz que há tantos anos desfrutamos neste recanto do mundo. Gratos para com os nossos amigos, familiares ou vizinhos com quem somos comunidade e somos gente. Finalmente, a gratidão de nada serve se não for afirmada, demonstrada, soletrada... contra o orgulho que sempre nos ameaça apoucar.

Se me dão licença, selecciono este, com prémio do post mais pio:
Afinal, quando dois malfeitores lutam entre si, fará sentido expressar solidariedade por algum deles? Pela minha parte, a solidariedade vai apenas para os civis inocentes apanhados no meio do conflito.
E mais este, mas para prémio do post com maior cinismo geoestratégico:
Há quem proteste contra a intervenção da Rússia em resposta à aventureira ofensiva da Geórgia contra a região separatista da Ossétia do Sul. Mas o que diriam se a Sérvia recorresse a uma demencial intervenção militar para tentar recuperar o Kosovo pela força?
Domingo, 17 de Agosto de 2008

Completa hoje 65 anos, aquele que considero ter sido o melhor aluno do Actor’s Studio. Parabéns e boa sorte na sua nova carreira anunciada, a da realização.

Em intermitências veraneantes, o que melhor se suporta é um post sobre caravanas, excursões e evasões (ou invasões). Felizmente, encontrei-o aqui.
Terça-feira, 12 de Agosto de 2008

Entro em intermitências próprias do mês, reduzindo a escrita a eventuais salpicos. Quando regressar à rotina, este blogue comemora o quinto ano de vida, sempre na imensa frustração de nunca ter hipóteses de ser lido pelo Miguel Sousa Tavares. Mas eu não desisto, porque acredito que não há ser humano que não mude. Então, até de vez em quando.

Agora, dos Jogos Olímpicos só espero que os portugueses não venham de lá sem uma ou duas medalhas (três seria uma festa) para que o ânimo nacional não esmoreça abaixo da linha zero e Laurentino Dias, em defesa da sua honra, não apresente o seu pedido de demissão. Isto se a arbitragem não nos prejudicar, como reclamou a judoca Telma.
Mas, dos Jogos, ficará para sempre eternizada, por estas bandas, com ou sem medalhas penduradas nos pescoços dos atletas portugueses, a alegria babada dos sinófilos de ocasião perante o esplendor da cerimónia de abertura (e que se deve repetir com a de encerramento, presumo). Pareceram-me os maoístas de 74 e 75, perante as cores vivas, massificadas, compassadas e sincronizadas da Ópera de Pequim de então, prenhes que estavam de radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista. Ou, então, os germanófilos dos anos trinta perante o génio estético de Leni Rienfensthal. As paixões de ocasião, sobretudo as de Verão, dão sempre em loucos arrebatamentos. Porque são breves, sendo intensas enquanto duram. A seguir aos Jogos de Berlim de 1936, tivemos uma guerra mundial, quando o “ninho de pássaro” fechar as portas, espera-se que só tenhamos, do mal o menos, o regresso ao mercado global e à formidável competitividade do capitalismo selvagem que não conhece direitos humanos e quanto aos cívicos, menos ainda.
Adenda: E para agrado do Zé, acrescento um final de post a condizer com o título: Alá Akbar!
[nota: tudo porque morando perto de Almada, se passa por Alcácer do Sal quando se vai para o Algarve, podendo ou não almoçar-se em Aljustrel, em Aljezur ou em Alcoutim; indo para norte, certo passarmos rente a Alenquer, Almeirim, Alpiarça e Alcobaça; ou seja, como diria um genuíno portista, em terra de mouros, sê mouro (o que só não é agradável quando temos, vezes demais, que ser mouros de trabalho).]