“Água Lisa” em 279º lugar na “Lista dos 500 melhores blogs em língua portuguesa segundo a Technorati”?
Suspeito que aqui anda mão de favor de Duarte Gomes, o famoso ilusionista de penalties (fá-los aparecer onde não existem e desaparecer onde até um míope com lentes grossas que tenha perdido os óculos os enxerga).
O post anterior remetendo aos posts eruditos de Rui Bebiano sobre o trajecto e legado da “ideia de Outubro” bem como a praxis decorrente, para ser sentido, aquecendo-o com o sentir humano, necessitava, como complemento, de um grito cidadão. Talvez não aqui, onde nos livrámos (por uma unha negra?) de experimentar a prática normalizadora da utopia mais celebrada. Mas lá, onde doze milhões e quinhentos mil esqueletos de seres humanos, acumulados entre 1917 e 1991, fizeram de pedestal à estátua de uma ideologia com o crime a circular nas veias. Concretamente, na Praça Lubianka, que foi templo maior do crime comunista, onde hoje e amanhã se reúnem os que se recusam a esquecer as vítimas, tantas vítimas, tão esquecidas vítimas pelos bêbados e sonâmbulos da ilusão mortífera.
Dada por Rui Bebiano na sua reflexão-síntese sobre o caleidoscópio do mito de Outubro. Magistral, como lhe é costume.
Imagem: Um destacamento de cardeais na missa de acção de graças realizada no Vaticano celebrando a beatificação dos 498 mártires caídos pelo Caudilho Francisco Franco.
Com a vaga low cost a naufragar-nos o requinte de vida e em que o capitalismo comercial expedito explora o difundido e apurado sentido da poupança, numa disponibilidade ávida de se trocar qualidade e prazer pela santidade da castidade nos gastos, João Vasconcelos Costa antevê um mundo cinzento em que domina a procura de penúria desde que barata:
Barbeiros low cost, de corte à tigela. Transportes urbanos low cost, em caixa de camião. Café low cost, feito com a borra do anterior. Escola low cost, em que a criança leva a sua cadeirinha. Cão low cost, perneta e zarolho. Humor low cost, do Herman José. Cervejaria low cost, com direito a mosca na cerveja. Amigo low cost para discutir futebol.
O quadro é aterrador sem entrar no impossível. Como se, continuando a descer a rampa da desambição pela qualidade, e ao arrepio do sentido da história da marcha social, despertasse nas populações livremente capitalizadas, o prazer masoquista de experimentar as delícias da vida na triste uniformidade da “penúria soviética”, essa inspiração contraditória que guia os investidores no “low cost market”. E se calhar, por cá, seremos dos que mais perto já estão do mundo low cost. Não temos já um primeiro-ministro low cost a poupar no défice por troca com uma política low cost?
Ainda estando fresco o acordo maioritário entre os partidos espanhóis que permite a aprovação da “Lei da Memória Histórica”, e que visa a anulação das medidas judiciais da ditadura franquista de vingança sobre os vencidos e a remoção dos símbolos glorificadores a Franco espalhados por Espanha, o Vaticano reagiu à sua maneira. Não pelo pedido de perdão aos espanhóis e ao mundo pela forma como se aliou e foi suporte e verdugo na sangria contra quem se opôs à Cruzada de Franco (dando cimento ao fascismo clerical espanhol), defendendo o poder legítimo. Não confessando nem dando mostra de arrependimento pela cumplicidade com a fuzilaria franquista sobre os sacerdotes que se mantiveram leais à República, entre os quais avultou a maioria do clero basco. O meio de reagir do Vaticano, em cerimónia presidida pelo cardeal português José Saraiva Martins, foi a beatificação de 498 espanhóis, assassinados em bárbara violência anti-religiosa (em que os anarquistas se destacaram) entre 1934 e 1939 e considerados pela Igreja Católica como “mártires do século XX”.
Perante mais um acto de duplicidade do Vaticano, resta subscrever as palavras indignadas da “Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica”:
"El legítimo derecho a la beatificación de quienes considere sus mártires no debería estar reñido con una realidad en la que la Iglesia además de ser víctima fue un importante verdugo. Dejen de ejercer una doble moral y perdonen y pidan perdón por lo sucedido"
A sensação que me oiço, após a partida de Putin, é o suspiro de alívio por nos vermos livre de alguém que veio do frio e voltou para o seu habitat - o frigorífico. Por favor, para ultrapassar esta sensação gélida, sirvam-nos urgentemente um Mugabe.
