Se o Tomás Vasques me permite, direi que além do paradoxo que apontou (um campo de prisioneiros deplorável e inaceitável, mas onde muitos cidadãos cubanos pedem asilo para fugirem da opressão castrista), há a acrescentar que, bem perto da célebre base dos ianques, está situada uma das mais terríveis prisões políticas em Cuba. É isso: Guantanamo é base de muitas e diversas iniquidades. Umas mais faladas que outras, mas isso não é do foro dos factos, é efeito do filtro da propaganda. E, como se sabe, a propaganda escolhe os presos a quem chora a sorte.
Falar do futuro do Iraque em termos de projecção de avaliação-julgamento de erros passados (cometidos por eles e contra eles) pode ser bom para exibir medalhas de razão mas, do ponto de vista das pessoas iraquianas, não passa de um exercício cínico. Cinismo esse que atinge o cúmulo quando se ostentam alegrias mal disfarçadas com o aumento imparável de vítimas do fraticídio iraquiano.
O “erro americano” (melhor, “erros”) no Iraque somou-se a outros “erros”. A própria existência do Iraque, enquanto xadrez de identidade nacional, deve-se a uma mera “resolução pós-colonial britânica” (parecida com a “solução Jugoslávia”). Tal como a fabricação da independência do Koweit. E aquele mosaico sunita-xiita-curdo sobreviveu durante décadas apenas por mercê do autoritarismo implacável e despótico do Partido Baas que foi capaz de o exercer porque o partido era uma emanação de uma facção dos oficiais das Forças Armadas e se apetrechou de uma imensa máquina repressiva disponível para a prática do genocídio quando fosse caso disso. E a “estabilidade iraquiana”, com Sadam, suportou-se numa supremacia sunita (minoritária) opressora das regiões e identidades xiita e curda. Nem o facto de a religião muçulmana ser praticada pelas três “partes” foi elemento unificador – a rivalidade entre os cismas xiita/ sunita foi e é mais divisor que o poder unificador do Corão comum, os curdos, mesmo islamizados, não são árabes e estão retalhados em três opressões (iraquiana, iraniana, turca).
A Jugoslávia aguentou-se sob a ditadura de Tito (um croata a dirigir uma supremacia sérvia) mas desfez-se, no caso com a morte do ditador, em conflitos ainda não terminados assim que as rivalidades e as memórias dos crimes cruzados tiveram espaço de desenvolvimento. E não se vê quem explicitamente (exceptuando os órfãos do “socialismo real”) defenda o regresso da Jugoslávia à ditadura para reunificar os cacos étnicos balcânicos. Pelo contrário, há expectativas benevolentes para com a finalização da fragmentação, como foi o caso último do Montenegro e será o próximo caso do Kosovo.
Mais do que prolongar-se indefinidamente a “acusação dos erros americanos” (que foram clamorosos e inadmissíveis), o caos iraquiano (com o seu cortejo diário de vítimas e mais vítimas) impõe que se olhe de frente a realidade de que o Iraque vive uma sangrenta guerra civil que urge por termo. E a ligação da “invasão americana” com a actual situação de fatricídio no Iraque, é válida se encarada como uma antecipação do inevitável para quando Sadam morresse ou caísse ou, por qualquer razão, se desfizesse a supremacia ditatorial do Baas. Ou seja, quando lhe chegasse a “hora jugoslava”. Que chegaria, com ou sem invasão. E, hoje, não são os “invasores” a fonte dos problemas iraquianos. É isso sim, a forma como, a tiro e á bomba, os iraquianos se estão a matar uns aos outros por causa de rivalidades endógenas.
O fim da guerra civil no Iraque, a solução política para tal, deve predominar como sensatez na avaliação do problema iraquiano. Que deve ser pensado em termos de futuro pacífico – para a região e para os habitantes do Iraque. O resto é querer levar a julgamento, esgotando-se aí, o ajuste de contas político-clubista com o relógio da história e os erros passados.
Leio:
E eu, desta vez, concordo com o PSD/Madeira. Na singela condição de os portugueses não madeirenses votarem “sim” ou “não”, em simultâneo, sobre a concessão imediata, sem hipótese de recusa por parte dos libertados, da independência à Madeira.
