Prosa de Albano Nunes, dirigente do PCP, no último “Avante”:
“Todos os dias nos chegam testemunhos de que, apesar da desfavorável correlação de forças resultante das derrotas do socialismo e da violenta ofensiva com que o capitalismo procura saída para as suas insanáveis contradições, é possível resistir, lutar e vencer. Eles chegam-nos nomeadamente da América Latina com Cuba socialista e a Venezuela bolivariana, e as esperanças que renascem na Bolívia. Eles chegam-nos da Ásia com a extraordinária vitória da insurreição no Nepal e os magníficos avanços dos comunistas na Índia com o triunfo eleitoral nos Estados de Kerala e Bengala Ocidental. Eles chegam-nos do Médio Oriente com a forte resistência à ocupação no Afeganistão, no Iraque e na Palestina, e mesmo do Egipto, o principal país do mundo árabe e, após a derrota do «nasserismo», o grande pilar da estratégia do imperialismo norte-americano na região. Eles chegam-nos também desta Europa onde, contra a ideologia dominante da colaboração de classes, despontam importantes lutas populares.”
”Mas é sobre a evolução de Timor-Leste que se impõe uma anotação. Trata-se de um processo que tem muito de específico e original, como o tem qualquer genuíno processo libertador assente na participação criadora das massas. Mas que por isso mesmo comporta experiências e ensinamentos de valor universal que é oportuno sublinhar no momento em que a Fretilin acaba de realizar com sucesso o seu 2º Congresso, derrotando assim no imediato quantos, no país e no estrangeiro, manobraram e conspiraram para descredibilizar e dividir esta grande força política, desautorizar a sua Direcção, enfraquecer o legítimo governo timorense.”
Nota: Além dos ensinamentos sobre onde anda a revolução, entendido fica ainda o apoio do PCP ao envio da GNR para Timor, agora vista como um instrumento internacionalista ao serviço dos "genuínos processos libertadores".
Terminada a sua “comissão de serviço” nos Verdes, Isabel Castro continua ou não ao serviço do PCP?
Três consequências do colonialismo português (da nossa presença em África, da política de Portugal do Minho a Timor, sobretudo na fase terminal - 1960/1974 - iniciada na perda da Índia):
1 – A consequência simétrica do encaminhamento dos destinos desses povos africanos para os braços de mando do “leninismo africano” ao empurrá-los para a luta armada como meio único de acederam à dignidade e à independência. O mesmo “leninismo africano” que, hoje, reconvertido às delícias capitalistas, se prolonga no (des)mando das elites governantes da maioria das antigas colónias. Esta, a consequência mais perdurável da guerra colonial.
2 – Ter transformado o grosso dos oficiais de carreira, os de média e baixa patente, que gastos de serem oficiais colonialistas ao serviço do regime se transformaram, num ápice, em oficiais antifascistas e, sendo eles o braço armado do Estado Novo, fizeram de coveiros do fascismo e do colonialismo. Através do parricídio édipo-ideológico vulgarmente designado como “revolução dos cravos”.
3 – Prolongar no tempo uma “saudade africana” de diversos matizes, inclusive a complexada, entre os que lá fizeram a guerra ou lá foram colonos mais uns tantos esquecidos, ignorantes ou relapsos, que, ainda hoje, contamina muitos dos olhares portugueses para com povos e países que se soltaram da nossa tutela mas continuam a conservar muitas das nossas “heranças”.
O Miguel, num detalhado post, coloca questões muito interessantes, a partir do facto de o governo timorense ter preterido a Galp relativamente à ENI-Agip num concurso de exploração petrolífera, sobre as regras saudáveis do investimento de Portugal na área CPLP. Não resisto, devido à qualidade do post, a lançar algumas achas para a conversa (achegas, não discordâncias).
Primeiro; ao escolher a ENI, o governo timorense não deixou a Galp (enquanto empresa de propriedade múltipla) totalmente “de fora”. Como a ENI é um importante accionista da Galp, mais milhão menos milhão, pela Galp ou pela ENI, a ENI beneficiaria sempre. Ou seja, em substância, a ENI jogou em Timor através de “dois carrinhos” – ganhou pelo “carrinho” com mala maior. O que nos lembra duas coisas que deviam ser óbvias: essa da Galp ser “portuguesa” pertence a um passado perto do remoto; a ENI não abdica do lucro máximo (como esperar o contrário?) mesmo concorrendo com uma empresa de que é proprietária parcial (e Pina Moura sabia isso, talvez melhor que nós, quando meteu a ENI dentro da Galp).
