Quinta-feira, 10 de Agosto de 2006

MANIF JÁ!

000b6a5g

Os imperialistas britânicos, arrogantes na sua sanha capitalista, armados em judeus, decidiram esta manhã fechar aeroportos e impedirem os trabalhadores conscientes de viajarem de avião pelo mundo fora a fim de reactivarem o internacionalismo proletário sob o lema “Eternas Vidas para o Comandante Fidel e o Seu Irmão!”. Bush, sempre pronto a lamber as botas de Blair, seguiu-lhe o exemplo. Como se esperava, mais uns tantos apaniguados disfarçados de democratas, imitaram as potências que lideram o terrorismo de Estado. Entretanto, as agências noticiosas controladas por Pinto Balsemão e seus parceiros, espalham o alarme e a calúnia sobre as verdadeiras intenções dos revolucionários.

 

O pretexto para esta nova ofensiva imperial é a descoberta de uma pseudo-conjura, em que, pretensamente, as vítimas revolucionárias organizadas pelo Comandante Bin Laden se preparavam para destruir alguns nichos voadores do capitalismo imperialista-sionista. Como se o ar, assim como a terra e o mar, e não lhes bastando o petróleo, fosse só deles e interdito à revolução libertadora. Dizem ainda as agências de (nossa) confiança que dezenas de patriotas islâmicos, nossos companheiros de luta, foram presos pela Gestapo inglesa e possivelmente estarão já a ser torturados em Guantanamo.

 

As vidas das vítimas aprisionadas na preparação de acções de combate anti-imperialista e anti-sionista correm perigo. Não paremos. Circulem posts, abaixo-assinados, e-mails, SMS, o que seja, exigindo a imediata libertação dos revolucionários londrinos. Organize-se uma manifestação frente à Embaixada da Grã Bretanha, com passagens de repúdio pelas Embaixadas dos Estados Unidos e de Israel, exigindo a consagração dos lutadores aprisionados como revolucionários de novo tipo. No final, a manifestação deve concentrar-se frente à Embaixada de Cuba para um comício onde se reze pelo restabelecimento da saúde de ferro do incansável Comandante, nosso Libertador. Já!

Publicado por João Tunes às 14:40
Link do post | Comentar | Ver comentários (2)
Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006

AS COSTAS LARGAS DO ANTI-SIONISMO

000b5cf1

O Tiago Barbosa Ribeiro veio trazer para o debate um interessantíssimo contributo para aclarar posições, algumas muito bem encapotadas, sobre o anti-semitismo (*) dos tempos actuais.

 

Claro que é, em alguns casos, uma pressa de combate incluir automaticamente na categoria de anti-semitas (ou anti-judaicos) todos os que odeiam Israel e celebram, entre amigos políticos, cada rocket lançado pelo Hezbollah. Aliás, estes, os da banda esquerda, bem sublinham que são apenas anti-sionistas e nunca, por nunca ser, anti-semitas. Ou seja, o anti-semitismo seria um património direitista, coisa de nazis e quejandos, gente pouco recomendável e com quem não admitem misturas. Quanto aos combatentes da esquerda anti-Israel, eles afirmam condenar exclusivamente o imperialismo guerreiro e o expansionismo dos israelitas, o martírio dos palestinianos, libaneses e tudo quanto é muçulmano e sobretudo, mal maior, a aliança de Israel com o Império do Mal. Em termos de organização teórica das ideias, mais ainda nas intenções, é evidente que se pode admitir que alguém, ou uns tantos, por muito afirmativos que sejam, tentem essa ginástica política de separar os vários “anti” que lhes povoam as cabeças.

