Concluindo: um terço a mandar em dois terços. Com o ressentimento a ficar em maioria.
Sobre esta mulher, nem uma letra quanto mais uma palavra. Sobre os restantes sequestrados, silêncio também. Sobre a perda do chefe do bando de assassinos, narcotraficantes e sequestradores, um lamento e a difusão do texto integral do comunicado do gang. Tudo dito porque tudo escrito.
Que educou um povo na arte de obedecer. Para depois ser seduzido a seguir chefes com ofício de desobedecer.
Nunca considerei Sydney Pollack mais que um artesão do cinema, sempre a trabalhar na banda dos talentos médios. Esteve longe de ser um génio ou um inovador, nenhum dos seus filmes vai ficar na história do cinema. Pois a obra de Pollack foi mais de temas que de filmes. Era um liberal, o que, na América, é ser-se de esquerda. Denunciava extremismos do sistema, algumas grandes patifarias, procurava limpar a casa. Os seus amigos e admiradores têm um luto para fazerem, o que só pode merecer respeito. Mas o Cinema não morre nem adoece com esta perda de médio quilate.
«Eu manifesto total compreensão com essas dificuldades, mas o dever do Governo, neste momento, é utilizar a sua margem de manobra para apoiar os sectores mais débeis da nossa sociedade e ajudá-los a ultrapassar estes momentos de maior dificuldade», argumentou.
Obviamente, Ana Avoila ficou de fora. A senhora não pode macular a sua folha de compromissos de luta. Esta gente não muda e, com o cheiro das eleições a chegar ao nariz, cada vez mais vai virando feita de pau.
A segunda questão levantada pelo Augusto também tem resposta que, se permitir não se ofendendo, leva à “questão Estado”. Para segurança energética nacional, prevenindo uma calamidade em que o petróleo momentaneamente “desapareça” do mercado, há muitas décadas que o Estado português, como a maioria dos Estados, impõe à aprovisionadora e refinadora nacional (Galp) um stock de segurança que permita haver refinação e abastecimento do mercado nacional mesmo que durante alguns meses o país se veja privado da capacidade de se abastecer de petróleo bruto. São quantidades enormes que a Galp é obrigada a aprovisionar em permanência (o que nada tem a ver com uma gestão de stocks caso a companhia não tivesse o constrangimento imposto) e cujo custo de imobilização é enorme. Como a reposição de stocks é automaticamente obrigatória para manter o stock de segurança, se saem 100 toneladas para refinar, têm de entrar 100 toneladas para armazenar. Assim, em conta corrente, a companhia refinadora está sempre a comprar a preços do momento pelo menos a quantidade de produto que está a ser comercializada. E, em termos práticos, podendo estar a refinar produtos a “preços anteriores” (e inferiores), em custo de matéria-prima nas contas globais, é como se cada partida que sai para os postos de abastecimento tivesse sido refinado com o petróleo do “último preço” (pois o que se escoa do stock em refinados é compensado imediatamente no stock de matéria-prima com crude ao preço do momento).
Entretanto, convém ter em conta o que Sarkozy vai propondo e que é um indicador de que algo tem de ser feito para travar os efeitos mais desastrosos (sobretudo sobre actividades económicas) da vaga altista do petróleo. Vivendo-se numa nova época de “petróleo caro” (e este é o problema), algo de substancial tem de mudar nas estruturas de colecta fiscal instaladas na Europa no tempo ido do “petróleo barato”. Se a descida proposta para o IVA é discutível, enquanto medida generalista e favorável á tendência especulativa nos preços do crude, já a medida aludida de que os aumentos de receita do IVA sobre combustíveis (a parte que cresce pela aplicação percentual sobre preços cada vez mais altos), seja aplicada na ajuda a actividades económicas afectadas pela subida dos combustíveis, é uma das medidas com pernas para andar. O certo é que, politicamente e com imaginação, os Estados europeus e a Comissão Europeia têm de encontrar, e rapidamente, alternativas perante a crise petrolífera que terá vindo para ficar e agravar-se. O fixismo defensivo típico de um rígido “cobrador de impostos”, não mexendo nos tabus fiscais, é que não leva a lado nenhum, ou seja, leva à passividade perante o desastre. E, aqui, não querendo mexer na cobrança é sujeitar-se a cobrar menos por menos haverem para serem “cobrados”.
PS - Quando se fala de receitas do Estado português obtidas a partir do mercado petrolífero, omite-se, por regra, uma outra fonte de proventos importantes, além dos impostos, que também sustenta a coluna do "haver" das contas do Estado: a que advém da sua posição accionista na Galp. Além das mais-valias poderosas arrecadadas nas várias fases de privatização, sobretudo a última que levou a Galp para a Bolsa, nos últimos anos de lucros altos da Galp, o Estado tem recebido, de acordo com a sua posição remanescente de posse parcial da empresa, uma quantia em dividendos anual que não é nada insignificante como enriquece constantemente o seu património em carteira de acções (falando-se, cada vez mais, numa próxima etapa privatizadora em que novas mais-valias vão ser arrecadadas pelo Estado). Assim, além da cobrança alta de impostos que o Estado arrecada do conjunto do mercado dos produtos petrolíferos (nunca será demais repetir: mais de metade do valor cobrado aos consumidores, seja qual for a companhia abastecedora) , este beneficia em altas receitas e em valor patrimonial pela parte de capital que possui na Galp, pela elevadíssima subida das cotações bolsistas da Galp e pelas sucessivas vagas privatizadoras a que tem sujeitado esta companhia.
"Escrever história é livrarmo-nos do passado infeliz na medida em que, ao fazer o luto do passado, o trabalho da história preserva a memória e contribui para transformá-la num memória pacificadora e justa, condição de uma relação actuante com o presente e o futuro, bem como uma solidariedade entre as gerações", sublinhou Irene Flunser Pimentel.
O Hotel situa-se bem à direita mas o serviço de posts é de primeira. Quando assim é, torna-se difícil resistir ao charme indiscreto da burguesia. Pelo que foi com todo o gosto que aceitei a guarida oferecida a este plebeu laico, republicano e socialista (*). Para mais, irresistível com … aquela passadeira.
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(*) - O post agora publicado no "Corta Fitas" já havia sido editado aqui. Trata-se, portanto, de um texto com dupla publicação, conforme foi acordado com o "corta-fiteiro" Pedro Correia.
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