Sexta-feira, 25 de Maio de 2007

É VITAL DERROTAR O CAPITALISMO

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Na hipótese fatalista, socialista e laicamente ironizada por Vital Moreira em Fátima (*), e se ele bem se lembra, há um velho remédio para travar o egoísmo capitalista da Lusoponte: nacionalizar esta concessionária, já! Se a agiotagem da Lusoponte é o impecilho, isso não obsta a que o povo seja quem mais ordena, com Ota ou sem Ota. E é bom que o capitalismo saiba que não passará. Até, ou sobretudo, com Sócrates.

 

(*) Do jornal “Público”:

“O constitucionalista Vital Moreira acusou, na terça-feira, a Lusoponte de ter interesse que o novo aeroporto internacional de Lisboa seja construído na Margem Sul, durante um jantar promovido pela Comissão Pró-Aeroporto na Ota, em Fátima. A iniciativa resultou num compromisso cívico em que são expressos argumentos a favor da Ota e que será remetido à Assembleia da República, grupos parlamentares e ao ministro das Obras Públicas.
"Fala-se que o aeroporto construído na Margem Sul do Tejo seria mais barato, mas o problema é que o barato sai caro. Uma coisa é a construção do aeroporto, outra coisa é a sua utilização durante décadas. Imaginem 20 milhões de pessoas a terem de pagar portagens à Lusoponte. Dá seguramente centenas de milhões de euros por ano. Se fosse administrador ou accionista da Lusoponte estaria disponível para dar uma pequena percentagem dessa quantidade a todas as campanhas destinadas a desqualificar o aeroporto da Ota", ironizou.”

Publicado por João Tunes às 23:10
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O SOCIALISMO BOAVENTURADO

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Difícil é lidar com, quanto mais entendê-las, mentes brilhantes, incluindo, ou sobretudo, as mentes brilhantes académicas. Particularmente quando estas preferem surpreender além da capacidade comum em as entender, disfarçando melhor ou pior o cabotinismo próprio dos gurus predeterminados. Boaventura de Sousa Santos, um ilustre profeta desarmado de méritos firmados e bem caboucados na Universidade de Coimbra, homem que pensa o mundo além dos limites culturais, sociais e políticos próprios dos humanos, quando reflecte alarga o raciocínio em comprimento, largura e profundidade. Natural pois que, exorcizando os vícios que corroeram o socialismo, os socialismos, os velhos socialismos, esses mesmo que saltam coxos e marrecos perante o olhar e pensar do limitado homem vulgar de esquerda, causticado em decepções, encontrou uma listagem programática do “socialismo feliz”, o do século XXI, enunciando-a assim:

 

um regime pacífico e democrático assente na complementaridade entre a democracia representativa e a democracia participativa; legitimidade da diversidade de opiniões, não havendo lugar para a figura sinistra do "inimigo do povo"; modo de produção menos assente na propriedade estatal dos meios de produção do que na associação de produtores; regime misto de propriedade onde coexistem a propriedade privada, estatal e colectiva (cooperativa); concorrência por um período prolongado entre a economia do egoísmo e a economia do altruísmo, digamos, entre Windows Microsoft e Linux; sistema que saiba competir com o capitalismo na geração de riqueza e lhe seja superior no respeito pela natureza e na justiça distributiva; nova forma de Estado experimental, mais descentralizada e transparente, de modo a facilitar o controle público do Estado e a criação de espaços públicos não estatais; reconhecimento da interculturalidade e da plurinacionalidade (onde for caso disso); luta permanente contra a corrupção e os privilégios decorrentes da burocracia ou da lealdade partidária; promoção da educação, dos conhecimentos (científicos e outros) e do fim das discriminações sexuais, raciais e religiosas como prioridades governativas.

 

Belo programa, melhores intenções. Impulsionando uma vontade imediata e compulsiva de assinar ficha de inscrição e compromisso de imediata e brava militância recheada de vontades camaradas. O problema, pequeno grande problema, é saber onde mora a sede de recolha de adesões a este depurado socialismo do século XXI, autêntico paraíso da redenção social e política. E o problema começa e acaba aí. É que Boaventura de Sousa Santos envia-nos, para tal fim, a Caracas e Havana. Entregando-nos nas mãos do guia cristão-leninista Chavez. Ora, sendo assim…   

 

[O texto completo do artigo de Boaventura de Sousa Santos pode ler-se aqui (*)]

 

(*) O artigo foi publicado na Folha de São Paulo em 21 de Maio de 2007 e depois repetido na revista Visão de 24 de Maio.

