Um meu vizinho teve esta original e misteriosa ideia – obedecer a Scolari e plantar no seu jardim uma bandeira portuguesa mas ... hasteada numa Forca! Não me chego nem quero conversa com tal vizinho que assim interpreta o patriotismo futebolês. Sei lá o que vai na cabeça do sujeito. Será um fanático do Baía e do Quaresma, com patriotismo condicionado e cobrador? Não sei, não quero saber. Mas dá-me a impressão que o Scolari deve passar de largo à casa ajardinada do meu vizinho na hipótese mortífera de não trazer a Copa do Mundo. Livra!
Para que não se pense que sou um satisfeito, sem afinco nos “finalmentes”, por me contentar com pouco deixando a promessa de fruto na forma de flor, este meu jovem Abrunheiro aqui está para desmentir as más línguas (os jovens abrunhos ainda estão verdes mas vão prestar). E só não mostro os seus outros irmãos e irmãs, as Cerejeiras, a Nogueira, o Damasqueiro, a Figueira, as Nespereiras, a Ameixeira, os Limoeiros, o Castanheiro, a Amendoeira, a Oliveira e outras mais, porque me considero isento de apresentação de novas provas. E porque ainda me iam julgar pelo botânico maníaco que sou. Quanto aos cépticos desconfiados que exagero, recorram, se quiserem, aos tribunais ou uma qualquer alta autoridade com personalidade juridicamente reconhecida. Ora!
Os trabalhos, vai para dois anos, que a frágil Romãzeira me dá! Dou-lhe água e aprumo, faço-lhe carícias como as que tenho guardadas para as crianças, mondo-lhe as ervas ávidas de com ela repartirem a sede, cato-lhe bicharada parasita, dou-lhe nutrientes em biberão, quantos abraços de loucura romântica e sensual já lhe dei para que ela se aguentasse (sobretudo durante a canícula do ano passado), sempre confiando que ela não me ia trair a missão de valer pelos livros que não escrevi nem vou escrever. Cheguei a desacreditar que a Romãzeira apostasse em repartir vida comigo, seu dono e tutor. E eu a pedir-lhe, de uma forma que não digo por vergonha, que me desse a dádiva de uma flor que nunca havia visto – a de uma romã em estado de flor, que eu supunha rubra e carnuda (e como eu gosto de carnudas que sejam rubras, nas suas possíveis encarnações de flores, frutos ou mulheres!).
Valeu!, a minha Romãzeira, tão frágil e tão serena, com as suas folhas finas, minúsculas e sedosas, únicas na diferença, deu-me a dádiva da sua primeira flor e ameaça com mais prole. Já posso olhar para qualquer biblioteca sem lá ver livro meu.
Uma representação “naif” de Cristo por 100 Euros! Viram os meus olhos e registou a minha câmara de amador. É caso de ir para a próxima “manif” do Jerónimo gritar: “O custo de vida aumenta, o povo não aguenta!”.
Não só para esses, mas sobretudo para esses, os saudosistas do Império, alguns deles agora neo-patriotas pelo espectáculo mediático da GNR a voltar a Timor para “assegurar a ordem pública”, incluindo a direcção do PCP que regrediu para antes do seu V Congresso realizado em 1957 (o primeiro em que tratou da "questão colonial" em termos de considerar o direito dos povos coloniais à autodeterminação e à independência), leia-se a memória do avô materno, Victor Vaz Martins, do meu querido amigo e historiador guineense, em vésperas de doutoramento, Leopoldo Amado (*).
Para que, pelo menos, não digam que não sabem nem nunca ouviram falar. Sobretudo para meterem a viola no saco, por decência e vergonha, quando falam dos “crimes da descolonização” ou se referem a países, hoje soberanos e independentes (bem ou mal amanhados, outra questão), como “territórios”.
(*) – Tese de doutoramento já apresentada e a defender em Outubro deste ano, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, orientada pelo Professor Doutor João Medina, sob o tema “Guerra Colonial versus Guerra de Libertação (1963-1974): o caso da Guiné-Bissau”.
Imagem: Amílcar Cabral, o genial líder africano, assassinado às ordens de Portugal em 1973, após outras tentativas falhadas, e que, repetidamente, antes de enveredar pela luta armada pela independência (luta em que venceu o Império quando já não tinha olhos para ver a sua vitória), propôs a Salazar, sempre sem resposta, negociações para uma via faseada que permitisse a progressiva autonomia até à independência. As respostas de Salazar e de Marcello foram sempre do tipo da que foi dada a Victor Vaz Martins, avô de Leopoldo Amado.