Vi parte mas não aguentei tudo do “Prós e Contras” de ontem sobre o Ensino Superior. Porque foi demasiado o enfado e desgosto com aquela montra da nossa Academia. A má disposição começou ao ver aqueles mancebos fardados de capa e batina, género auto-praxados de “neo-con” com encadernação revisteira da Idade Média. Depois, a claque de palmas reverentes para com o Prof Mor, a sumidade veneranda e santificada do guia espiritual dos paradigmas geo-estratégicos da Nação e dos desígnios do País, faltando-lhe na vergonha da cara o faltoso pedido de desculpas a África de quando, no início dos anos sessenta e sendo ministro das colónias de Salazar, assinou os despachos ministeriais em que ordenou, paradigmaticamente, a reabertura do campo de Concentração do Tarrafal e a abertura do campo de Concentração de S. Nicolau para aprisionamento, longe das suas terras e famílias, dos muitos milhares de prisioneiros africanos sem julgamento nem culpa formada, cumprindo penas “administrativas” de “fixação de residência” em campos de concentração. Também detestei os ares enfatuados e gordurosos de importância vã e solene a pingar do bolso da retórica que encadernava aquela catrefa de magníficos reitores a defenderem corporativamente poderes de umbigos académicos encastelados em forma de capelinhas. Finalmente, não entendi aquele ministro socrático. A desculpar-se, no aperto do cinto, que o gasto com o ensino superior relativamente ao PIB estava alinhado com a “média europeia”. E dizendo, com um ar de cretino que se sabe não ser, que para aumentar o contributo para o ensino é preciso que o PIB cresça. Como se o PIB crescesse por qualquer razão independente do investimento feito no ensino, designadamente no superior.
Este país, para passar a ser país a sério, além de contas sérias e afinadas, precisa bem de outra Academia. Mas, pelo retrato televisivo de ontem, por que ponta se há-de começar? Talvez por Maio, outro Maio.
Leio comovido:
E penso: nesta religião como conceito e forma de vida, acredito eu. E que me desculpe a querida amiga citada, exactamente por isso é que sou ateu.
“Mohammad Amin al-Husayni, ou Al-Husseini, mufti de Jerusalém e presidente do Conselho Muçulmano, encontrou-se com Adolf Hitler, em 28 de Novembro de 1941, em Berlim (depois de uma reunião com Von Ribbentropp). O Reichsfuehrer-SS Heinrich Himmler fez de Al-Husseini um SS Gruppenfuehrer. A ideia era espalhar a «solução final».”
(aqui)
Muito gostaria de ser informado sobre que autoridade tem o cavalheiro Ratzinger, em funções vitalícias de papa dos católicos, para advogar a entrada (ou não entrada) da Turquia na União Europeia. É que a menos que haja um qualquer protocolo secreto nesse sentido, o Vaticano não faz parte da UE, quanto mais presidir-lhe ou ser membro responsável da sua direcção de relações externas.
Se Ratzingir quer apaziguar islamistas zangados, em vez de andar a oferecer Europa aos turcos, ele que lhes ceda uma ala da sua basílica (por exemplo: a virada para Meca), para que construam lá uma mesquita. Depois, rezem juntos e deixem a política europeia em sossego com as suas considerações laicas e civilizadas (por exemplo: o respeito pelos direitos humanos, a igualdade das mulheres, a liberdade de pensar e escrever, a rejeição do genocídio como forma legítima de consumar anexações territoriais).
A historiografia sobre o colonialismo é fraca e frágil. Sobre a brutalidade colonial, a concreta, a sofrida pelos africanos, a infligida pelos portugueses, pior. Se formos, então, para a perspectiva africana, chegamos à beira do deserto. No conjunto, se somarmos uns tantos dedos de persistência, boas vontades e exotismo, contamos a súmula do rescaldo da memória, historicamente trabalhada, dos nossos quinhentos anos de presença em África.
Do ponto de vista do povo colono, nós, temos o que se julga bastar para tornar nebulosa e distante uma marca a merecer pouco orgulho e alguns arranhões – esparsas obras de referência com valor científico e documental mas sem a abrangência da apreciação global e abrangente, umas tantas memórias de saudade, feitiços e ressentimento dos espoliados das supremacias grandes e pequenas, algum material de testemunho e de ficção sobre a guerra colonial. Somado, tão pouco que até parece que nem por lá passámos. Por preguiça ou por uma espécie de amnésia conveniente?
