Embora atrasados, ficam os meus votos de que estejam a passar um bom fim-de-semana. O atraso explica-se: entalanço numa escaramuça entre amor e doença, passado que foi o anterior fim-de-semana de confraternização entre amor e festa. O que só demonstra que nada se duplica, tal como a história não se repete. Coincidiu ainda com a necessidade de acompanhar a procura porfiada desse bem vital que é a água. Está funda mas já apareceu, depois de um furo de
Passem todos muitos bem.
Saúdo o fair-play cavalheiro do Carlos Gil. Mas não vou por aí. Há vitórias de “secretaria” que se justificam, sobretudo se houve irregularidades que falsificaram a “verdade desportiva”. Não sei se foi o caso. Também é bem pequeno o meu interesse em o apurar. Entre Belém e Barcelos, fico-me pela neutralidade. Para mais, trata-se de dois clubes simpáticos, daqueles que, com a Académica à cabeça, pertencem ao lote das “segundas simpatias” entre os adeptos dos “grandes”. Gozam, pois, da chamada “simpatia transversal”.
O grave, gravíssimo, impossível de singrar, é se confirmarem que a “troca” de descida de divisão entre o Belenenses e o Gil Vicente, se fundamentar na penalização ao último clube por “ter recorrido aos tribunais” para defender as suas razões. Um regulamento deste tipo numa qualquer instituição, para mais com o estatuto de “Utilidade Pública”, é uma facada antidemocrática e anticonstitucional. E se os estatutos e regulamentos da Federação Portuguesa de Futebol são ilegais e ilegítimos (como se pode penalizar o recurso aos tribunais?!), confirmando a tendência futebolística de ser um submundo em que tudo vale, incluindo as poucas vergonhas e a marginalidade nas contas e nas leis, estão, simplesmente não podem ser cumpridos. Como se provará e vingará, estou certo, em tribunal.
Se não é isto, nunca saberei o que é. Dois enamorados, ambos com 81 anos, carregando cumplicidades de sessenta anos de companheirismo mais os tratos desde as filhas até às bisnetas, ele a caminho do hospital para operação, ela dorida dessa ausência súbita:
Mário: Adeus, minha querida.
(diálogo acompanhado do beijo mais sensual que a minha imaginação já tinha desistido de imaginar)
E eu, parvo, ali especado, a ouvi-los com os olhos molhados e a aprender o que é o amor. Lição de hoje, com os meus sogros, meus mestres de vida.
Imagem: Mário e Conceição, sábado passado, no casamento da neta Inês.
Como fumador confesso, reconheço todos os direitos a quem não quer fumar o meu fumo. Gostaria que, pagando-me na mesma moeda, os não fumadores me deixassem em paz com o meu vício desde que não os incomode. Mas, importado da pátria do comércio e do marketing dos cigarros, veio um fundamentalismo histérico (à semelhança dos “anti-touradas”) que, carente de causas, mais atreitos às modas e ao folclore, fazem da investida sanitária antitabágica uma via de cruzada de purificação social e de apuramento da raça.
A “solução espanhola” sempre me pareceu a mais sensata e a mais respeitadora das opções, as dos que fumam e a dos que não querem suportar fumo. Em Espanha, os restaurantes, bares e cafés, optam por dar ao seu estabelecimento a norma de “permitido fumar” ou a de “proibido fumar”. Como tal, o estabelecimento é registado e é obrigatória a afixação bem visível na porta de entrada sobre a opção tomada e qualquer cliente, se quiser entrar, sabe antecipadamente ao que vai.
Pelo lido, a “modalidade espanhola” não foi aceite como inspiradora da legislação portuguesa. Porquê? Ora, pela aversão à livre concorrência. Porque é previsível, como acontece em Espanha, que há muito mais captação de clientela se permitir-se fumar que se houver proibição. Arrasando as opções, recorre-se, pois, ao proibicionismo, nivelando o mercado por via administrativa. Mas temente aos receios dos comerciantes, retirou-se a penalização antes prevista para os donos dos estabelecimentos onde haja fumo de cigarro (os fumos das fritadeiras e das gorduras animais continuam livres, pois serão benéficas à saúde pública!), optando-se pela multa directa ao fumador. Pelo que teremos a “caça ao fumador”, pela multa e pela denúncia. O que lembra, os tempos do salazarismo, os dos “fiscais de isqueiros” que interpelavam e multavam os utilizadores de isqueiro sem licença tirada para o efeito (medida destinada a proteger os interesses das fosforeiras) e que alimentava com uns cobres suplementares uma legião de “pequenos bufos-polícias”, assim ficando gratos ao regime e ao seu Chefe.
