Aqui, o Pedro Correia parece um alegrete a escrever (*). Mas acho que escreveu bem. Recomenda-se aos das rosas anafadas pelo gosto dos sofás do poder que não leiam o post. Para que não tenham azia.
(*) – Alegrete fui eu e, por pudor político, a tão claro não me chego.
Por esta tirada deviam ser pagos direitos de autor aos herdeiros de Álvaro Cunhal:
“la desintegración de la Unión Soviética, que fue para nosotros como si dejara de salir el sol”
(Fidel Castro, durante a recente visita de Lula a Cuba)
Ontem à tarde, interpelado pelos jornalistas, ele [José Sócrates] teve um movimento do corpo que simbolizava o seu estado de alma. Rodou sobre si próprio e fugiu para um lado qualquer, que por acaso era a esquerda, como se iniciasse, sem guarda-costas, um jogging solitário.
No arquétipo difundido sobre o nazismo e a Segunda Guerra Mundial, toma naturalmente assento a divisão entres “bons” e “maus”, uns de um lado e outros do outro. Sem misturas, tudo a puxar para o mesmo lado, ou o dos invasores ou o dos invadidos. E a componente de lenda que ornamentou o antifascismo pós-guerra só incrementou a ideia maniqueísta muitas vezes vestida como sendo parte da História. Do género: a Alemanha invadiu a França, ocupou uma parte e manteve noutra o regime colaboracionista de Petain em Vichy, mas os franceses, tirando Petain e meia dúzia de traidores (cujos nomes se esqueceram), aderiram à Resistência e lutaram bravamente contra os nazis; os soviéticos, como um só homem, enfrentaram e derrotaram os nazis; mais etc do género. Esta simplificação ajudou a construir a recuperação psicológica e política no pós-guerra, pois facilitou os processos de absolvição e de concentração de culpas (além do mais, houve países que passaram directamente de regimes fascistas para regimes comunistas, incluindo uma parte da Alemanha), e em dois grandes países ocidentais (França e Itália) afirmaram-se poderosos Partidos Comunistas. E nos cenários políticos do pós-guerra, a dimensão do colaboracionismo com o nazismo era um grosso problema na maior parte dos países europeus, tanto que o melhor era ocultá-lo, martelando os factos e, consequentemente, a história, concentrando-a na apresentação da "besta nazi" como um "mal alemão homogéneo" e heroificando a resistência anti-nazi, "alargando-a" a todo o povo, o que facilitou muito massivas e rápidas mudanças "de camisa".
E, no entanto, em alistamento voluntário, muitas centenas de milhar de cidadãos (perto de dois milhões de homens) de países ocupados pelos alemães, mais outros de países neutrais, com outros mais de países que se mantiveram autónomos mas aliados de Hitler, lutaram pela Alemanha nazi, vestiram as fardas das Forças Armadas Alemãs, incluindo, nestes, as muitas dezenas de milhar que serviram nas Waffen-SS, o destacamento militar de elite nazi e que pressupunha a adesão ideológica fanática ao nacional-socialismo (e onde serviram militarmente mais de 125.000 europeus ocidentais não alemães!). Para não falar nos regimes fascistas que faziam parte da aliança militar ao serviço da máquina de guerra de Hitler (Itália, Hungria, Roménia, Croácia, Eslováquia) e das partes anexadas e integradas no Reich (Áustria, Danzig/Polónia, Boémia e Morávia), um pouco por todo o lado, houve adesões em massa e entusiásticas em que legiões de voluntários se ofereceram para servir o exército nazi, vestir-lhes a farda e por eles combaterem, muitas vezes nas frentes mais quentes, em que a grande maioria morreu nos campos de batalha. Se surpreende a enorme adesão europeia ao serviço de armas nas fileiras nazis, espanta igualmente a gestão feita por Hitler e Himmler (o chefe das SS e restante aparelho repressivo nazi) nos conceitos de pureza ariana ao aceitar como “soldados alemães” centenas de milhar de homens que, teoricamente segundo a cartilha racista nazi, pertenciam a “raças impuras” ou ”sub-humanos” destinados a serem “escravos dos arianos”. Em muitos casos de adesões em massa (franceses, valões, sérvios, bósnios, noruegueses, finlandeses, dinamarqueses, espanhóis), as motivações foram o oportunismo colaboracionista ou convicções pró-fascistas, à mistura com anticomunismo e antisemitismo. Noutros, funcionou o sentimento de identidade pan-germânica projectada no Terceiro Reich em partilha da supremacia ariana (holandeses, flamengos e minorias de língua alemã noutros países). Muitos outros pólos de adesão, no entanto, resultaram da ilusão que o nazismo lhes iria permitir o acesso à independência (casos da Letónia, Estónia, Lituânia, Ucrânia, Cossacos, Geórgia, Arménia, Azerbeijão, Albânia, Índia) ou simplesmente a libertação do regime soviético (russos e bielorussos). Este massificado aglutinar de estrangeiros, que chegou a incluir muitos milhares de eslavos, árabes, bósnios, albaneses, indianos, tártaros e cossacos, paginados como racicamente inferiores nos manuais do nacional-socialismo, implicou uma elasticidade dos conceitos racistas dos nazis, a ponto de Himmler “descobrir” que os cossacos tinham uma aceitável percentagem de sangue ariano. Embora em menor número relativamente aos contingentes de maior adesão, os nazis contaram ainda nas suas fileiras militares com o contributo de ingleses, irlandeses, suiços e suecos.