 

Julgo que em termos concretos, ou efeitos práticos, a distinção pretendida, se já fez algum sentido, e isso não nego de todo, está datada na discussão e na oportunidade quando da criação do Estado de Israel há cerca de sessenta anos. Na altura, a “ideia sionista” que levou à implantação do Estado de Israel, apresentando argumentos de fundamentação, tinha um sem número de óbices e constrangimentos para ser aceite como legítima, sobretudo tendo em conta os direitos de implantação no terreno dos palestinianos. O certo é que a existência do Estado de Israel foi uma realidade de facto e legitimada pela comunidade internacional, no que pesou decisivamente o facto de tanto os Estados Unidos como a União Soviética terem apadrinhado a nova realidade.

 

Não é responsável quem defende, hoje, o desaparecimento do Estado de Israel e que se obriguem os judeus ali instalados a sofrerem um novo êxodo de fuga errante pelo mundo. E tirando os fanáticos que governam o Irão, mais os grupos ultra-fundamentalistas, poucos têm coragem de defender uma nova “solução final”. O pretexto usado na propaganda de ódio anti-israelita é o pretendido entorse sionista que transforma Israel, pela sua prática mas sobretudo pela sua natureza, numa potência militarista e expansionista em missão de genocídio de palestinianos e dos seus irmãos e camaradas, um aliado do imperialismo americano em terras próximas de muito petróleo. E, nas ideias e nas propagandas, as imagens utilizadas são sistematicamente repetidas – o drama palestiniano, o drama libanês, os “territórios ocupados”, as vítimas da metralha israelita, acabando sempre na reedição metafórica da luta entre David e Golias. Nada havendo a dizer quanto à condenação dos métodos de retaliação usados por Israel, maioritariamente repugnantes porque cruéis e indiscriminados, o certo é que os “anti-sionistas” esquecem sistematicamente, nos seus julgamentos parciais, dois factores fundamentais – por um lado, a brutalidade israelita é defensiva (segundo o princípio “quem se mete connosco, apanha!”), incluindo as ocupações de territórios fora das suas fronteiras, com um grau de violência que dissuada os apetites agressivos ou provocatórios; segundo, não é “melhor”, nem “mais humano”, nem de grau diferente, a brutalidade do terrorismo e dos ataques que pretendem castigar Israel e obrigá-lo a recuar no seu direito à existência em segurança.

 

É a parcialidade do “anti-sionismo” dos tempos modernos, inscrita no arco do activismo anti-americano, com uso e abuso de “dois pesos e duas medidas”, em que a ameaça do terrorismo, do fanatismo e do fundamentalismo islâmico (com os apoios e meios poderosos e agressivos do Irão e da Síria, usando os instrumentos Hamas e Hezbollah), é silenciada (como se cada ponto que o terrorismo islâmico marcasse contra Israel não fizesse ricochete nas cabeças bem pensantes), vestindo os palestinianos de David e os israelitas de Golias, que torna estultamente falhada a pretensão invocada de se querer ser, ou parecer-se, anti-sionista sem ser anti-semita. Porque, na prática, se trata, afinal, da mesmíssima coisa, prisioneira que está do maniqueísmo em que todos os palestinianos são bons e mártires e, como pensa a direita nazistóide, o único judeu bom é o judeu morto.

 

 

(*) – Sei que o termo “anti-semitismo” não é rigoroso como categoria de aversão exclusivamente “anti-judaica”. Porque, de facto, semitas são tanto os judeus quanto os outros povos da região. Mas, ressalva feita, como a expressão acabou por adquirir uma parcialidade que lhe deu identidade (ninguém fala em “anti-semitismo” a propósito de sentimentos “anti-árabes”!), continuaremos a utilizá-la.  

Publicado por João Tunes às 17:13
Link do post | Comentar | Ver comentários (1)

LOUVADO SEJA O MOTORISTA DA FAMÍLIA DO MINISTRO

 

 

 

 

000b4hf0

--------------------------------

Adenda: O seu a seu dono. A imagem transcrita de reprodução do despacho de louvor de Sexa Freitas foi reproduzida e tem como origem o site de José da Silva Marques.