Entende-se perfeitamente, aliás há muito que já tinha dado para entender, que Ana Gomes foi candidata (depois eleita) deputada ao Parlamento Europeu mercê do sistema de “quotas” utilizado internamente no PS. Melhor ainda se entende que a senhora deputada não se sinta, por ter chegado ao PE através das “quotas”, «diminuida, menorizada ou tolhida em relação a qualquer colega parlamentar ou partidário, nacional ou estrangeiro».
Mas a senhora deputada só falou dos “seus” problemas, reduzindo uma questão sócio-política ao problema da sua trajectória e da sua carreira. E assim não vale. É individualismo a mais e socialismo a menos. Pense um pouco em nós, cidadãos eleitores, senhora deputada. Acha mesmo que ganhámos alguma coisa em ter no Parlamento Europeu uma senhora política que deseja para este país de povo triste, querendo-o irremediavelmente infeliz, ter Paulo Pedroso como primeiro-ministro (*)?
(*) Os cépticos, os que admitem que esta "barbaridade" da deputada da quota não foi dita, escrita e publicada, por favor vão aqui onde AG escreveu e ameaçou os portugueses, os eleitores (sem quotas), em 9Nov2005: "Tomem nota: Paulo Pedroso vai ser um dia Primeiro Ministro de Portugal."
No dia "666", uma má notícia. Sinceros votos para que a saúde desta senhora, e que Senhora, melhore e depressa. Precisamos de a ouvir, Maria João Pires. Sem os seus sons, andamos por aqui ainda mais pobres. E tanto que já somos, tirando as barrigadas de futebol.
Como se a descida dos votos contra-revolucionários na República Checa não chegasse, lá se foi a oportunidade de juntar o Peru à lista dos povos que «apesar da desfavorável correlação de forças resultante das derrotas do socialismo e da violenta ofensiva com que o capitalismo procura saída para as suas insanáveis contradições, é possível resistir, lutar e vencer. Eles chegam-nos nomeadamente da América Latina com Cuba socialista e a Venezuela bolivariana, e as esperanças que renascem na Bolívia». Para a lista de Albano, Albano Nunes, da Comissão Política do PCP, é claro.
Espera agora pelo México, Albano, eles vão brevemente a votos. Talvez faças mais um risco na tua imaginada “Kalach” de revolucionário. Um internacionalista nunca desanima. E amanhã é outro dia para esperar cantar.
Felizmente, para cada tema, muitas são as sentenças. Nada que tenha que intrigar. Ou, sequer, que seja estranho. Porque não há um formato para o pensamento. Nem para a opinião. Tão simples quanto isso.
O Miguel e outros(as) estão em discordância comigo e com outros(as), sobre a questão das “quotas” e da “paridade” que, por via legislativa, se pretendem proporcionar às senhoras portuguesas. Normalíssimo. Mas, se ele me permite dizer assim, o seu último post sobre o tema tem não só uma alta dose de sofisma como de juízo de intenções sobre o pensamento divergente. Além de que, “trabalhando” o raciocínio da opinião oposta, caricaturando-a e deformando-a, tenta “facilitar” a defesa da “sua dama”. E o uso destes expedientes por parte do Miguel é que me intrigou, tendo-o eu, como tenho e mantenho, na conta de um cavalheiro na arte da discussão e do exercício do contraditório.