Publicado por João Tunes às 17:35
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OS INGRATOS RAIDEL E YASSER

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Entre outras graves inconveniências, a implosão soviética aumentou os espaços de fuga alienada para fora do que vai sobrando do exaltante “socialismo real”. Agora, nem a Bulgária resta como território seguro para impedir os ímpetos imperialistas dos atletas - operários, camponeses, soldados e marinheiros - da democracia avançada com saúde, escola e (péssima) habitação.

Publicado por João Tunes às 15:54
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CONSELHEIRO EM SALVAÇÃO MINISTERIAL

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Ora aqui está quem, de livre vontade, graciosamente e sem aumento do número de assessores e cuidadores de imagem a pesar nos bolsos do orçamento, explica o que falta ao governo: ginástica, natação e massagens corporais. Ou como nem sempre a blogosfera se perde nos dichotes e picadelas, optando pelos sábios conselhos de amigo. Os ministros que leiam. Que no ler blogues é que pode estar o ganho. Assim:

 

 

Deseja-se que o Governo e o primeiro-ministro não se deixem "enredar" na confusão verbal que reina na oposição. Recomenda-se aos ministros de José Sócrates, designadamente a Manuel Pinho, a Mário Lino e a Correia de Campos, que se acalmem sempre que tenham de proferir declarações públicas, para não cometerem "gaffes", lapsos de linguagem, nem contar anedotas ou "ditos jocosos". Devem assumir o poder de que estão investidos, falar conscientemente e com humildade, mas elevando o seu discurso por forma a dar-lhe dignidade e respeito. O poder é força, é segurança, é estar acima das tricas e das quezílias dos outros. A forma de conseguir mostrar e deixar passar a "solenidade" das suas declarações é mostrar-se calmo, seguro, confiante, optimista e falar de olhos nos olhos... Se o stress e o cansaço conduzirem a um comportamento irritadiço, o melhor que os senhores ministros podem fazer é irem para o ginásio, fazerem umas braçadas em piscina aquecida, seguindo-se uma boa massagem corporal... O stress passa, o ministro fica bem humorado, e pode fazer declarações públicas de maneira convincente, sem cometer gaffes, e sem necessidade de contar graçolas...

 

Depois destes avisados conselhos, só se pode desejar que ainda cheguem a tempo e não necessitem, os ministros, de algo mais radical. 

Publicado por João Tunes às 13:21
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“GANDA MALUCO”! (ainda mais que Mário Lino…)

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"Um aeroporto na margem sul tem um defeito: precisa de pontes. Suponham que uma ponte é dinamitada? Quem quiser criar um grande problema em Portugal, em termos de aviação internacional, desliga o norte do sul do país", declarou Almeida Santos no final da reunião da Comissão Nacional do PS.

 

Desta talvez nem o finado Almirante Américo se lembraria. E esse tinha a desculpa de ter ficado gágá ainda mais novo.

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Adenda: Um comentador num post anterior, lembrou bem: Almeida Santos anda a ler demais sobre Bagdad.

Publicado por João Tunes às 12:26
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ERA MAIS FÁCIL, NÃO SE ESCOLHIA E PRONTO!

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O país, durante décadas, teve o mando único nestas mãos. Então não era necessário escolher. Estas mãos, escolhiam por todos e todos eram obrigados a não escolher. Para sermos felizes, diziam estas mãos. Explicando assim:

 

“Por felicidade do País, ao desempenhar-se do encargo constitucional da eleição, não tem que escolher – felizes as nações que nos momentos cruciais da sua vida não são obrigadas a escolher, e às quais a Providência com desvelado carinho dispõe os acontecimentos e suscita as pessoas de modo tão natural a-propósito que só uma solução é boa e essa a vêem com nitidez no íntimo da sua consciência todos os homens de boa vontade! Felizes porque não se debatem em dúvidas angustiosas, porque não se arriscam em desmedidas contingências, felizes sobretudo porque não se dividem!”


