Já que não vou onde gostava de estar, só eu sabendo porque não, vou apanhar o trenzinho que o meu querido amigo Victor propõe. Entrado nele, com uma bagagem feita de livros e de sossegos, mais a companhia com a disponibilidade esperada, irei pedir-lhe para prolongar a viagem além da linha, dispensando carris em forma de redil correctamente paralelo. Depois solicitarei, com o devido respeito, que pare no meio das árvores minhas irmãs para abraços longos e com o erotismo do vagar do incesto. E antes que seja tarde e o mini-combóio se lembre de endoidecer com a vista do mar e desate a descer uma falésia do Cabo Espichel para o mirar de baixo para cima.
Vou de temporada curta-média para longe, bem perto de onde (ainda) estou. Dispenso a companhia da Internet para lhe dar folga de descanso que bem merece. Tanto mais que, quando regressar ás lides, já lhe peso no lombo com 3 anos (!) de bloganço a solo. Para a volta, dispenso o trenzinho porque faz bem andar a pé. Passem todos muito bem. Até depois.
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Adenda:
Obrigado aos das palavras amigas aqui deixadas. Cá estou em regresso, com 3 anos feitos de bloganço. Farto “disto” mas com vontade viciada de continuar.
Apetecia-me (já!) que, quando acordasse, voltasse a olhar a baía de Maputo da janela do meu quarto (emprestado) ...
A este, até eu, ateu com todo o gosto, me confessava.
Escreveu Carlos Lopes em "O Mundo em Português" Nº60, Dez, 2005 (transcrito aqui):
“Ao longo dos anos foi-se verificando uma procura de África para negócios e actividades de curto prazo, mas menos interesse no advir, na cultura, no aprofundamento do conhecimento sobre a contemporaneidade. Era como se bastasse o que se sabia para manter uma relação que se foi desenhando como paternalista e, às vezes, interesseira.”
“Hoje a África está presente em Portugal através dos guetos, dos jovens desempregados ou desamparados, e de uma atitude pessimista desenvolvida a partir do desapontamento da evolução política recente do continente. Trata-se também de uma questão geracional. Mas a verdade é que as elites portuguesas perderam a paciência. E pode-se muito bem entender porquê.”
“O 25 de Abril não teria sido possível sem a conjugação da luta anti-fascista e anti-colonial. Antes – e logo depois de 1974 – as inspirações de uma boa parte da intelectualidade portuguesa, e dos movimentos políticos independentistas, tinham as mesmas raízes, os mesmos referenciais e a mesma esperança. À medida que foram surgindo os primeiros golpes, começou a haver uma retracção e um afastamento, logo transformado em fuga, para depois ser mesmo substituído por fustigação e ataque. Pobres africanos: esquecidos tornaram-se bravos – o instante de mostrar sua autonomia – para depois baixarem a cabeça e aceitarem mais um isolamento.”
“O discurso, esse evoluiu. Mudou para lusofonia, como que para não eliminar completamente o manto integrador anterior. Mas esse discurso tem limitações várias que Portugal também foi descobrindo – às vezes de forma áspera.”
“Se alguém me dissesse que em 2005 haveria mais europeus do leste que cabo-verdianos ou angolanos em Portugal, iria achar não só impossível mas mesmo inverosímil. No entanto, a dinâmica do mercado de trabalho, e as forcas centrífugas da União Europeia, acabaram por provocar isso mesmo: mais fluxo entre Kiev e Lisboa do que entre Bissau, Maputo e a capital do Tejo. Nunca poderia ter imaginado semelhante desenvolvimento, e em tão pouco tempo.”
“Para mim o mais espantoso na evolução de Portugal é a batalha demográfica. Ela vai obrigar a redefinir o que é ser português. Por imposições económicas, da segurança social, e de sobrevivência, Portugal vai ter de aceitar que precisa de emigrantes para sobreviver. E ao fazê-lo vai ter, de forma implícita ou explícita, que fazer escolhas de relacionamento. Esse é o verdadeiro teste da lusofonia para Portugal. Mas o problema está apenas equacionado. Amanhã poderá acontecer a Lisboa o que incendiou Paris.”
“O mundo tem vivido uma série de pequenas vinganças do velho Karl Marx, uma delas sendo que a primazia da economia sobre o resto acabou sendo imposta... pela globalização capitalista. Mas em outras frentes os marxistas enganaram-se, todos nos enganámos.”