Longe vão os tempos do MFA. Mas, “na falta de cão, caça-se com gato”…
Não há revolução que não provoque contra-revolução. Ganhar uma ou outra é que depende de muitas e complexas coisas, causas e factores. Depois da “Revolução de Veludo” nas terras boémias, moravas e eslovacas, com esse efeito terrível para os povos de todo o mundo que foi substituirem o “socialismo real” pela democracia, chegará a hora da “contra-revolução de veludo”, a dos ressentidos mas conscientes e na vanguarda dos operários e camponeses, em aliança com os pequenos e médios empresários. Só que, agora e por enquanto, em vez da milícia, mandam os votos.
Não o supunha contra-revolucionário, mas Jerónimo não para de nos surpreender e não quis faltar na ajuda (talvez, decisiva!) aos seus camaradas checos, os da "Contra-Revolução de Veludo". Quem sabe se, de espanto, o célebre relógio da Praça Velha de Praga não parou para os Apóstolos lhe darem um abraço.
Adenda pós-eleitoral: Afinal o PC da Boémia-Morávia, que Jerónimo foi apoiar, deu um trambolhão eleitoral e fartou-se de perder votos. Será que os checos não gostam de fado, bailaricos, abraços e beijinhos? Seus grandes reaças vendidos aos monopólios eleitoralistas, se não vão com votos lá irão com a contra-revolução!
O meu cachorro, desde ontem, anda com um ladrar diferente e esquisito, irritante mesmo. Assim a modos que um ladrar de oposição. Armado
Nem sempre, ou quase nunca, a política tem os ponteiros combinados com o relógio da história. Umas vezes, o que devia vir antes vem tarde, noutras, o que merecia esperar um pouco dá um trambolhão e cai cama abaixo. É assim. Não há determinismo que valha. Porque há ontens que cantam e amanhãs que preguiçam ou ficam afónicas.
A ditadura na Indonésia caiu passado pouco tempo do “problema Timor”. Talvez, até, as barbaridades indonésias em Timor tenham acelerado a degradação e queda da dinastia Shuarto. Foi assim. Mas o país Timor Leste existe por causa da ditadura na Indonésia. Mais por isso que pela nossa choradeira sentimental. Quando a ditadura indonésia caiu na carnificina, deu-se um entorse na pata sobre Timor e, em dominó (rebentando outras contradições), a ditadura tornou-se insustentável e o mundo foi surpreendido com o regresso da Indonésia à democracia. O paradoxo histórico destes encontros e desencontros é que do colapso da ditadura indonésia resultaram um grande país no reencontro com a democracia (Indonésia) e um país (se calhar) artificial, inviável e exótico (Timor Leste) que “sobrou” da ditadura caída. Estivesse o relógio da política acertado com o relógio da história e, provavelmente, teríamos hoje os timorenses a baterem-se, apenas e em sossego, como os catalães perante Madrid, por um estatuto autonómico condigno no quadro do Estado multi-étnico e multi-cultural da Indonésia. Em democracia, talvez consolidada.
Entretanto, surgiram interesses poderosos que se impuseram e impulsionaram a via aberta pelo sentimentalismo português pró-Timor (o celebérimo e bem chorado “AI TIMOR”) – a gula pelo petróleo timorense, os interesses da Austrália e o Vaticano a querer consolidar uma “fortaleza católica” encravada dentro de um dos estados muçulmanos mais populosos.
Agora, a Indonésia, o antigo opressor genocida, limpa as mãos e limita-se a fechar as suas fronteiras com Timor Leste (“amanhem-se”…). Austrália e Vaticano não desistem dos seus intuitos hegemónicos. Portugal voltou ao sentimentalismo serôdio da saudade colonial. Sem se olhar para os relógios político e histórico. Pois, o nosso problema é a incompetência dos nossos relojoeiros. Que, bem vistas as coisas, somos todos nós, que gostamos mais de chorar e de rezar que pensar e resolver e quando não vamos “lá” com fados e missas, chamamos um pai-protector ou mandamos a GNR.
Belíssimo pretexto para roubar mais uma bela foto ao Jorge Neto. Porque, entre todas as crianças, lembrando Gil (não o filósofo pessimista mas o poeta romântico, o Augusto), são estas, as africanas, que mais merecem o grito: “Mas as crianças, Senhor, / porque lhes dais tanta dor?!... / Porque padecem assim?!...”.
Mas o que me acalenta, nos anima, é que elas não param de sorrir e sorrir bonito. Mais até que outras de barriga farta, as do problema grave da obesidade infantil, com roupa de marca e colégios privadíssimos à neo-liberal.
Que qualquer dia, um dia destes, dissolvidos os nossos crimes por acção ou omissão, o futuro não mais lhes trave o riso, são os votos meus para este dia.
O que espera Freitas para, imitando Scolari, apelar a que os timorenses metam bandeiras portuguesas nas janelas para saudarem a chegada da Selecção da GNR para o jogo amigável com a Selecção militar da Austrália a realizar nas ruas de Dili?
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