Publicado por João Tunes às 14:11
Link do post | Comentar | Ver comentários (3)

MORTE AO VÍCIO (2)

000b3x6e

A Comissão Europeia parece ter corrigido a patacoada de um Comissário chamado Vladimir Spidla. Antes assim. Mas espere-se pela próxima volta. Os fundamentalistas não costumam desarmar.

 

Em simultâneo, parece que o bom senso (e a liberdade de concorrência), na mesma matéria, chegou ao governo luso. Refiro-me à publicitada abertura do governo em permitir aos estabelecimentos de restauração optarem por serem livres de fumo ou locais onde não se chateiem os adeptos das fumaças. Desde que devidamente anunciada, à entrada e de forma bem visível, se o local é aberto ao vício ou se ali se conserva a vida eterna e higiénica, cada um escolhe sabendo ao que vai. E, caso a lei contemple a liberdade de opção, sempre quero ver como se vai manifestar a coerência fundamentalista, isto é, quantos são os que escolhem o proibicionismo além do negócio. Pelo que vi em Espanha, depois de entrar em vigor uma lei idêntica, não vou ter grande dificuldade em continuar a encontrar um café para ler o jornal em paz e sossego.

Publicado por João Tunes às 12:07
Link do post | Comentar
Terça-feira, 8 de Agosto de 2006

DISTO SABEMOS NÓS

000b2x3c

E até ajudamos os pobres e atrasados galegos.

Publicado por João Tunes às 23:35
Link do post | Comentar | Ver comentários (1)

SE A CAIXA É DO POVO…

000b1y65

Temos uma luz no túnel da crise.

Publicado por João Tunes às 23:24
Link do post | Comentar

9,99

000b0dbq

Se o Deco é português e o Liedson para aí caminha, tu és português de gema, gema de ouro.

Publicado por João Tunes às 23:13
Link do post | Comentar | Ver comentários (2)

O DRAMA LIBANÊS

000azc5q

1 – Têm plena razão teórica os que lembram que o Líbano, além da Palestina projectada e das marciais e imperiais Turquia e Indonésia, foram as grandes esperanças de concretização democrática, multicultural e multireligiosa, até civilizada e moderna, no mundo muçulmano. Mas, agora, é o Líbano que está no palco, o pior dos palcos – o palco das bombas. Fiquemos, pois, pelo Líbano, a chamada “Suiça do Médio Oriente” (e a alcunha não é nada inocente).

 

2 – O Líbano tem factores específicos na sua identidade que se distinguem da realidade circundante: possui uma tradição burguesa-mercantil consolidada em séculos e que, na sua irradiação mundial (encontram-se comerciantes libaneses por tudo quanto é parte do mundo) lhe conferiu uma componente capitalista sólida e transnacional e, concomitantemente, um liberalismo de conveniência, uma plasticidade perante outras sociedades e outras culturas; foi colónia francesa, mantendo esta cultura de raiz, num mundo essencialmente colonizado por otomanos e ingleses; comporta uma dualidade islâmico-cristã (60/40) que dissuade hegemonias e fundamentalismos; tem uma tradição turística e mundana que a torna permeável a osmoses cosmopolitas, abrindo-se ao mundo.

 

3 – Tragicamente, o Líbano não escapou, na sua procura de uma identidade sui generis, ao fatalismo da sua inserção cultural-geográfica.  Cultural e politicamente, o Líbano tinha e tem uma forte tendência centrípeta relativamente aos modelos democráticos e europeus. Mas, geograficamente, o Líbano fica (demasiadamente) perto das praças fortes do irredentismo islâmico, das erupções do “socialismo árabe”, de Israel, da Palestina e, não tendo petróleo, está a dois passos do petróleo. O conjunto destes factores, moldados nas estratégias de conflito, ditou a perenidade do drama libanês. Tornou-o vulnerável pela tentativa de afirmação cristã fracassada; pelos apetites de hegemonização e domínio do vizinho sírio; porque foi um importante reduto de refúgio da diáspora palestiniana, viu-se mergulhado no conflito israelo-muçulmano em que Israel lhe impunha a neutralidade-tampão e o fundamentalismo terrorista islâmico o queria como guarda avançada no combate a Israel. Assim, os conflitos exógenos mas próximos, praticamente todos, entornaram-se sobre o Líbano e têm ditado o afogamento de uma via autónoma que poderia servir como modelo superador, de tolerância e de referência convivial e democrática. Inevitavelmente, a prisão a estas contradições e asfixias, impôs a castração de veleidades autónomas no Líbano. Aquela a que assistimos.