“O Estado nação, definido como uma instituição de conformação unitária de língua, passado histórico, cultura, religião, e outras dominantes, faleceu. Tinha nascido com dificuldades. Muitas vezes a ideia de Nação foi construída a partir do Estado. Na maior parte dos países africanos a modernidade foi associada à construção do Estado nação. Em nome do nacionalismo se lutou pelas independências. Era assim normal que, ao analisar-se a realidade portuguesa se insistisse que se tratava até de um exemplo raro de confirmação de que poderia haver um Estado nação como definido teoricamente nos livros. Portugal continua a ser considerado, por muitos, como uma das mais velhas verdadeiras nações europeias.”
“Pelas suas características, sempre foi difícil para a intelectualidade portuguesa entender o que verdadeiramente se passava na África. O interesse tinha, pois, chances de ser seguido por desapontamento. E assim ficou um pouco suave de mais a ideia de que a proximidade cultural criada pela língua era um atractivo para relações especiais com os chamados Palop.”
“Foi-se a solidariedade de princípios, a cumplicidade revolucionária e, agora, também, o namoro lusófono. Com que se fica?”
(continuação)
Com a falência do “internacionalismo proletário” (entretanto substituída a fórmula pela da “solidariedade internacional” ou simplesmente “internacionalismo”), acompanhada da afirmação unipolar do capitalismo imperialista (Estados Unidos), caíram grande parte das referências de suporte de um instrumento de hegemonia e de controlo. A ideia ficou, até pelo poder mágico do ideal generoso, utópico e redentor que lhe alimentara a origem. Mas, sem um centro de liderança, organizador e financiador, como suportar uma estrutura irreversivelmente pervertida para poder suportar uma cadeia de hegemonias hierarquizadas? Para mais, com os “batalhões revolucionários” a recolherem-se aos nacionalismos (negação brutal da ideia internacionalista) ou a desertarem quando não a naufragarem no defensismo desesperado de orfandade histérica perante o mar encapelado do maior recuo na história da revolução, do anti-capitalismo e do comunismo. Entretanto, o inimigo principal - o Império do Mal - não só se agigantou em força e arrogância como estendeu o seu mando unipolar sobre o universo. Para cúmulo, a boçalidade de Bush (o grande "calcanhar de Aquiles" do "domínio americano") deu-lhe um rosto ridículo-repulsivo a assentar muito mal em cima de um pescoço tão forte e musculado(mas óptimo como bombo da festa da propaganda "bota abaixo").
A manutenção do velho “inimigo nº
Um exemplo concreto desta degenerescência espantosa, sem pingo de marxismo, leninismo ou princípios, até ao estádio da “cumplicidade internacional”, encontra-se na actual “política internacional” do PCP de que o actual “Avante” é tribuna semanal (que muito deve atormentar o sono eterno de Cunhal). Além das pouquíssimas “ilhas comunistas” que ainda sobram (Cuba, Coreia do Norte, Vietnam, Laos, China), temos como outras parcerias “revolucionárias” – a Fretilin em Timor (sobretudo depois de ter reintroduzido a votação de braço no ar), a Venezuela do populista-militarista Chavez (a Bolívia de Morales está na fase de "candidatura", enquanto Lula e o seu PT - considerados "traidores" - ficam fora do "arco revolucionário"), os fundamentalistas terroristas do Hezbollah e do Hamas (adeus OLP!), os tallibans do Afeganistão, os paranóicos agressivos que governam o Irão, a monarquia Baas da Síria, os bombistas do Iraque (os sunitas que matam xiitas e os xiitas que matam sunitas), a autocracia feudal da Bielorússia, enfim: tudo o que levante um dedo que seja, em nome do que for, para arranhar, dar um tiro ou meter uma bomba nos Estados Unidos, em Israel ou na Grã-Bretanha (o Trio do Mal). A Bin Laden (e à Al Khaeda), dá-se-lhe o estatuto de "cúmplice não assumido" porque acarreta dificuldades gritantes de susceptibilidade na opinião pública mas os seus "golpes" só vagamente são reprovados sem que se deixe de salientar, absolvendo-o via relativismo, que "pior que eles" é o "terrorismo de estado" praticado pelos Estados Unidos, por Israel e pela Grã Bretanha. Percurso espantoso este o de uma bonita e exaltante utopia – tendo nascido de um sonho idealista, está a finar-se no lodo de uma aliança por um "Apocalipse Now": se o mundo não quer ser "o que devia ser", então que estoire. Entretanto, os "companheiros de jornada" do género suicidário-piromaníaco, continuam a não faltar à chamada.
