Escreve Rui Bebiano:
Infelizmente, é já absolutamente normal, e até expressão de uma certa forma de coerência, que o PCP convide os bandidos armados e narcotraficantes das FARC ou os oligarcas, denunciantes e torcionários do partido único da Coreia do Norte – para além dos representantes dos regimes totalitários cubano ou bielorusso e de outras forças consabidamente antidemocráticas – para a sua Festa do Avante. O que me parece mais preocupante é que a opinião pública de esquerda considere o facto de somenos importância e abandone a denúncia deste tipo de situação nas mãos dos conservadores ou mesmo dos descendentes da velha direita. As preocupações a propósito das liberdades fundamentais e a decência política mais elementar parecem, uma vez mais, submergir por estes lados diante de pequenas prioridades tácticas. Um mau, ou um péssimo, sinal.
Julgo que RB coloca o dedo na ferida maior. O problema não é as amizades e cumplicidades do PCP em fase de pós-naufrágio do “internacionalismo proletário” (não vai a edição da “Festa do Avante”, neste ano do século XXI, ter como prato forte a saudade teologizada da maior hecatombe social e política do século XX - a experiência, o genocídio e o império bolchevique?). A grande questão, porque coloca o poder anestesiante do mito vivo-morto do antifascismo, é a complacência com que a cultura democrática encolhe os ombros perante a impunidade do jogo dúplice do PCP (“pai da democracia portuguesa” e “campeão das liberdades e do aprofundamento da democracia” enquanto as suas referências e paradigmas se mantêm ligadas à violência como meio de chegar ao poder e a praxis da ditadura e do crime como inevitabilidade para o conservar), porque incapaz biopoliticamente de apear Estaline e Brejnev dos seus armários. Houvesse uma festinha de uma dúzia de “cabeças rapadas” convidando camaradas energúmenos estrangeiros e cairia o Carmo e a Trindade. Pelo menos, há um problema de estrabismo no padrão da exigência democrática. Ou de capacidade de resistência à sedução pelo politicamente adquirido.
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Adenda: Aqui, em permanente actualização, os bloggers que repudiam a presença indesejada dos "farcistas" em Portugal, sob albergue da "Festa do Avante".
Incorre num claro equívoco, caro Tiago. Não é o PCP que é amigo e chama para acampar na “Festa do Avante” o bando narco-terrorista das FARC. São as FARC-EP que são amigas do PCP e lhe desejam muitos êxitos em todas as suas actividades. E a amigos fecha-se a porta e não se deixa entrar?
Sff, leia aqui:
Camaradas del Comité Central y Militantes en General del Partido Comunista Portugués.
Lisboa.
Apreciados Camaradas:
Reciban el saludo comunista y bolivariano de los Mandos, Guerrilleras y Guerrilleros de las FARC-Ejército del Pueblo. Deseamos al Partido, muchos éxitos en todas sus actividades.
El oportuno y solidario Comunicado emitido con motivo de las provocaciones contra nuestra Organización revolucionaria, por el hecho de estar siendo vendido su órgano oficial de información, la Revista Resistencia, en el Festival de ADELANTE, nos llena de sano orgullo, pues vemos en ese gesto del Partido, una de las más caras expresiones de la militancia comunista: El Internacionalismo Proletario.
En uno de sus viajes al pasar el Quijote cerca de una casa le dijo a Sancho, su compañero inseparable: “Ladran los perros, Sancho, luego es señal que cabalgamos!”
Entendemos de esa forma el malestar que causan en el enemigo de clase actividades militantes, como el Festival de ADELANTE, cuando explicitan clara y públicamente su firme Solidaridad para con el avance libertario del pueblo colombiano y demás pueblos de nuestra Grande Patria Latinoamericana y Caribeña, hacia la Segunda y Definitiva Independencia!
¡VIVA EL PARTIDO COMUNISTA DE PORTUGAL!
¡CON BOLÍVAR, CON MANUEL, CON EL PUEBLO Al PODER!
Fraterno abrazo comunista para todos.
Raúl Reyes
Jefe de la Comisión Internacional de las FARC-EP.
Montañas de Colombia, Septiembre de 2006
Como se não bastassem os Chicago boys da noite portuense aos tiros uns aos outros, agora não deixam que o Douro durma descansado, metendo-lhe por cima aviões às cambalhotas sem rede. O Porto não merece tanto e tão demais.