Surpreendente à primeira vista, é haver uma míngua historiográfica ainda maior no lado africano. Há razões objectivas para isso – o terem estado do lado de fora nos mais variados domínios, a predominância da tradição oral sobre a da escrita, a míngua de quadros dominando a metodologia necessária, a falta de materiais de consulta em arquivos organizados ou fora deles e a prioridade em construir e aguentar Estados e em que se dilui o significado da preservação da memória como património de um passado. Também, certamente, por factores subjectivos não muito límpidos – resistência a juntar as pontas do passado de resistência, nem sempre lineares, confluentes e heróicas, receios de que nos retratos retroactivos das novas camadas dominantes se mostrem, mais que as valentias, umas tantas vergonhas que se preferem esquecer ou saia demasiado saliente a aberração das arrogâncias, esbulhos e benesses dos tempos actuais.
O certo é que, para Portugal e para os países africanos libertos do colonialismo português, o período 1950-1975, é não só uma fase marcante das histórias comuns (com traços indeléveis sobre o futuro reconstruído de todos) como, por outro lado, uma peça imprescindível para se compreender África. E uma África que, por muito que os portugueses procurem esquecer, representando o papel, em mimetismo de fresco, de europeus integrais e dos sete costados, está entranhada no ser português e, se fugimos de África (sendo de lá corridos), ela vem ter connosco, sinalizando a sua presença com as sucessivas e inesgotáveis levas de imigrantes. E, assim, África está cada vez mais ao nosso lado, entre nós.
O elo mais fraco dos testemunhos sobre a realidade colonial pertence aos africanos que a sofreram e dela tiveram consciência, resistindo-lhe em maior ou menor grau. Se às dificuldades já referidas quanto ao registo africano do seu passado histórico na segunda metade do século XX, acrescentarmos o facto de que as testemunhas vivas irem rareando porque consumidas pelas leis da vida (no quadro de povos com horizontes de vida mais baixos que os europeus), teremos a aproximação da ideia de catástrofe histórica perante a fatalidade de eles, e nós por tabela, termos de viver com um enorme buraco no entendimento sobre o passado colonial (catástrofe que só alivia os interessados nesse buraco histórico).
Neste quadro, assume um relevo extraordinário o trabalho da Professora Doutora Dalila Cabrita Mateus, do ISCTE, que tem vindo, desde há vários anos, a debruçar-se sobre a guerra colonial no período 1961-1974 e que culminou numa monumental tese de doutoramento sobre o tema após aturadas investigações nos arquivos e na recolha de testemunhos orais em Portugal e em África. Desta tese, a Editora Terramar já havia publicado a síntese do corpo principal (*) incidindo sobre a acção da PIDE nas colónias africanas. A Editora ASA acaba agora de editar (**) um complemento de enorme valor testemunhal e que são os depoimentos orais que a investigadora recolheu, aferiu e cruzou junto de portugueses e africanos que foram protagonistas, nos vários cenários coloniais, do drama do conflito-estertor do colonialismo português, esse banho de sangue com que quisemos selar o fim da presença portuguesa em África, na teimosia de contrariar os ventos da história.
Significativamente, os depoimentos recolhidos por Dalila Mateus entre 1999 e 2001 e sistematizados neste segundo livro, são quase todos acompanhados de uma nota em que se refere os falecimentos da maior parte dos depoentes antes da edição do livro. O que demonstra que essa recolha, para além dos seus valores próprios e impressivos, foi salva “à tira”, ou seja, mais uns poucos anos passados e testemunhos únicos e riquíssimos perdiam-se na poeira das leis da vida.
Para um português, não deixa de ser inovador e perturbador ouvir as vozes das elites dos africanos que “nos sofreram” em África. Dando-nos uma dimensão mais profunda à nossa vergonha necessária. E obrigando-nos, até, a relativizar o nosso próprio quadro europeu de sofrimento da ditadura e do consequente preço pelo alcance da democracia. E o único consolo que resta, no quadro abrangente do regime ditatorial, é que a brutalidade estremada utilizada no cenário colonial (basta comparar as práticas da PIDE na metrópole e nas colónias, lá mais brutal para os prisioneiros que cá, lá mais apoiada que cá pela população branca) acabou por ser a pá de cal deitada no caixão da ditadura.
