Um dos países com maior taxa de alcoolismo é a Rússia (e já assim era no tempo da URSS). São muitos milhões os alcoólicos entre os russos e as russas. E tamanho é o mercado que foi agora lançado o “Damskaya”, um “vodka para senhoras” e que se anuncia como ideal para ser tomado para acompanhar uma salada e depois de uma sessão no ginásio para manter a linha. Por aquelas bandas parece que aprenderam bem com o famoso erro de Gorbatchov, numa das suas medidas que mais impopularidade interna lhe rendeu, ao tentar restringir o fabrico, venda e consumo de vodka. Ieltsin, que se lhe seguiu, emendou logo o “erro” e foi um recuperador, como exemplo vivo, do abundante consumo de álcool. Está-se agora na fase de sofisticação, o da segmentação de um vasto mercado de consumo. Hoje, vodka para senhoras. Amanhã para quem?
Manejar o SMS e encher autocarros para levar convictos de um lado para o outro, parece ser a chave da forma moderna de, nas esquerdas, se fazerem afirmações partidárias:
Que consistência pode ter a amizade entre dois ditadores? Pode ela ir além da transitoriedade da comunhão de interesses expressa ou não numa aliança? Poderão eles partilhar por muito tempo a constância da cumplicidade de eventuais afectos desenvolvidos entre eles?
Sabemos que ditadores próximos, ou por ideologia e/ou por proximidade de interesses, por vezes pela partilha de defesa face a um inimigo comum, como Salazar e Franco, ou Hitler e Mussolini, a afectividade cúmplice entre eles foi sempre pautada com tensões, desconfianças e sobreavisos quanto à disponibilidade do outro de se sobrepor e se possível estender à sua custa a dimensão do domínio. Por outro lado, tendo em conta que cada ditador tem de si conta que é especialmente dotado de clarividência iluminada, assumindo uma postura normalmente messiânica, a tendência natural é que o seu instinto ditatorial tenda a pautar as suas relações externas, inclusive com outros ditadores, mesmo que da sua área político-ideológica. Mesmo entre os ditadores comunistas que foram contemporâneos, onde normalmente se praticava uma hierarquia piramidal tacitamente aceite, em que o cume da orientação era atribuído ao ditador soviético, sabe-se de algumas poderosas rivalidades e ódios violentos, sobretudo quando se verificaram independentismos centrífugos, como foram os casos das querelas extremas entre Estaline e Tito, depois de Krutchov com Mao e com Hoxa. A que se poderia acrescentar a raiva desabrida de Fidel Castro quando, para evitar uma guerra mundial nuclear, Krutchov retirou os mísseis de Cuba.
O livro de Greg Annussek (*) sobre o resgate de Mussolini, quando este foi derrubado pela própria direcção fascista italiana e aprisionado pelas novas autoridades, além dos contornos dos episódios da espantosa acção de comandos que retirou Mussolini da prisão e lhe devolveu um palmo de terra italiana para este representar o prolongamento da sua ditadura, tem o adicional interesse de fornecer pistas sobre como se estabeleceram os laços pessoais e afectivos entre Hitler e Mussolini, ditadores bem próximos, assim como a forma como os laços adquiridos entre ambos funcionaram numa situação já de adversidade. Neste sentido, o livro é um bom instrumento auxiliar para a análise psicológica do relacionamento entre ditadores e a forma como gerem estimas e interesses.
(*) – “Hitler e o resgate de Mussolini”, Greg Annussek, Editora Babel
Para conhecer o mais poderoso Estado do mundo, sendo talvez o mais pequeno, vão até aqui.
É caso para dizer (com todo o respeito), “o gajo chateou-se”:
Não enxergais que a democracia é aquilo que quereis infirmar? Voto e participação. Ela não morre no voto, mas também não se protela no sentido anterior desse mesmo voto. O contrato pode sempre ser denunciado. Ou não ledes vós a pequenas letras com que se constrói a democracia. Ou apenas enxergais o que as vossas doutas profecias escreveram nos canhenhos da Democracia pluralista e participativa. Se por um lado afrontais a fraca participação, quando ela acontece desdenhais da sua expressão. Afinal que quereis vós. A doce embriaguez de truísmos já falsos? Não vedes que avançamos? Para onde não quereis. Parece-me. Mas isso é problema vosso. Indignai-vos agora que essa é nossa condição. Para que serve a concertação social afinal? Para que a Democracia não se esgote no esgoto da plutocracia.