Uma obra de Christopher Ailsby, recentemente editada (*), dedicada aos “mercenários de Hitler”, ilumina este aspecto esquecido (ou escondido) da dimensão gigantesca do colaboracionismo voluntário com o Exército Nazi e a importância do seu papel na máquina de guerra alemã, com uma parte importante integrada nas fileiras das suas forças de elite (nos destacamentos militares compostos por estrangeiros, o comando e os oficiais eram alemães). Se da Itália partiram para a guerra dirigida pelos nazis 227.000 voluntários que combateram na frente leste (integrados no CSI - Corpo di Spedizione Italiano), de Espanha foram 45.000 voluntários (integrando a Divisão Azul), igualmente para a frente leste e onde tiveram 12.726 baixas (3.934 mortos) (**). 200.000 russos serviram os nazis logo no princípio de 1942, atingindo um milhão no final desse ano, a que se juntaram depois centenas de milhar mais (sobretudo na Brigada Kaminski, no Exército de Vlassov, no Exército de Ivanov, no Exército de Kononov), enquanto totalizaram 250.000 o número de cossacos que igualmente serviram Hitler. Esta enorme adesão de cidadãos soviéticos desmonta a cortina que esconde a realidade de que os invasores nazis foram acolhidos triunfalmente, como “libertadores”, quando invadiram a URSS (sobretudo pelos ucranianos, pelos bálticos e pelos caucasianos), adesão expressa no número gigantesco de deserções e de alistamento nas forças nazis e que só não teve uma expressão ainda mais consistente pela política racista e genocida cometida pelos militares nazis nos territórios ocupados perante os judeus e as populações eslavas. Resumindo, um panorama que não casa nada com o maniqueísmo da divisão historiográfica europeia perante o nazismo e a sua máquina de guerra, com uma fronteira perfeitamente construída, numa linha de separação entre nazismo e antinazismo, “nós” e a “besta”. Porque foram muitos, demais, os que escolheram o “lado da besta”.
(*) – “Hitler Renegades”, Christopher Ailsby. Tradução para castelhano: “Mercenários de Hitler – Tropas extranjeras al Servicio del Tercer Reich”, Editorial LIBSA (Madrid)
(**) – Apesar de Espanha ter sido, formalmente e como Portugal, um país neutro, Franco deu este contributo de um corpo militar de 45.000 homens a Hitler como paga da ajuda nazi ao seu lado na guerra civil espanhola. Quanto a Portugal, não há registo de qualquer português ter servido militarmente os nazis, embora vários oficiais portugueses tenham estado presentes como “observadores estagiários” na frente leste, nomeadamente junto da Divisão Azul enviada por Franco (um destes que depois se viria a tornar famoso foi António de Spínola e que chegaria ao posto de Marechal).
Lendo-se: "Manuel Alegre afirmou que o primeiro-ministro, José Sócrates, «compreendeu as consequências negativas» da política de saúde" não se fica esclarecido sobre quais os interesses que ligam Manuel Alegre à indústria e comércio farmacêutico e se recebe alguma parte dos seus fabulosos proveitos.
