É um fartote de fins-de-semana compridos. Mais um. Talvez, assim, o estio nos entranhe mais disfarçadamente o corpo. Num adeus á água, só sobrando o rio e o mar, mais a guardada no ventre da terra, e sermos obrigados a lutar com o sol, sacando-lhe, como desforra, a luz que nos mete o céu no centro da palma da mão. Que, pelo menos, o stress, a merda do stress, depois o hábito do stress, finalmente o gosto pelo stress, abrandem. Entro triste neste fim-de-semana – perdi (perdemos?) uma das figuras mais cultas, mais dignas, mais interessante, da nossa arte, essa enorme, terna e admirável actriz Glicínia Quartin. Uma daquelas mulheres que sempre me ajudou a gostar de ser homem para tanto a apreciar, gostar e admirar. Venha a luz forte e clara, então. E passem todos muito bem. Sem stress.
Era um puto. Tinha 15 anos. E não me parava o espanto na iniciação oferecida na Monumental de Madrid. Era como se fosse a minha alternativa. Ainda por cima, com Dominguín e Ordoñez na ementa das lides. Venceu Ordoñez, como convinha à minha preferência facciosa. Os toiros, lembro-me sobretudo deles, porque eles são sempre o mais importante, eram Miúra. Na altura, estava em idade de me apetecer saltar escadas abaixo impondo-me como “espontâneo”. Irreversível ficou o gosto e o pedir por mais. Sempre.
46 anos passados. Neste ano, o mês passado. Apenas o gosto de pisar a areia da arena de uma praça linda e mítica, do final do século XIX – Puerto de Santa Maria, também terra de Rafael Alberti. Que se ufana, a Praça da cidade andaluz, que quem ali não viu a Fiesta não a sabe. Talvez tenham razão. Não confirmei. Desta vez, fiquei-me pela romagem ao gosto. Mas não perderá pela demora. Não ali, na arena, é claro. Em resguardo e admiração. Não é por nada, foi-se a idade de querer ser “espontâneo”. Essa a marca do tempo. Sem ferir o gosto.
Pires de Lima, o gestor com look de boxeur peludo na bancada do CDS/PP, gabou-se, nas fuças de Sócrates, o primeiro-ministro, que os membros democrata-cristãos da sua bancada parlamentar, eram prolixos a parir filhos. E confirmou que, só de uma assentada, a sua bancada parlamentar tinha dado 3 (três) infantes à luz da posteridade lusitana e para bem da sustentabilidade da segurança social. Disputando como objecto, presumo, a vanguarda proletária à bancada oposta, a liderada por Jerónimo, o metalúrgico, bailarino e fadista, mas líder do proletariado sempre. Pois que se disputa não houve, sobra a hipótese perversa de Pires de Lima estar a aumentar o proletariado para o Jerónimo os educar, depois, em lutas, greves, comícios e “manifes” e a gostarem de democracia à moda de Cuba e da Bielorússia.
Isto foi num debate de ontem na Assembleia da República. Poucas horas antes dos bispos portugueses reunirem e concluírem sobre a delicada matéria teológica do preservativo. Por um triz, pois. Surpreendendo meio mundo, os castos bispos concluíram, após aturados debates, embora não tão mediaticamente transparentes quanto os parlamentares, que, em determinadas e definidas circunstâncias, havia autorização para meter a camisinha no dito antes de o enfiar na dita (ou o dito no dito, em versão para homossexuais).
[esta do dito no dito, é uma extensão, quiçá abusiva, de adaptação liberal e constitucionalista do pronunciamento dos bispos, tendo em conta que estes nada obstem, ou venham a obstar, à transposição das normas bispais para o articulado das normas constitucionais que garantem a plena liberdade de orientação sexual]
Como Pires de Lima falou antes de falar o porta-voz da reunião dos bispos, ficam lancinantes dúvidas:
- O pico da reprodução proletária da bancada parlamentar do CDS/PP foi, afinal, uma mera questão de calendário em que os bispos se atrasaram a reunir e decidir?
