Também do lado do PAIGC não se descurava a propaganda desmoralizadora junto do exército colonial português.
Este panfleto (copiado daqui) fazia parte do material de propaganda de guerrilha na guerra de libertação na Guiné e era um incentivo à deserção dos militares portugueses, aproveitando três casos que são invocados. Repare-se a preocupação de garantir aos desertores que não ficariam em África mas sim colocados num país europeu com forte colónia emigrante portuguesa (relevo para França). Assim, a deserção é praticamente despida de significado político, além do sentido humanitário de recusar participar numa guerra criminosa e “já perdida”, sendo uma forma de concretizar aquilo que já milhares de jovens portugueses faziam clandestinamente e atravessando Espanha, quando se aproximava a incorporação militar (o “salto” para França). A distinção vincada entre portugueses e exército colonial, por sua vez, era uma forma de induzir a garantia de uma boa recepção quando da entrega ao PAIGC.
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Adenda: O Isidoro de Machede comentou este post referindo que um dos três fuzileiros desertores referidos no panfleto do PAIGC era seu amigo, voltou clandestinamente a Portugal em missão revolucionária, foi preso pela PIDE e só saiu em liberdade da Prisão de Caxias nos dias a seguir ao 25 de Abril. Como complemento, acrescento uma foto dos três desertores (mesma fonte da cópia do panfleto), quando hóspedes do PAIGC. O fuzileiro António Pinto, amigo do Isidoro, está no centro. A ladeá-lo, estão os fuzileiros Alfaiate e Sentieiro.
Este cartaz-folheto (copiado daqui) fazia parte do material de propaganda de contra-guerrilha na guerra colonial na Guiné e era um incentivo à deserção dos guerrilheiros do PAIGC através da idealização da reintegração sob o poder colonial.
Os elementos pictóricos são simplificados e impressivos. A disposição figurativa dominante é a do reencontro efusivo e afectuoso entre os africanos que continuavam sob dominação portuguesa e aqueles que regressam abandonando as armas da luta de libertação. A bandeira portuguesa, símbolo de soberania perene, é elemento vivo e colorido. No centro, destaca-se, pelo chapéu, o régulo africano como sinal da continuação da autoridade tradicional africana. Os elementos do exército colonial (desarmados e em pose de satisfação convivial) estão postados discretamente como espectadores e incluem um militar negro. A legenda é discreta, sublimando as vantagens da deserção, para os desertores e para os seus familiares e amigos, não contendo qualquer elemento reprovador forte aos guerrilheiros, apenas indicando que estavam “enganados”.
O quadro idílico traçado na ilustração servia de contraponto, sem necessidade de representação dicotómica, à realidade guerrilheira e consequentes riscos – o combate armado, a exclusão da família, do meio familiar e dos complementos afectivos, as carências da vida guerrilheira, a brutalidade da acção militar colonial, incluindo a acção dos agentes da PIDE.
Se a propaganda não resultou não foi por demérito da propaganda. Havia muito no real que resistia à melhor propaganda.
Quem não ler este e este posts do Lutz, não sabe o que perde. Mas eu explico: perde do melhor e mais divertido que ultimamente se tem escrito. E bem haja quem ainda se atreve a defender os homens.
João Tiago Silva, que se deduz ser um empenhado funcionário-controleiro da “jota comunista”, usando a comum “linguagem de madeira” dos burocratas estalinistas, deu testemunho público do seu labor estratégico no cumprimento das suas porfiadas tarefas a espreitar janelas de oportunidade para engrossar as hostes e aumentar o pecúlio da militância revolucionária. O depoimento é curioso e vale a pena ser lido. Com o interesse maior em se perceber claramente como é que o sindicalismo (na CGTP) é entendido no PCP: uma mera tarefa comunista de primeiro nível, o nível de iniciação, após o recrutamento partidário. Confessando-se publicamente que, para o PCP, os resquícios da autonomia sindical não só morreram como deram lugar a uma intrusão orgânica no processo da militância político-partidária. Resumindo: do Partido para o Sindicato, negando toda a tradição sindical e sectarizando os movimentos sociais. Mas se alguém, fora da tribo do Jerónimo, disser o que disse este “funcionário jota”, aqui-del-rei que há calúnia na costa.