Porque a questão, caro Miguel, não é qualquer preconceito de que as senhoras não saberão fazer bom uso das “quotas”. Se, como nos casamentos, for “de sua livre vontade”. Ou sequer se merecem estar em “paridade” ou mesmo em “supremacia”, em toda ou qualquer actividade ou exercício de poder. Essas são ideias já da pré-história do machismo. As questões são outras e bem simples - primeiro, as senhoras devem ser libertas da suspeita de chegarem onde chegam (e, por mérito delas, cada vez chegam e chegarão a muito mais) à pala da asa protectora das “quotas”; segundo, a ascensão por mérito deve ter por base a vontade da ascensão e do uso da ribalta. Porque, quando as senhoras não querem, em paridade de opção com os homens que o desejam, ser militares, polícias, presidentes de câmaras, deputadas ou dirigentes partidárias, isso é, deve ser, um exclusivo problema delas. E quantas são as vezes em que não o querem por compreensíveis razões “higiénicas” e que só ilustram a recusa. Assim como um “voto em branco” tem o mesmo valor de opção que um voto numa lista ou numa personalidade. Impor a “paridade” para ultrapassar problemas de vontade, só pode dar numa “pesca forçada” para “preencher quotas”, em que, forçosamente, o mérito real cede perante o paternalismo da paridade “martelada”. Que, no mínimo, contamina por igual da suspeita de protecção se fulana ou sicrana chega onde chega por mérito ou por “falta de melhor”.
Bem sabemos todos, os “pelas quotas” e os “contra as quotas”, que o busílis da questão está na desigualdade de condições sociais, económicas e culturais, mais a disparidade na repartição das obrigações domésticas e do trato dos filhos, entre os cavalheiros e as damas. E o problema maior, que indisponibiliza grande parte das mulheres para o exercício de cargos partidários, é que, na esmagadora maioria dos casos, as mulherem sofrem (somando o trabalho profissional com o trabalho doméstico e o tratamento dos filhos) de uma "carga de trabalho" muito superior à dos homens. Com uma boa ajuda de quase todas as religiões, onde, por regra, mais se difunde o atavismo serôdio da “inferioridade feminina” ou até do “pecado feminino”. E a luta contra tudo isto, os nós do problema, é que não deviam ter tréguas, nem sequer descanso. Resolver o problema “por cima”, administrativamente, acaba por, afinal, mascarar as causas reais da falta de paridade, a de facto. Congelando a evidência das causas da desigualdade. Se isto é um preconceito, então é por este preconceito que estou contra a menorização das senhoras, conservando-as no tempero avinagrado da sua “promoção” pela condição de pertencerem a uma “espécie protegida”.
Abraço, caro Miguel.
Adenda: A ler, em "contraditório", a tréplica do Miguel. Por mim, as diferenças de pontos de vista estão perfeitamente aclaradas. Ao fim e ao cabo, julgo, trata-se de uma questão de "vias" para chegar ao mesmo fim. E, sendo assim, afinal, a polémica até o foi muito pouco. É mais problema de "trânsito" que de opinião. E é por isso mesmo que não me parece justificar-se a tal Lei.
A elegância oratória do FNV permitiu-lhe dizer, mais coisa, menos coisa, o que aqui já disse, levando com uma chuva de impropérios próprios do latir de rafeiros agarrados a canelas. Confirma-se: nas causas e gostos, o estilo conta e de que maneira. Sem remorso nem inveja, tiro-lhe o chapéu.
Felizmente, os nossos emigrantes na Alemanha não receberam menos bem a nossa Selecção que a forma entusiástica como os nossos timorenses receberam a nossa GNR. Assim, não há problemas para a auto-estima nacional. Porque se prova que gostamos tanto de nós (sobretudo quando estamos fora) como os outros gostam de nós (sobretudo se nos aturam lá fora). Empate, portanto. Ou X, se preferirem.
O risco de perdermos também era pequeno - o Mundial não se disputa na Catalunha.
Ela vai continuar a “morangar”. Assim, os nossos adolescentes continuam bem tele-entregues. Sobretudo para não deixarem de cravar os pais com roupas de "marca", dia sim, dia não.