A ideia da fraternidade internacional entre os trabalhadores nasce na primeira fase da estruturação dos movimentos operários. Formulou-se como resposta à constatação do egoísmo capitalista e da impossibilidade de lhe responder sectorial e nacionalmente. Se o “capitalismo não tem pátria” (fórmula simplificadora por tender a subestimar as contradições infra-capitalistas), como se constatava, como a podia ter as massas trabalhadoras, inferiorizados como estavam em meios de influência e de afirmação dos seus interesses específicos em luta insanável e sem tréguas com os exploradores? A formação da I Internacional (AIT – Associação Internacional de Trabalhadores), ainda no Século XIX, juntando as famílias socialistas e anarquistas, foi a primeira expressão orgânica desta necessidade e da sua percepção pelas elites operárias mais politizadas.
O projecto do internacionalismo proletário - arguto, ambicioso e utópico -, deu um novo impulso ao movimento operário, pela permuta de informações e experiências e pelas vias abertas à entreajuda de classe, mas comportava a lide com contradições insanáveis internas e eternas. Desde logo, a passagem da táctica e da estratégia da luta operária local e nacional para um nível supranacional implicava uma uniformidade ideológica e programática mínima impraticável porque tropeçava nas diferenciações profissionais, nacionais, culturais e níveis de politização (sobretudo no balanceamento entre os imediatos interesses corporativos e as obrigações de solidariedade). Depois, porque o caminho para uma praxis ambiciosa que tinha a elevadíssima pretensão de - com meios escassos e sujeita a uma repressão poderosa, brutal e organizada - unificar e coordenar o combate da “classe operária internacional”, não só implicava um safanão qualitativo na passagem da “consciência sindical” para a “consciência política” (ou, dito segundo os cânones – da consciência da “classe para si” para a consciência da “classe em si”) como introduzia a querela politicamente violenta sobre hegemonias e projectos diversificados no caminho para a idealizada sociedade sem exploração. Não foi necessário esperar muito tempo para que os conflitos mortíferos entre socialistas e anarquistas, suscitados com o surgimento e apuramento do marxismo, levasse á atrofia e à morte da I Internacional. Ainda no Século XIX, Marx arranca com a II Internacional, como meio unificador dos socialistas na via revolucionária rumo ao socialismo, sem lugar para os anarquistas e para os reformistas atávicos estagnados no cooperativismo e no mutualismo. O bolchevismo, no início do Século XX, reduzindo a via revolucionária à prática comunista, criando uma fractura insanável na família marxista, leva a uma nova cisão em que as famílias socialista e social-democrata se detêm com os restos da II Internacional e cria-se, em
Não é, pois, um caso de sucesso a história atribulada, com sucessivos e corrosivos abalos sectários, da tentativa de pôr de pé a fórmula “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”. Mas durou até à sua longa fase terminal, em que o “internacionalismo proletário”, com um espectacular efeito de retórica propagandista, se traduziu numa fórmula estreita de subordinação seguidista perante a hegemonia do “centro da revolução” (URSS / PCUS), género Estado Maior devendo-lhe obediência obrigatória os batalhões, as companhias e os pelotões revolucionários. Nesta última fase, a “Internacional Proletária” (externamente apresentada como não orgânica) criou a sua própria hierarquia para a acção revolucionária mundial, confluente aos interesses geoestratégicos soviéticos, desdobrando-se em três campos (aplicação do princípio orgânico sagrado do "centralismo democrático", em que o PCUS era o vértice da pirâmide - a "vanguarda máxima", com as massas oprimidas em ascenção para a "consciência de classe" e depois para a "consciência política" na base, tendo pelo meio várias camadas de "vanguardas intermédias"): primeiro nível – “campo socialista” (URSS mais “democracias populares”, onde os PC detinham a exclusividade do poder e eram obedientes ao PCUS, com transposição militar no "Pacto de Varsóvia"); segundo nível – a classe operária dos países capitalistas (ou seja, uma forma eufemística de designar os PC’s alinhados com o PCUS e que ainda não tinham conquistado o poder); terceiro e último nível – o “movimento de libertação nacional” (amálgama das movimentações nos “países atrasados” que, sob influência marxista mitigada e com algum grau de controlo e influência soviética, se demarcavam ou combatiam a influência do imperialismo americano). Foi assim até à implosão da União Soviética e da esmagadora maioria das “democracias populares”.
