Há acasos que nos salvam quando estamos à beira do abismo. Eu ia disparar um post que se tornaria um descarado plágio. Não tão bem escrito como o original, mas plágio mesmo assim. Depois, ia ser descoberto e açoitado em praça pública. Um mero impulso de, antes de concretizar a inspiração, fazer uma visita, evitou-me essa vergonha. Uff...
Raúl Castro faz 100 dias de governação ditatorial após resignação parcial de Fidel (hoje com 81 anos). Ao mesmo tempo, na sua festa de aniversário, apagará 77 velas no bolo comemorativo. Falta agora saber quando é que Ramón Castro (83 anos de idade), o terceiro mano Castro, assumirá o comando da Ilha, por incapacidade biológica do irmão do meio e incapacidade reformadora do irmão mais novo. Não podem é ir mais atrás, ao galego que foi pai dos três, dado que o patriarca já não pertence ao reino dos vivos.
Nem o PS nem o Bloco são partidos estáticos e muito menos homogéneos. O PS, exaurida a praxis governativa da sua asa direita, a situacionista-clientelista, tem de deslizar para a esquerda. Até porque não suporta, em simultâneo, o efeito de uma credibilização da direita (o que MFL, muito provavelmente, vai dar ao PSD) e um desgaste à esquerda com hemorragias de votos a caírem nos regaços parasitas do BE e do PCP. Para esta viagem pendular e impositiva - mais dia, menos dia – resta ao PS as ajudas de Alegre e de Soares. O Bloco, se crescer (e é fundamental, para a esquerda, que cresça nas próximas eleições e, se possível, mais que o PCP), vai ter de se responsabilizar, tornar-se um partido adulto, assumindo a fase do fazer, representando, dentro ou fora, a ponta esquerda da asa esquerda do PS. E é aqui que, mais uma vez (reproduzindo a cena das últimas eleições presidenciais), a chave se chama ou chamará Manuel Alegre (neste campo, seca-se a influência de Soares, enquanto guru). Até lá, se lá chegarmos, não sendo tempo da coisa, há que testar a coisa. Amanhã no Trindade, com "canto livre" e sem casamento na vista dos binóculos, será uma forma, como qualquer outra, de alguns aprenderem que quem não se conhece não se namora.
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Adenda: O José Albergaria reagiu e expôs os seus contra-argumentos. Pelo que percebi, o essencial da repulsa do meu querido amigo JA assenta num aspecto que não discuto: não gosta de Manuel Alegre (sobretudo pelos pecados do seu passado político e por falta de dimensão do seu pensamento político). Claro que aceito e compreendo que uma antipatia fundamentada (que é muito melhor que um preconceito) seja factor suficiente de inibição para se aceitar um determinado sujeito como "companheiro de jornada", quanto mais como "condutore". Só que, goste-se ou não de Alegre (e eu estou muito longe de ser seu admirador incondicional), julgo que ele é incontornável (e escuso de lembrar o estafado 1.100.000) como figura de referência e aglutinação de um "estar político de esquerda" que, mais que nunca e sobretudo na presente situação em que todas "as esquerdas" estão bloqueadas, é necessário construir (talvez mal comparando, Delgado, seguindo padrões de exigência política e intelectual e de admiração pelas suas características pessoais, em vez de arrastar multidões e colocar um regime em polvorosa, só teria congregado alguns familiares e meia dúzia de amigos que não tinham enchido uma salinha numa águas-furtadas) . Ai de nós se tivessemos a ilusão exigente que, neste caminhar, só iria a nosso lado (os "puros") gente que se admira, se estima e que, escrutinado o seu passado político, não se lhe encontra nódoa alguma a apontar (sobretudo entre quem viveu intensamente a pré-revolução, a revolução, a normalização democrática e a democracia estabilizada). Por mim falo: com tal grau de exigência, já me tinha reduzido a rezar ladaínhas pela salvação da minha alma política. E se para aí não me virei, falece-me o atrevimento para ser "papista" para com outros (politicamente falando, que estima pessoal é outro negócio).
Até algumas das chamadas "chagas", como a precariedade do emprego e economia paralela, são evidentes sinais de flexibilidade.
Muito bem. Pese embora, num pormenor esquecido e ao contrário da deputada europeia, MFL não ter ido lá pelo “sistema de quotas”.
Vem aí tempo de nos juntarmos, unirmos, sermos uma só voz, cantando o hino juntos e de mãos dadas, desde Cavaco a Quaresma, passando pelo Madail, até pelo detestável Scolari nacionalizado (esse mister boxeur, adorador de Pinochet e da Senhora de Caravaggio, conservador medroso, arrogante e birrento, para quem o futebol é mais teimosia que prazer), todos aqueles que agora vão ser os melhores de nós, de todos nós. Turcos, checos e suíços que se cuidem, nós marchamos contra canhões e o nosso pelotão de combate tem os olhos azuis de ver o Tejo desde Belém até além do Bugio. Depois, mas só depois, carregados de glória ou decepção, voltaremos às pequenas tricas com que cerzimos a crise, a exclusão de tantos pequeninos, a inclusão de matulões demais, na miséria de projectos para o dia de ontem, ao ritmo de baixarmos a desigualdade social 0,1% em cada quinquénio. Até que, passado este europeu, um mundial se vai aproximar. Esse mundial que vai ser, aquele que vamos ganhar. Porque vamos ganhar por efeito de exclusão de partes: todos os dias andamos a perder. Ai Portugal!, Portugal!, Portugal!
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