(Do discurso proferido por Salazar em 7/2/1942, véspera da reeleição de Óscar Carmona, então candidato único para a Presidência da República) (copiado daqui).

Publicado por João Tunes às 11:56
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AUTO ELOGIO

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Exactamente, são muito "corajosos" em aceitarem o serviço escrupuloso da agenda política do PCP. Em forma de auto-elogio  à indisfarçada fusão PCP/CGTP.

Publicado por João Tunes às 11:04
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Quinta-feira, 24 de Maio de 2007

À ESPERA DE KADHAFI

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Obrigado, Mário Lino. Por não chamares “escumalha” à malta aqui do deserto a sul do rio maior. Antes assim: beduínos. Honrados com o bom governo, mas beduínos. Mas vais ver, quando Kadhafi, nosso irmão beduíno, o mais rico entre os beduínos, se lembrar de nós, vai dar-nos uma data de aeroportos. E, então, pagamos-te o disparate em camelos entregues ao domicílio (na Ota, claro).

Publicado por João Tunes às 23:14
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Terça-feira, 22 de Maio de 2007

Alberto Vilaça (1929-2007)

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Sabia-o figura marcante da militância coimbrã, ortodoxo, excelente contador de histórias, advogado, preso seis vezes pela PIDE, mas não conheci Alberto Vilaça além dos seus livros de memórias. O que não foi de menos para lhe adivinhar uma vida com muita luta e muitos afectos companheiros. E desconfiar que tanta ortodoxia por fora esconderia uma heterodoxia humana bem guardada e melhor recheada. Mas disso fale quem dele usou convívio. Eu curvo-me perante a sua falta.

Publicado por João Tunes às 16:22
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ATÉ QUE AS RAPOSAS SEJAM MAIS QUE AS GALINHAS?

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Dou razão ao Marco. A ONU é um sítio frequentado por muita gente imprópria para consumo democrático. E se lá está muita dessa gente, é natural que se escolham entre si para tomarem conta das Comissões. Por exemplo, o Zimbabwe vota em Cuba para o Conselho dos Direitos Humanos, Cuba vota no Zimbabwe para a Comissão de Desenvolvimento Sustentado, ou seja, trocam favores usando a moeda da aberração. E por aí fora. Até se chegar, como já se chegou, a que os países com práticas mais contrárias a certos princípios dirijam na ONU as Comissões que zelam pelo cumprimento desses mesmos princípios, numa lógica perversa que, inevitavelmente, desacredita uma organização que o mundo necessitava que tivesse o crédito da impoluta e máxima autoridade.

 

Obviamente que o problema não está nas escolhas dos membros das Comissões da ONU, a que a opinião pública internacional não reage por as encarar como formalidades burocráticas. O mal reside em a ONU não ter autoridade, nem meios e vontades para isso, para impor aos seus membros a condição mínima de cumprimento dos princípios da Carta da ONU e a Carta dos Direitos Humanos. E estas mesmas Cartas serem constantemente violadas, no todo ou parcialmente, por alguns dos países mais poderosos que seriam os que tinham capacidade de impor um critério de autoridade dentro da ONU.

 

Uma organização que perde autoridade, caminha para o desnecessário. Impõe-se, há muito e cada vez mais, para que a ONU não se transforme numa burocracia desacreditada e inútil, o que seria trágico para a estabilidade e a paz mundial, a criação de um forte movimento mundial, feito só de gente minimamente recomendável, que reivindique e imponha uma regeneração da ONU assente na revisão impositiva da qualidade de país membro da ONU, numa espécie de refiliação. Até se fazer isso, andam-se a contar galinhas e raposas até à vã esperança que estas morram de fome por falta de conduto para as “cabidelas”.

Publicado por João Tunes às 15:35
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VIDA E FOGO DE UM BARCO MÍTICO

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Adeus "Cutty Sark". Até o teu regresso (pelo menos, dentro de uma garrafa).

Publicado por João Tunes às 12:26
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Segunda-feira, 21 de Maio de 2007

NADA MAU, DIZ

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Num curto espaço de tempo, um tal Nicolas passa de “Ministro Bastonadas” a “agradável surpresa”. Ou como a ductilidade é virtude na análise política. Por este andar, tarda nada, sempre houve fascismo em Portugal.