(continua)
O centenário do nascimento de Marcelo Caetano, 32 anos passados sobre a queda da ditadura em que foi ditador e vários anos após o seu desaparecimento, pode ser um bom pretexto de reflexão sobre a vida política e obra desta figura “sui generis” no quadro dos teóricos e autocratas que repartiram as alavancas do poder na longa ditadura fascista à portuguesa.
Marcelo foi um dos cônsules fascistas mais “puros” (na fidelidade à transposição do corporativismo e dos rituais bebidos em Mussolini para o status português) e dos mais criativos na decantação para as elites do compromisso entre oligarquia, ruralidade e desenvolvimento capitalista como forma de dar esperança e futuro à ditadura. Marcelo, homem de inteligência, de cultura e sofisticado, foi um fanático da praxis ditatorial até ao seu último suspiro, incapaz, em absoluto, de transpor a sua forma elaborada de pensar a sociedade e a política num qualquer cenário democrático, o que é típico dos intelectuais que adoram o povo desde que este siga fielmente os seus sinais e as suas chaves (não falta, à esquerda, muitos émulos simétricos, os das “vanguardas”).
A rigidez dos interesses instalados e as cristalizações ideológicas das elites fascistas, demasiadamente acomodadas à mesa farta parasitada e ao arrocho para os protestantes, além da marca fortíssima das particularidades da personalidade narcisista, obsessiva, manhosa, beata e autoritária de Salazar (O Chefe), transformaram Marcelo - provavelmente o mais puro, o mais fiel e o mais criativo dos fascistas portugueses - numa figura em permanentes sobressaltos de sinusóides no serviço à ditadura. Ora serviu na primeira linha do regime (como Chefe da Mocidade Portuguesa, como Ministro das Colónias, como Ministro da Presidência, como Professor e Reitor Universitário, como “delfim” de Salazar), ora abespinhava Salazar e, sobretudo, os ultras trogloditas do regime, assustando-os com os seus impulsos reformadores e evolutivos que nunca foram além do pensar na melhor forma de perpetuar a ditadura (de que o seu slogan “evolução na continuidade” é um autêntico paradigma). Acabou como se sabe, com o poder absoluto condicionado, nesse trágico beco sem saída que sempre seria a sucessão de Salazar que, fossem quais fossem as circunstâncias e os protagonistas, tinha o destino traçado de uma inevitável implosão do regime pela inviabilidade de haver salazarismo sem Salazar. Incapaz, não por falta de capacidade da sua parte, de desatar os nós que amarravam a ditadura ao passado (em que avultava o nó cego colonial), exerceu o seu mandato de Chefe vigiado, solitário e acossado de forma errática, desorientada e patética. Os seus últimos dias de poder foram, com crueldade trágico-cómica, um estertor patético – desesperado pelo impasse da agonia do regime, convoca os generais “reumáticos” para lhe jurarem fidelidade, foge dos capitães revoltados para o abrigo estúpido da GNR no Carmo, procura resistir dando ordens (não cumpridas) à GNR para chacinar a “populaça”, agarra-se a Silva Pais e pede à Legião para combater(!), horroriza-se por ter de parlamentar com um Capitão (Salgueiro Maia), passa a pasta a Spínola (enfim, um General!), sofre a humilhação extrema da saída numa “chaimite” sob as vaias populares, abriga-se (abrigam-no) na Madeira escoltado por um Sargento, exila-se no Brasil, zangado e ressentido com tudo e com todos (os que o serviram, quem ele serviu, os que o combateram). Recusa-se a voltar à Pátria "ingrata", vive os últimos tempos a desejar a morte, acabando por morrer longe.
O drama de Marcelo e a sua terminal incompetência clamorosa, um aparente paradoxo relativamente à alta envergadura intelectual e política do personagem e com uma longa experiência na lide com o poder, demonstram que se Marcelo não salvou o fascismo, mais ninguém o conseguiria fazer. Se o mais dotado (sobredotado até) entre os fascistas não deu solução ao fascismo português, então este não tinha mesmo ponta de cura possível. Aqui fica esta nota final como sinal do respeito possível perante a figura.
