A Internet arrasta muito lixo, demasiado lixo. É um meio propício ao rancor, á filha de putice fácil, rápida e barata. Sobretudo á filha de putice escondida, aquela de vão de formação sem escada, propícia até a ser tangida em tocas de ratos, minguadas de queijo da auto-estima, matando fomes acumuladas de fel, com um cobertor a tapar nome e cara e dar a oportunidade da cobardia insana do anonimato, o anonimato dos filhos de puta, não por nascimento mas por opção ou condição, o anonimato dos pseudo-homens. Que guardam a valentia para a hora do cagalhão. Claro que não é defeito da Internet. Como o abuso, mais as mil mentiras, dos totalitários eleitoralistas não é defeito da democracia, mesmo quando estes fingem que jogam a ida a votos, com abraços, beijinhos, bailaricos com peixeiras e velhotas e falinhas, muitas falinhas, enquanto esperam a hora de mudar o mundo á pazada e sem direito de retorno ao voto, à escolha ou à mudança. Como meio aberto que é, como qualquer sistema aberto, a Internet, como a democracia, arrasta de tudo, também a porcaria. É um preço da sociedade aberta e ligada em “rede”.
Mas a Internet também nos traz o melhor. Além do mediano que é o que, talvez, arraste mais. Porque tem essa capacidade instantânea e eficaz de meter o mundo “em rede”, anular distâncias, sentar tudo em convívio num mesmo sofá, cada qual instalado no repouso do seu sítio. Tornando possível a comunicação, o convívio, a tertúlia, o debate, o abraço, à distância de um golpe de asa. Apesar do lixo, muito lixo, demasiado lixo, que a Internet nos traz.
Pois a Internet já me trouxe até o tapete da porta de entrada, a querer entrar, muito filho de puta com pés e rabos sujos. Dos tais. Mas também me serviu o bem, o prazer, a emoção, a comoção, muitos encontros, alguns deliciosos reencontros. Salvem-se estes para bem re-odorizarem o mau cheiro dos outros, os do lixo. Esses mesmos para quem tenho o gosto bem lúdico de lhes acertar em cheio com um pontapé no olho do rabo e ... escada abaixo, cortando-lhes o pio de morcego.
Permitam que fale do meu último “encontro” que a Internet me trouxe.
Conheci, em convívio de guerra e amizade, na Guiné e
“Sim sou o filho, somos três ao todo (duas raparigas mais velhas), e como deve imaginar eu como sendo o único rapaz, ele não queria deixar créditos por mãos alheias e levava-me para Teixeira Pinto à revelia da minha mãe. Durante tempos tentei compreender porque razão um pai leva um filho de 7 anos para uma zona de combate.... protecção? aprender os ensinamentos e horrores da guerra (presenciei alguns , estava no local errado à hora errada, que nem á minha mãe os contava com medo de não voltar a Teixeira Pinto, enfim aquela cumplicidade de filho, afinal sempre preferia a companhia do meu pai). Sim foi um misto, que verdade seja dita do pouco que privei com Ele e que não sendo o suficiente, me ajudaram a crescer. Tornei-me homem quando fiquei orfão, tentei assumir familiarmente o papel do homem da casa no meio de três simpáticas mulheres, sabendo ao longo da minha vida que jamais estaria à sua altura, fui para o Colégio Militar e em 7 anos li toda a literatura de adultos deixada de herança. Fui Oficial Pára-Comando durante 10 anos e um dia acordei. Fechei um ciclo e tornei-me civil.(…) Hoje sou Piloto de Linha Aérea, tenho 42 anos, casado, vivo 6 meses em Portugal e 6 meses fora.”