É feio dizê-lo. Mas que o há, lá isso há.
Há 33 anos:
Van Aerts é o nick name de um visitante-comentador habitual deste blogue que, vaidoso da sua estadia madrilena (aspecto que ele usa e abusa para me acicatar o pecado de inveja), por aqui me vai dando a honra da estima e de algum troco. Há dias, a propósito de uma benfiquice, avançou com o desplante de fazer aposta sobre uma profecia. Como perdeu vai ter de pagar nos exactos termos em que formulou o preço da derrota: ir de peregrinação até à Praça Vermelha visitar a múmia de Lenine. Se com honra governa a face, cumprirá o compromisso e disso se aguarda que envie prova. Para o compensar dos incómodos da peregrinação patusca, aqui fica “consolo” para que relativize o feito a que se obrigou pelo mau apostador que demonstrou ser. Pois meu caro, também por lá peregrinei, faz agora 25 anos, mandava então o Andropov, e por aqui ando sem que a múmia me marque caminho ou pensamento. [no grupo, sou o terceiro a contar da esquerda]
Obviamente que Sócrates tem todo o poder legítimo para conservar Maria de Lurdes Rodrigues como ministra. E pode fundamentá-lo com sábias razões ou até evidências (permanece a confiança política, as reformas são para se fazerem, as rectificações podem fazer-se com a ministra, os sindicatos não são quem mais ordena). Mas a partir de agora, o que Sócrates não conseguirá explicar jamais é porque Correia de Campos saiu do governo.
Quando comecei a assistir ao debate do “Prós e Contras” de ontem sobre república versus monarquia, ia a querela em estado adiantado, estavam todos os participantes a felicitarem-se uns aos outros sobre a civilidade e elevação com que o debate estava a decorrer. E tantos foram os intermináveis elogios mútuos que se notava à légua que ali faltava verdadeiro assunto para debater. É saudável para a educação democrática que haja debates como este, serenos e educados. Para tal, nada como escolher para profilaxia do espírito republicano, de quando em vez, uma qualquer bizarria como tema para puxar por oratórias corteses que lustrem o convívio democrático contraditório necessário ao encontro de rumo para o que interessa.
Volta e meia, o abuso, pelo poder da insistência, banaliza-se e entra na paisagem dos excessos admitidos. Conferindo-lhe ou não o cariz de anedótico, permite-se-lhe, porque se tornou habitual, mesmo quando indigno, que integre como dado adquirido a realidade política portuguesa, recheando o seu capítulo folclórico. E de abuso em abuso, o salto para o desaforo dispensa bem os talentos de Naide ou de Nelson, chegando-lhe um pulo a pé coxinho
Foi assim que Jardim se entronou no reino do inimputável. E Valentim se tornou valente e imortal.
Agora, o quarto partido em representação parlamentar treina-se no cerco ao partido que governa (mal ou bem, péssimo digo eu, mas com maioria absoluta obtida nos votos e ainda não revogada), organizando, a par de manifestações (essas legítimas), tentativas de boicotes a que nas suas sedes se reúnam dirigentes e militantes, através de arruaças “espontâneas” e ilegais, com vaias e epítetos de fascistas, invocando a posse antecipada da ditadura sobre as ruas.
E como se reage à truculência arruaceira? Pelo silêncio conivente quase unânime. Ou pior, condenando-se quando alguém reaja, destemperado nos modos e no verbo (como foram os casos de Sócrates e Augusto Santos Silva), à afronta que colide com o princípio básico do direito a reunião. Porque, justifica-se, os da arruaça vencem em dois direitos contra um, se os da “política de direita” querem usar o direito a reunirem-se sobram dois direitos para os arruaceiros: o de expressão e o de manifestação. Ou seja, uma espécie de 2-1, em que a selvajaria da rua vence o campeonato da democracia. E, assim, eles persistem, primeiro foi no Largo do Rato, recentemente em Trás-os-Montes, amanhã algures. Até que ao PCP seja consignado tacitamente o direito exclusivo a reunir-se.