Publicado por João Tunes às 22:56
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SÓCRATES NÃO SABE MAS O TEMPO PASSA

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Há sinais reais que têm um peso pesado de simbolismo. Nos tempos de degradação, notam-se mais. Isto é, quando os símbolos se confundem com e na realidade. A governadora civil de Lisboa é uma nuvem negra nos céus da cidade capital da democracia portuguesa. Esta senhora, governadora civil por escolha do ministro António Costa, decide marcar eleições em data ilícita, almejando um timing desfavorável a uma forte candidatura concorrente ao candidato António Costa, muda de marcação por o Tribunal Constitucional desmontar a marosca, não se demite (como a decência mínima obrigava) e aparece (sendo recebida!) numa sessão pública como apoiante do candidato António Costa.

 

A senhora não conta. É uma excrescência aparelhística, com o tempo vai cair, politicamente, de podre. O problema é Sócrates não ter notado a passagem do tempo e pensar-se ainda no estado nascente de “graça impune” em que enfiou Fernando Gomes na Galp e Armando Vara na Caixa, enquanto permitia que Pina Moura acumulasse Parlamento e Iberdrola.  

Publicado por João Tunes às 22:17
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UM ESCRITOR DESAPARELHADO

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Vale a pena ler (aqui) o texto integral da intervenção do escritor Mário de Carvalho sobre o último livro de Raimundo Narciso. Porque comprova que mesmo entre os escritores saídos do “aparelho” (Mário de Carvalho foi funcionário político do PCP, tendo sido um dos "controleiros" do sector intelectual, antes de se dedicar à advocacia e à escrita) há quem consiga pensar sem a mente “aparelhada”. Como nesta questão lapidar que, não lhe respondendo, deixou no ar:

 

"Como é que gente bem formada, culta, às vezes brilhante, opta (estamos a falar de opções – ninguém aqui foi obrigado) pela renúncia à crítica e pela adopção de fórmulas que nem por serem tranquilizadoras e identitárias deixam de transportar consigo a mentira e os germes da iniquidade?"

 

 

Imagem: Mesa da apresentação pública do último livro de Raimundo Narciso (da esquerda para a direita: Mário de Carvalho, Mário Lino, Raimundo Narciso e uma representante da Editora Âmbar).

Publicado por João Tunes às 16:16
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GUERRA COLONIAL / GUERRA DE LIBERTAÇÃO

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A guerra colonial ainda resiste como tabu contornado na sociedade portuguesa. A abordagem deste drama, que durou treze anos, marcando, em perdas e danos, muitas dezenas de milhares de portugueses hoje acima dos 55 anos de idade mas que se repercutiu nos seus familiares, deixando assim marcas em várias gerações, não alcança, em termos de ocupação de memória e de evidência histórica, comparado com o espaço memorialista, narrativo e analítico ocupado pelo drama conexo e consequente da descolonização, uma repartição similar. E o filtro do ressentimento gerado pelo drama da descolonização foi e é um formidável gerador de preconceitos que actua como espécie de coveiro de memória relativamente ao drama colonial (antes da guerra e durante esta). Como se, para a maioria dos portugueses, se tivesse descolonizado aquilo que não se colonizou e se resistiu a permitir a separação, persistindo-se assim no mito salazarista difuso do Portugal “do Minho a Timor”, prolongando um ressentimento colectivo por nos terem arrancado, à má fila, bocados que “eram nossos”.

 

Mas os portugueses que falam e escrevem sobre a guerra colonial (alguns preferem chamar-lhe “guerra no ultramar”, o que tem uma marca política evidente, enquanto para os africanos ela é denominada como “guerra de libertação”, o que também significa muito) têm ainda, independentemente do enquadramento político e ideológico sobre ela, uma visão inevitavelmente eurocêntrica. Ou seja, é sempre um olhar sobre este sofrimento (ou gesta, para os “patriotas”) sedimentado da experiência ou da percepção interpretativa do "lado do colono" (no mínimo, do ponto de vista cultural), mesmo quando esse "colono" procura, o mais possível com o que melhor sabe, colocar-se na pele do "colonizado" e adoptar a sua causa. Mia Couto, um escritor moçambicano de pele branca, exemplificou bem as diferenças quando referiu que enquanto os portugueses falam de "descolonização", os africanos não usam este termo porque para eles o que existiram foram "independências" (ou seja, não foram os europeus que descolonizaram, foram os africanos que conquistaram as independências dos seus países).