José Milhazes em dica oferecida para uma edição especial do “Avante!” comemorativa do regicídio:
Vladimir Lénine, futuro dirigente da União Soviética, escreveu sobre o regicídio no artigo: “Sobre o que aconteceu ao rei português”, publicado no jornal Proletarii de 19 de Fevereiro de 1908.
“A imprensa burguesa, mesmo a mais liberal e “democrática”, não pode passar sem a moral da extrema-direita ao abordar o assassinato do aventureiro português” – escreveu Lénine, acrescentando que “...o sucedido com o rei português é verdadeiramente “um desastre profissional” dos reis”.
“Nós, da nossa parte, acrescentamos apenas que só podemos lamentar uma coisa: que o movimento republicano em Portugal não tenha, decidida e abertamente, dado cabo de todos os aventureiros. Lamentamos que no sucedido com o rei português seja ainda evidente o elemento de conjura, isto é, de terror que, na sua essência, não alcança os objectivos, sendo fraco o terror verdadeiro, popular, realmente renovador, que tornou famosa a Grande Revolução Francesa” – continua Lénine.
Segundo ele, “até agora, em Portugal conseguiu-se apenas amedrontar a monarquia com o assassinato dos dois monarcas, mas não exterminar a monarquia”.
O Miguel Silva, arguto como costuma ser e nosso "velho" companheiro no bloganço, põe o dedo numa ferida que teimamos em não curar (num alerta que poucos não assinarão por baixo):
A democracia pode sobreviver a muitas crises, mas dificilmente ao facto de ser tida como um dado adquirido, não precisando de ser permanentemente defendida e aprofundada. A forma como tratamos os mais desprotegidos revela muito do que somos e, neste momento, não revela uma grande preocupação com as suas condições.
Para, logo no parágrafo seguinte, elencando as maleitas dos tempos que correm, referir a moléstia do “separatismo Kosovar”.
Em que ficamos? A “questão do Kosovo” é-o por causa do nacionalismo sérvio (que não admite questionar o seu domínio com base em razões históricas ancestrais) ou porque a maioria albanesa que habita e é cidadã no Kosovo já decidiu, democraticamente nas urnas, a opção de soberania? Quem são, aqui, os “mais desprotegidos”, cujo não atendimento é factor de crise? A maioria do Kosovo que se quer divorciar da pata sérvia ou os que se abrigam, para prolongamento de domínio sobre o Kosovo e afastamento da União Europeia, numa “solidariedade eslavo-ortodoxa” (pior que o nacionalismo não é o pan-nacionalismo?) com ingerência clara do Grande Irmão de Moscovo que garante petróleo e gás desde que, por efeito de chantagem, os sérvios escolham o candidato eleitoral da corrente ultra-nacionalista virada a Leste?
Sobre as próximas eleições em Espanha:
a mais de um mês das eleições, o desfecho eleitoral continua manifestamente em aberto
Em melhor coimbrês não se exprimiria João Pinto, aquele que, não sendo da Académica, manifestamente jogou no FCP.
Desta vez, o prezado Tiago Barbosa Ribeiro foi apanhado em flagrante exercício de ingenuidade política. Ainda o post dele estava quentinho e já as ovelhinhas estavam recolhidas a mando do pastor (de nada valendo o ralhete de um "mais velho" que se supunha ser agora bem escutado onde estas coisas se decidem).
Espantoso. Já se encontrou uma justificação para que o terrorismo ataque em Portugal. Só falta eles “assinarem por baixo” (à bomba, num qualquer lugar público), pois o certificado do pretexto justificado já lhes está a ser passado.
Não imaginava ver o Octávio Palmelão, após tantos ofícios e muitas denúncias ameaçadas e nunca concretizadas, experimentar vestir toga e ser Bastonário dos Advogados. Mas, aqui, tudo é possível.
Quem se lembra dos registos da passagem deslumbrante de Joanne Woodward pelo cinema? Pois a fascinante actriz, que brilhou também na televisão e no teatro, foi agora notícia porque, aos 77 anos de idade, comemorou cinquenta anos de matrimónio (feito raro entre a fauna de Hollywood) com um tal Paul Newman, 83 anos já contados, o mesmo que ficou famoso quando disse: “Para quê sair para comer um hambúrguer se temos entrecot em casa?”.