 

4 – Os mais interessados na “diferença libanesa” sempre foram, entre os vizinhos do Líbano, o Estado de Israel. Na estrita medida em que essa “diferença” seria um tamponamento suficiente e generoso perante a agressividade islâmica. O mesmo Israel que se afirmou sempre como implacável face a qualquer condescendência libanesa perante osmoses ou promiscuidades com posicionamentos que lhe fossem hostis. Esta tensão e as tensões simétricas de oposição e controlo (da Palestina, da Síria e do Irão) impediram a mínima tranquilidade para estabilizar o Estado e o seu aparelho ao serviço da autonomia libanesa.

 

5 – O Líbano não teve condições para se consolidar como Estado autónomo. Fragilizado internamente pelas tensões mortíferas entre cristãos e muçulmanos, viu-se ocupado pela diáspora combatente da Palestina, sofreu a retaliação israelita pela sua transformação em santuário dos palestinianos, caiu na esfera da influência da Síria, baqueou perante a afirmação agressiva e terrorista do Hezbollah (com apoio iraniano e sírio) e a quem não foi capaz de impor o desarmamento. Pagou sempre elevadas perdas em vidas, património e capacidade autonómica, cada vez que um input dos vizinhos lhe caiu dentro de casa. Agora, mais uma vez, o Líbano sofre o fogo israelita por não ter tido a força suficiente para impedir que o Hezbollah se transformasse, no Líbano, um Estado dentro do Estado e um sub-Estado agressivo e terrorista, generosamente incentivado, armado e financiado pelo Irão com a cumplicidade síria.

 

6 – Como não chorar por ti, Líbano? Pelas tuas fraquezas, pelas tuas dores e, sobretudo, pelo teu azar com os vizinhos implacáveis e cruéis que a geografia impôs.   

Publicado por João Tunes às 00:51
Link do post | Comentar | Ver comentários (4)
Segunda-feira, 7 de Agosto de 2006

FUMAÇA

000aygwc

O João Carvalho Fernandes, distinto director do “Democracia Liberal”, o órgão oficial da “direita monteirista”, é também autor consagrado de um dos veteranos e conceituados blogues – o célebre e incontornável “Fumaças”. Assumindo sem tibiezas as suas opções, o JCF costuma reger-se pelo rigor e pela ética. Por isso, granjeou uma larga e merecida estima blogosférica (e não só). Também por isso mesmo, tenho vaidade em o ter como meu amigo pessoal, numa amizade que foi forjada em lutas comuns pela liberdade, o bem supremo que deve estar acima de todas as diferenças.

 

Por motivos pessoais, o JCF teve de interromper, durante uns tempos, os alimentos ao seu blogue. Voltou depois para entrar de férias e impor nova interrupção. Talvez por lapso devido aos interregnos, o JCF escreveu como não costuma escrever – deu eco a uma mentira repetida, ecoada e desmentida. Mas, sabe-se bem, um desmentido nunca repara todos os danos da atoarda. Agora, se até o Professor Marcelo já emendou a mão, como não esperar o mesmo desta “fumaça”?  

Publicado por João Tunes às 13:18
Link do post | Comentar

A IRRESPONSABILIDADE CURATIVA segundo CÉSAR DAS NEVES

000axd00

Diz o Professor no DN de hoje:

 

“Usando a lógica dos sábios, a sociedade acusa a Igreja pelos abusos, lutas, cruzadas, Inquisição, por aquilo em que a Igreja se parece com o mundo.
Aqui reside o maior mal-entendido da História. O mundo não entende que a grandeza da Igreja, a sua beleza incompreensível, reside precisamente em ser a fonte da misericórdia de Cristo. Ela não é o clube dos bons, mas o único abrigo dos maus. Censurar a Igreja por estar cheia de pecados é como atacar o hospital por ser feito de dor e sofrimento.”