Retiro, nesta minha inconfidência, o nome e o apelido e mais algo que ele escreveu de mais pessoal, a fim de que o meu abuso não se torne obsceno, ofendendo demais confiança e pudor. Fica o testemunho, um fio da memória de um homem mais que feito, hoje com 42 anos de idade, filho de um militar brilhante e homem grande (dos maiores e mais inteligentes que conheci), um camarada de honra e de guerra, que vive para o resto da vida a sua experiência, uma experiência capaz de transformar um menino de sete anos num sábio da vida pela via do desgosto, que viveu connosco, os da guerra naquela época, na guerra onde penei e me desenrasquei, voltando, eu apenas gravemente ferido na memória e ele órfão de um combatente caído em combate, barbaramente assassinado, cobardemente assassinado e a espantar na perda maior um filho-menino. E que, afinal, demonstra que ele também, o filho, já quando menino, muito menino, foi também meu camarada na guerra. Merecedor, pela idade e pelo tormento, mais a irmandade na dor e no luto, de o considerar como um camarada a merecer lugar de honra no meu carinho. Aquele carinho que a guerra não conseguiu secar nem transformar num pântano em que os pés se atascam e a alma fica pequena. E que é, julgo que se admita, o melhor que os velhos e retirados guerreiros podem arrastar agarrados aos camuflados de “velhinhos” com que tecemos as nossas vidas que queremos ainda gastar mais uns bons pedaços, ah pois, sem delas querermos sair a perder a honra com que julgamos tê-las merecido.
É isto, o melhor, o que compensa os gastos em paciência com o lixo que nos vem na enxurrada da Internet.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Parece que o holandês meteu o italo-brasileiro ao serviço de uma equipa portuguesa, o de mãos compridas que é bom de mãos mas fraco de pés, se calhar porque os pés ficam-lhe longe das mãos, a treinar intensivamente os pontapés para prevenir novas fífias contra os catalães e evitar sarilhos frente ao camaronês, ao argentino, ao brasileiro e ao luso-brasileiro. Nisto do futebol globalizado, onde quase só as equipas (nem todas, o Mourinho, que é português, treina uma equipa russa registada em Londres) são nacionais, só falta globalizarem as mãos e os pés. Assim, o holandês, usando tecnologia avançada (tipo finlandesa) podia meter na baliza os pés do português e as mãos do italo-brasileiro, poupando nos treinos de pormenor tão necessários a preparar coisas maiores. Lá chegaremos? prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Nem mais, Lutz. Nem menos. Isso, o pingalim. O nosso rico pingalim. E ainda vamos a tempo de aprender a usá-lo?
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Se a Internet é de direita? Mas que dúvida. Há lá coisa mais de direita que a Internet. De direita e ao serviço do imperialismo. Um meio que isola as pessoas, acentua individualidades solitárias, quebra a coesão e o espírito de classe, desarma a vigilância, inibe vontade de lutar e de deitar governos abaixo até que a esquerda mesmo esquerda seja governo. Tanto que não há esquerda mesmo esquerda no poder que se dê bem com a Internet. Lixo do cerco imperialista, a Internet, caro Vital. E se é lixo só pode ser de direita. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Testemunho aqui. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Só espero que depois de Scarlett Johansson ser considerada “a mulher mais sexy do mundo”, Woody Allen sossegue as suas pancadas neuro-sexuais. Também eu tenho um sonho da mesma dimensão de afã resolutivo: conseguir que a homeopata que montou consultório na ervanária da esquina, com uns carnudos lábios e sorriso sensual, tudo para melhor que na Scarlett, seja confirmada como "a mais sexy do meu bairro". Se o conseguir, igualando, em títulos (qual a diferença entre bairro e mundo, tirando o tamanho?), a homeopata do bairro com a saloia da Scarlett, perco a distância da veneração para com Woody Allen, sentindo-o mais meu próximo, até meu igual e parecido, assim a modos que meu condómino, trazendo-o para o mesmo bairro de sonhos e debitando, tu cá tu lá, com ele, as experiências das nossas pancadas sexo-neuróticas. É que me parece, e parece-me desde o primeiro filme que vi do Woody Allen (vi-os todos!), que fomos criados juntos. Portanto, destinados aos mesmos títulos enquanto criadores. Ele, depois de filmar e conjugar tantas e tão sublimes mulheres, a acabar em promotor da saloia da Scarlett. Eu, atido, por o meu mundo de influência ter o tamanho acanhado de um bairro, a pensar promover uma homeopata.
