Não se trata, por muito que pareça, de uma concorrente ao Concurso da Mulher Mais Atraente. A foto AFP retrata a pose esbelta de uma concorrente num concurso de culturismo feminino realizado em Sofia (Bulgária). Pois é, parece que não lhes basta terem a capital mais feia da Europa…
Enquanto apertam as medidas de popupança e controlo orçamental para equilibrar o défice, Portugal vai envolvendo-se mais e mais em missões internacionais militares. Os nossos tropas já estão a caminho de patrulharem, outra vez, as sete partidas do mundo. Tirando o envio da GNR para Timor para apoiar um Golpe de Estado contra um governo legítimo, até nem acho mal. Antes assim e sempre serve de treino operacional para quando chegar a hora de andarmos à trolha com os espanhóis para eles acabarem com a barbárie das touradas e o Barcelona não nos roubar mais craques da bola. Não entendo é como o dinheiro público, minguado para tanto e quase tudo, vai chegando para tanta tropa exportada. Só quero ver quando o dinheiro não chegar sequer para os fardamentos…
O discurso proferido por Sócrates na 61ª Sessão da Assembleia Geral da ONU é uma das suas peças oratórias mais demagógicas. Digna de enfileirar ao lado da promessa eleitoral de que ia baixar os impostos (onde acresce o ónus de ter inspirado o actual primeiro ministro da Hungria).
Só que a treta dos impostos foi vendida domesticamente e a malta já a esqueceu (em parte, por méritos demonstrados na engenharia da governação). Mas a bravata retórica na ONU é mais grave, muito mais grave, na exacta medida que é uma mentira exportada no supremo fórum da comunidade internacional.
Não tem o mínimo fundamento dizer-se que “Portugal tem feito esforços para que o continente africano não caia no esquecimento” como igualmente nada fundamenta invocar a falácia de uma “estratégia conjunta euro-africana” ou que, sequer, “a União Europeia tem vindo a reforçar a sua parceria e estratégia conjunta com África”. Para não falar do seu enaltecimento, que lhe devia provocar a queda de dois terços dos dentes da boca, desse órgão faz de conta que é a CPLP.
Portugal sempre teve relações difíceis com África. Primeiro, por estadia demasiada e abusadora. Depois, pela herança dos complexos de culpa das malfeitorias seculares e pelos ímpetos revanchistas de ter de lá saído com um valente pontapé no cú. Com o passar do tempo, Portugal cada vez tem menos a ver com África e a África cada vez tem menos a ver com Portugal. E isto, admito, mais pelo facto de que África está cada vez mais corrompida e menos governável. E esta realidade não pode ser mascarada pelos negócios ou pelo assobiar perante o perdurar de sistemas de tirania nas antigas colónias. E nem a grande excepção, Cabo Verde, possibilitou ou foi aproveitada para o tornar num caso exemplar de cooperação pós-colonial. E se Cabo Verde tão próxima continua tão longe, o que dizer do resto onde o que sobra, enquanto os laços da língua e da história vão definhando, é um ou outro negócio mais de um sentido que noutro em que a grande “excepção” é a nomeação do angolano presidente da Sonangol para o Conselho de Administração da Galp (sempre o petróleo como a grande excepção).
Os laços fortes e mais impositivos da relação de Portugal e da União Europeia com África estão na lide com o fluxo migratório africano (o legal e sobretudo o clandestino). Muito difícil, com altos e baixos, tensões e distensões, em que avulta a forma sábia como Zapatero, a braços com o influxo mais grave, tem demonstrado saber lidar. A África está a entrar Europa dentro. Muito pelo desespero devido à forma inábil ou relapsa como a Europa não entra, por não saber ou não querer, em África. Sobretudo pelo mal do despotismo corrupto que tomou conta da maior parte de África. A demonstrar que o que permaneceu, como lição europeia em África, foi o pior da prática colonial.