Como se sabe, muitos Cadetes milicianos (futuros alferes milicianos que alimentavam o grosso dos comandos de homens em combate na guerra colonial) iam para Mafra depois de terem enfrentado o regime nas lutas estudantis e alguns deles estavam ali precocemente, sem os deixarem concluir os seus cursos, por terem sido punidos com a expulsão da Universidade. Daí que quando me calhou enfiarem-me em Mafra, em
A chegada de J.R. a Mafra mudou muito as coisas. Ele foi para Mafra com o curso concluído de engenharia química e tinha sido o líder estudantil no Porto (onde eu o conhecera e com ele acamaradara nas brigas contra os “fachos”, um e outro a estudarmos no Porto por termos sido expulsos de Lisboa). Era, pois, um veterano e organizado militante contra o regime, com grande capacidade de organização e bom conhecedor das regras conspirativas, mais um grande poder carismático aliado a uma profunda modéstia. Com ele, muito mudou
[O J.R. foi, mais tarde, parar ao quartel de Chaves e depois mobilizado para a guerra
Para os que não desertaram, mas estavam contra aquela guerra, a experiência da guerra colonial foi particularmente dolorosa e acarretou sublimações de profundas contradições. Sobre a forma como cada um as fez, cada um saberá de si, havendo escassez de testemunhos para bem entender o fenómeno. O certo é que, em termos globais, o contacto destes jovens oficiais milicianos, nos vários teatros de guerra, com os oficiais do quadro, nomeadamente capitães e majores, eles próprios cansados da guerra, sem lhes vislumbrarem vitórias definitivas no horizonte, nem capacidade do regime de lhes dar soluções políticas, acabou por resultar no MFA e num golpe militar que mudou o País, restaurou a democracia, com o fenómeno espantoso e acelerado de transformar, em pouco tempo, oficiais colonialistas por profissão em oficiais antifascistas por devoção (alguns até em socialistas revolucionários). E a escola para este “contágio” começava em Mafra, naquele convento-casarão-quartel onde, com todas as pressas, se fardavam, para fazer a guerra, muitos milhares de mancebos que vinham frescos da vivência de tentarem respirar liberdade nos anfiteatros universitários.
Imagens (fotos do meu álbum):
Em cima: Aprendendo a praticar a democracia estudantil num tempo de ditadura e entender, nessa contradição, o absurdo do salazarismo e da guerra colonial (1964). A idade era a dos verdes vinte anos.
Em baixo: Aprendendo, em Mafra, a vestir farda e manusear arma para servir a guerra colonial como oficial miliciano (1968) (I). Com vinte e quatro anos, faltavam ainda mais três para despir farda e largar a arma, dois deles (II) na guerra na Guiné para defender o Império fora do tempo da História, autoflagelando a consciência sobre o que fazia ali, naquelas bolanhas no chão "deles". No regresso à vida civil e produtiva, à luta também, já carregava a "velhice" dos vinte e sete anos. Dito de outra forma: os fascistas e os colonialistas (de que são herdeiros os "neo" que negam agora que tenha havido fascismo "puro" em Portugal, preferindo a etiqueta benigna de "autoritarismo conservador", mais os que suspiram de saudade pelo Império e pelo regresso de "um novo Salazar" para remeter o país à Ordem) roubaram a muitos, tantos, demasiados, os melhores anos da alegria da juventude, não permitindo amadurecer em liberdade e na decência.
Para quem já fez - pelo menos - cinquenta anos, ou seja, aqueles que acordaram com consciência adulta ou pré no 25 de Abril de 1974, sabe bem as longas milhas de distância à frente que as mulheres portugueses caminharam na conquista da sua emancipação e afirmação plena. A 100% por mérito delas, imposto pulso a pulso. Para mais, com serenidade e classe, sem estardalho, impondo uma mudança cultural profunda, insofismável e irreversível. Na rua, nos lares, no emprego, na sociedade, na política, na cultura. Mudança que representou um dos aspectos mais marcantes de modernidade ganho pela sociedade portuguesa e, em comparação com o quer que seja, foi a maior “conquista de Abril” e mais ajuda a entender a componente ridícula e troglodita do regime e da cultura longamente tecida pelo “Botas” e pelo seu companheiro Cerejeira.
Pela minha admiração e culto para com a marcha das mulheres portuguesas, sou radicalmente contra as “quotas” e as “paridades” impostas para queimar etapas no caminho que ainda falta fazer (que é muito, ainda!). Porque entendo que, as “quotas” e a “paridade”, são um retrocesso pela via da menorização das mulheres. Fazendo-as recuar à condição de “espécie protegida”, coisa adequada ao lobo da Malcata, aos caranguejos de Melides, aos lagartos do Cabo Espichel, às garças de Alcochete, às aldrabas das portas antigas, às moscas das ETAR, aos mosquitos das praias da Caparica, aos touros do Campo Pequeno (incluindo os que defendem que eles merecem morrer na arena e não no matadouro), mas não, por nunca ser, à espécie humana feminina.