Vamos lá ao respeitinho pelos deputados da Nação:
Finalmente o Tratado de Lisboa está a agitar os partidos anti-poder, os analistas, os políticos puros e duros, os comentadores de janela aberta (que muito falam de futebóis), os abruptos, mais "os que andam por aí", e até os reformados de S. Bento. Parece que já não há futebol, assunto geralmente escolhido para comentários longos, feitos por todo o bicho-careta. Ainda bem que o Tratado de Lisboa "entrou no gôto" de toda esta arraia, que agora acordou para a Europa. É vê-los, de Tratado na mão, a estudar os capítulos, os artigos, as alíneas e as omissões do Tratado Renovador... Não me admira, por isso, que esta sede de conhecimento jurídico pelas linhas com que vai coser-se o futuro da UE a 27, esteja a chegar às cidades, vilas e aldeias do interior remoto deste país. Até tenho receio de que os agricultores, os operários da construção, os funcionários públicos e os professores passem a dedicar mais tempo a estudar o Tratado de Lisboa, baixando a produtividade no respectivo trabalho...
Claro que os partidos anti-poder, bem como os comentadores ressabiados, o que pretendem é chinfrineira. Eles querem obrigar Sócrates a "cumprir o que prometeu", ou seja, um referendo ao Tratado. Mas o Tratado (que era uma espécie
de Constituição), já não existe, foi rejeitado pela França e pela Holanda. Portanto, o primeiro-ministro já não tem que referendar aquilo que foi posto de parte. Adiante. Esta gente começa a gostar de referendos. Gostam de assinalar um Xis, como fazem no euromilhões... Mas referendar um documento que precisaria de uma infinidade de perguntas, não é coisa simples, não é como inscrever um Xis no euromilhões. Para "referendar" o Tratado de Lisboa, estão os deputados na Nação.
A política parece ter fugido do discurso do governo. Mas o governo não pode comportar-se como se fosse um simples conselho de administração a prestar contas aos accionistas; nem pode deixar-se ser uma câmara de eco das banalidades mediáticas; e, muito menos, uma equipa de "marketing" a anestesiar-nos de complacência.
Na verdade, consentir nessa deriva de ambiguidades, faz-lhe correr o risco de o aproximar do que poderia ser para si o supremo abismo: passar a ser olhado como se fosse o braço político dos patrões.
É que quem for encarado como braço político dos interesses dos mais ricos e privilegiados, dificilmente continuará a ser visto como seu pelo povo de esquerda.
(raciocínio completo aqui)
(e depois não digam que os poetas não são bons conselheiros políticos)
(ou que Coimbra é património exclusivo dos do maior encanto na hora da despedida)
Ontem e hoje, o nome Anna Politkovskaya não me sai da cabeça. Nem os muitos discursos de Estado que, entretanto, tenho ouvido, apagam este nome da minha memória activa. Tenho de, urgentemente, visitar o Hermitage da Ajuda para ver se me passa.
Mas a manif não foi convocada, mobilizada e organizada pela CGTP? Foi mesmo ou nem por isso?
O PCP saúda os trabalhadores em luta – os que estiveram no Parque das Nações e os que, por condicionalismos vários, lá não estiveram fisicamente. E saúda os militantes comunistas, que de Norte a Sul do País ocuparam as primeiras filas em todo o processo preparatório desta manifestação, contribuindo, assim, para o seu êxito - confirmando o papel insubstituível do PCP e a necessidade imperiosa do seu reforço orgânico, interventivo, social, eleitoral e político.
A garantia de referendar o Tratado Europeu é uma promessa eleitoral do PS, o partido com maioria absoluta na Assembleia da República. Reduzir a defesa do referendo à chicana, que também há, daqueles que se opõe ao Tratado porque estão contra a pertença de Portugal à União Europeia, é um exercício de demagogia escapista. Ou um caso de imaginação no poder.
Da Marinha Grande para Santarém, passando pela Assembleia da República e depois de ter dado uma volta por Setúbal.
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