Albano Nunes profetiza assim:
“Portugal em contradição aberta com a Constituição está a participar activamente nesta corrida, com o Governo do PS a oferecer-se na NATO e na UE como intermediário da recolonização (como uma vez mais se viu na reunião ministerial de Lubliana) e a colocar a próxima Presidência Portuguesa da UE ao serviço da política agressiva europeia em África, esperando receber em troca algumas migalhas do botim imperialista. Trata-se de uma política indigna do Portugal de Abril. O PCP combate-la-á activamente, estreitando as suas relações com as forças revolucionárias e anti-imperialistas africanas e certo de que as aspirações libertadoras de heróis nacionais como Nkrumah, Amílcar Cabral, Patrice Lumumba, Agostinho Neto, Samora Machel e tantos outros, acabarão por triunfar.”
Demonstrando que, em perfeita esquizofrenia política, está a ser, pateticamente, “mais papista que o papa”. Raio de alucinação esta de quem ainda se não deu conta que as próprias organizações africanas fundadas, criadas e estruturadas pelos citados “heróis nacionais” em nada continuam nem se inspiram desde há décadas nas cantadas “aspirações libertadoras”. E com que “forças revolucionárias e anti-imperialistas” é que o alucinado Albano quer que o PCP “estreite relações” para a prática do internacionalismo proletário euro-africano (se estava a pensar no MPLA, na Frelimo ou no PAIGC, bem pode tirar o cavalinho da chuva que esses estão virados para adorarem outro sóis - os da corrupção e do "imperialismo")?
O desvendar de uma vida poética ajuda a entrar no miolo de uma obra ainda com as palavras do poeta a cheirarem a tinta fresca? Desta vez, a resposta é sim. Pelo grande mérito de Maria Antónia Oliveira (*).
Alexandre O’Neill, um dos grandes génios da poesia moderna portuguesa, esse aristocrata teso com vida de vadio empenhado, um autodidacta de cultura refinada, o poeta da grande síntese revista e adaptada do melhor de Tolentino, Cesário, Sá Carneiro e Pessoa, o mágico das palavras óbvias expostas como bifes num talho a pingarem sangue, a única gratidão devida por nós à casta castrada da esverdeada Irlanda das missas e das cervejas, passou a vida a atirar-nos em cara o nosso modo urbano e português de formigarmos, broncos e sacaninhas, pela esquadria do salazarismo e em que a democracia só desviou uns palmos de milímetros do carreirinho para armazenar a ambição das migalhinhas de pão.
Conhecer-lhe a biografia, esta biografia literária, ajuda e bem a trazer o poeta de volta à mesa, enquanto se abre uma garrafa de vinho, para, trocando voltas ao estabelecido, ler o néctar e beber as palavras dedicadas aos pequenos portugueses que habitam cada um dos que nos convencemos que somos médios. Poupando nos adjectivos, como convém quando se
(*) – “Alexandre O’Neill, uma biografia literária”, Maria Antónia Oliveira, Ed. Dom Quixote
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Adenda: Quase em coincidência, também o Rui Bebiano fez comentário a este livro. Depois deste recente caso com o Miguel Cardina, é bom que se esclareça que nem combinei fazer um grupo coral nem ando em meças de sabatina com a excelente, erudita e amiga equipa do Passado/Presente. Apenas, coincidências de leituras e de partilhas opinativas. Fica a nota para que não se pense que "aqui há orquestra". E não deixem de os ler a eles que são especialistas nesta poda.
A frase mais concisa em simpatia e condescendência amiga sobre este blogue encontrei-a aqui.
Está registada, compadre Joaquim. E interpretei-a como um aceno para, com tinto de companhia para lubrificar conversa, degustarmos mais um naco de palrar risado sem começo nem fim, apenas como intervalo para escorrer sabor de vidas. Um dia destes, não vamos escapar-lhe à réplica. Combinado. Porque o melhor de qualquer Água é quando ela só sabe a vinho. Vinho liso.
Há pessoas bem informadas. A maioria não tanto quanto a Cristina que conseguiu descobrir que a Scarlett Johansson era adepta do Benfica (e quem sabe se até comprou o kit de sócia!?).
De vez em quando, um panfletário mais fogosamente descontrolado da tribo de Jerónimo larga o camuflado da retórica da propaganda e aqui vai disto. Então, só então, abrem o livro da duplicidade com que jogam o binómio revolução-democracia. Por exemplo, segundo o último “Avante”, não tem nada que saber: a “democracia soviética” foi “a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade”:
(...) a cada revolução se aperfeiçoavam as formas democráticas de governo e novas classes acediam ao voto e assim à gestão da coisa pública. Os finais do século XVIII deram à luz duas grandes democracias – a Americana, baseada em grande parte no trabalho escravo; a Francesa que logo expulsou o povo do poder, dando lugar aos exclusivos interesses da burguesia, varrendo da Europa o poder feudal dos aristocratas. Finalmente a Russa, levando ao poder quem trabalha e aniquilando os privilégios das classes que antes exploravam os trabalhadores.