A “lei da paridade” aprovada na AR merecia o caixote do lixo, devido ao seu reaccionarismo travestido. Cavaco teve a arte de condenar a lei com fundamento correctos e depois vetar pelo seu aspecto menor (nas consequências) – as sanções para os prevaricadores. Uma verdadeira sentença de felisteu. Ou, dito em registo rasca, uma punheta jurídico-constitucional. Própria de um provinciano incorrigível a quem a habitação do Palácio fronteiriço à Praça do Império nada acrescenta á sua condição de lupen cultural incapaz de ler a modernidade. A forma servil e manhosa como o Grupo Parlamentar do PS se “encostou” ao veto presidencial (“sim senhor, vamos já dar um retoque nessa coisa das sanções”…), confirma o pior do Centrão que cresce assustadoramente no cinzento do País. Tudo ao serviço da concórdia Cavaco-Sócrates, mais que tudo, mais que o País, a sua cultura, os seus avanços, a sua modernidade.
Foi mesmo. E, em felicidade interior, desconfio que o noivo, o propriamente dito, não me bateu aos pontos. De KO, é que não foi de certeza. [E tanta felicidade rasgada e merecida que se lia nos seus olhos de noivo (pudera! o que faltava é que um homem com sorte não se alegrasse com a sorte da vida!)]. Venha o futuro e mais alegrias. Para a Inês e o Bruno. Para todos vós. Já agora, também para mim, se vossas excelências o permitem.
Nota: Os meus agradecimentos veros a todos aos simpáticos blogo-amigos que quiseram dar manifesto de partilha condescendente com um meu dia muito feliz. Muito obrigado a todos.
Desejo um bom fim-de-semana para vós. Porque o meu está garantido. Hoje mesmo, pelo fim da manhã, vou ser condecorado com a melhor e mais valiosa de todas as medalhas. Daquelas em que olhamos para a comenda e nos achamos merecedores enquanto vivos e activos. Será, tenho a certeza, um dos dias mais felizes e emocionantes da minha vida. Só tenho que gerir a minha comoção. E garanto que vou tentar.
A minha filha “do meio”, a bela, meiga e personalizada Inês, vai casar, largando-me de vinte anos de ternura tecida em braços dados e solidários em tudo, seguindo agora veredas da vida autónoma e com outro a ser partilhada. É católica, escolheu casar pela Igreja. Nada a dizer, nem sequer pensar. O “pior”, mandando ela os direitos da biologia às urtigas, é que me nomeou para a levar em desfile, nossos braços juntos, até ao altar e entregá-la ao noivo e ao padre para, um e outro, cumprirem as suas funções. A minha vaidade de padrasto, condecorado como pai, ladeou a mínima hipótese de hesitação. Aliás, a função não choca com o meu ateísmo anticlerical, a puxar para o “mata-frades”, pois uma figa bem disfarçada tudo resolve na hora de encarar o Cura.
A minha “mais velha”, a Catarina, já zarpou há que tempos e o descendente mais jovem do meu jardim plantado, o meigo e vivo Tomás, já vai com seis anos feitos. O meu “mais novo”, o Pedro, ainda espera que a adolescência lhe termine. Zarpa-me, agora, a minha “do meio”, a Inês. Aquela que tanto lhe custou a aceitar-me como “intruso” em casa comum. Foi até a mulher que, em toda a vida, mais me custou a conquistar-lhe o coração. Mas, depois, um e outro andámos a meter ternura companheira nos carretos do seu crescimento e do meu envelhecimento que deu e ainda sobrou para vergar os acasos aleatórios da biologia. Custou mas conseguimos. Como se comprova. Fui seu pai, ela foi minha filha. De comum acordo.
Uma lágrima de velho babado não vai escapar. Não faz mal. Não é todos os dias que se vive o dia mais feliz da nossa vida. E … grande beijo, querida Inês.
Imagem: Foto de 1989 – eu com a minha prole. Da esquerda para a direita, Catarina, Pedro e Inês.
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