Era disto que Sócrates devia ter falado na ONU. Ajudando a definir uma estratégia que resolva o problema da globalização da miséria africana e que é, não há que fugir-lhe, um remorso, um problema e uma ameaça para a Europa. Miséria essa em que, historicamente, a Europa tem as maiores culpas e responsabilidades. Antes e depois da descolonização. Primeiro pelo chicote dos negreiros, depois pelos negócios com as máfias locais que substituíram o anterior papel desempenhado pelos chefes tribais africanos que connosco se entenderam a vender-nos os escravos seus patrícios. Em vez disto, falar disto, propor correcções a isto, tecer antes loas ocas à sigla da CPLP é pura demagogia autista. Sócrates voltou a mentir. E a fugir com o rabo à seringa. Demonstrando que não conseguiu superar a herança da velha e clássica “estupidez africana” de Mário Soares que, pelo visto, contaminou duradouramente o PS. Não é a primeira vez que Sócrates mente. Mas, agora, mentiu na ONU. Pior. Muito pior.
Na Turquia, são gigantescos os passos dados na caminhada para ser admitida na União Europeia, trazendo-nos, de volta, o colorido da tolerância perdida desde a derrota do Império Otomano. Um exemplo:
Elif Shafak, escritora, cientista social, professora universitária e activista, vai ser julgada na próxima semana acusada de ter ofendido o “carácter nacional turco” (artº 301 do Código Penal). O “crime” de que acusam Elif Shafak foi a publicação do romance “Baba ve Piç” (“O Bastardo de Istambul”) onde se aborda o massacre dos arménios, assunto tabu do passado e presente histórico da opressão turca, a par da repressão sobre os curdos e a ocupação parcial de Chipre.
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Adenda: Elif Shafak foi mandada em paz pelo Juiz a quem foi atribuído o processo por não admitir qualquer fundamento à acusação. É um ponto positivo a contrabalançar o negativo que foi a mera existência do processo baseado no medieval e nacionalista-ditatorial artº 301 do Código Penal Turco. Empate portanto. Ou: tudo como dantes, quartel em Constantinopla. Sem nunca esquecer os dramas dos arménios, curdos e cipriotas. Porque não devem ser moeda de esquecimento na "hora" da União Europeia.
Raul Castro informou oficialmente o povo cubano e o mundo que o seu irmão já usa o telefone para dar ordens. Temos, agora, El Comandante por Teléfono.
O Paraquedista Presidente Bolivariano disse que o lugar (tribuna da ONU) ainda cheirava ao enxofre deixado ali pelo Diabo Bush. Depois, como se viu pela televisão, benzeu-se a preceito. Antes, estes exorcistas levantavam o punho. Ou, então, tiravam o sapato e batiam com ele no tampo da mesa. Anda tudo baralhado.
Será que, à falta de melhor, andamos a exportar tarados?
Esta do novo Procurador está-me atravessada. Pelo sim pelo não, meto já um pé atrás e o sobrolho fica franzido até se esclarecer bem o perfil e o programa do figurão. Porque dá que pensar esta unanimidade do Centrão alargado à direita pelos encómios suspeitos do PS, PSD e CDS e o aval do Cavaco. Mais que pensar dá ainda (e um bom pretexto para mais um exercício cívico de vigilância) que o PCP e o BE, a esquerda mesmo verdadeira, tenham adiado o pronunciamento para futura oportunidade. Esperemos. Até se perceber se este novo PGR está ou não metido na tramóia contra-revolucionária de “formatar a Justiça e conformá-la aos moldes de dominação de classe”.
O mais fanaticamente iconoclasta-criativo dos blogues que me servem habitualmente de cibercompanhia, mudou, inopinadamente e sem aviso prévio, de morada web.
Qualquer reforma profunda na Educação exige, além de muito talento, enorme coragem e persistência. Será até dos maiores e mais extenuantes desafios aos governantes. Por outro lado, para complicar as coisas, nem se lhe pode aplicar a radicalidade, para que o caos não se instale, nem desfalecer porque muitas e tamanhas são as resistências a contornar ou vencer.
Desde logo, a máquina ministerial é um monstro com uma pesada e ramificada burocracia de hábitos arreigados e estruturados. Assim sendo, o Ministério é, à partida, um instrumento pouco apto para liderar e motivar a mudança. Qualquer mudança, quanto mais mudanças em profundidade.