Derrotada pela traição interna e pelo cerco imperialista, da democracia soviética, a mais perfeita até hoje alcançada pela humanidade, restam poucos focos no mundo que resistem. Mas outros se levantam.
Hoje, porém, a democracia «novíssima» de Bush é que dá o mote das outras todas e impõe os seus «direitos humanos» – o direito de explorar e de matar quem se não vergue.
Por cá, um novo Sócrates, colaborador servil de Bush, impõe a sua democracia.
Entendidos. Tanto que resta uma única dúvida: porque enganam quem trabalha e participam na farsa democrática, concorrendo a eleições e sentando rabos no Parlamento?
Incontornável este excelente texto do M.C.R.:
Ingrid Bétancourt: o nome diz pouco a quase toda a gente em quase todo o lado. Além de mulher, é colombiana (onde ficará tal sítio?) e isso bastaria para se passar pelo nome sem sequer o ver. Mas há mais. E pior! Ingrid Bétancourt está sequestrada há cinco anos por uma repugnante organização chamada Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC). Estas FARC são, ou eram, se não erro, dirigidas por um ex-padre conhecido por “Tiro Fijo”. A mão que abençoava com magros resultados parece ter mais êxito quando faz pontaria contra um desgraçado qualquer.
As já referidas FARC são, soit-disant, de esquerda ou, de outro modo, reclamam-se ou reclamavam-se da esquerda. Bem sei que na América Latina dos Chavez e dos Morales ser de esquerda é um artificio para encobrir populismos messiânicos, peronismos vários sem Péron nem Evita (bom par de gatunos que conseguiram deixar um país de rastos e sob a bota de ditaduras militares várias, essas sim de direita pura e dura que agarraram num território doente e deixaram-no morto...) ou outras formas de poder pessoal de que só se pode falar de mão no nariz de tal modo é fétido o caso.
Deixemos para outras núpcias as ditaduras restantes e concentremo-nos nas “heróicas” FARC colombianas, o mais antigo movimento de guerrilha latino-americano. As FARC são uma grosseira e trágica farsa que não tem qualquer espécie de ideologia, um mero agrupamento vagamente político que prolonga a célebre “violência”, uma pústula que não sara nem mata (enfim!... não mata o país mas mata os habitantes, mormente os mais pobres, os mais desprotegidos, os que não podem pagar um resgate; ainda há pouco um professor primário prisioneiro destes beneméritos patriotas conseguiu a liberdade em troca de um ano de salários...). As FARC justificam-se ultimamente com a existência de grupos para-militares de direita, igualmente crápulas, igualmente assassinos e recorrendo eles também ao rendoso comercio da coca e às alianças com os carteis narco-traficantes.
Voltando à senhora de que falávamos: Ingrid era senadora no seu país, conhecida pela sua luta contra a corrupção e candidata à presidência da república. Foi raptada quando, justamente, andava
Eu não acho que o facto de ser mulher lhe dê especiais direitos a tratamento diferenciado. Há na Colômbia cerca de três mil quinhentos e sessenta sequestrados por grupos terroristas para já não falar em milhares de desaparecidos que se presumem assassinados ou mortos dadas as condições de prisão no meio da selva.
E se aproveito o nome de Ingrid é tão só para me servir dela como emblema na exigência de erradicação rápida desta lepra política e moral que se chama FARC- Ejército del Pueblo.
Já agora dava jeito que a esquerda portuguesa se mobilizasse toda na mesma exigência. Sob pena de sermos considerados cúmplices “daquilo”.
Não há ponta de volta retórica a dar. Se dúvidas houvessem, a máscara caiu definitivamente. Com o centralismo democrático de Jerónimo de Sousa, esse palrador bailarino neo-realista, presbítero em arengas às massas, a negação mais viva das sumas dignidades operárias de Bento Gonçalves e Pavel, pedindo lutas mais lutas para botar discursos e levantar punhos de marionetas como quem faz saúdes quando bebe um bagacinho numa colectividade recreativa de Pericoxe, os restos de independência controlada do sindicalismo português, as sobras do sindicalismo envelhecido da CGTP, foi suicidado às mãos do PCP. Jerónimo de Sousa vingou-se em Carvalho da Silva por nunca ter conseguido construir uma carreira sindical. Se a CGTP, antes, negou a Jerónimo uma lustrosa carreira sindical, num vectorial exactamente oposto ao de Carvalho da Silva (*), mais tarde ou mais cedo, o frustrado sindical Jerónimo (**) pagaria a desfeita com a navalha dos complexados egocêntricos.