No jornal “Avante” de hoje:
(…)
Na pausa frágil da guerra, surge a hora dos contabilistas com costela de urubu. Daqueles que elaboram o saldo entre vencedores e vencidos, puxando brasas às sardinhas de seu gosto. São os prosélitos dos balancetes de ganhos, perdas, culpas, impotências e desforras, deitando para trás das costas os choros, antes pungentes, perante as “suas vítimas”.
No caso recente do fogo no Médio Oriente, infelizmente, o que temos por agora é um adiamento, cansado e empatado, do primado da violência sobre a tolerância, a política, o diálogo e a diplomacia. Onde, mais cedo ou mais tarde, se vai voltar a ouvir cantar mísseis e rockets nas terras martirizadas. E, neste sentido, e para já, nenhum dos lados beligerantes é vencedor ou vencido. Apenas descansam, esperam e recalculam o momento julgado certo para voltar ao canto das armas.
Mas mesmo quando não há vencedores, vencidos sobram em todas as guerras. Também nesta, agora
Para reforço da nossa vergonha, há um outro vencido – nós, europeus. Incapaz de se unir e ter força, a Europa demonstrou, mais uma vez, a sua impotência em se impor na ordem e no direito internacional, com força militar equivalente à ambição política ajustada à sua dimensão como potência económica, desempenhando um papel charneira e moderador. Essencialmente, porque, entre os europeus, continua a prevalecer o que divide sobre o que une. Mostrando que somos mais propensos à burocracia que à eficácia e à autoridade. E esta autofagia euro-céptica leva os europeus à desculpa escapista de, em vez de apostarem numa Europa forte, preferirem o despeito complexado perante uma América demasiado forte e que se gostaria fosse fraca.
Que esperar dos ímpetos calculistas dos presumidos vencedores (e, pelos vistos, todos os aparelhos das partes beligerantes como tal se classificam) se os vencidos - as vítimas da metralha mais os europeus de verbo fácil mas sem vergonha nem honra nem sequer força – nada quiserem aprender? Agora vão-se contar as baixas, reconstruir, ajudar, puxar os cordões á bolsa, enquanto os contendores se rearmam para a desforra. Para, em próxima oportunidade, se voltar a chorar as vítimas, os vencidos do costume.
Nada de interpretações apressadas. O senhor da foto não é um balsero cubano em exibição de opulência “gusana” em Miami nem um membro da neo-nomenklatura de Raul Castro. Trata-se apenas da “foto oficial” do meu caríssimo amigo João Carvalho Fernandes, editada no vetusto e prestigiado “Fumaças”, quando da festa hedonista do seu 45º aniversário.
Grande abraço, caro João. E continuação de muitos e felizes aniversários na companhia de bons posts.
Bem recordado e anotado aqui.
Este post, como tantos outros comentários jocoso-anglófobos, sobre a “aventura” do miúdo que furou o sistema de segurança de um aeroporto londrino, esquece vários aspectos:
- Não há sistemas de segurança 100% perfeitos, em sítio e circunstância alguma, sobretudo perante uma criança de 12 anos.
- Se em vez de as hospedeiras oferecerem sumos e chocolates ao miúdo, um qualquer segurança musculado o tivesse barrado, tínhamos agora um coro indignado a bramar contra os excessos securitários que nem as crianças poupam.
- Há muitas pessoas que nunca andam nem andarão de avião e, assim, é-lhes grátis galhofar com “falhas” em aeroportos e aviões.
- Não se ter em conta a hipótese de, em vez de uma falha na segurança, ter acontecido, antes, um impulso inicial das autoridades do aeroporto londrino de facilitarem que o miúdo em fuga do orfanato inglês pedisse asilo político nas Oficinas de São José ou na Casa do Gaiato, onde estaria bem entregue.
A lei da vida também não perdoa aos ditadores. Este é dos poucos casos em que a morte é (relativamente) justa. Só gostava de saber os assuntos que, no inferno dos tiranos (se é que existe tal condomínio), num futuro próximo, Fidel tratará nas suas conversas com Stroessner. Trocarão memórias e remorsos de fuzilados e prisioneiros?
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Adenda: Sobre a história da ditadura de Stroessner e os seus traços particulares, recomendo a leitura deste excelente post.
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