Na Educação, estão instalados alguns dos mais fortes e resistentes dos espíritos corporativos que povoam a Administração Pública. E que a distorcem do sentido da sua “função pública” – servir as escolas e os alunos, sendo antes cultivado o acesso a rápidas carreiras e boas remunerações. O que é fortalecido na sua componente “conservadora” sabendo-se, como se sabe, que a par de um punhado largo de professores por vocação pululam os professores por sobrevivência e omissão (pela impossibilidade de acederem a outras vias profissionais de ganharem a vida). Acresce que a legião corporativa professoral está barricada, na defesa dos seus “interesses de classe”, num corpo profissionalizado e numeroso (são muitas, demais, as centenas de professores que só “ensinam” sindicalismo em “full time”) que enquadra o aparelho sindical da classe e cioso da forma privilegiada como interfere e pauta nas decisões ministeriais, sobretudo no fito de bloquearem mudanças que perturbe o “status quo” da apregoada “dignidade dos professores”. E, pelo impacto que qualquer movimentação reivindicativa dos professores tem sobre a vida de quase todos os portugueses, afectando-lhe a rotina dos filhos, é quase irresistível o recurso persistente à politização dos problemas da classe, lançando-os na luta a propósito e a despropósito e para alegria exclusiva de controleiros político-sindicais desejosos de apresentar boas folhas de serviço.
Também não ajuda à reforma do Ensino, a psicologia dos encarregados de educação que quase todos nós somos. Pouco ligados à vida das escolas e à partilha dos seus problemas e soluções, o comum é evitarem-se perturbações de maior e a visão da Escola é feita segunda a lupa exclusiva do “caso do nosso filhinho”. Será até dos casos em que mais se faz sentir a tendência particularizante da visão social dos portugueses com a redução dos interesses imediatos (os que beliscam a Família) sem qualquer disponibilidade para enfrentar perturbações de mudanças e, muito menos, contribuir para a solução de problemas que competem ao “Estado”. Ou não é verdade que grassa o absentismo dos encarregados de educação às reuniões na escola e que a maioria dos que teimam na presença só lá vão para saber como correm as coisas com os da sua prole?
A resolução racional, logística e infraestrutural dos problemas nas Escolas depende em boa parte da colaboração das Autarquias. E aqui, se há exemplos estimulantes, abundam os aproveitamentos de pretextos para alimentar a guerrilha entre Poder Local e Poder Central. No que contam com o acirrar das populações na fixação de falta de disposição para se ver além da casa, da rua e do bairro.
No último “Prós e Contras” da RTP, foi patente a forma vitoriosa como a Ministra se está a sair bem da sua estratégia de contornar o corporativismo professoral e ligar-se directamente à Escola e à resolução concreta dos seus problemas, empurrando a Educação rumo à modernidade e á responsabilização. E não será novidade menor o aparecimento de uma nova camada de professores motivados na ligação às comunidades locais e apostados na modernização eficiente dos problemas colocados Escola a Escola, com brio no serviço à “causa pública”. Como foi patético o esforço do representante da Oposição para criticar a ministra. Para não falar na triste figura do representante sindical (da Fenprof) a que nem lhe valeu a ajuda guerrilheira de um professor excitadamente furibundo vindo de Seia, qual Viriato a descer da Serra da Estrela para desancar o Estado de Direita.
De longe, a Ministra da Educação continua no “top” como o membro do governo mais enérgico, persistente, corajoso e reformador consequente. Oxalá tanta energia empregue não lhe esgote o fito reformista e a vontade de quebrar o “instalado”. Os nossos filhos, os portugueses de amanhã, o futuro do país, só lhe podem ficar agradecidos. Porque temos Ministra. Não Santa Milagreira da Educação, apenas o que se precisa: uma Ministra.
Vladimiro Roca é um dos opositores mais conhecidos e prestigiados à ditadura castrista. Conheceu como poucos o “regime por dentro” pois é filho de um dirigente (Blás Roca) que alcançou o Olimpo da Comissão Política do P C Cubano até “cair em desgraça”. É um homem sereno, reflexivo, com uma larga cultura política, preocupado em que a transição de Cuba para a liberdade e a democracia se faça por via pacífica, gradual se necessário, e com o mínimo de convulsões ou os excessos dos “ajustes de contas”. Passou vários anos nas prisões políticas de Fidel. Em vez de guardar rancor, prefere a lucidez na análise do regime e as frestas por onde pode despontar a inevitável “transição”. Que pode demorar e vir quando e de onde menos se espera. Para os que querem olhar a realidade cubana além dos estereótipos, aconselho vivamente a leitura de uma sua recente entrevista transcrita no “Fumaças”.