 

Não julguem, pois, a Igreja Católica. Continuem, então, as romagens ao Vaticano, a Fátima, a Lourdes, a Covadonga e ao Vale dos Caídos, autênticas “unidades de cuidados intensivos”. Eles, por lá, não são bons, mas curam os maus.

Publicado por João Tunes às 12:35
Link do post | Comentar | Ver comentários (1)

MORTE AO VÍCIO (1)

000awwb3

Acho bem a “disposição europeia” que consagra a liberdade de um patrão não admitir trabalhadores que sejam viciados no tabagismo. Aliás, os do cigarrinho têm alternativa: imitem os patrões transnacionais e deslocalizem-se, procurando trabalho fora da Europa limpa, higiene, pura e unida. Enquanto restarem desterros para viciados e se, entretanto, não lerparem em Oncologia.

 

A Europa, seguindo os Estados Unidos, amanhã em todo o mundo, quer saúde, muita saúde, só saúde. É a procura ancestral da eterna juventude, pela higiene absoluta, pela pureza livre do vício. Admirável utopia esta, a de um admirável mundo novo anunciado, em que, pela via da higiene e do decoro, as sociedades se querem saudáveis e, no limite, constituídas apenas por cidadãos eternos e imaculados. Santos, isso também. Aquilo em que as religiões, o fascismo e o comunismo falharam (a redenção humana, no espiritual e no social) está preste a ser conseguido pela cruzada contra o tabaco. A seguir, step by step, erradica-se o consumo de álcool, o sexo em excesso (todo o que esteja além do necessário para a procriação), as leituras inconvenientes, a Internet (mãe de tantos vícios), a inveja, o hedonismo, o anarquismo, a injustiça, as festas fora de horas, as guerras, todos os pecados – os mortais e os outros. Então, os homens serão livres, limpos e higiénicos. A caminho da vida eterna sem o desvario de um vício como amostra. Verdade que, todos higiénicos e com vida eterna, castrados na liberdade de escolha entre virtude e vício, entre a saúde e a doença, entre a vida e a morte, não vamos caber no planeta. Mas como, então, a humanidade não será outra coisa que camadas sobrepostas de chatos e de censores, mas higiénicos e empreendedores, cavem-se tuneis e subterrâneos e alonguem-se os prédios, transformando o mundo numa imensa Nova Iorque. De qualquer forma, sem vícios, os novos homens não terão o vício da revolta. Estarão por tudo, até pensarem-se eternos porque limpos.

 

Declaração de interesses: Sou fumador, não procuro emprego, (ainda) não tenho consulta marcada para Oncologia, não luto por um admirável mundo novo.

Publicado por João Tunes às 00:47
Link do post | Comentar | Ver comentários (2)

SEGREDO DE ESTADO

000at9hd

Pensem bem os que estranham que Raul Castro não mostre letra, palavra ou figura. Se a evolução do estado de saúde do Comandante é, segundo o próprio, um “segredo de Estado”, como não haveria de o ser também o seu irmão Raul, Segundo Comandante ora em funções de Primeiro Provisório? E os “segredos de Estado” não se revelam, guardam-se bem guardados.

 

Para mais, os que sabem disso das revoluções, não se inquietam nem se deixam devorar pela curiosidade. Rezam.

