Segunda-feira, 31 de Outubro de 2005

Suponho que, até aqui, a surpresa maior da pré-campanha é o Manuel Alegre, que muitos já julgavam (mal) arrumado, surgir com o destaque que se vê.
Enquanto as candidaturas do PCP e do BE cumprem objectivos de «médio alcance» - legítimos, úteis mas limitados Manuel Alegre perfila-se como aspirante à 2ª volta. É uma chatice...
É altura, talvez, de perceber que os partidos políticos, sem embargo do papel fundador que tiveram no regime democrático e que claramente mantêm, não esgotam a actividade política.
É curioso que o caudal dos que não se revêem nas outras candidaturas tenha engrossado, de repente.
Parece-me ser mais um sinal do desencanto com a lógica fechada e castradora dos aparelhos partidários, do que, propriamente, uma rendição incondicional aos encantos carismáticos de Manuel Alegre.
(Aqui)

Não me olhes que me atormentas. E logo aqui, com olhos alheios à espera do que dá. Recata-te, se fazes favor. Eu também.

Disseram-me que hoje é Dia Mundial da Poupança. Gostava de comemorar. Mas como se poupa naquilo que nos falta?

Se o bispo dorme e o tropa se aguenta, deve-se puxar para o lado da sotaina plácida ou da rigidez castrense? Antes imitar o bispo, pois senão. É da sabedoria dos tempos: antes com um bispo a dormir que com mil generais acordados.

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Desta vez, acho que muito bem. Quando falou
assim:
Somem-se os nomes das Comissões de Honra de Soares e Cavaco, e dá mais de mil nomes, que são um retrato de quem manda em Portugal. Do establishment. Do "quem é quem". Somem-se mais meia dúzia de nomes, mais os militares no activo, juízes e embaixadores, alguns jornalistas, mais a hierarquia da Igreja, e está toda a nossa elite. Quem manda.Porque há qualquer coisa que não bate certo na forma de se bater na política e nos políticos. Só malta bera, como se sabe. Excepto nas campanhas eleitorais. Porque então, quando um político emerge com o perfume da possível vitória, a nata social, a anti-política e anti-políticos, cola-se-lhe que nem uma lapa. Para que o mando continue tranquilo. Nas mãos dos mesmos.
Um círculo fechado, a necessitar, urgentemente, de uma ruptura. Não de regime, mas de cidadania. Isto digo eu, não sei se o dirá Pacheco. Talvez não.
Domingo, 30 de Outubro de 2005

