Uma verdadeira inutilidade recheada de crueldade esta de meter no ar um programa televisivo para (re)demonstrar porque é que Mário Soares foi “terceiro” nas últimas eleições presidenciais sem deixar de ser (e assim continuará) popular, estimado e desculpado. A última “fase política” de Mário Soares caracteriza-se pelo que ontem nos lembrou querer ser – um político de café e cavaqueira com raciocínios do senso comum populista, piscando um olho ao raciocínio da simplificação global e outro ao criticismo maniqueísta. Como foi indesculpável meterem-no há pouco tempo numa candidatura furada, era escusado expor-se agora publicamente o seu definhamento político e intelectual.
Uma demonstração de mau profissionalismo quanto a “trabalho de casa” da jornalista moderadora do “Prós e Contras”. Mais que uma vez, Fátima Campos Ferreira identificou muçulmanos com árabes. Pior ainda, nem sequer os ilustres pobres de argumentos representando a “Comunidade Islâmica” e chamados ao debate, explicaram duas coisas elementares à senhora moderadora – hoje, a maioria dos muçulmanos não são árabes; um muçulmano, ao sê-lo, tem de escolher uma das suas rivalidades identitárias (ou cismas) – ser xiita, sunita, ou uma outra das suas seitas menores. Era escusado menosprezar os muçulmanos não árabes como esconder que o maior problema do Islão (talvez o seu maior perigo de hoje enquanto religiosidade política e expansionista) é faltar-lhes um Papa com quem "negociar".
Por fim, o pior deste debate: era mais que escusado obrigarem-me a concordar tanto com Pacheco Pereira.
Li aqui que os russos vão imitar os portugueses no tipo de contingente militar a enviar para o Líbano. Aprenderam com Marques Mendes, nada como imitar (ou pactuar) com Sócrates. Até parece que é o que está a dar.
Na hora de meter leituras e noticiários em dia, regressando ao mundo dos vivos informados pelo abandono militante da alienação de férias (quase tão custoso como deixar de fumar), constato que errei na minha previsão quanto ao “recuerdo internacionalista” da “Festa do Avante” deste ano (*). Afinal, a atracção foi a Revista das FARC.
O erro resultou de, embora sendo leitor assíduo e pontual do “Avante”, não ter vislumbrado que, no “arco revolucionário latino-americano” em luta contra o imperialismo - além de Cuba, Venezuela e Bolívia -, tinha assento a máfia columbiana narco-traficante, terrorista e perita em raptos e sequestros. Ingenuidade de quem nunca espera o pior. Mesmo quando vindo do lote dos piores.
Nota: Não subscrevo este abaixo-assinado, embora concorde plenamente com o seu teor, porque não dispenso a higiene quanto às companhias. Inclusive quando se trata de assinaturas.
Há 33 anos, a força bruta assassinou uma democracia e liquidou um Presidente. Então, o fascismo instalava-se no Chile enquanto aqui ainda estava sentado no poder, embora já agonizante. Depois, chegámos mais depressa à democracia que o Chile poder voltar a respirar a liberdade e o direito de escolha. Lembrar hoje Allende é (continuar a) estar contra todos os assassinos da democracia e da liberdade. Os de ontem e os de hoje. Os fascistas e os outros, simétricos ou não. Mais os émulos que continuam a chorar Allende como grito de ódio de orfandade pela perda de pais totalitários.
Foi há cinco anos que tantos “borregaram” na frente de combate contra o Imperialismo. Não estiveram nas Torres Gémeas. Assim, não morreram nem mataram. Como, depois, "borregaram" em Madrid e em Londres. Porque "borregarão" sempre até que o "estoiro" se dê na Gare do Oriente ou em Campanhã e os apanhe ou a um familiar ou a um amigo do peito, metendo-lhes a luta dentro do pêlo. São, afinal e apenas, corajosos exclusivos da luta a passar a "palavra". No caso, a "palavra" dos que mataram, matam e vão continuar a matar, procurando matar qualquer um com a utopia de nos matarem a todos, levando-nos juntos para o paraíso de Alá. Contra o Imperialismo. Ou, dito na linguagem sem camuflagem cripto-intelectual de Bin Laden, contra judeus e cruzados.
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