- Ou foram os deputados PP, em consonância de impulsos parentais mais gosto pelo truca-truca, a adiantarem-se, guiados pela mãos pagãs e sensuais de Vénus e Afrodite, mais o espicanço das setas de Cupido, com o belzebú da luxúria a entesar o dito e a apetecer-lhe a dita, não contendo, assim, os calores da hora sexual a tempo de escutarem as últimas modernices dos bispos e, poupando em católicas camisinhas (ora permitidas), ofertarem, quiçá inutilmente, mais proletas às lutas do Jerónimo e à sustentabilidade da segurança social?
Marta Beatriz Roque, economista e uma das mais conhecidas opositoras à ditadura castrista, defensora da transição pacífica para a democracia, com vários anos passados nas prisões políticas de Cuba, foi barbaramente agredida na sua casa por um grupo fascistóide organizado nos CDR (Comités de Defesa da Revolução) que não passam de extensões do braço policial que vigia e reprime os movimentos dos cubanos e cubanas para que se perpetue o regime de partido único e a não contestação aos seus líderes, sobretudo o supremo. O modelo de organização, intervenção e mobilização dos CDR são decalcados das “squadras fascisti”, no estilo de Mussolini, em que o porrete, o murro e o insulto são as únicas linguagens aprendidas e manifestadas.
Tudo pelo Comandante. E a Revolução continua. Quanto à democracia e à liberdade, que esperem. Pois como nos ensinou, na semana passada, o Dr. Carvalho da Silva, Secretário-Geral da CGTP: «Reavivamos, hoje, a nossa solidariedade para com a Revolução Socialista Cubana, e por essa razão, aqui estamos, de novo, solidários com o povo de Cuba para lhes dizer que estamos do seu lado na luta pela defesa da soberania, pelo direito a decidir do seu futuro, futuro que querem de liberdade, de paz, de progresso e de justiça social».
Copiado daqui.
“Já sabia que a República Popular da China é o terceiro maior país do mundo e o mais populoso do planeta, com mais de 1300 milhões de habitantes, ocupando uma parte considerável da Ásia oriental. Mas atravessar partes significativas do seu território em deslocações de avião que demoraram sempre mais de duas horas, percorrer ruas modernas de Pequim ou Xangai idênticas a Paris, Londres ou Nova Iorque, no meio de multidões que impressionavam pela simpatia e civismo, com um tráfico imenso de automóveis a que ainda se juntam muitas bicicletas, em corredores próprios nas largas e longas avenidas, sobretudo em Pequim, mergulhar na beleza e deslumbramento da sua cultura ancestral, visitar centros populares de cultura e desporto, dançar com milhares de pessoas na praça central de Chonquing, num fim de tarde e visitar recentes e diversificados projectos privados de turismo rural, nas montanhas, para as diversas possibilidades financeiras das famílias, visualizar o planeamento urbanístico de uma Xangai moderna, utilizando as tecnologias audiovisuais e simuladores do que existe de mais avançado, foi uma experiência que ultrapassou toda a minha imaginação sobre a China e o que ali se passa actualmente.”
”É claro que as expectativas eram muitas também relativamente ao pensamento e à prática política, à evolução dos direitos sociais, dos trabalhadores, dos jovens, das mulheres, das populações rurais, dos milhões de migrantes da China profunda para as zonas urbanas em rápido crescimento. Foram temas de informação e debate nas diversas reuniões realizadas aos diversos níveis, seja do Partido Comunista Chinês, seja das municipalidades, distritos e bairros das três zonas que visitámos, seja com jovens e professores numa universidade em Pequim, com dirigentes sindicais da República Popular da China, com responsáveis de uma fábrica têxtil no interior, com famílias cujas casas visitámos em Chongquing e Xangai, permitiram verificar que há avanços notáveis no crescimento económico, cujas taxas anuais estão a ultrapassar os 9%, que está a melhorar o sistema de cobertura da segurança social, que os trabalhadores têm muito mais direitos do que aqui se diz, incluindo no horário de trabalho de 40 horas semanais, distribuídas por cinco dias da semana, que a pobreza foi substancialmente reduzida, designadamente nas zonas do interior onde prossegue um ritmo impressionante de construção de habitações, infra-estruturas e equipamentos diversos.”