Há 60 anos, às cinco da tarde, em Linares (Jaén, Andaluzia), tombou Manolete, um dos mitos das arenas e um dos seus maiores estetas. A praça de Linares voltou agora a encher-se para lembrar essa corrida fatídica e lendária. Com José Tomás, claro. E às cinco da tarde. Só podia ser assim. A primeira faena de Tomás (vestido de puríssima e ouro) foi dedicada ao cantor Joaquín Sabina (momento da foto). Uma cornada, essa forma realista de lembrar Manolete no seu momento de tragédia, atirou Tomás para o hospital, onde continua sob prognóstico reservado, impedindo-o de triunfar. É a quarta vez que Tomás é colhido desde que regressou às lides em Junho deste ano em Barcelona. Aqui, pode ler-se uma excelente crónica de Joaquín Sabina sobre a corrida em Linares.
“Luíz Inácio Lula da Silva usa o argumento da forte votação do segundo turno das eleições do ano passado, que o reelegeram, para desvincular-se do julgamento do caso 'Mensalão' - esquema da compra de votos parlamentares - pelo Supremo Tribunal Federal, a mais alta instância judicial brasileira”
Ou a legitimação da eleição como valia de sentença pelo tribunal popular e com supremacia sobre qualquer Tribunal mesmo que Supremo.
Bem lembrado sobre vitórias e derrotas políticas nos vetos presidenciais:
“uma das leis vetadas, a que reformula o regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado -- por sinal, aquela de que o Presidente mais discorda, incluindo a sua filosofia --, foi aprovada por unanimidade, contando portanto com o voto do PSD, a que Marques Mendes preside e do qual é também deputado”
Se o PSD apenas contabiliza vitórias políticas nos vetos de Cavaco, o PP se esfumou, o PCP ainda não recuperou do fiasco da greve de Maio e o Bloco se reduz ao abraço a Costa em Lisboa, onde anda a oposição?
Valha-nos a blogosfera.
Não é normal mas, sem mudança, não há modernidade que nos valha. E, hoje, de mudança e modernidade, só os neo-cons bolcheviques (os gattopardos saídos de Lampedusa com estrela vermelha ao peito) fogem como o diabo desatina com a cruz. O caso a que me refiro, julgando-o exemplar, merece referência. Uma Secretária de Estado, blogger também, lendo a última crónica publicada de EPC, foi vasculhar o Simplex (de que é autora criativa) e, com uma espanadela no pó da burocracia, resolveu o problema que atormentara as últimas faenas domésticas do ilustre intelectual, em precoce e precipitada hora, falecido. E disso deu conta com balanço feito via post. Temos pois prova de esplendor no Simplex on-line. O que fica, para a conta de crédito acrescentado, como património cedido para a posteridade, na herança de fraternidade deixada pelo EPC. A que acresce a evidência da rapidez de trato e resolução da Secretária de Estado atenta. Se EPC já cá não está para o confirmar, ficou-lhe a graça de ter partido aprendendo a fazer camas, arte em que a maioria dos varões, mesmo os intelectuais, ou são relapsos ou incompetentes (sobretudo se não cumpriram serviço militar).
Seria uma eventualidade de desperdício não dar a dignidade de visibilidade de “primeira página” ao “direito ao contraditório” que Manuel Correia exerceu e colou em comentário a este post sobre um texto de Vital Moreira. Aqui fica, para honra do seu paradigma:
De facto é notável. Há sempre quem reserve um lugar imaginário na história em que parece ser possível ficarmos com o melhor de dois mundos: o Estado Social, na maré vazia, em regime de downsizing, PEC e revisionismo funcional - tudo matérias em que a direita fica sem pio por não saber (nem poder) fazer melhor; e as tabuadas liberais que (como se tem sobejamente visto) aceitam a democracia até surgir uma oportunidade mais conveniente.
Mário Soares, de quem Vital Moreira agora discorda serenamente, chegou a declarar que se os comunistas porventura voltassem a ser presos, as pessoas como ele (Soares) cá estariam para defendê-los nos tribunais, como o tinham feito antes.
O que parece estar a passar-se é que o ideário compósito que Vital Moreira propugna, não consegue ser assumido na sua inteireza, nem suficientemente esclarecido, sem a confissão adicional que falta: com a maioria absoluta, o governo do PS quer liderar em moldes liberais, reduzindo ao mínimo e Estado Social de inspiração Social Democrata. Quem quiser apoiá-lo, faça-o, quanto mais não seja, porque sim; quem não quiser, faça como aconselha António Vitorino, - habitue-se. Mas para isso não vejo necessidade de continuarem a falar em nome de quaisquer esquerdas. Basta chamar as coisas pelos seus nomes.