Segundo; a Galp não concorreu isolada à concessão em Timor. Fê-lo em associação com uma empresa malaia e outra brasileira. Estes interesses também foram “preteridos”. Falar-se de preconceito anti-português na perda da Galp, não faz sentido. A ir-se por aí, então fale-se de preconceito anti-português-malaio-brasileiro. O que é tão medonho em termos de perfídia abrangente que transforma o “preconceito” num absurdo.
Terceiro; se houve concurso, quem concorre ganha ou perde. Preferir num concurso é o quê? Aliás, o concurso foi previamente apreciado por uma comissão, antes de ser decidido pelo governo timorense. O primeiro-ministro timorense explica hoje, no “Público”, que não havia margem para “preferir” pois as propostas estavam muito afastadas. A comissão de avaliação fez o seu relatório fundamentado. Sem o conhecer, falar em “preferências” é julgar precipitadamente e através de um outro preconceito – o anti-timorense.
Quarto; o concurso badalado respeita a UM bloco da exploração do petróleo timorense. Como, também pelo “Público”, o primeiro-ministro timorense chama a atenção, vão haver mais concursos para outros blocos. Haja pois medida das proporções quando se fala da “entrega do petróleo de Timor à ENI” e da “exclusão da Galp”.
Quinto; é uma postura tipicamente “neo-colonial” pretender que os governos de antigas colónias, hoje países soberanos, tenham privilégios de preferência (mesmo com prejuízo nacional) para com os velhos colonizadores, macaqueando concursos se for caso. Tanto como enviar a GNR para os “meter na ordem” (perdão, “ajudar a restabelecer a ordem pública”).
Sexto (sob a forma de veredicto de jurado); o Miguel mostrou que percebe tanto ou mais do “negócio do petróleo” que o “ex-presidente da edilidade portuense” que dirigiu, pela Galp, a negociação/proposta de acesso ao petróleo timorense. Mas cometeu um erro que lhe pode ser fatal em termos dos seus privados recursos financeiros – confessara antes que apagou um mail que podia ser a grande oportunidade de ascender socialmente e largar a condição proletária. E, assim, perdeu uma "chance" magnífica de, pelo menos, passar a ter tempo para almoçar com todos os vagares e em convívio com os amigos.
A Cristina diz ter estado a matutar, sem chegar a conclusões, sobre a recusa de Luandino Vieira em aceitar o Prémio Camões. Mas, minha cara, razões “pessoais e íntimas” de outros podem ser entendidas por mais alguém que pelo próprio? E querer saber de alguém aquilo que essa pessoa não quer revelar não é, só por si, intelectualmente falando, uma tentativa de violação do direito de cada um à sua privacidade (intimidade)?
Certo que neste mundo que temos, um mundo muito assente na exposição e no fogacho da fama e dos prémios, Luandino Vieira não escapa a que a sua recusa seja “interpretada” e, assim, o seu direito ao silêncio será sempre, mais ou menos agredido. Como, por exemplo, aqui se faz, embora como enaltecimento. Suponho que ele terá medido esse risco.
Quando o Prémio Camões foi atribuído a Luandino, escrevi post onde referi uma “maldição” que acompanha o escritor - a “marca política” que lhe está associado. No caso, por ser uma “marca política” que funciona como cortina de fumo à sua obra literária, porque tendendo a que ela seja sobretudo lida “politicamente” ou associando os seus livros ao seu percurso e martírio político (*). E essa “marca política” é especialmente gravosa para o escritor, do ponto de vista literário, quando acresce o desencanto sofrido relativamente ao rumo político tomado pela causa a que ele dedicou o melhor da sua vida cidadã.
Porquê, até por respeito ao recolhimento de Luandino, não nos contentarmos com os seus livros? Antes que por desencanto ou por loucura de eremita, ele decida queimá-los. Mas sosseguemos, a Caminho já anunciou um seu novo livro. Vamos lê-lo?
(*) – O oposto acontece com outros. Aqueles que, de fraca ou mediana qualidade literária, beneficiam largamente de empatia, até culto, pela “associação política”. Por exemplo, quantos leriam Manuel Tiago, quantos filmes se fariam com base nas suas obras, se Manuel Tiago não tivesse sido o pseudónimo decifrado da figura política que o escolheu?
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