O escroque falou. Pela TVI. Repugnante como se esperava. Mas com direito a falar com a sua voz, a sua memória, o seu remorso e a sua sujidade. E a mostrar as mãos, aquelas mãos ensopadas no torce e retorce. Um escândalo: o escroque falou. Ofendeu muitos serões. Os serões para os famosos ou, pelo menos, doutores. Na hora dos famosos, dos doutores, dos decentes, mesmo que indecentes entre lençóis, o escroque falou. Falou como escroque, dizendo do que fez (uma parte, só uma parte), do que lhe fizeram e do que outros, não escroques e antes senhores, também terão feito (ou talvez não) como se escroques fossem e que não o são se ser famoso é absolvição. No fim, agradeceu aos psiquiatras que o tratam. E só um escroque se trata, os outros tratam-se entre lençóis, quaisquer que sejam as presas, sobretudo quando são pagas para isso mesmo. Maldita TVI. Já não há respeito de classe.
O Império tudo valia. Para lá, em força. Até Adriano, quem diria se só hoje ouvido, bem nisso se esforçou.
Barcos não faltaram para levar carne para canhão. Passados os séculos a mandar galeões para nos trazerem pimenta e escravos, era a hora dos navios guarnecerem matadouros.
Primeiro, as senhoras colonas eram bem felizes na saudação à tropa fresquinha de chegada em desfile, estendendo braços e pétalas a abençoar os dedos na metralha do domínio. No final, não tanto, não tanto, porque a tropa demorava a acabar com o que termo não tinha.
Vigiando terra ocupada, todos os olhos não foram demais. E as armas não se fizeram para enferrujarem de frio. Olho neles, olho neles.
Havia que ir a eles e neles. Porque se o Império tinha sobras, eles, eram eles, os que a mais estavam.
Mas eles chegavam-se e chegavam-nos. E se eles não se fiavam no Império, o Império pensava que sabia como os tratar. A eles.
Entretanto, para animar a malta dos nossos, a Cilinha era incansável.Tirando ela, pouco restava de lúdico. Fora isso, o que sobravam mais eram tripas para assar ao sol africano.
Mas nem todos voltaram. Muitos ficaram. Lá.
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[13 (treze) anos nisto. Até dar tempo para semear e nascerem cravos a pendurarem-se nos canos das espingardas quentes por muito aquecidas ao sol africano. Muitos cravos. Nascidos no caminho de um quartel. Sempre um quartel no caminho, que raio. Agora aqui. O do Carmo. Foram cravos caríssimos. E tanto que por eles se pagou! Sobretudo pelos custos dos encargos devido aos juros de mora por causa da demora.]
O discurso do Presidente Cavaco foi um dos mais interessantes paradoxos da vida política dos últimos tempos. O primeiro PR eleito pela direita, no 25 de Abril, sem cravo na lapela, em plena AR gorda da maioria absoluta do PS, numa tribuna com os governantes socialistas a servirem de rodapé, com uma molhada de cravos a separá-los, contra todas as expectativas, definiu a “inclusão social” como meta primordial, sendo despedido com aplausos do PS para a direita, com a “esquerda de protesto” a ficar paralítica de ciúme. Depois, Sócrates disse que adorou, Manuel Alegre mostrou-se contente porque – mais coisa, menos coisa – aquilo estava no seu programa, a direita fez de contente e a esquerda ciumenta ficou a desmentir mas só por lembrar os tempos em que Cavaco governou (um despropósito passadista, pois).