Desta vez, pela clareza, só posso agradecer ao
Evaristo:
Fala-se, discute-se muito, mas hoje o mundo é comandado pela força do capital, que gera crescimento, emprego, estabilidade social e política. (...) No rol dos discursos de cassete (...) ainda nenhum se pronunciou sobre o apoio e a colaboração que o PR pode e deve prestar ao Governo de José Sócrates, com vista a estimular as exportações, a conquistar novos mercados, e a implementar novas indústrias, seja na área das novas tecnologias, seja na indústria pesada.
De um apoiante de Cavaco, está tudo claro sobre o projecto subreptício o futuro PR apoiar e colaborar com Sócrates na dinamização da ... economia ... para dar força ao capital.
Imagem da autoria do Jumento.
![2005_10_28t094538_450x247_us_science_usa[1].jpg](http://agualisa4.blogs.sapo.pt/arquivo/2005_10_28t094538_450x247_us_science_usa[1].jpg)
Face á direita unida à volta de Cavaco, é uma felicidade a pluralidade das opções alternativas de esquerda. E um trunfo que, julgo, vai permitir derrotar, com Manuel Alegre, o Sidónio Contabilista na segunda volta.
Por um lado, uma dupla preciosidade são, desde logo, as candidaturas de Jerónimo e de Louçã. Remetem os seus irredentismos partidários ao lugar próprio e simbólico do protesto e do conservadorismo corporativo. E livram Alegre das companhias festivas dessas comitivas, depurando os sentimentos socialistas, democráticos e cidadãos, das inúteis e contra-producentes derivas leninistas e trotsquistas.
Depois, ver Mário Soares prestar-se a mais uma nobre e esforçada missão de sacrifício democrático - agarrar a ele o pior PS, o aparelhista e leninista, o da fidelidade no lugar da lealdade, arrastá-lo no ridículo da derrota eleitoral, para que se cale durante uns tempos, tornando a atmosfera política mais respirável e dar asas à cidadania. Faltando consolidar a alternativa que derrote a estratégia de Sócrates (sacudir a derrota de Soares para os ombros de Soares, isentar-se e isentar o PS, para se entender com o vitorioso Cavaco, completando o plano de substituir a política pela tecnocracia).
Falta, pois, eleger, combatendo pela sua eleição, um Presidente de Palavra e das Palavras. Manuel Alegre, evidentemente.
Os quatro candidatos pela esquerda não são demais. Cada um tem seu papel. E esta
pluralidade multifuncional tem um potencial de eficácia muito superior ao monolitismo retrógrado e de concentração partidária da direita sabida com a direita ranhosa que sustenta o Professor, a quem se deseja, democraticamente, que volte para as suas boas aulas na Católica. Assim se saiba aproveitar a oportunidade.
![capt.jlm10203162031.mexico_cars_jlm102[1].jpg](http://agualisa4.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.jlm10203162031.mexico_cars_jlm102[1].jpg)
Se há companheiro da blogosfera de quem sempre leio os posts com o maior interesse, de fio a pavio, é o
João Abel Freitas. Nas questões económicas e da Administração Pública, a sua análise serena e entendida faz a diferença se comparada com as máximas ditirâmbicas que tanto abundam (incluindo as minhas, exclamativas em demasia). Ele é, de facto, um especialista esclarecido e esclarecedor. Um homem que tem o mérito raro de dominar a arte de opinar sem perder o fio pedagógico.
Confesso que também lhe guardo estima por respeito à lembrança dos tempos em que nos cruzámos em projectos virados para o mesmo lado. Sobretudo de umas idas eleições autárquicas em que emparceirámos na mesma lista (e campanha) para a Assembleia de Freguesia de Benfica (e em que, curiosamente, Carvalhas, ainda não SG, foi candidato à Presidência da CML). E até tivemos um resultado bem honroso (então, se comparamos com os de depois...). Hoje, muita água mexida, cada um anda às suas, tentando ambos, julgo, não descalçar o pé do chinelo esquerdo.
Agora com as presidenciais, andamos desencontrados. Do que não vem um grãozinho de mal ao mundo. Mas, por exercício de convicção, tento entender as opções diversas. E leio, do
João Abel, esta mais que chocha declaração resignada de apoio a Mário Soares:
Era necessário ter surgido atempadamente um candidato agregador, prestigiado, da confiança de vastos segmentos da esquerda e mobilizador da mesma. Este processo exigia tempo e a esquerda "acordou" tarde e teve de se socorrer do stock usado.
Neste contexto, continuo a não ter dúvidas sobre o melhor candidato à esquerda para uma segunda volta. Já aqui o referi várias vezes: Mário Soares.
Ele que me perdoe, acho esta declaração altamente esclarecedora. Porque é, sobretudo, mais um requiem de resignação fatalista que coisa de convicção. Sem pingo de entusiasmo. Um género de caminho para velório. E mete-me confusão: que raio de fatalismo voluntarista determina o apoio a um candidato da esquerda para, em condições particularmente difíceis, em vez do combate, se ir assim, de baraço ao pescoço, agarrado a Soares e esganando Soares, nos prostarmos aos pés da parceria Sócrates & Cavaco para que a tecnocracia substitua a política?
Ganhar ou perder, só a luta e o voto decidem. É bem verdade. Mas se a Esquerda tem candidato para combater e ganhar (indo á segunda volta e ganhando-a depois) - Manuel Alegre - porque substituir a luta por um desígnio derrotista, péssimo para a esquerda e péssimo para o sacrificado candidato. Como é o caso, está todo o mundo farto de saber, da cartada Soares?
Ou, caro João Abel, estamos a ver filmes diferentes?
Sábado, 29 de Outubro de 2005
![r3474553551[1].jpg](http://agualisa4.blogs.sapo.pt/arquivo/r3474553551[1].jpg)
Um dia, se fecharem o País, eu garanto que fecho o blogue. Claro, ficava aqui plantado, a palrar no deserto, para quê?
Mas, pelo visto, há
quem feche primeiro o blogue para demonstrar que o País está para fechar.
Cada um com seu feitiço. Ou exercício de auto-flagelação. Ou o sentimento insustentável que a providência
O escolheu como Profeta ou como Oz.
Regresso rápido, caríssimo
Miguel. E...
Kátespero! (versão, cá minha, do gasto
abacadabra)

Julgo que não tem qualquer base de sustentação o temor do
Eugénio Costa Almeida, depois de publicitar
este artigo, rematar que se considera
pronto para levar toda a tareia que acham conveniente, assumindo, na íntegra, o que escrevi. E sei que haverão algumas pessoas com vontade louca de me açoitar....
Ó homem, (infelizmente) a Carbonária já não existe. Restam por aí, espalhados, um ou outro republicano e exemplos esparsos de jacobinismo, homens das cavernas também, de arejados há várias amostras, mas democratas, democratas, somos todos. E os que ainda não são, lá chegarão.
Monarquize-se à vontade, caro
Eugénio. Tanto que, em vez do que supunha ter forma de açoite tem, afinal, a figura de prenda de estima, embora com pinta de pechibeque (mas a bolsa não deu para mais), aqui pendurada e que julgo lhe ficará a matar numa cerimónia em que o seu uso se justificar.

Há mau tempo pela Guiné-Bissau. Nino e PAIGC à pêra (nada que se não esperasse). A acompanhar com a ajuda do
Jorge Neto que, entretanto, recuperou a ligação á internet.