Vem aí o Natal, época de prendas. Para os outros e para nós. As minhas sugestões ficam aqui. Porque não há melhor oferta que a de nos ajudarmos a entender. E essa obra de entendimento (do eu, de nós, dos outros), ideia minha, é mister sobretudo dos poetas e dos historiadores. Sem uns e outros, seremos apenas, por muito bem que cantemos, pássaros à janela (para sair ou entrar).
(*) – “A PIDE/DGS na Guerra Colonial (1961-1974)”, Dalila Cabrita Mateus, Ed. Terramar
(**) – “Memórias do Colonialismo e da Guerra”, Dalila Cabrita Mateus, Ed. ASA
“Despenalizar é aceitar o crime", diz um cartaz amarelo empunhado por uma rapariga. "Não à interrupção voluntária da vida", lê-se noutra folha de cartolina, esta azul e exibida por um rapaz. Uma e outro, ambos em frente do Presidente da República e do bispo de Coimbra, que abençoa a ponte pedonal, sobre o Mondego, acabada de inaugurar, ontem ao final da tarde, com a presença de muita gente.”
”D. Albino Cleto, bispo da diocese onde, em Maio, foi criado o movimento Serviço pela Vida - e que, em Outubro, ganhou projecção mediática, sobretudo pela distribuição em igrejas da cidade de um folheto contra a interrupção voluntária da gravidez, com a fotografia de uma criança, sem autorização da mãe -, fala da nova ponte, enquanto meio de ligação de margens e também da necessidade de outras aproximações e uniões, noutros planos. Mas só o consegue ouvir quem está próximo - quem não tem espaço junto ao centro da cerimónia comenta as mensagens dos dois jovens e, sobretudo, a sua oportunidade.”
“Será que a democracia é só para alguns? Será que em certos casos a ditadura é preferível? Não sei dizer. Mas também ninguém sabe.”
(João César das Neves, no DN)
Com tanto barulho de homenagens e preitos, dou-lhe o meu silêncio. Calando-me para se oiça a sua poesia.
Não. Não são tropas a “passearem”. Nem militares “novembristas” a enterrarem, ou isso simularem, o 25 de Abril. São militares, de antes dos “abrilistas”, a acompanharem o Botas à sua última morada. Com honras militares, pois então.
Reparem só:
- “entre a ilusão do zénite e a brusquidão das trevas”,
- “entre o desmedido voo e a ocultação das penas”,
- “entre o desejo imprudente dos marinheiros do fim do mundo e a nostalgia dos calceteiros perdidos na melancolia dos seus labirintos infinitos”,
- etc.
E depois ainda dizem que o meu clube é “popular”. O tanas. É mas é transversal. Transversal mesmo. Até lá cabem, se cabem, literatos de primeira água que, escrevendo espantosamente, e além de blogarem, embirram com manifestações na via pública. Porque estas deviam, como a melhor literatura, caberem todas, mas todas, dentro de um estádio de futebol. Não um qualquer, diga-se, mas aquele em que se dá o “ressoar pessoano que faz do menino da sua mãe a Pietá onde adormece o jogador vermelho e branco da pátria-mãe”. É obra! Prima. Obra-prima. Do Luís Carmelo.E viva o Dantas!
Da Madeira, uma voz de poupança se levantou e que devia ser ouvida atentamente por Sócrates e o ministro das finanças. Afinal, da Madeira que não é só terra de despesismo, também se ouvem vozes a favor da poupança em energia e dinheiro. Oiçam a Enfermeira Fernanda:
“Há uma certa confusão, na sociedade portuguesa, entre promover e defender a vida, disse ao JORNAL da MADEIRA a presidente da ACEPS (Associação Católica de Enfermeiros e Profissionais de Saúde) na Madeira. Para a enfermeira Fernanda Gonçalves, “fala-se muito nas crianças mas, na prática, promove-se pouco a vida e pensa-se mais em liberalizar o aborto através da despenalização. Existe, de facto, uma certa confusão em promover a dignidade da mulher, quando na realidade sabemos que a despenalização não lhe dá dignidade”, considera.”