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Adenda: Para os eventuais interessados na continuação desta conversa, amena e de amigos, com o Manuel Correia, faça favor de ir até aqui.
Escrever a quente sobre alguém amado em que pouco tempo passou desde que arrefeceu, é a melhor forma de evocar alguém? Sobre isto, tinha dúvidas que agora perdi lendo o texto comovente, mas respirando a sinceridade do amor (e haverá maior sinceridade?), que Maria Manuel Viana, última companheira de Eduardo Prado Coelho, aqui deu morada de grito.
Nelson Évora conquistou, hoje, a medalha de ouro na final do triplo salto do Campeonato do Mundo de atletismo, que se disputa em Osaka, Japão, com a marca de
Já tardava esta máxima consagração atlética da velha especialização portuguesa no “salto”. Mas, sendo em “triplo”, está compensada a demora na medalha. Junte-se a ironia de termos de agradecer o feito à Costa do Marfim e a Cabo Verde e os parabéns a Nelson Évora ficam ainda mais compostos.
Vital Moreira explicando a Mário Soares:
Acompanho o antigo Presidente da República na rejeição do neoliberalismo social, mas tenho muitas dúvidas sobre a vantagem em deixar nas mãos da direita neoliberal, mais liberal do que democrata, o exclusivo do conceito de democracia liberal, que nada obriga a descartar de um ponto de vista de esquerda.
O conceito nasceu para designar o sistema político nascido da democratização do liberalismo clássico, provocada pelo sufrágio universal, pela universalização da cidadania e pela intervenção das massas na vida política. Trata-se de uma síntese não isenta de tensões, em que a componente democrática é limitada pelas liberdades pessoais e políticas (garantias dos direitos fundamentais) e em que a componente liberal é limitada pelos requisitos democráticos (inelegibilidades, limites dos mandatos, obrigação de democracia partidária, proibição de organizações racistas ou fascistas, etc.).
A democracia liberal, enquanto categoria política, não supõe necessariamente um Estado liberal no campo económico e social. Pelo contrário, a conjugação da democracia liberal e do Estado social constitui a grande tradição democrática europeia.
A meu ver, de um ponto de vista de esquerda, o argumento não deve ser o de alienar a democracia liberal, mas sim defendê-la contra o risco de descarnamento democrático ínsito no neoliberalismo económico e social. Quando o liberalismo radical tende a recuperar a antiga oposição entre liberalismo e democracia, sacrificando a segunda ao primeiro, incumbe à esquerda defender a democracia liberal enquanto síntese da liberdade e da democracia política.
Se Mário Soares não entendeu, após tão clara e concisa explicação, então é porque está irrecuperável na teimosia das suas embirrações, em que as semânticas parece também entrarem.
Julgo que nos fazia falta uma Santa que assim tivesse pensado:
«É tão dolorosa esta dor desconhecida – não tenho qualquer fé.»
«Às vezes, sinto a terrível perda de Deus. Sinto que Deus não é Deus e que ele não existe realmente.» (*)
Se o processo de canonização de Madre Teresa de Calcutá não for interrompido após esta revelação (parece que não), teremos uma Santa capaz de reunir crentes e incréus sob o mesmo palio da irmandade do olho aberto perante qualquer deus, contando os de cá e os de lá. Porque qualquer divindade, por mais que o seja, se por vezes funciona bem como abrigo, até como inspiração, merece a dignidade crítica da dúvida. E é isso que justifica os preventivos pára-raios nas igrejas que tantas calamidades evitam em dias de borrasca. No caso da albanesa Teresa, benfeitora modelo, vá-se lá saber se lhe pesou mais a inspiração divina que a do seu patrício Henver Hoxa, esse ateu científico que julgo ainda iluminar um dos ramos do Bloco à portuguesa. Só pelo milagre do mistério paradoxal da fé de Madre Teresa, ela já merece lugar no altar das santidades. O meu voto favorável está dado.
(*) – Das cartas de Madre Teresa de Calcutá a incluir no livro “Mother Teresa: Come Be My Light” a ser lançado brevemente.
Também eu, ontem, me fartei de rir com a crónica gastronómica no “Público” que incluía a delícia dos “plátanos fritos” degustados em Nova Iorque. Deliciosos mas que indigestos, coño!
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Adenda: Segundo Joana Lopes, a banana-pão também pode ser chamada de plátano. E admite que terá sido esta a espécie referida no jornal. Eu julgava que o termo plátano relativo a banana só era usado em Espanha e que plátano, portuguesmente falando, só designava a árvore. Agora fico na angústia da dúvida sobre se não tropecei ao dar a alfinetada deste post.
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