Publicado por João Tunes às 00:12
Link do post | Comentar
Sábado, 5 de Agosto de 2006

AS VÍTIMAS E O ESPECTÁCULO

000asc7r

O impacto noticioso, sobretudo via televisão, vive de sangue, morte, crime, drama, dor, vítimas (sobretudo se velhos, mulheres e crianças). Esta é a escolha do sensacionalismo e a culpa dos consumidores que querem isso mesmo – beber sangue, contemplar a morte, condenar os criminosos, chorar por vítimas na sede de muitas vítimas. Assim, o sensacionalismo casa-se com a morbidez sádica e autoflagelante dos públicos. A mistura, sob a lei das “shares”, dá nos noticiários que temos.

 

A sensação televisiva, muitas vezes, serve um dos contendores, sobrelevando as causas e as problemáticas. O lado que mostrar mais vítimas, mais sangue, mais dor, sobretudo mais crianças mortas ou a chorar, marca mais pontos. Muitos mais. É um lado perverso das tragédias. Mas incontornável.

 

No actual conflito no Médio Oriente, como no passado recente das inimizades sangrentas naquela e outras regiões, temos um exemplo repetidamente exposto da dualidade na exposição da dor mais os efeitos colaterais em termos de propaganda. Se um homem-bomba se fizer explodir num mercado de Telavive ou um rocket do Hezbollah cair em Haifa, a televisão mostra imagens normalmente “pouco interessantes” -  perímetro de segurança imediatamente montado, ambulâncias a circular rápido, serviços de emergência médica a funcionarem com prontidão. Em Israel, não se perde tempo a expor as vítimas, é preciso levá-las de imediato ao hospital e, perante os doentes e os mortos, usa-se a descrição e o pudor do respeito perante a dor e a morte. Uma bomba israelita num prédio do Líbano, arrasta a desorientação, a anarquia, o caos, os choros prolongados pelas vítimas, a exposição demorada de corpos estilhaçados pelas bombas. E quantas vezes chega primeiro a manifestação convocada para repúdio e anúncio de vingança que as ambulâncias. Para o repórter de televisão, filmar num atentado em Israel, reduz-se a imagens fugazes e entrevistas aos responsáveis pela segurança e com médicos. Fraco, muito pobre, em termos de impacto de imagens. Numa bomba sobre Beirute, é o regabofe histérico de muitas, poderosas e chocantes imagens com sangue, dor e morte, repetidas até à exaustão. Comparando pelo efeito através da imagem, porque as vítimas não se comparam (elas são igualmente deploráveis, uma que seja, árabe ou judia), a modernidade israelita “vende” menos que o caos muçulmano. Mas também disto se fazem as guerras, a valorização das vítimas, a propaganda, as causas para os burgueses refastelados assistirem à guerra em directo. Lá longe, pela televisão, fácil é escolher a “causa boa” e a “causa má” - como contam as imagens, vendo para crer, contam as vítimas enquanto expostas e mediáticas, não as vítimas como vítimas.

-----------------

Adenda: O Manuel Correia deu-se ao trabalho inspirado de dar uma versão reversa deste post. Agradeço e recomendo a leitura. Sobretudo porque demonstra que a imaginação e a ideologia estão bem vivas. E vamos voltar a cruzar-nos em cavaqueira ainda sobre o mesma tema de fundo. "Aquilo" está para durar e, pelo já visto, os dois teimamos em "andar por aí". 

Publicado por João Tunes às 17:52
Link do post | Comentar | Ver comentários (1)

O ANÚNCIO NA POÇA

000ar146

Um criativo, mesmo que publicitário, não passa disso mesmo – um criativo. Ou seja, é pago para pensar, imaginar, se possível com o máximo de loucura inconformista, procurando o flash que leve à mensagem instantânea que realce um produto. Neste mister, o criativo publicitário procura o insólito, o chocante, aquilo que seja capaz de fazer a diferença, a prisão da atenção fugaz no meio da enxurrada de mensagens publicitárias com que o consumidor é diariamente bombardeado. Um criativo publicitário é pago apenas pelo talento na arte de imaginar e inovar. Um criativo pode ter ideias parvas, sem que por isso seja considerado parvo. Mas é um irresponsável, na medida em que ele não decide qual a mensagem escolhida para ser lançada no mercado da publicidade.