”Para esta responsável pela ACPS/Madeira, por outro lado, esta intenção é preocupante porque se integra noutras iniciativas, como “pretender tirar os crucifixos das escolas públicas, causar problemas às aulas de religião e moral, e defender os preservativos junto dos mais novos. Para quê gastar tanta energia e dinheiro a favor de causas que vão contra a vida humana e a promoção da dignidade das pessoas?”, questiona Fernanda Gonçalves a propósito das campanhas em curso no nosso país.”
(em “Jornal da Madeira”)
Volta e meia, lendo o Isidoro Machede, dá-me vontade de arrumar o teclado e dedicar-me ao jogo de berlinde ou qualquer mister e passatempo que não enfade outros com inútil perda de tempo. Volta e meia, o Machede zarpa em largos intervalos sabáticos, e eu (re)animo-me por me ver livre da intimidante concorrência deste alentejano cheio de searas com espigas de pão na escrita.
O Machede deu um pulo até à Guiné para curar as cataratas do sindroma africano (só quem lá não caiu é que não sabe o que isso é) e agora anda aí alinhadinho com a escrita posta (outra vez)
Digam-me lá como é que um gajo do bloganço consegue atrevimento de postar depois de ler assim:
Grato pelo 25 de Abril. Mil vezes grato!
Ao contrário do meu avô e do meu pai que vos odiava pelo 28 de Maio e a ditadura. Como vocês, militares, devem estar gratos a vós próprios por terem acabado com uma guerra onde morriam que nem tordos para outros engordarem que nem galinhas. Uma guerra que não fazia sentido só porque os políticos teimavam em ser teimosos que nem burros por via de meia dúzia de ideólogos patéticos armados em fachos que teimavam em querer travar a roda da história.
Agora, mil vezes obrigado e pronto ficamos por aqui! Ou deveríamos ficar, mas não, vocês teimam em querer brincar aos magalas e às guerras de alecrim e manjerona. E mais, deu-lhes para exigirem submarinos, tanques, aviões, pistolas, metralhadoras e demais outros brinquedos para efectivamente brincar às guerras em exercícios que varrem de orgasmos a basta e bem fardada generalada e outros bem aprumados e engraxados menores que observam de binóculos em punho, entre umas baforadas de puros cubanos, a barbuda armada com pólvora seca dos amarelos contra os vermelhos, ainda???. Só que estes folguedos custam uma pipa de massa que decididamente não há. E já agora, não vos bastava umas maquetas com bandeirinhas e uns soldadinhos de chumbo e uns dados para avançarem e recuarem casas tipo monopólio. Até eu fechava anualmente os olhos ao entretenimento da medalha a mim medalha a ti.
Eu percebo o amor à instituição, o que a pátria vos deve, aquele cheirinho a caserna do feijão verde, o rufar dos tambores e o bater dos tacões, a regalação do enche mais cinquenta ó praça, a libido na ponta do pingalim, o zelo do impedido, as botas e os amarelos engraxados e polidos até à exaustão, sim claro que percebo… e a fotografia do avô façanhudo de longos bigodes e dragonas douradas e duas prateleiras de medalhas, uma por cada peito, assomando em permanência por cima da estanheira na obscuridade da sala de jantar a abençoar natal após natal o peru e os comedores do dito que o olham com reverência mas no fundo o mandam dar uma volta de gatas à parada enquanto palitam os dentes e arrotam rancores ao sacripanta do cunhado que quer é meter a unha pintada na herança. Como percebo a chatice e a desonra de terem engolido um ministro que a vossa mãezinha não aprovaria nem para chauffer. Por quem sois, jamais quereria que caíssem na situação de excluídos sem abrigo, tal como muitos outros compatriotas vossos que, por outras razões, igualmente pensam que o não foi para isto que vocês fizeram o 25 de Abril. Como acho que se deve zelar pela saúde dos antigos combatentes com stress de guerra, também se deve zelar pela saúde dos dependentes da tropa.
Agora passear pelo Rossio o vosso descontentamento? Já repararam que antes de vocês, não haveria Rossios que chegassem por este país fora para passear todo o nosso pasmo civil!!!!
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