A Coreia do Norte já deve estar saturada de receber imigração sedenta de liberdades, mas talvez Bernardino Soares consiga chegar a Cuba, à China ou à Bielorússia para poder respirar, a plenos pulmões democráticos, as "amplas liberdades" que aqui tanto se encolhem:
«A democracia hoje está seriamente limitada. Há um claro empobrecimento da vida democrática no país, como por exemplo limitações inaceitáveis aos direitos sindicais ou de manifestação e de propaganda política», afirmou Bernardino Soares.
Apetece dizer-lhe: "Oh homem, GO HOME!".
Até 2 de Março de
Por paradoxo monstruoso, enquanto na União Soviética 3.000 escritores eram reprimidos de várias formas, metade dos quais morreram em campos de concentração ou foram fuzilados, outros milhares, muitos mais, de escritores a ocidente do país do “terror vermelho”, sofrendo o fascismo ou desgostados com o capitalismo, tentavam ensinar às almas o caminho do precipício comunista, numa espécie de jogo sado-masoquista de atração pelas filas do matadouro. E a maioria destes, obviamente, não imaginava ou nisso não queria acreditar, a sorte que lhes restaria se a ilusão sonhada e posta a sonhar se tornasse realidade, demonstrando depois, demasiado tarde, como há ilusões que matam e nos matam.
Vitali Shentalinski (na foto) dedica-se há vários anos, mais de duas décadas, a evidenciar, perante o silêncio cúmplice do conforto da mentira acumulada pela propaganda, as provas de como o regime soviético odiava os escritores e a literatura. Escritores a quem só eram fornecidas duas opções: ou bajularem o comunismo, negando-se enquanto criadores, ou o caminho da prisão ou do tiro na nuca como paga pela independência e a rebeldia, no reino onde pela verdade e pela literatura se morria.
Resta saber quantos, ainda hoje, preferem conhecer as revelações de Vitali Shentalinski ou adormecer sobre a mentira tecida na ilusão.
Como é fácil entender, invejando, o Jorge Rosmaninho:
Moçambique tem um problema: desequilibra quem ama o cheiro da terra e o sorriso das gentes. A mim, tira-me do sério, apaga-me a capacidade de raciocinar de forma imparcial e deixa-me doente até ao regresso seguinte. Passar por aqui é viver embriagado. Não de álcool, mas de natureza, pessoas e panelas. De cores fortes, sons agudos, sabores picantes e cheiros inesquecíveis que se entranham nas narinas para sempre.
(…)
Regressar dá-me o prazer infantil de uma criança, perante a descoberta de um brinquedo amado, perdido na tralha do sótão. E por isso os próximos dias serão de brincadeira absoluta. Não me vou preocupar em escrever coisas bonitas. Ficarei pelos lugares-comuns que para além desses só Knopfli, Craveirinha e mais dois ou três conseguiram ir. Moçambique não se aprende nem apreende em palavras e/ou imagens. Vive-se e sente-se de forma simples, com poucos adjectivos, que o que é perfeito não precisa ser acrescentado.
Veja-se bem visto e, às tantas, Belmiro Azevedo lá terá os seus negócios com Chavez. Será que Mário Soares faz agora escola no mundo dos negócios? Depois da Galp, a Sonae/Público?
A solidez da retórica da legitimidade do voto até agora utilizada pelos apoiantes de Chavez vai ser posta à prova. Não pelo que digam os seus apoiantes internacionalistas, incluindo os de aqui, pois, na sua maioria, apoiam e apoiarão Chavez, com votos ou sem votos, como apoiam quem prolonga o exercício do poder, mesmo quando absoluto e sem se sujeitar a eleições, dado que, quando existe um tremor dialéctico entre socialismo e democracia, é a primeira que escolhem por culto à sacro-ideologia.
Vai ser Chavez a explicar-se, explicando, explicando-nos.