 

A responsabilidade pelas mensagens emitidas publicitariamente e concebidas a partir da imaginação dos criativos, umas geniais, outras parvas, a maioria medíocres, é, exclusivamente, dos donos das empresas, das instituições, dos produtos. São estes, apenas estes, os responsáveis pela emissão da mensagem, nomeadamente aferir se ela é eticamente aceitável, se fere ou não o respeito concorrencial e perante o consumidor, sobretudo tem a responsabilidade de não permitir, muito menos pagar, que se fira a dignidade humana.

 

Na Galp Energia, ou a Administração anda a dormir em serviço, e então devem descontar-lhes as sestas nas mordomias, ou o seu sector de marketing corporativo e de comunicação, tem um poder de decisão desbragadamente irresponsável. Há pouco tempo, foi a gaffe do hino publicitário de apoio à Selecção no Mundial, em que uma parte da letra (que falava em “paneleiros”) teve de ser riscada, obrigando a uma segunda versão. Agora, temos a bronca de um infelicíssimo anúncio de mecenato na prevenção rodoviária (em colaboração com o Ministério da Administração Interna!) em que se usa a imagem inadmissível de  um … avião cheio de crianças, como contraponto de horror e de repulsa sentimental. Nem a quantidade de crianças mortas anualmente em acidentes rodoviários enche um Boeing (muito menos um 747) nem faz sentido comparar o meio de transporte mais seguro com o menos seguro. É uma mistura, eticamente condenável, em nome da aparente defesa de maior segurança rodoviária, atacar, como comparação negativa, outro meio de transporte, não esclarecendo mas fazendo mais ruído. Assim, mais um caso de péssima e desprestigiante publicidade.

 

Que necessidade tinha a Galp, depois de irritar a Opus Gay (emendando a mão, depois e com gastos adicionais chorudos), ir meter-se com a TAP e os aviões, de braço dado com um Ministro distraído?

Publicado por João Tunes às 17:07
Link do post | Comentar
Quarta-feira, 2 de Agosto de 2006

EUROPA E ISRAEL

000aqggp

Tal como o João Paulo Sousa, também recomendo a leitura do texto de Timothy Garton Ash traduzido ontem no Público, intitulado «O Médio Oriente enquanto problema da Europa».

 

Para que não andemos por aí, a mostrar mãos limpinhas e armados em juízes de sentenças sobre “sarilhos alheios”. Sarilhos a que não somos tão alheios como, por vezes, se quer fazer crer. E lembrando também que, em tempos idos não há muito, a luta contra a perseguição iníqua a Dreyfus, fazia parte do património do combate da esquerda europeia. Hoje, o antisemitismo já não é património exclusivo da direita, infelizmente. Hoje, outros são os tempos, outras as preferências e as políticas de alianças.

 

 

Adenda: Um comentador deste post “esclarece” que o “caso Dreyfus” “nada tem a ver com semitismo ou anti-semitismo”. As coisas que “aprendemos” com os negacionistas. Mas, todos juntos, não chegam para apagar a História. Inclusive, desmentir os factos, como o fartamente documentado e comprovado de o Capitão Dreyfus ter sido expulso do Exército Francês acusado de “traição ao serviço da conspiração judaica” (faz parte do processo).

Publicado por João Tunes às 18:30
Link do post | Comentar | Ver comentários (1)

j.tunes@sapo.pt


. 4 seguidores

Pesquisar neste blog

Maio 2015

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

Posts recentes

Nas cavernas da arqueolog...

O eterno Rossellini.

Um esforço desamparado

Pelas entranhas pútridas ...

O hino

Sartre & Beauvoir, Beauvo...

Os últimos anos de Sartre...

Muito talento em obra pós...

Feminismo e livros

Viajando pela agonia do c...

Arquivos

Maio 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Junho 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Agosto 2012

Junho 2012

Maio 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

Fevereiro 2004

Links:

blogs SAPO