Terça-feira, 5 de Abril de 2005
De um próximo Escritor, eu leio-lhe (como sempre, ele fala para si, em voz alta):
Dentro de dias será 'autor', palavras e nome e foto encaixilhadas para a estante. Ele não é feliz.Está bem, andorinha. Teve uma Secretaria de Estado à porta de casa, ambição sua, e deixou-a fugir, com Santarém a ficar como sempre esteve. É apaparicado por esbeltas com almas onde nunca faz frio. Tem uma escritora madura na prole e a quem surripiou talentos. É de um clube que deu 4-1 ao meu, arruinando o guarda-redes da minha preferência. Tem sopa de pedra para escolha de temperos ao virar da esquina. Espetaram uma Auto-Estrada a passar-lhe à porta para que os murcons em viagem para o Algarve não tenham de saber que este País (como qualquer outro) tem uma Capital. Tem sensibilidade pendurada na caneta de forma tal que transforma as cicatrizes no peito em poemas a Mafalala, ao sonho, à esperança e à utopia. Tem dois passaportes porque teve direito a duas mátrias. Ostenta, na garagem, um parque de meter inveja ao Museu do Buçaco e à colecção privada dos filhos de Sadam Hussein. Vai ser exibido em altar de escaparate.
Pois, digo eu, o proclamado Deus (e agora tão badalado, como se fosse do jet-set) dá nozes a quem imita desdentado. E será pecado grave, acrescento. Só pode ser.
Deixe-se disso,
amigo Carlos Gil. Venha a "pomada" para a prova, se faz favor. Deixe o resto com a clientela, não atrapalhando o exercício do palato.
Segunda-feira, 4 de Abril de 2005
Qual a razão, ou as razões, talvez as sem-razões, que levam a que tanta mulher idolatre, ajoelhando-se, perante a instituição mais
misógina e mais
desigual que a cultura do nosso tempo ainda transporta e vinda do bréu dos tempos?
Não, não é que aprecie especialmente
murcons. Mas, como em todos os géneros, há
murcon e
murcon.
Este, é um
bravo - um benfiquista assumido dentro da cidade do Porto. Que não só escreve bem como tem a capacidade de olhar com olhos de ver e de sentir. Chamam-lhe
Professor. Eu prefiro saudar a sua vinda à blogosfera como
estimado consócio.
(Não liguem ao atrás dito. São espiches à glorioso. E presunção e água benta, cada um toma a que quer. Apreciem-no, antes, pela sensibilidade feita palavra. Porque este blogocompanheiro dedilha palavras como se fosse um emérito guitarrista de almas. E viva o Porto! Porto Cidade, é claro.)
Pelo menos,
daqui até
ali.
Domingo, 3 de Abril de 2005
Na Biblioteca Museu República e Resistência, Núcleo Grandela (Estrada de Benfica, Lisboa), de 1 a 8 de Abril (horário: 10h00/18h00).
Ninguém está autorizado a faltar. Nem sequer eu (não é, querida
Guida?).
Mantorras. Pedro Mantorras.
Pois claro que respeito a vida e a morte. Também claro é que respeito o homem que foi Papa. Como respeito o outro homem que o vai ser a seguir. Apesar de tudo.
Respeitar eu respeito, mas estou farto de Papas. Deito Papas pelos cabelos. Enjoei Papas. Eu não queria saber mais de Papas. Mas sei que vou gramar muito mais sobre Papas. Assim, estou chateado com os Papas. Apesar de tudo.
É porque eu não gosto de Papas. Nada tendo contra os homens que são Papas. Mas não aprecio a figura nem a instituição. Para mais, não lhes devo obediência porque estou fora do redil. Mais, até acho um anacronismo continuar a usar-se Papas. Apesar de tudo.
Se não me engano nas contas, vamos ter uma barrigada de Papas (o que se foi mais o que vem) aí para mais um mês. E eu fico na dúvida se vivemos numa sociedade laica ou numa sociedade religiosa de uma certa e única religião. E se não gosto de Papas ainda menos gosto de me saber a viver numa sociedade de Papas. Com Papas a toda a hora. Apesar de tudo.
Raúl Rivero, cubano, jornalista e poeta, um dos presos de Castro mais incómodos para a ditadura cubana, veio viver para Espanha na companhia da sua mulher. Foi recebido por Zapatero a quem agradeceu o muito que fez pela sua libertação.
Espero que Raúl Rivero use a liberdade que lhe foi negada no seu País para agora escrever sem machado a tentar cortar-lhe a raiz às palavras. Digo-o, fiando-me na esperança (ou ilusão) que a auto-censura não tomará o lugar da censura dos esbirros da Ilha-Prisão-Praia. Mas fica-me a dúvida sobre se alguém de um País aprisionado numa ditadura consegue ser verdadeiramente livre a viver numa
liberdade emprestada. Oxalá Raúl Rivero nunca esqueça que não deve só a sua libertação e
direito ao exílio a Zapatero e não queira pagar o que lhe deve com o compromisso do silêncio.
Por mim, com Rivero ou sem Rivero, Rivero a falar ou Rivero calado, fico feliz por Rivero ter agora o acolhimento de Espanha democrática no lugar das masmorras castristas, mas não esqueço, não posso esquecer, as dezenas de jornalistas e outros presos de consciência que continuam a penar devido ao ódio paranóico de Fidel Castro à liberdade.
Adenda: A não perder a leitura
desta transcrição de notícia no Fumaças.
Pensava eu, em laica ignorância, que ser eleitor e ser elegível para Papa eram privilégios de Cardeal. Afinal, só o primeiro dos privilégios é verdadeiro. Pode ser eleito Papa um não Cardeal um bispo, um padre ou até alguém que nem sequer seja sacerdote (nesse caso, seria ordenado no dia da eleição).
Assim sendo, está em aberto a oportunidade de um grande sinal de modernidade da Igreja Católica ao mundo - uma perestroika a pedir meças à da implosão do
socialismo real -: os senhores Cardeais elegerem, para próximo(a) Papa, uma negra lésbica (e católica devota, é claro). Seria um
três em
um - punha-se termo à descriminação da mulher no seio da Igreja Católica, mostrava-se a rejeição pelo racismo e dava-se sinal positivo à liberdade perante a orientação sexual. O mundo ficaria mais arejado e a Igreja ganhava, pelo menos, mais um crente (porque até nem sou de difícil conversão). Problema ou oportunidade?
Sexta-feira, 1 de Abril de 2005
E, antes do mais, poisar...