 

[É elucidativo que, quanto ao Campo de Concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, esse mimetismo maior feito pelo salazarismo relativamente à perfídia do nazismo, depois replicado em vários outros locais de África, haja, entre a literatura do antifascismo militante, uma constância de referência ao período 1936-48, em que lá estiveram internados prisioneiros políticos europeus, quase se silenciando que o mesmo e odioso Campo foi reaberto em 1961, por despacho de Adriano Moreira, esse hoje notável e venerando professor de boas práticas democráticas, onde dezenas de milhar de africanos penaram até 1974. Quase parecendo que, nessa mesma iniquidade, um africano anticolonial sofreu menos que um antifascista europeu, quando o inverso é que foi verdadeiro.]

 

Entretanto, da parte africana, muito mais escassa ainda é a produção de registos memorialistas e trabalhos históricos sobre as guerras de libertação. Por variadas e evidentes razões (altas taxas de analfabetismo e ileteratícia; atribulações políticas; falta de arquivos; fragilidade das estruturas e meios académicos; menor horizonte de vida que levou a que muitos dos que combateram já tenham falecido; maiores preocupações em sobreviver, consolidar a independência e garantir o futuro que lidar e fazer registo do passado).

 

Neste quadro, se os “antigos colonos” perdem pouco tempo a lembrar e pensar o passado colonial, os “antigos colonizados” ainda menos o fazem, o que beneficia o alargamento (conveniente para uns tantos) do “buraco histórico” que a guerra colonial / guerra de libertação representa na memória dos portugueses e dos africanos que têm como pátrias suas as antigas colónias portuguesas, sobrando, inevitavelmente, o espaço para os mitos e os ressentimentos, maus conselheiros para a saúde cívica dos povos. Daqui que considere um facto notável, remando contra o silêncio das memórias, o trabalho persistente e competente do historiador guineense Leopoldo Amado (na foto de cima). Que, constituindo uma importantíssima e honrosa excepção, submete, no próximo dia 28, a um júri de doutoramentos da Universidade Clássica de Lisboa, em sessão pública, o seu notável trabalho de investigação sobre a guerra na Guiné (1963-1974) e que culminou num estudo comparado da mesma quanto aos dois lados da contenda (a mais dura no quadro das três guerras coloniais) (*) (**). Demonstrando, em boa tese, que os mitos e os ressentimentos abatem-se pelo saber.

--- 

(*) Assim reza a nota informativa da Universidade Clássica de Lisboa:

Doutorando/a: Lic.º Leopoldo Victor Teixeira Amado
Doutoramento: Doutoramento em História - História Contemporânea
Título da Tese: “Guerra Colonial versus Guerra de Libertação (1963-1974): O Caso da Guiné-Bissau”
Data/Hora: 28 de Maio, 10H00
Local: Reitoria - Sala de Doutoramentos, Cidade Universitária, Lisboa

--- 

(**) – O meu elogio antecipado ao trabalho académico de Leopoldo Amado fundamenta-se no conhecimento prévio de que beneficiei, mercê da sua amizade que muito me honra, e para o qual, modestamente, dei o meu singelo contributo de mera opinião crítica na fase de elaboração final, valendo-me, como suporte, da memória registada no meu corpo e na minha alma, proveniente de dois registos contraditórios e num paradoxo que me empalou a juventude - o de antigo combatente na Guiné nas fileiras do exército colonial e o de militante activista contra a guerra colonial.

--- 

Imagens de baixo: Fotos de Bara István, fotógrafo húngaro, 1969 – um guerrilheiro do PAIGC transporta armamento para mais uma flagelação às tropas coloniais portuguesas; prisioneiros militares portugueses numa prisão do PAIGC na Guiné—Conacri.

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Publicado por João Tunes às 13:34
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