Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2005
![Fidel[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/Fidel[1].jpg)
A União Europeia decidiu suspender, durante cinco meses, as sanções contra Cuba. No fim deste prazo, a anulação definitiva das sanções depende das medidas entretanto a tomar pelo regime cubano quanto aos direitos humanos e cívicos e, nomeadamente, a libertação das centenas de presos políticos nas masmorras da ilha.
Fidel Castro ficou fulo. Pudera, quem se habituou ao poder absoluto não aceita regras nem direitos diferentes daqueles que considera como muito seus.
Razoável e inteligente esta forma de dar uma oportunidade, mas com um timing para cumprir, ao regime cubano para arrepiar caminho na aniquilação das liberdades. Uma solução de compromisso, mas uma saída inteligente depois das posições excessivamente conciliadores e de fraqueza da política de Zapatero para com Cuba.
Quinta-feira, 3 de Fevereiro de 2005

Fiquei à espera do impacto do
Até amanhã, camaradas na SIC. Fraco retorno. Quase nada comparado com o comprimento do investimento. Um ou outro suspiro de reencontro de celebração, uma ou outra lágrima de dívida. Pouco mais. Fica para saber quantos votos a coisa rende para o Jerónimo. Se é que rende alguma coisa nesse domínio.
O romance, em si e como obra literária, nunca foi coisa por aí além. Está, quando muito, no nível médio da produção do
neo-realismo na sua fase mais descarada do
realismo socialista. Além da autoridade do autor e não contasse com a protecção da editora a sinalizá-la como obra de educação de militância, e seria, julgo, obra para edição curta e esquecida.
O que não retira o interesse (mais político que literário) ao livro e, sobretudo, ao filme. Porque é uma forma de conhecermos a face oposta ao fascismo à portuguesa e a construção de uma heroificação que ainda permanece no imaginário de esquerda, continuando a alimentar fidelidades resistentes. E quando digo conhecer, devia dizer conhecer
em parte, porque o conhecimento atingido, através do livro e do filme, é uma manipulação propagandística de criação de estereótipos do operário e do camponês consciente e inconsciente, do bom militante, do médio e do mau. E a vida real, sabe-se, foi muito mais que isso. Como a própria dureza de lide com os limites, o impunha. Com um preto e um branco tão intensos, os cinzentos não podiam deixar de serem muitos e variados. Quem andou por lá ou lá perto, sabe disso.
Obra editada pelo PCP, para o PCP, serve hoje o PCP? Aqui ficou uma dúvida para que ainda não encontrei resposta. Julgo que a insistência na redução aos tons fortes dos contrastes, não ajudará a isso. Porque torna a realidade de luta, muito distante. Porque o heroísmo extremo de uma convicção não se coloca hoje a um nível tão absoluto nem nada que se pareça. E, nestes sentidos, visto pelas gerações nascidas ou crescidas em democracia, haverá um tendência natural para transformar o contexto num irrealidade, devido ao não reconhecimento da necessidade dessas práticas nem ponte com elas. Mas, por outro lado, o
Até amanhã, camaradas é quase tudo o que o PCP autoriza que se saiba da sua história. Faz parte do minguado espólio da visão zdanovista do seu interior ancestral. Sabendo, como se sabe, que o PCP não faculta os seus arquivos, as suas verdades, a não fiéis, a académicos e a historiadores. Pior, ou melhor (do ponto de vista da capacidade da direcção cunhalista em conservar as fidelidades), o certo é que os militantes do PCP não conhecem a
história do PCP, um partido com um percurso de 84 anos, apenas sabem dos excertos que o glorificam pelo martírio. E, esta linha ocultista leva a que sobre o PCP, se saiba pelo PCP o que Cunhal escreveu, em discurso e em romance, muito pouco mais. Contra o PCP, o que escreveram e escrevem alguns renegados não amarrados à
lei do silêncio e o Pacheco Pereira na sua biografia de Cunhal. Sempre Cunhal, quase só Cunhal. Nem sequer uma edição dos
Avantes da clandestinidade, um interessado ou um historiador tem acesso, passados que são trinta anos da saída da clandestinidade. Também o militante não tem o privilégio de ler todos os números clandestinos do orgão central do seu Partido (que, em situação normal, seriam motivos de orgulho e de construção de identidade) para que, por exemplo, não fique assarapantado com algumas canalhices (que também as houve, algumas bem graves e repugnantes) ou com os ditirambos da fase de culto à personalidade de Estaline (com alguma clonagem aplicada a Cunhal). Mais, pelo Avante, os militantes poderiam ter a veleidade de se aperceberem que, além de Bento Gonçalves e Cunhal, também houve outros dirigentes destacados e de grande envergadura, como Pavel, Piteira Santos, Fogaça e outros, perguntando-se pelas razões porque foram escorraçados. E, sabe-se, naquele modelo, a dúvida é a antecâmara dos infiéis. Porque a dúvida, no caso, poderia desembocar no entendimento da forma como Cunhal ganhou a luta pelo poder dentro do PCP e porque é que, quando o tomou, preferiu sempre, à sua volta, no seu núcleo de fiéis (praticamente o mesmo que ainda hoje manda no PCP e que tem Jerónimo como "figura de palha"), os dedicados e firmes, mas sem capacidade intelectual de formularem estratégias alternativas, nunca por nunca ofuscundo a luz do seu mando.