Que Sócrates e o PS tenham gostado, entendo. Está ali o “seu Presidente” (o Pai desejado do Partido do Centrão). Que no PCP (e no Bloco) tenham ficado furiosos, entendo também. Se lhes beliscam a “exclusão”, caminhando-lhes no programa de propaganda, diminui o nível do ressentimento e lá se vão as “massas populares” para os votos, os protestos, as “manifes” e a Revolução, atrasando-nos relativamente à meta de sermos tão livres e tão iguais como em Cuba, na Coreia do Norte ou na Bielorússia. Mas nunca esperava que esta direita, a da borracheira prolongada do neo-liberalismo - o da “exclusão” como fatalidade resultante do mercado, da competitividade e da modernidade - não se indignasse com esta heresia “abrilista” vinda do “seu” Presidente. E, em vez disso, se mostrasse cordata e concordante, suicidando-se ideologicamente. Desmentindo-se. Negando-se. Ou mostrando que o servilismo lhe está mais na massa do sangue que o projecto. Ou serão, afinal, “domésticos” estes “capitalistas selvagens” que rosnam todos os santos dias?
Uma surpresa, sob a forma de paradoxo, mais os estragos conexos no conformismo da esquerda e da direita ritualistas, valem bem uma comemoração do 25 de Abril. É que, em democracia, também há lugar, de vez em vez, para uma "chaimite". Que mais não seja, carregada de absurdos. E engana-se quem pensa que o absurdo é pai só de asneiras.
Mais um fim-de-semana dos compridos. Com hipótese de “ponte”. Que bom. Este com uma efeméride dentro, a mais alegre, mais rubra e com mais sol dentro de todas as efemérides, a dos cravos plantados entre tantas vis tristezas deste povo arrastado; poeta muito; sublime quando se afina; desenrascado nos apertos; sacana por hábito adquirido; basbaque; de lágrima fácil sobretudo perante os santos, os beatos, os célebres e os mortos, todos os mortos, os de todos os funerais; simplório e cordato; mal dizente e invejoso; romântico quando se esquece de ser fadista, fodilhão ou bêbado; atreito ao salamaleque com doutor, cura, sacristão, oficial de finanças, jogador de futebol, general, notário, jornalista, senhor juiz e todos os senhores e senhoras, meninos e meninas, desde que apareçam na televisão ou em folha de revista (políticos é que nem vê-los). Um povo, nosso povo, que gritou no PREC, quando todos gritavam, pedindo agora rédea curta a Cavaco para meter o país em respeito, ordem e sossego, dado que o Botas não tem meio de voltar a não ser no Museu que há-de ter. Povo nosso, feito para passar todas as passas dos algarves desde que possa desopilar na infâmia de esquina entre vizinhos e vizinhas cúmplices, sovina no uso, usufruto e fruto da liberdade, relapso a subir a fasquia do projecto e da ambição, temente ao Estado, órfão do Vasco e do Álvaro, hesitando sempre nesse dilema que ameaça corroer-lhe a alma de decidir, de uma vez por todas, se Otelo, afinal, pesando bem os prós e os contras, resumo feito, foi herói ou assassino, pois sempre terá como certo que as duas coisas ninguém o poderá ser, como ensinam as telenovelas.
O grosso, o grosso deste povo, saiu direitinho de dentro das fardas frescas de fazer a guerra colonial, mandado por oficiais colonialistas, para beijar os mesmos oficiais, como oficiais antifascistas. E foi fácil, tão fácil, trocar balas por cravos. Sorte nossa o fascismo estar podre, tão podre que transformou capitães e majores de tiro aos pretos em capitães e majores da luz da democracia. Descontando, é claro, em tanta sorte, o acumular da vilania deste povo que permitiu que o fascismo aqui vivesse e medrasse, medrasse, medrasse, até apodrecer. Como agora se espera e disso se faz prognóstico que a democracia vai pelo mesmo caminho, apodrecendo também, mais parecendo que se quer rebobinar a história e só usarmos a liberdade se ela se fôr e nos voltar a apetecer.
Temos, nesta folga alargada, celebração de 32 anos da cambalhota de um povo que o tirou do negrume e o cegou, sem o convencer, com a luz da liberdade e sem nunca perceber, nem agora, que ela é, apenas, da natureza dos olhos e impulso do respirar. Não devendo ser dádiva nem perdão pela demora. Muito menos bem para se gastar e esgotar no desabafo. Lembremos o 25 de Abril. E passem bem. Muito bem, se a minha vontade mandar.
