Com as falhas acumuladas e nunca resolvidas na prevenção e combate aos incêndios, a Natureza arma-se em bombeira e anunciou que vem dar uma ajuda. Escusava era de ameaçar com mangueiradas à bruta.
… para Marques Mendes.
Em 13 de Agosto, Carlos Ortega evadiu-se da Penitenciária “Ramo Verde”, na Venezuela. A sua qualidade de “criminoso perigoso” deve-se ao facto de ser sindicalista e Presidente da CTV – Central dos Trabalhadores da Venezuela. Considerado o principal opositor a Hugo Chavez, estava a cumprir pena de 16 anos de prisão por ter organizado uma greve de protesto contra a política “chavista”. A fuga deu-se durante a visita de Hugo Chavez a Fidel Castro, para lhe dar abraços de parabéns pelo 80º aniversário do “amigo cubano”. Suspeita-se que a segurança venezuelana, ocupada a guardar as costas do peregrino-profeta do anti-imperialismo, se distraiu na guarda ao perigoso sindicalista. Agora, temos a Venezuela em reboliço e na "caça ao homem". Um sindicalista à solta é sempre um perigo para a revolução.
Comparando Gunter Grass com o Rosa Casaco cá do sítio, quais as diferenças?
- Rosa Casaco foi fotógrafo amador, Gunter Grass é escritor profissional.
- Rosa Casaco escrevia pessimamente, Gunter Grass é mestre da escrita.
- Rosa Casaco confessou-se cedo dos seus amores e serviços à Pide e a Salazar, Gunter Grass silenciou até demasiado tarde os seus amores e serviços à SS e a Hitler.
- Gunter Grass foi (é?) ícone moral (e moralista) da esquerda social-democrata e anti-global, Rosa Casaco nunca passou além de carrasco foragido.
- Gunter Grass arrependeu-se e pediu perdão, Rosa Casaco nunca.
Algo mais?
A ganância das multinacionais não tem limites nem ética, muito menos vestígios de sentimentos. Aproveitam-se de tudo, tudo lhes servindo, para o lucro, o sacrossanto lucro, não respeitando nada nem ninguém. Usam e abusam da publicidade, sem olharem a meios e aproveitamentos que lhes dê notoriedade e vendas. Sobretudo vendas, razão de ser deste capitalismo sem pátria a explorar todas as pátrias, incluindo os patriotas. Até os internacionalistas. Normalmente, as grandes marcas, na publicidade sem pudor nem roque, aproxima-se e aproveita-se dos que têm fama e proveito, aumentando-lhes os proventos, para que os consumidores anónimos, revendo-se nos famosos, os imitem, comprando, comprando.
A “Nike” é useira e vezeira a utilizar famosos, os do desporto é claro. Vejam o caso do Ronaldinho, esse inspirador de dentistas e mães carentes porque não tiveram todos os filhos que gostariam de ter tido, a ser usado e abusado numa publicidade sem fim. Agora, até uma fitinha lhe puseram a segurar o cabelo para propagandearem o “cachimbo estilizado” da marca famosa. A “Adidas”, não querendo perder terreno para a “Nike”, optou por outra simbologia e outras sublimações. Muito pior, cruel mesmo. Se, com o Ronaldinho, se exploram sentimentos afectivos de ternura retardada em mistura com apelos a se tratarem dos dentes, aceitável enfim, a “Adidas”, muito mais cruel por estar mais atrasada na luta de concorrência entre marcas, não teve escrúpulos em aproveitar-se de um famoso velho e enfermo. Com se vê pela imagem, vestiram-lhe fato desportivo da marca com o logo bem visível sobre o peito doente, com o paciente, ainda acamado, a mostrar, ego-pateticamente, o jornal oficial como se fosse um seu espelho. Sugerindo, pois claro, que se o jornal é tão seu como o partido que o edita, o logo da marca capitalista não lhe falta no peito. Total falta de escrúpulos e de respeito. Mas talvez tenham pago bem. Eles pagam sempre bem, desde que vendam.
Na sua tréplica a Esther Mucznik, no Público de hoje, Isabel do Carmo diz do Hezbollah: “não é uma organização terrorista”. E esclarece mais: “É um partido organizado, tem deputados eleitos e foi a forma daquela população se organizar”.