Hoje, com Cunhal praticamente incapacitado, até para escrever, resta-nos revisitar os olhares passados de Cunhal. Os seus desenhos, os seus discursos, os seus romances e novelas. Agora, novidade só os filmes feitos sobre os seus livros. Mas, com a velhice inexorável de Cunhal, com o apagamento de Cunhal, também vai desaparecendo a realidade com que ele se fundiu. E
O Partido lá vai andando, nessa orfandade que vai mexendo por inércia, agora entregue, em liderança representada, a uma personagem que, vê-se bem, não cabia em qualquer personagem que se notasse no
Até amanhã, camaradas. Talvez tenha chegado a hora de ribalta para os figurantes menores se chegarem à boca de cena. No caso do seu actual e principal dirigente (nominal), um antigo metalúrgico transformado em autodidacta vendedor de remendos de fé. O que é lamentável - para o PCP e para a esquerda.
Após:Pois foi mesmo um jogo fraquinho. Por culpa do modelo escolhido para a entrevista e dos entrevistados.
De, qualquer maneira, deve dar para o petróleo. Mas é uma infelicidade calhar-nos um Primeiro Ministro tão desastrado na comunicação com os outros. Quem não consegue olhar uma câmara de frente, como o vai fazer com os olhos dos cidadãos? O staff de Sócrates não inclui um (ou uma) massagista para o descontrair nem alguém que lhe ensine olhar olhos nos olhos (um terapeuta ou coisa assim)?
Gostava que fizessem um teste ao Primeiro Ministro de saída (e como castigo de despedida) repetirem-lhe as mesmas perguntas sobre economia e finanças. Ver-se-ia que o homem já não se lembrava dos números ali debitados por via de marranço com a tinta ainda fresca.
![22-ana-humor--tetas[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/22-ana-humor--tetas[1].jpg)
O normal seria que um
líder apelasse através da imagem induzida do
fazer,
construir,
resolver. Porque é isso que esperam os que dependem de quem pode. Ou seja, todos os que não são poder, além do singelo poder do depósito de um voto.
Agora apelar ao voto de piedade para com a vítima, lembra a quem?
Passa a mensagem de transformar a responsabilidade do nosso estar e do nosso destino em compensação de um carente, homem que procura colo, um infeliz que precisa de ser primeiro-ministro senão atira-se da ponte abaixo e vai desta para melhor?
Apelos erotizados a maternidades disponíveis? Estaremos mesmo no terreno da política ou apenas a tratar um caso de
materfilia?
![22-ana-art-sculptor[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/22-ana-art-sculptor[1].jpg)
Uma parte da campanha está a ficar inquinada com vilanias tais que, julgo, é a transposição da incapacidade governativa para a incapacidade política. A incompetência dos medíocres não tem baias. O
PSL degradou o conceito de
causa pública e traz o lixo para o debate político. A isto chama-se nivelar por baixo até que o País, parafraseando o bom do Chico,
se transforme num imenso Pantanal. E a lama já é tanta que se atira lama e depois mostra-se a mão limpa à pressa no lavatório para tentar contabilizar efeito de donzela ofendida.