Se o Nuno Guerreiro e o Lutz me permitem a nota companheira-humorística, o caricato (e não há iniciativa nobre e oportuna que não tenha tal faceta) do velório de ontem no Rossio, recordando as vítimas dos massacres de 1506, foi que os judeus que compareceram, por mor da época religiosa que atravessam, estavam inibidos de acender velas.
Salvou-se e foi muito, o impacto cultural de impor a merecida notoriedade da efeméride. Um sucesso, portanto. Assim, parabéns aos dois promotores (um, o estratega; o outro, o induzido tornado indutor).
Começo por certificar que o que vou escrever não belisca a enorme admiração, roçando a veneração, que nutro por um dos blogues que mais estimo, não dispenso e mais me ensina – o “Blog da Sabedoria”.
Mas o JG colocou um post que é um exemplo da mais rasteira blogo-manipulação. E tão bem ou tão mal manipulou que congregou os comentários que eram os previsíveis, os da turba “anti-touros”. Se falasse contra os cigarros, teria ecos de idênticas fúrias. Da mesma ou parecida “cruzada”.
Pela minha parte, pela estima e admiração que nutro pelo JG, não me sentiria bem se não lhe dissesse o que acho ter para lhe dizer. E que se segue.
Gosto de “toros” (à espanhola, pois considero a corrida à portuguesa uma deriva lusitano-tauromática do coito interrompido). Mas não tenho um único argumento a contrapor aos que não gostam. Menos ainda contra os que sentem repugnância pelas touradas. Respeito-lhes todas as razões e emoções. Apenas direi que, enquanto em Espanha houver “fiesta”, a elas irei sempre que me aprouver e tal o conseguir. Bastando-me, também, as companhias no gosto de Picasso, Hemingway, Rafael Alberti, Garcia Lorca, Orson Welles e outros muitos bárbaros. Os “anti-touradas” que continuem nas suas, batendo-se, como parecem bater-se, pela extinção da espécie dos toiros (os bravos). Pois que, sem touradas, não há qualquer hipótese de continuarem a haver toiros bravos.
Mas a pretensa crueldade induzida do post-imagem que o JG colocou e legendou é uma mentira múltipla. Por isso, condizente com a demagogia na causa de combate às touradas. Primeiro, não há “matador” que dê o “golpe de misericórdia” no touro para lhe abreviar a agonia. Isso é sempre função de auxiliar. Segundo, o acto retratado é um requiem (uma mera necessidade de abreviação de morte que se usa quando a estocada não foi fulminante e como confirmação de que não há prolongamento inútil de sofrimento do toiro). Terceiro, apresentar o abreviar da agonia como «viva a festa “brava”», é um postar da maior cegueira ignorante, própria de alguém que não gosta, nunca viu uma tourada, nada sabe sobre touradas, apenas e sempre é contra. Afinal, um mero prosélito. O que cabe, como direito, a um qualquer. Mas sem necessidade de mentir, como foi o caso, este caso.
Decerto, caríssima Ana. De coxos não passamos, nesta vida em vale de risos e lágrimas, saltitando de muleta em muleta, até à cadeira de rodas final. Aparando, para tanto, as pedradas que vamos apanhando. Pagando-as, pois então, com risos escancarados de rebeldia e de prazer sem peias, até ao nervo e ao tutano do osso, sem disso procurarmos perder pitada mesmo que ela seja ou pareça venal ou transitória, desde que com bom estar mais bom gosto, de coluna direita isso sempre. Assumindo que, aqui como em tudo, a estética é o único dogma admitido. Não abrindo mão, por princípio ou lei, que cada cidadão meu irmão – preferindo, por orientação que me dá gosto, as irmãs - só alinha no que e porque se sente livre.