Quando um formado e qualificado blogo-socialista fala assim:
eu fico a matutar se o formado e qualificado Assessor Professor Espada de serviço no Palácio de Belém ao formado e qualificado Presidente Professor Cavaco não vai voltar a ressuscitar o “Voz do Povo” para defesa do formado e qualificado proletariado e devidas lições de juízo aos “mais novos”.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Logo, até estes vão tirar o chapéu ao Glorioso. Até lá, rezem. E rezem bem. Presumindo que Cardeal sabe rezar. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Um amigo especial, um daqueles a quem gosto de tratar e ser tratado por “querido amigo”, mandou-me e-mail logo pela matina: “Fazendo de hoje ontem aqui te envio o desejo de muitas felicidades, na companhia de todos os teus. Parabéns.”
Comovi-me. Porque gostei. E apressei-me a responder: “Obrigado. Ontem foi dia mais que banal. Só foi especial porque iniciei a leitura do belíssimo novo romance de João de Melo (“O Mar de Madrid”). No resto, nem sequer o Benfica jogou. E só faço anos lá para Novembro. Estou sensibilizado por te lembrares de um dia banal deste teu amigo e admirador do teu talento e das tuas qualidades. E tens toda a razão. Também os dias banais devem ser comemorados. Se calhar, especialmente esses.”
Na volta do correio, o meu amigo esclarece que, afinal, baralhou a agenda. Decepção. As pessoas desabituaram-se de comemorar os dias banais. Ou ainda isso não aprenderam. Ora, gamo-lhe a belíssima fotografia lá de cima para ficar quite na vingança da decepção e continuamos amigos, queridos amigos, como dantes.
Não sei se o Zé Mário Branco vai nisso. Isso de entregar as cantigas (*). Ou se prefere legalizá-las. Não sei, sei lá. Imprevisível, pois o Zé Mário é rijo embora já com idade para ser um pacato reformista.
(*) Lembram-se? – A cantiga é uma arma / contra quem / contra quem, camaradas / contra a burguesia.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Isto da legalidade tem muito que se diga. Na maior parte das vezes, é uma questão de papelada, burocracia, tudo isso, de falta de sorte também. Bem vistas as coisas e cumulando: trapalhadas de Estados, papéis, burocratas e sorte. Se o Estado, os papéis e a burocracia andam para o lado da distracção, com a sorte a ajudar, faz-se a vidinha, passa-se despercebido, junta-se o pé de meia, a coisa anda. Se o burocrata arregala o olho, arrebita o Estado e os papéis, apanhando a sorte distraída, vem a tragédia e a revolta. Os portugueses têm fama de confiarem na sorte e detestarem os papéis. Mas artistas, verdadeiros artistas, somos quando nos queixamos. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">Logo pela manhã, fui ao dentista. Normal, toda a gente vai. O dentista é meu amigo. Normal, acontece a outros pois não é por se ser dentista que se deixa de ter amigos. Chamei-lhe “grande cabrão!”. Não por ele ser dentista, menos por ser meu amigo, apenas porque me arrancou um dente. Por pouca coisa se perde o respeito para com um amigo. Até por um que se ri quando o insultamos.
E fartando-me de falar de Praga, quase nada dizendo dela, tudo porque meti cerveja no meio, sendo a sede mais que muita, não referi o que mais devemos a Praga e que teve a ver com o trambolhão que nos livrou do Botas.