Infelizmente,
mea culpa em nome da minha molécula que entra nesta larga esquerda, o mote foi dado pela esquerda baixa. Louçã, o homem das frases definitivas como anátemas, o redentor dos desiludidos em trânsito, foi o que primeiro usou a vilania naquele que podia ser o combate político que mais facilmente podia ganhar. E, com isso, inquinou a esquerda perante a direita mais direita. Mas o enorme poder de atracção pela
irreverência bloquista funciona. Se eles são os
criativos, os
sem papas na língua, os
inconformistas radicais e os
protectores dos higiénicos e dos sem abrigo, quem lhes quer ficar atrás? Porque muito do marketing, o político como o outro, é um processo de imitação (até que se abra um novo ciclo criativo nos apelos). E qualquer produto gera sub-produtos.
Haverá retorno? Logo à noite, serei um de tantos que vão querer ver. Uma coisa é certa: em branco, é que eu não fico.

Segundo o
Jorge Neto.
![prof-goggles-dec18[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/prof-goggles-dec18[1].jpg)
Um voto em branco vale o que vale qualquer voto expresso. No caso, uma vontade de não vontade. Ou: escolham vocês mas comigo não contam.
(Diferente da abstenção ou do voto nulo voluntário, ambos modos de resistências fatelas da preguiça ou do arroto. Democraticamente falando, é claro, estar assim em democracia e fora da democracia é como habitar casa sem pagar renda.)
Também pode acontecer que o voto em branco não seja mais que uma manifestação de inferioridade aristocrática, uma maneira de se achar menos imbecil por imbecis considerar os que escolhem quando não há perfeição para escolher. E, no caso Saramago, embora ele não tenha passado do simbólico, se não foi (é?) o caso, por perto andará. Para além do golpe de marketing para vender livros.
Assim, considero que, em dignidade, o voto branco não desmerece do voto expresso. Porque nos caminhos dos votos expressos, em muitos deles, também se fazem atalhos bem artilhados de considerações que estão muito ao lado de uma escolha. E se, para tantos, é tão complicado escolher, com cálculos complicadíssimos em alguns casos, não escolher não destoa assim tanto. E eu que voto em desconsolo, tenho de entender quem dos desconsolos se quer livrar e, de exclusão em exclusão, chega ao empate total, só lhe sobrando o frio do branco.
Mas o movimento organizado e anónimo pelo voto em branco que anda aí, é que me parece coisa de lixo. Não só por ser anónimo (o que, se calhar, já lhe chegava). Mas por pretender organizar, manipular, não vontades. O que, em si, é uma negação de si. Que só pode ter mãozinha de quem organiza matilha para ferrar o dente. Numa sociedade de escolhas e de não escolhas. Bandalheira paranóica a destes solitários extremos que em vez de meterem, solitariamente, a corda ao pescoço, não querem morrer sozinhos.
Quarta-feira, 2 de Fevereiro de 2005
![chamadrago[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/chamadrago[1].jpg)
De santo nada tenho, nem para lá caminho. Para mais, tenho péssimo feitio porque é fácil que os humores me trepem pela serenidade acima. E gosto de andar à pêra. Sempre gostei, vem-me de pequenino. Acho que uma pêra bem dada (com maneiras e fair play para dar e levar) vale mais que uma razão engordada pela presunção da sentença ou do disparate. E não quero passar pelo mundo com gostares de ponto de caramelo enfiados em pantufas de convenientes pelos sociais. Daqui pensar que a última coisa que me recomenda é servir de exemplo para quem quer que seja. Os meus votos é deixarem-me embevecer com tantos e tamanhos biliões bem melhores que este cidadão. Assim, um ou outro desatino nem se nota. Ou, então, nota-se muito mas, como sou um pacífico cheio de caruncho, dará aos outros para passarem à frente ou de largo.
E se
exemplar achava eu que era coisa que nunca constaria do meu currículo, a última de tal remota hipótese seria sê-lo no domínio da crença clubística, em que partilho desmandos com muitos outros e que, por me pesarem os seus excessos na consciência, costumo abrandar-lhe as labaredas de inferno merecido, desculpando-me que isto é coisa de religião.
Ora o
estimado amigo Werewolf não esteve com meias medidas e, às voltas com descrenças e más fidelidades lá pelo seu campo, onde as coisas já correram melhor, resolveu oferecer-me aos seus consócios e apaniguados como exemplo a seguir por ter enfarpelado a fronha com paramento benfiquista aqui no cimo do
Água Lisa apesar das banhadas que tenho enfiado neste campeonato. Como se um rival fosse exemplo de motivação para uma tribo adversa
E fico a imaginar o que ele vai ter de aturar aos seus. Rio-me é claro, só podendo acompanhar com um bem feito.