Na imagem: Vladimiro Roca saindo de uma prisão de Fidel, amparado pela mulher e sob o olhar atento dos esbirros que zelam pela repressão dos combatentes da liberdade para os cubanos.
Dialecticamente falando, não há equinócio sem solstício, caríssimo amigo Manuel Correia. A ideia transmitida, referindo-te à Revolução Francesa, em que a consideras como sendo a Revolução Moderna, que consagrou um projecto de carácter civilizacional assente no tríptico Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tem muito que se lhe diga. Esta reverência perante a convulsão que abalou o mundo monárquico absolutista e trouxe o jacobinismo e o radicalismo (dos “Montanheses” e, sobretudo, dos “Iguais” de Babeuf) como parte integrante do modo revolucionário de alterar as relações sociais e políticas no mundo, faz parte, reconheço essa autoridade, da tradição da historiografia pré-moderna consagrada, nomeadamente difundida através de uma datada mas fortíssima corrente de historiadores franceses encantados com a qualidade francocêntrica de enfeitar a França (ah o velho chauvinismo galês!) como alavanca pioneira do progresso revolucionário e do progresso no mundo (lembrando a arte homóloga com que, após a II Guerra Mundial, se disfarçou o “vichysmo” dominante numa gesta empolada da resistência francesa contra a ocupação nazi). E o facto de a Revolução ter dado no Terror e este ter desembocado em Napoleão e no Império (feitas as contas de saldo, da coroa da monarquia absolutista passou-se à coroa de louros de um Imperador, com um intervalo em que a burguesia movimentou as massas populares), nunca ficou com a merecida relevância historiográfica de balanço.
A mitificação de enaltecimento e desculpabilizção da Revolução Francesa, envolvida que foi na bruma da “etapa progressista”, deveu-se muito ao acrescento do martírio da “Comuna de Paris” mas sobretudo à noção redentora de que as suas falhas e recuos, encorpadas na Comuna, foram vingadas e aplanadas com o sucesso da Revolução de Outubro na Rússia. Aliás, a Revolução Francesa sempre foi apresentada oficialmente, tendo em conta os cânones da materialismo histórico, como uma “etapa intermédia e incompleta” de libertação da opressão, sofrendo embora da pecha de ter sido conduzida pela burguesia, tendo calhado à Revolução Bolchevique a “correcção histórica” de colocar o proletariado na liderança exclusiva e exclusivista da vanguarda revolucionária (e sabendo melhor que todos exercer um Terror eficaz, vermelho). Com um efeito subentendido não pequeno (embora escamoteado) – a inversão da ordem do tríptico “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.
Mas, no fundo, o que de transmissível e duradouro a Revolução Francesa deu (inovando) ao mundo foi não uma mas três tradições de transformação sócio-política – a dos “jacobinos” que alimentaria a prática e a tradição republicana com preocupações evolucionistas (que marcou, nomeadamente, o PS de Mário Soares); a dos “montanheses” que enformou a social-democracia revolucionária (até à sua ultrapassagem degenerativa pela cisão comunista); a dos “iguais” que foram fixados como a origem utópica e legitimadora do marxismo consequente de praxis bolchevique. No seu conjunto, estes berços de herança cobraram, durante décadas, um terrível preço pago pelas massas empurradas mas sujeitas a vagas sucessivas de terror – transformar á pazada, valorizando a revolução face à livre escolha e à democracia (a grande pecha dos reformistas timoratos e oscilantes).
Talvez, no fundo, o tal inquérito que inquietou o Manuel Correia e lhe mereceu um post sofisticadamente irónico (e de que partilho integralmente as preocupações subjacentes) se deva, também, aos mal entendidos histórico-utópicos. E como não entender que sejam os franceses a pagar o preço maior dos seus exageros ego-chauvinistas na pintura da História? Digamos, como remoque irónico para com o "politicamente correcto", que é “justo”.
Uff, finalmente completamente de acordo com o Manuel Correia. Refiro-me a um post onde dá conta dos resultados de um interessante inquérito realizado em França e que finaliza com uma inquietação interrogativa:
Só acrescento: além de curioso é preocupante. Sobretudo sabendo-se que fatia importante do eleitorado de Le Pen é oriundo (trânsfuga) do antigo eleitorado do PCF.
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