Se as 69 emendas constitucionais propostas e referendadas foram apresentadas como essenciais para a continuação da “governação chavista”, então a leitura óbvia da derrota deveria ser a abdicação presidencial e a convocação de eleições antecipadas. Ou, em alternativa, a adaptação da governação chavista, até final do presente e último mandato, aos limites da actual Constituição e consequente correcção dos desmandos de ultrapassagem revolucionária e culto da personalidade que vinham a ser praticados, incluindo uma reconfiguração por humildade ao quanto Chavez vale, pelo que vale e pelo que não vale, como legítimo presidente da Venezuela. Ao ter ganho eleições presidenciais e ao perder a tentativa de obter as 69 pretendidas emendas à Constituição, escolhas eleitorais com igual valor, os venezuelanos definiram os limites da sua escolha quanto ao mandato de Chavez. Que o obriga, a ele, Chavez.
O que vá fora disto, será a demonstração confirmada que Chavez, tal como outros no passado, usam, se usarem, a legitimidade democrática até que a ditadura seja melhor que a democracia, por melhor servir os propósitos. Ou seja, com a democracia quando se ganha, sem a democracia quando se perde.
Concordo, Luís. A cimeira UE-África tem tudo para se parecer com um encontro social entre gente fina e de boas famílias e maneiras com um grupo de pessoas de péssimo porte. Mas com o Natal à porta, até que nem parece mal. Dá para absolver do tanto tempo em que os europeus andaram por África a ensinar-lhes serem patifes. Aturá-los agora é o mínimo que nos podiam pedir.
Um dos episódios mais dramáticos que o absurdo da guerra colonial implicou, em preço de sangue e emoção, para as Forças Armadas portuguesas, foi o massacre de quatro oficiais portugueses e três guineenses ao serviço do exército colonial, ocorrido junto ao quartel do Pelundo no centro-norte da Guiné, em Abril de 1970. Não pelo número de baixas, pois houve combates com muitas mais vítimas do lado português, mas por quatro ordens de razões: o número de oficiais superiores entre as vítimas; a “qualidade militar” dos três majores (faziam parte da elite do corpo de oficias sob comando de Spínola e contavam-se entre os melhores especialistas militares em contra-guerrilha); terem sido assassinados não só com requintes de crueldade como se encontravam desarmados; o “volte-face” que representou esta acção do PAIGC (a missão destinava-se a receber a rendição de forças do PAIGC e era o culminar de longas negociações e de acção de aliciamento) em que uma prevista rendição de guerrilheiros se transformou num golpe profundo que liquidou três oficiais portugueses de elite e acentuou o caminho para a “guerra total”.
Aqui acaba de ser editado o relatório militar secreto da força operacional que fez a recolha dos corpos dos massacrados e que saiu do quartel do Pelundo em acção militar desencadeada após tardar o regresso da força que ia receber a rendição da força do PAIGC (e para a qual se previa a sua integração no exército português). Trata-se de um documento de grande importância no esclarecimento sobre as partes dramáticas vividas na guerra colonial, incidindo sobre um dos seus episódios mais traumáticos. De consulta obrigatória para os interessados em saber “como elas mordiam”, mesmo quando a miragem de uma grande ou pequena vitória parecia estar frente aos olhos.
[Na minha comissão militar na guerra da Guiné, conheci e fiz amizade pessoal com os três majores massacrados, todos inteligentíssimos, destemidos, cultos e de formação humana excepcional, sendo o mais brilhante entre eles (Passos Ramos), o que acrescenta absurdo ao acontecido, um militar que era contra a ditadura e a guerra colonial. Em tempos idos, dediquei-lhes este post.]
Imagem: os quatro oficiais portugueses massacrados perto de Pelundo (da autoria de Afonso M. F. Sousa e copiada do post para que se faz remissão).
OS MEUS BLOGS ANTERIORES:
Bota Acima (no blogger.br) (Setembro 2003 / Fevereiro 2004) - já web-apagado pelo servidor.
Bota Acima (Fevereiro 2004 a Novembro 2004)
Água Lisa 1 (Setembro 2004 a Fevereiro 2005)
Água Lisa 2 (Fevereiro 2005 a Junho 2005)
Água Lisa 3 (Junho 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 4 (Outubro 2005 a Dezembro 2005)
Água Lisa 5 (Dezembro 2005 a Março 2006)