Por assim pensar é que entendo, por exemplo, que no foder só se perdem as que caem no chão. E, se possível mas quando as circunstâncias e a força dos rins o permitirem, defendo que deve foder-se de pé para que a cerviz se não dobre no prazer dos prazeres, o maior. Não entendendo, por isto mesmo, não só porque está tão difundido o gosto de foder na horizontal (o tal de "ir para a cama") mas, ainda menos, como é que a Igreja concebeu, no domínio da arte de requinte de conversas eróticas (antecipação da “porno - hot line”), o “Confessionário”, na função de mobília de apoio, em que o(a) lascivo(a) confesso(a) se ajoelha e o Cura punheteiro se senta, separados por uma cortina para que a beata punheta se não veja.
Voltando á ortopedia das crenças, coxos seremos todos. De acordo. Mas, como coxo me confessando, direi que o coxo, por mais que o seja, não tem necessidade da preguiça. Nem que caminhe a pé coxinho. E a religião não passa, no meu ver, de um remedeio preguiçoso no acesso ao direito à paz. Uma espécie de atalho em autoestrada dirigida ao sossego. E, se assim for, então não passa de luxo de novos ricos a lidarem com as agruras do mundo. Assim penso, no uso do meu direito a blasfemar. Com a mesma civilidade democrática com que admito e sobretudo respeito o direito a rezar, comungar e mais que se siga nos usos e costumes dos eclésios preceitos.
Repare, cara Ana, que, desta vez, não falei (ainda) sobre como a Igreja protege, sempre, os poderosos. E para isso parece ter sido concebida e continua a ser praticante e serva exímia. Mesmo (sobretudo?) quando fala dos desvalidos ou sobre eles homilia.
Mas como não gosto de dar ponto sem nó, fica a imagem deste post atamancado e fruto do mero prazer de conversar por conversar (e há melhor deleite como preito de ventura face ao maná de uma excelente parceria?). Julgando-a, a imagem, uma maravilha ilustrativa sobre o “franco-catolicismo”, essa vergonha tão tamanha que devia fazer corar até um Rei nosso vizinho e metido em trono, com a mesma benção de Cardeais que antes lambuzaram de amens as matanças do cabrão galego. Esse mesmo Rei de herança imposta pelo filha de puta do Franco, o beato mais fascista entre os beatos, finando-se como inspirador não só do Rei das Espanhas como de outro ditador igualmente galego que embora ideologicamente simétrico (Fidel) não desdenha a inspiração nas mãos sujas com o sangue da opressão.
Deixo-lhe, pois, a imagem. Com a proposta de que esqueça o paleio hereje aqui usado como adereço, sabendo-a, cara Ana, que é uma mulher de e pela liberdade, essa mesma virtude que nunca vamos querer coxa.
O Eduardo Pitta não disse, porque não lhe contaram a preceito, mas quem foi citado (repetidamente) por Raul Solnado, como autor da “graça”, foi Baptista Bastos, escritor e jornalista. E, acrescento eu, esteve mal Raul Solnado, para mais dizendo-se amigo do peito de Baptista Bastos. Porque uma “graça” de um amigo, é como uma confidência íntima, ela só deve ser revelada em público, e se o entender, pelo próprio, na sua pessoalíssima gestão da exposição. Tanto mais que pode ter um contexto de absurdo, extravagância ou provocação, com efeito “privado” que, contada em “público”, se pode transformar em “graçola”. Ou faltar-lhe um “conto” ou ter um “ponto” acrescentado (*). No caso, em pleno reino do gosto duvidoso. No mesmo caso, podendo revelar uma eventual basófia de marialvismo de alcova que Raul Solnado quis sacudir, usando-a, mas pregando-a a um seu amigo. E essa gestão, não há amigo que tenha competência delegada. Mesmo que atribuída.
Ou, para um humorista de enorme talento, como é Raul Solnado, as “graças” já são tão banais e redondas como as batatas? Depois da decadência arrastada e exposta de Herman, tudo é possível, é verdade. Mas se não cuidamos do humor como das flores frágeis e raras, onde encalha este povo tão soturno e tão dele desprovido e carente, até talvez mais que de tecnologia, retoma, emprego e dinheiro para gastos?
(*) E no post do Eduardo Pitta, lá aparece um "ponto acrescentado", o do "habitué de meninas", ao "conto" que Raul Solnado debitou e atribuído à lavra de Baptista Bastos.
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