De Presidente a Chefe de Governo? Ou o itinerário exótico de quem começou a carreira como oficial do KGB no tempo da outra senhora.
Aqui, uma análise de José Manuel Correia à praxis da duplicidade desculpabilizante.
E a propósito:
Podem morrer dezenas, centenas, milhares, dezenas de milhar de birmaneses sob o fogo dos militares ditadores, esses autênticos sósias de Franco, Somoza e Pinochet, que aquartelam a liberdade e a democracia na Birmânia, que os campeões lusitanos na luta contra o fascismo, pela democracia e pelas liberdades, não vão soltar uma lágrima em forma de palavra de indignação. Porque ali, na Birmânia, não é a revolução socialista que está no horizonte da luta. E, por outro lado, sustentando o poder dos generais ditadores, está a China do fraterno capitalismo vermelho. Acima da humanidade, dos valores e da vergonha, vinga a “análise de classes” que distingue os "amigos" dos "inimigos", a "revolução" da "reacção", remetendo os valores da vida e da liberdade para a disciplina dos conceitos abstratos se desprovidos de utilidade instrumental para os "interesses de classe". Assim, um sequestrado pelas FARC é um "prisioneiro para troca", um preso político cubano é "um mercenário gusano ao serviço de Bush", um talliban é um "resistente anti-imperialista", um etarra é um "guerrilheiro nacionalista", um gesto autoritário de Sócrates é sinal de fasciszação do regime, a opressão do Tibete e a "chacina birmanesa" são "assuntos internos". Como, no passado, as vítimas de Estaline eram "kulaks", "traidores", "trotsquistas", "titistas" ou "nacionalistas judeus", conforme as ocasiões, os chacinados em Budapeste e os invadidos da Checoslováquia eram desprezíveis "contra-revolucionários", os dissidentes no mundo soviético eram "escumalha", Jaruzelski impôs uma ditadura marcial para combater o "sindicalismo imperialista", o Exército Vermelho invadiu o Afeganistão para libertar o povo. Hoje, na Birmânia, monges vestidos cor de açafrão, povo em luta e uma líder pacifista não integram o lote das "forças progressistas" e são "instrumentos" do capitalismo imperialista que, em boa prova de conivência, até os apoiam. Para os depositários do testamento do património português do martírio heróico na luta pela liberdade e pela democracia, herdeiros exclusivos do 25 de Abril, bem podem chacinar todos os birmaneses que isso não lhes desperta a solidariedade de classe, bem guardada, no caso, através do "silêncio dos justos". Até que a "revolução birmanesa", a boa, ganhe forma e conteúdo.
Nem sempre os judeus são ou foram perseguidos. Também acontece serem perseguidores havendo quem da “perseguição judaica” não se consiga livrar. Da Alemanha (quem diria) temos o testemunho de uma nossa patrícia que deles, dos judeus enquanto memória, não se consegue livrar. Por muito que ande com a casa de um lado para outro, como se de uma não-judia errante se tratasse.
Imagem: Auto-retrato de Félix Nussbaum (pintor judeu alemão, deportado de Bruxelas em 1944, onde então vivia, para o campo de Auschwitz, na Polónia, onde foi assassinado, juntamente com a sua mulher, na câmara de gás, em 3 de Agosto de 1944, contando então 39 anos de idade)
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