Este diploma passado ao Hezbollah tem a chancela da imensa autoridade da sua autoria. Ela, Isabel do Carmo, dirigiu muitos anos o PRP-BR (*), provavelmente “um partido organizado, sem deputados eleitos e que foi a forma da população portuguesa se organizar”. Foi sempre um partido armado, semi-clandestino, basista, inspirador de Otelo e do Copcon, recusando o jogo democrático-burguês e qualquer consenso político, que terminou na deriva das FP-25 (em que, diga-se, Isabel do Carmo e Carlos Antunes já não participaram). Nunca terão sido terroristas, apenas um “partido organizado” (haverá “partidos desorganizados”?). Ai a coerência perante o passado…
(*) – Sigla do “Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias”.
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Adenda: Para conhecimento da versão integral do texto de Isabel do Carmo (não disponível on-line) ler aqui, onde pacientemente foi dado à estampa por um ilustre admirador da médica mediática.
Não existem modelos puros na prática política. Que mais não seja, porque esta não passa da arte do possível. E, para o ser, tem de se adaptar, moldando-se, aos status e às circunstâncias. A maior partes das vezes, não para se impurificar ou degenerar, antes para ganhar a eficácia da adaptação.
Se a formatação do “comunismo soviético” for tomado como um absoluto, em que cópia é tudo e imitação nada, então só tinha havido prática comunista na União Soviética. Seguindo as exigências rigoristas dos exegetas do copismo, Cuba, Coreia do Norte, Vietname, Laos e China de hoje, Roménia, Polónia, RDA e Jugoslávia de ontem, nunca foram regimes comunistas. Porque não são ou não foram cópias exactas, quimicamente puras, do modelo soviético. E, por aquilo que defendeu e propôs, em que sempre pincelou o seu marxismo-leninismo com fortes adaptações nacionalistas, Cunhal, ele mesmo, sumo sacerdote da ortodoxia do estalinismo dos tempos modernos, seria, vá lá, um nacional-conservador-revolucionário de inspiração leninista mas não um verdadeiro e puro comunista. O que, sublinhe-se, seria insultuoso para com o ícone sagrado e eterno do PCP. Pela nossa parte, ele que descanse em paz que não lhe faremos tamanha desfeita.
Puristas da veracidade copista dos modelos da praxis política andam por aí a bramar que fascismo mesmo foi o italiano e mais nenhum. O nazismo terá sido outra coisa, bem pior. As variantes fascistas havidas em Espanha e em Portugal não lhe chegaram aos calcanhares, porque mais imperfeitas, mais brandas (ou mais doces?), mais católicas, mais conservadoras, mais provincianas. Não tendo preenchido todos os parágrafos dos cânones, rituais e excessos do fascismo italiano, terão sido, quando muito, formas de autoritarismo conservador-católico e não mais que isso. Fascismo, fascismo mesmo, isso é que não.
E no entanto, os condimentos (sobretudo as arestas) do modelo fascista, do original italiano, estiveram bem presentes e sofridos no corpo e na alma dos que viveram o fascismo português. Não faltaram as cópias que se pretenderam integrais (a Legião Portuguesa, a Mocidade Portuguesa, a Obra das Mães, a PIDE, o Campo do Tarrafal, a Censura, o Partido Único) que, depois, deram numa ou outra versão pífia tipo "tuga". E a “grande diversidade” do fascismo português face ao modelo copiado teve a ver sobretudo com a adaptação nacionalista ao mundo rural-católico que enformava então a sociedade portuguesa. Mas não lhe faltou sequer a componente expansionista e da conquista de “espaço vital” para a “raça portuguesa” (o império colonial). O que não representou qualquer desvio mas, antes, foi prova de uma talentosa capacidade adaptativa. Como foram os casos da Croácia, da Hungria, da Roménia, de Espanha, da Eslováquia, da França de Petain. Todos fascismos, todos diferentes, todos iguais.
A única curiosidade especial da agudeza actual dos negacionistas da natureza fascista da ditadura que nos consumiu 48 anos, tem a ver, exclusivamente, com este momento especial em que um movimento se opõe a que a memória do fascismo português se apague na História, tentando evitar que desaparecam as suas marcas para que as novas gerações saibam que houve fascismo, e longo, e brutal,
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Morreu, num hospital em Havana, Gustavo Arcos Bergnes, um símbolo da dignidade sofrida e lutadora dos cubanos que se querem livres. Tinha a mesma idade de Fidel Castro.