O editorial do último “Avante” sobre a jornada “de luta” contra o PS e o governo no próximo dia 2 de Março, é sintomático da agora assumida fusão PCP-CGTP. Um autêntico dobre de finados nas aparências da “independência sindical”. Adeus Carvalho da Silva. Todo o palco para Jerónimo. Good-bye CGTP. E leia-se:
A acção nacional de luta convergente, marcada para 2 de Março pela CGTP-IN, constitui um importante passo em frente na acção organizada dos trabalhadores em defesa dos seus direitos e interesses e por uma mudança de política. Trata-se de, nesse dia, juntar numa só torrente, dando-lhes uma continuidade convergente, as muitas lutas sectoriais e de empresa que têm vindo a ser levadas a cabo; trata-se, ainda e ao mesmo tempo, de trazer à luta mais e mais trabalhadores, todos vítimas da política de direita ao serviço dos interesses do grande capital. Em causa estão questões tão concretas e prementes como direitos essenciais dos trabalhadores: o direito ao emprego e à estabilidade no emprego, o direito à contratação colectiva, o direito à liberdade de organização sindical, o direito ao trabalho com direitos, o direito a salários dignos; questões como as que decorrem da intenção do Governo de José Sócrates de aprovar com carácter de urgência a chamada Reforma na Administração Pública que visa o despedimento de milhares de trabalhadores; questões resultantes das consequências do ataque por parte do Governo aos serviços públicos, com o fecho de escolas, de centros de saúde, de maternidades, de urgências e serviços de atendimento permanente; questões que têm a ver com as incidências cada vez mais gravosa da política de direita nas condições de vida dos reformados e pensionistas – enfim, questões que convocam à luta contra a política de direita e por uma política que inicie a resolução dos muitos e graves problemas que afectam a imensa maioria dos portugueses e portuguesas.
(…)
Assim, o trabalho preparatório da jornada de luta do próximo 2 de Março – designadamente a mobilização e a organização das deslocações – coloca-se-nos como a grande tarefa do momento. Nela deverão estar empenhados não apenas os militantes do Partido e da JCP dirigentes e activistas sindicais, mas todo o nosso grande colectivo partidário, desde os organismos de direcção de sector às células de empresa e de local de trabalho; desde as organizações de freguesia às de concelho, distrito e região. E o mesmo há que dizer em relação à manifestação nacional dos jovens trabalhadores, convocada para 28 de Março.
Como afirmou o camarada Jerónimo de Sousa na intervenção proferida na sexta-feira passada, no Porto, as lutas que aí vêm «assumem particular importância para a criação de uma ampla frente social pela exigência da interrupção da política de direita e na afirmação de um novo rumo para o país, assente numa política alternativa e de esquerda que retome os valores de Abril.»
(*) - Carvalho da Silva singrou desde a condição de “aristocrata operário” numa empresa transnacional instalada no Minho e como empenhado sindicalista católico. Bolchevizado com o 25A, progrediu desde o pelouro da “organização” até ao topo da CGTP pelo aproveitamento da oportunidade proporcionada pelo vazio de liderança quando, sucessivamente, Canais Rocha e Armando Teixeira da Silva “caíram em desgraça” por vários pecados de “mau comportamento moral e partidário”. Impôs-se duradoiramente, por persistência maquiavélica, no cume do poder sindical pois que, para o PCP, Carvalho da Silva enquanto chefe da CGTP, foi uma mera solução transitória, até que Domingos Abrantes, o patrão do sindicalismo comunista, conseguisse vender o seu líder desejado – o metalúrgico Ernesto Cartaxo, um conformista tão empenhado quanto obediente. A contragosto da direcção do PCP, mas apoiado pela pressão favorável de comunistas não ortodoxos (como José Luís Judas) e dirigentes não comunistas (como Kalidás Barreto e Manuel Lopes), Carvalho da Silva perdurou o domínio supremo da CGTP enquanto fazia um notável percurso paralelo de afirmação académica no ISCTE que o levou ao “dr” e o está a aproximar do título de “doutor”, feito apreciável mas nunca visto no sindicalismo revolucionário-operário mas que, paradoxalmente, o vulnera, no quadro de uma apreciação obreirista, enquanto género de espécie hermafrodita social de “proletário mor, corrompido na nata da elite intelectual”.