Estúpida forma celebrante teve o tonto perigoso que é Presidente do Irão para celebrar os dois anos de um dos mais consensualmente considerados blogues lusos o refinado
Rua da Judiaria.
Não era necessária tanta bravata cavernosa, mesmo com a vaidade arruaceira de quem tem uma bomba atómica novinha em folha metida no turbante. É que, nem mais nem menos, chateado com o sucesso merecido do
Nuno Guerreiro, o Grande Chefe Persa ameaçou, de uma penada, riscar o Estado de Israel do mapa.
Claro que, numa hipótese de escolha, estarei sempre com o
Nuno e sempre contra a psicopatia fundamentalista (seja ela, islâmica, cristã, israelita ou outra).
Depois de ter começado a ler o blogue do
Nuno, confesso que, cada vez que visito uma sinagoga, onde quer que seja, procuro-lhe, no silêncio dos cultos pressentidos, na decoração austera, nos gestos pausados do rabino, entender a sabedoria serena que inspira a persistente revelação da rica cultura judaica e com que ele,
Nuno, tijolo a tijolo, vai deitando abaixo os nossos muros dos preconceitos anti-semitas (herdados e consolidados, pelo menos desde a Inquisição).
Há coisas que o Poder não sabe e nunca vai saber. Que um blogue de cultura sábia tecido com teclas serenas, vale mais que mil turbantes enrolados em urânio enriquecido. Parabéns,
Nuno.
![capt.xfm10310281315.france_melancholy_xfm103[1].jpg](http://agualisa4.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.xfm10310281315.france_melancholy_xfm103[1].jpg)
Recebo, embrulhado em forma de mail, esta mensagem que transpira sinceridade e cumplicidade:
Não tenho o prazer de te conhecer pessoalmente, mas quase que te conheço. Acompanho o agualisa desde que o descobri. Já não me lembro como, mas foi uma boa descoberta.Calejado, ácido sob desculpa de tentar compensar o lado ingénuo, virulento pela busca de uma boa conversa que não seja de treta, saudoso de fraternidades inteiras, farto de fraternidades a meia haste, ficam-me duas sensações ao ler esta mensagem: a possibilidade de, através da internet, abraçar um mundo bom engavetado nos seus esconsos; o incómodo de me expor em demasia, despindo-me em público, mostrando-me.
Vou já falar com o meu psicanalista. Primeiro, vou arranjar um, depois marcar-lhe consulta. Claro que isto não é um projecto, vale apenas como projectinho.

Como Cavaco mudou de gravata, suspendeu-se no partido, procura que se esqueça o que foi e é, este Cavaco de campanha é um género de papagaio a falar pelo dono escondido, enfim um candidato de plástico, em que o nariz não corre o risco de crescer, crescer.
Não é de esperar que se descubra Cavaco atrás do candidato Cavaco. Alguém lhe terá dito que uma boa campanha, mais vitória certa, seria um tabu seguido de um work-shop no Actors Studio, com um estágio pelo meio num Museu de Cera.
Restam-nos, pois, os cavaquistas, para sabermos, pelo menos, porque nos querem impingir Cavaco. Por exemplo, ler assim:
Tendo começado pelo Centro Cultural de Belem, obra emblemático dos tempos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro de Portugal, o agora candidato à PR foi até à
Invicta Cidade para apresentar ao país o seu manifesto de candidatura, justamente no nobre edifício da Alfândega do Porto. Como homenagem ao trabalho e à riqueza criada naquela região nortenha, mas tambem ao espírito empreendedor e ao dinamismo que as suas gentes sempre mostraram. Sabemos agora com o que podemos contar. Com um candidato que vai esforçar-se "para que a seriedade, a honestidade e a transparência imperem na política". Para acabar com a oratória desbragada, a verborreia populista e eliminar, definitivamente, "a má moeda"... Para que os "cidadãos sejam mobilizados para uma participação mais intensa e exigente na vida cívica". Para que "aqueles que servem a causa pública em lugares políticos sejam vistos pelos cidadãos como honestos, competentes e rigorosos".
(...)
Para sair desta crise, os portugueses precisam ser optimistas, ter confiança e trabalhar noutros moldes. É preciso uma mudança. No discurso dos políticos, mas tambem na mentalidade dos portugueses. Para isso conta muito a imagem do novo Presidente da Repúlica: austero, grave, rigoroso. E Cavaco Silva possui estas qualidades, umas vezes severo outras vezes atencioso e humilde, mas sem perder a nobreza inerente à função de professor académico. Claro que as elites urbanas têm dúvidas, não gostam de estranhos, daqueles que não são da sua casta, que subiram na vida a custo de estudo e trabalho. As élites gostam de gente de "boas famílias", com nomes sonantes, ligados à "indústria" ou à alta finança, pois hoje não se pode falar em descendentes da
Casa de Bragança, nos
Lorenas ou nos
Quintanilhas... E Cavaco Silva, é apenas um Silva. Mas fala de cátedra!... Ou não é ele um homem do nosso tempo, um produto do republicanismo?
(pescado aqui)Eu cá por mim, não é por nada, mas acho que o estimado companheiro
Evaristo nos anda a gozar nós outros, seus devotados leitores - e que nem um perdido... Se assim é, viva o humor! Caso contrário, não é Fernando Pessoa quem quer (ou seja, como ele quando amou Sidónio, o Presidente Rei).