Não era “gusano”, não serviu a CIA e nunca desertou de Cuba. Combateu Baptista, foi companheiro de Fidel e Raul na tentativa de tomar o Quartel de Moncada, esteve com a Revolução até à sua deriva soviética e ditatorial, tendo sido embaixador de Cuba em vários países europeus. Quando Fidel “alinhou” e traiu os ideais do Movimento Libertador, disse não. Voltou à prisão que já conhecera nos tempos do ditador Baptista. Tornou-se no dissidente mais respeitado e presidia ao Comité Cubano Pelos Direitos Humanos.
O seu corpo gasto a combater duas ditaduras simétricas, ambas sangrentas e opressoras, não aguentou o tempo suficiente para ver concretizado o seu ideal de sempre: Cuba Livre. Porque morreu antes de Fidel. Fica dele a honra da sua memória.
No Verão, sobretudo tão quente quanto este, ler demasiados livros policiais e de espionagem, dá disto. Venha, pois e rapidamente, o Outono e o Inverno.
Não estranhei ver os nomes de José Saramago e de Boaventura de Sousa Santos entre os «400 intelectuais» que assinaram uma declaração pró-ditadura cubana apresentada como denúncia antecipada de ingerências previstas. Confesso até que esperava pior, isto é: mais nomes (e igualmente sonantes)aqui da pátria lusitana.
Era mais que previsível que a actual crise política cubana, que é uma crise de pré-implosão interna devido à incapacidade da ditadura sobreviver à perda natural do ditador, despertasse entre os revolucionários romântico-libertadores, os da acção, os do coração e os do pensamento, uma antecipação da nostalgia pela eminência da queda de uma referência e um mito querido mais uma re-afirmação de fidelidades acumuladas. É coerência (revolucionária) dirão estes. E claro que o é. Mas também um justo pagamento por uma dívida que os revolucionários pró-Fidel, não cubanos, têm para com os últimos 47 anos da história de Cuba – conseguiram neste período de tempo, enquanto os cubanos sofreram a opressão e a penúria, manterem-se revolucionários noutras terras, noutras comodidades e, por vezes, usando variadas e amplas liberdades negadas ao povo cubano, por conta dos juros dos rendimentos da compensação utópica e mitificada das gestas de Che, Fidel, Raul e seus companheiros. E alguns deles, os mais sinceros na fidelidade revolucionária, os menos dispostos a traficarem opções livremente tomadas, terão conseguido manter a coerência e a fidelidade, não se inquietando com as contradições entre a formulação dos seus ideais e a prática política da ditadura cubana, simplesmente porque o alimento ao mito lhes ocupou todo o tempo, em nada sobrando para se questionarem nesta pergunta simples “Gostaria eu de viver na libertação cubana?”. Evitando ainda o previsível pesadelo para alguns entre os alguns, de saberem intimamente que a sua independência e rebeldia, que escolheram porem (mas fora da Ilha) ao serviço do apoio a Fidel, se exercida na ditadura cubana, partilhando as agruras dos cubanos e não se conformando com elas, lhes valeria, pela certa, o caminho da prisão em vez do direito a citação no “Granma”.
Os mitos de Fidel, de Che e da revolução cubana, desumanizados pelo reverso do desprezo pela (má) sorte dos cubanos, serviram a muitos, talvez demasiados, “revolucionários” espalhados pelo mundo a boa consciência compensadora da má consciência por não fazerem revolução em parte alguma. Assim, como podiam faltar as assinaturas de José Saramago e de Boaventura de Sousa Santos nesta hora de angústia revolucionária? Se Fidel Castro, ele próprio, para se prolongar no mando até que a lei da vida o vencesse, assinou, em seu tempo, o termo da abdicação dos ideias formulados na Sierra Maestra e na entrada em Havana pelo alinhamento incondicional com o puro e duro estalinismo soviético e que produziu, em tantos anos, alguns milhares de clones tropicais?
Força! Ganha lá isso. E 200 é só duas vezes 100.
Ó nigeriano, já deves ter aprendido que aqui se é patriota só com os que vencem. Para perder, estamos cá nós, os outros, os que não corremos, os que esperamos que ganhem por nós.
Se ganhares, teremos orgulho em que sejas dos nossos, um genuíno português, nosso compatriota. Um dia que percas, não ganhando, prepara-te para ouvir: “raio do preto que não presta, vá lá para a terra dele ou para as obras que tem bom cabedal para acartar cimento”.
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