O azar de Sócrates, agora e porque já estava na hora de o ter depois de tanta sorte lhe brindar a oposição que lhe coube, é a presidência da União Europeia não ter durado, como período de mandato, um ano e meio, prolongando-se até à boca das eleições. Sem as lantejoulas europeias a brilharem de cimeiras e tratados, Sócrates encontra-se despido a responder pelas respostas, ou consistência delas, aos problemas nacionais, os comezinhos, os de sempre, os nossos. Confinado ao “rectângulo”, é mais fácil perceber-se quanto vale um primeiro-ministro quando se passeia nu.
Transcrevo as achegas de Carlos Freitas apensas a este post:
O Estado central procura os seus interesses que em grande parte nunca coincidem com os interesses gerais, locais etc. Em tempo de vacas magras e de racionalização em sectores que procuravam (porque já não procuram) abranger o maior leque possível de portugueses, como a Saúde e a Educação, urge nestes, com o argumento do despesismo que estes representavam, avançar com a modernização das estruturas. Racionalizar é sinónimo de modernizar e todos querem ser modernos. É querer erguer um Portugal Novo contra um Portugal Velho. Onde é que eu já li isto? Para o fazer, não basta actuar. Para o fazer é preciso explicar como e porquê. O que na realidade é mais difícil do que actuar. Cortar a direito, enfim não sou alfaiate, nunca foi boa medida. O que dói a muito boa gente é o exemplo aqui mostrado [este] vir donde vem. E a grande maioria viver já em grandes centros urbanos. Com toda a carga que essa designação transporta. E não sabe por exemplo que vive gente na aldeia do Piódão (sabe, claro que sabe, não compreende é porque é que lá ainda vive gente. Pouca, mas vive!) que durante o Estado Novo tinha que ser levado em padiola ao serviço de saúde mais próximo, o que já então representava uma melhoria nas suas vidas! E perceber porque é que a melhoria das condições proporcionadas nos últimos anos foram agora recolhidas ou encerradas ou encolhidas com o incremento da racionalidade e modernização, novas posturas, quando não passam de experiências. Como explicar às populações que os tempos da padiola retornaram! Embora analfabetos e incultos, estes portugueses entendem que o que se está a promover é retirar-lhes condições que foram criadas para melhorar a sua condição de vida enquanto portugueses, a viverem em território ainda nacional. Quanto à questão de que não bastam centos de saúde, sap's, hospitais ou seja lá o que for para fixar as pessoas no interior. Claro que não. Este é apenas mais um dos vectores que ajudam a despovoá-lo. O seu abandono ao longo do tempo fez com que hoje já não se consiga combater a desertificação com infra-estruturas. A sua criação porventura em alguns locais foi um desperdício, veja-se quão pouco atento estava o Estado quando construiu escolas primárias a esmo, quando já se sabia que a curva da natalidade estava em franco retrocesso, ora se já se sabia porque teimaram ministros e governos em manda-las construir? Muito simplesmente porque rendiam votos aos autarcas locais do partido A ou B e ao partido que lá colocava aplaca no dia da inauguração. As populações embriagam-se com estes ismos. Mas estão a deixar de o fazer. Exigem que as coisas sejam convenientemente explicadas. Assim como hoje é necessário explicar o encerramento de unidades de atendimento em zonas que apresentam rácios de habitantes nas quais não se justifica o encerramento de instalações de saúde. Se as pessoas estão nos sítios, é nos sítios que devem estar os cuidados básicos de apoio à vida.
(…)
A burocracia dos médicos de família é verdadeiramente um caos, mas foram as pessoas, o vulgo, que a criou? Não teriam sido os tais técnicos ditos competentes? Idênticos aos que hoje promovem mudanças, sem as explicar. Provavelmente estas mudanças não virão a implicar o mesmo caos num futuro próximo tal como anteriormente as então modernas mudanças provocaram com a excessiva burocratização dos médicos de família? É compreensível que o que se exige é respeito pelo ser humano, pelos pacientes, pelas pessoas, por quem paga impostos e se vê relegado por um sistema neoliberal, que se afunda numa linguagem técnica e de modernidade para esconder o que só poucos conseguem ver e entender o que se move por detrás destas medidas. O elencar de medidas é apenas uma fórmula revisionista de mascarar a realidade.
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