Conta-se, não tenho a certeza mas quero acreditar, que quando os tanques soviéticos entraram em Praga para acabarem com as brincadeiras primaveris, o Silva Pais, pressuroso e zeloso (como era zeloso o Silva Pais!), entrou terraço do Forte dentro e onde o Botas estava a apanhar banhos de sol (vestido, é claro, e de chapéu de feltro na cabeça) para lhe dar a nova. E logo ali, no terraço, encontrou o Botas deitado na sua cadeira de lona e segredou-lhe baixinho, para os “gnr” de sentinela não ouvirem: “excelência, o Exército Vermelho entrou em Praga…”. Então, o Botas assarapantado pelo sol, e meio zonzo da sesta, deu um estremeção, assim a modos que um fanico de nervoso miudinho porque imaginou os bolcheviques a invadirem-lhe a cidade dos arcebispos e a profanarem os sítios de onde o Gomes da Costa tinha partido para a missão redentora de abrir os caboucos do Estado Novo. Susto inopinado o do Botas, o suficiente para o trambolhão e bater com a mona no lajedo ali frente à barra onde o Tejo encontra o mar. Quanto ao resto já se sabe, reza a história. Sobre Praga e sobre o Botas. Sobre Braga também.
class=MsoNormal style="MARGIN: 0cm 0cm 0pt">A da estilista Fátima Lopes que assim quer vestir as portuguesas (desfile no Porto, no último sábado). Sempre é melhor, por causa dos torcicolos, olhar de frente que espreitar pendurado por cima do ombro. prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
O longo e doloroso processo independentista africano, que golpeou o império português na boca do estômago, apanhou a diplomacia americana completamente à nora. E assim foi até há pouco. Em África, os americanos andaram sempre aos papéis. E só não foram ridículos porque, de nabice em nabice, foram enfiando dólares, corrompendo, armando, a mor das vezes apostando nos cavalos errados e nos equívocos paridos pelo maniqueísmo da “guerra fria” e pela aparente facilidade dos "homens de mão". E armas erradas em mãos erradas é tudo menos risível. Só recentemente, com o esfarelar da bipolaridade, por falência de um dos jogadores matulões, os Estados Unidos começaram a acertar o passo com os seus interesses em África, recolhendo e reconvertendo as velhas e gastas lideranças marxistas herdadas do outro lado da barricada, a demonstrarem que, afinal, estas gostam mais de dinheiro que desgostam do capital.
Açores (melhor, a Base das Lajes) travou, no compromisso perante a chantagem de Salazar, e logo ainda na Administração Kennedy, que a América definisse e praticasse uma política coerente e persistente para a libertação das antigas colónias portuguesas-africanas e que lhe desse o passo certo com o tempo. O que empurrou a dinâmica histórica para os braços do outro bloco. Depois, as burrices contumazes de Kissinger, mais obsessivo que inteligente, fizeram o resto. Num caso e noutro, nunca aprendendo com os erros, antes entretendo-se a somá-los, a Administração dos EUA fez, com o colonialismo português, exercícios de estilo de estupidez política. E tanto que até foram apanhados de surpresa quando o fascismo caiu de podre
O estremeção anticolonial e a descolonização, com uma mortífera guerra colonial em três frentes e durante treze anos, mais a destruição dos jovens países africanos, não podem ser entendidas se não se entender o “papel americano” naqueles processos. Por presença mas sobretudo por ausência. Até porque muitos dos brutais e consecutivos “erros americanos” estão agarrados á pele da tragédia – na forma da teimosia colonial portuguesa e nas peripécias trágicas do desarmar a tenda do império (em que soviéticos ficaram com as cartas para jogar e aos americanos só restou o antijogo sujo). Imprescindível, assim, a leitura do recente livro de Witney W. Schneidman (*), um excelente conhecedor da diplomacia americana e que trabalhou sobre documentação entretanto desclassificada e que ajuda, com clareza brutal, a entender e pasmar com a burrice diplomática americana e, pela qual, África e Portugal pagaram um preço tão alto e ainda longe de saldar. Os Estados Unidos não tanto - demoraram a entender-se com África e os africanos mas já recuperaram o tempo perdido, pois os dólares fazem, vezes sem conta, o que a inteligência nem sempre consegue.
(*) – “Confronto em África – Washington e a Queda do Império Colonial Português”, Witney W. Schneidman, Editora Tribuna (com prefácios de Frank Carlucci e Leonardo Mathias).
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