O contexto é claro: a partir do momento em que o governo entrou em desnorte e em isolamento por quebra acentuada de ligação às realidades e as hostes guerreiras do PCP acharam que chegou a hora de tomarem conta das ruas, pela possibilidade vislumbrada de a revolução derrotar a democracia, forma única de alcançarem o poder, o espírito de exigência democrática atemorizou-se e desguarneceu a exigência do cumprimento de regras para o exercício legítimo dos procedimentos democráticos. E se o governo, por autismo e esquizofrenia, alijou a componente de apoios e desvertebrou o PS, a incompetente oposição do campo democrático, incapaz de apresentar alternativas, refugiou-se no melhor que os cábulas conseguem fazer – pendurou-se nos que mexem e sabem-se mexer, o lumpen da democracia que se julga dono da rua.
Entre as poucas vozes que alertaram para o plano inclinado a que a contumácia dos abusos anti-democráticos do PCP nos está a levar, conta-se a de Vital Moreira. Mas, mesmo no caso, repare-se no mimo oratório em que se exprime este cavalheiro do culto pelo rigor das palavras bem medidas: “há uma fronteira da tolerância democrática que não devia ser permitido ultrapassar, nem sequer ao PCP”. Pois: “nem sequer”. Um “nem sequer” que já concede ao hooliganismo partidário um estatuto de benevolência para com a excepção. E, assim e como diz o outro, a gente anda, anda, até se “habituar”. Já vimos do mesmo com Jardim e Valentim. Restando, cada vez mais, o escape do riso (amarelo).
O silêncio não consegue calar urros cobardes. Ou só cala quando e enquanto consegue calar. No tempo de 1 minuto, comparando com os 52 segundos de amigos de assassinos, 8 segundos de valentia do Não a políticos-pistoleiros é muito mais que uma hora:
Mas entremos em campo. E que campo: San Mamés, do Athletic de Bilbao. (…) Domingo, em San Mamés, uma estreia: um minuto de silêncio por alguém que não era do clube. Um minuto de silêncio por Isaías Carrasco, morto porque o País Basco é o único pedaço não democrático da Europa - lá mata-se por se ser da oposição e para ser da oposição basta não ser pelos assassinos da ETA. Um minuto de silêncio. Durou oito segundos. Os amigos dos assassinos assobiaram. Mas foram oito segundos. O copo irremediavelmente se encherá.
Quando os bascos, povo que merece atingir o estatuto de gente digna na diferença honrada, ganharem na disputa do minuto aos pistoleiros, obrigando-os ao silêncio do respeito pelos caídos cobardemente abatidos pelas costas, então eles têm direito a tudo o que compete aos povos em liberdade, incluindo, naturalmente, o direito ao divórcio.
Oportuno o lembrete de Gabriel Silva, um dos nossos mais velhos blogger-companheiros e desde quando ele editava a solo, sobre a improcedência do alarme espalhado quando da independência do Kosovo com profecias negras sobre o efeito de contágio nos separatismos em Espanha. Afinal, como se viu, os separatistas radicais encolheram em vez de se deixarem contagiar pelo sindroma kosovar. O que demonstra, contra as teorias dos contágios automáticos, que cada caso é um caso. Como comprova que, mesmo quando as evidências se revelam, há quem tenha rebuço consistente a dar o braço a torcer.
1) Segundo este artigo, as FARC, acossadas militarmente e prisioneiras das contradições geradas pela sua natureza mafiosa de bando sequestrador e narco-traficante, entrou em processo de desagregação. A média de deserções é agora de 200 guerrilheiros que se entregam às autoridades colombianas em cada mês. E crescem os conflitos internos, muitas vezes sob formas sangrentas, como foi o caso do comandante Iván Rios (foto) abatido por um dos seus adjuntos. A baixa de Iván Rios junta-se à de Raúl Reyes (o nº 2 das FARC), deixando o secretariado, órgão máximo, das FARC, reduzido a cinco membros. E no Estado Maior do bando de gangsters colombianos, verificaram-se recentemente as perdas de quatro dos seus altos quadros de comando.
2) Ponto de vista diferente tem a direcção do PCP que emitiu mais um comunicado de solidariedade para com as FARC:
O PCP expressa a sua solidariedade ao povo, aos comunistas e a todas as forças progressistas da Colômbia que continuam a luta contra o regime fascizante de Uribe pela paz e o progresso social. Solidariza-se e associa-se a todos aqueles que na Colômbia e na América Latina se manifestam nestes dias contra a guerra, pelo respeito do direito internacional e pela solução pacífica dos conflitos. Transmite aos companheiros, aos familiares e aos amigos de Raúl Reyes as condolências dos comunistas portugueses.
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