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(**) – Jerónimo de Sousa singrou na “aristocracia operária” (como aconteceu no cumprimento do seu serviço militar, que fez como “polícia militar” em Bissau e a quem competia a repressão de “comportamentos desviantes” dos soldados do exército colonial) e sem actividade referenciada, política e sindicalmente, antes do 25A. Após a revolução, Jerónimo, dominando a pose de Stakhanov em artes de “baile de bombeiros” e a retórica discursiva e apelativa, em que prepondera um bom domínio artístico da metáfora neo-realista aplicada à luta de classes numa espécie de mix tribunalício-charmoso em que funde Soeiro Pereira Gomes, Máximo Gorki e John Reed, tenta singrar na carreira sindical na “vanguarda das vanguardas” (os metalúrgicos). Por razões publicamente desconhecidas, tamponaram-lhe a carreira. Demonstrando domínio das tácticas do “by-pass” carreirista, Jerónimo vira-se para as “comissões de trabalhadores” onde, burocraticamente, assume a liderança da sua “coordenação”. Se, em termos práticos, a “coordenação” das “comissões de trabalhadores” pouco mais foi, do ponto de vista organizativo, que de nível simbólico, os rituais das manifestações operárias durante o PREC reservaram-lhe lugar cativo para arengar às massas em espectáculo de paridade aparente com os dirigentes da CGTP. E como discursava bem, Jerónimo foi uma peça constante nos ritos de demonstração do poder operário revolucionário. Com o ocaso da revolução e da liderança de Cunhal, o período Carvalhas (que todo o mundo sabia ser um líder transitório) foi aproveitado por Jerónimo para saltar do “movimento operário” para a cúpula do PCP, jogando como peão da corrente mais estalinista e até conseguir que Domingos Abrantes o nomeasse como seu sucessor na função de controleiro do sindicalismo comunista (ou seja, o Secretário-Geral de facto da CGTP), consumando, pela superioridade na hierarquia sindicalista-partidária, a “vingança” (pessoal e do PCP) sobre Carvalho da Silva. Afastado Carvalhas, servindo de “homem de palha” da clique estalinista-cunhalista que mantêm o poder real dentro do PCP, Jerónimo ascendeu formalmente ao lugar de dirigente máximo do PCP. Do cumprimento deste seu consulado, temos, objectivamente, dois resultados de nota: a habilidade artística de Jerónimo para os espectáculos eleitoralistas que revitalizou a fixação dos votos das zonas comunistas pela primarização do discurso político assente na dialéctica dicotómica da luta de classes e em que o PS é satanizado como “inimigo principal”; a promiscuidade absoluta entre política e sindicalismo, em que o PCP se transformou
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Adenda: Eu que, com a ferrovia, só tenho a ver a perenidade do fascínio pelas viagens de combóio e pela magia das estações ferroviárias, levei com a honra de transcrição deste post aqui. E sem ter comprado bilhete. Obrigado, pois, pela simpática boleia.
Passam hoje cinco anos desde o sequestro de Ingrid Betancourt pelas FARC.
Mesmo não sendo tempo de Festa dos amigos fraternos das FARC na Quinta da Atalaia, é mais que tempo para juntar vozes a exigir a libertação de Ingrid Betancourt e restantes sequestrados.
Imagem: última foto conhecida de Ingrid Betancourt (já sob sequestro)
Venham mais cinco
Duma assentada
Que eu pago já
Do branco ou tinto
Se o velho estica
Eu fico por cá
E ficaste. Ainda não gasto pela desmemória nesta rodada de vinte. E se esta foi do branco, a próxima será, tem de ser, do tinto. E assim continuará que a taberna da tua ligação ao povo-país tem ordem para não fechar. É que há aí muito para beber de riso sem necessidade de nova bebedeira de cravos. Riso pelos reizinhos inchados com raízes cheias de furúnculos cheios de prebendas e que nascem mesmo quando não plantados. Riso também pelos que querem espetar emblemas no teu cravo, a ti, Zeca, vê lá tu, que avisavas que apenas a tua cabeça era o teu comité central.
Ó taberneiro dos sonhos feitos de canto, avia mais vinte. Paga o Zeca, o amigo. Cantando.
Muito turismo, muito lixo. Mesmo quando os dispositivos não são do último grito, o ritual é o mesmo de todos os lugares. Com pouco ou muito lixo. Lixo é lixo.
[Imagens: Praga, 2007]
[Todos os (poucos) pedintes em Praga, como este, exercem a mendicidade assim: de borco, rosto oculto, mãos com boné estendido para a recolha de moedas que passam.]
Um grito mudo não se ouve. E a adivinhar, podemos ir dar a vários becos. Eu pressenti este: “Se eu e tu nos humilhamos pela caridade, não te peço mais que moedas, sem que me tires o direito a não me olhares os olhos.”
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