No que dá a amizade. Em exageros, pois claro. Sobretudo de quem me considera
amigo da blogosfera que até é benfiquista (o que é notável pela nota da excepcionalidade benevolente)!
Que posso fazer? Retribuir o abraço mandado com todo o empenho sincero e dar-lhe, pela imagem do mafarrico que habita o coração deste amigo, uma nota de desportivismo que me rói as entranhas e que me custa mais que arrancar um dente. Mas, se somos exemplo em alguma coisa, já se sabe que o caminho que se segue é o do sofrimento. Sofra-se então.
![22-flagi-sadurski[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/22-flagi-sadurski[1].jpg)
Dois estimados vizinhos e visitantes, deixaram os seus
comentários ao meu post sobre
as eleições no Iraque. Ambos manifestaram posições bem diversas das minhas. E com sólidos esboços de argumentos. O que, pelo menos, é saudável como manifestação de diferença de vistas.
Como normalmente a chinela da polémica me puxa pelo pé, ainda comecei a esboçar uma resposta aos dois amigos blogo-condóminos. Mas depois, pelo respeito com dor que me merecem os povos iraquianos, martirizados por uma das ditaduras mais sanguinárias que passaram pela face da terra, pela guerra e pela invasão, pelos interesses mais ou menos disfarçados, pelo terrorismo e pelo fundamentalismo, também pela forma como a sua infelicidade é usada como bandeira de outras águas para outros moinhos, resolvi adiar a resposta para quando me sinta mais liberto da inibição em voltar a falar, já, de alegrias e tristezas com um preço tão elevado. No caso, para mais, tratando-se de um País que conheci, que me fascinou e tão bem me tratou alguma da sua gente. Pelos iraquianos, eu não posso (quem pode?) rebobinar a história. Tirar-lhes o colonialismo inglês, Sadam, a brutalidade bélica americana, as mentiras a servirem de pretexto, as bombas que lhes rebentaram as casas e os corpos, o fanatismo que turva as soluções, os nós difíceis de desatar daquele mosaico étnico-religioso desenhado a régua e esquadro coloniais. Sabendo como sabemos que só num curtíssimo período, ali a soberania se exerceu através do voto livremente expresso. E amarro-me à crença de que só pelo voto, a democracia soberana pode devolver a vontade legítima de futuro àqueles povos. Sei que é curto como argumento contra a miríade de opiniões consolidadas, sobretudo em quase todas as margens esquerdas. É, sim senhor. Mas quero, agora, parar aqui, com uma confiança muito pouco confiante. Deixem-me, agora, olhar para o Iraque com alguma esperança. Os argumentos seguirão mais tarde.
No entanto, pelo devido respeito ao exercício do
contraditório, transcrevo os dois comentários, agradecendo-lhes a atenção:
É suposto que as eleições sirvam para alguma coisa. É pensável que aqui na Europa se realizassem eleições com o quadro existente no Iraque? Penso que estará de acordo comigo, que seria impensável... Partindo do princípio que as eleições foram um acontecimento positivo (de que discordo), que possibilidade existe de real efectivação do poder? Não seria melhor criar essas condições como pressuposto para a sua realização??(
mfc)
João Tunes, subscreveria o teu último parágrafo, de tão bem escrito e sentido que está, mas quanto aos dois parágrafos anteriores tenho duas objecções: 1) não me parece que os iraquianos que participaram nesta plebiscitação cega de um regime vigiado e controlado pelos ocupantes, tenham podido «escolher»; 2) não percebo de que «opções para o futuro do país» estás a falar e atrevo-me a supor que alguns (muitos?) iraquianos também não. Será possível chamar democrático a um processo em que não há informação livre nem possibilidade de debate? Estou a tentar recolher mais informação sobre esta parte do processo iraquiano mas, o que já é público leva-me a crer em mais um erro crasso. Evoca-me aquela cena do filme de Buñuel em que os camponeses antes de serem fuzilados pelas tropas napoleónicas, gritavam «Á bas la liberté». Poder-se-á conceber a democracia sem liberdade?(
Manuel Correia)

O meu muito obrigado ao
Zé Paulo que, no seu excelente blogue, nos distinguiu com uma referência bem simpática.
Com aquilo de que se gosta, não se é condescendente nem se assobia para o lado. Trata-se com a mão crua da verdade da amizade exigente. O
Zé Paulo, do Brasil e com a sua excelente escrita completamente brasileira, não perde atenção interessada e crítica para com o
seu Moçambique. Quanto a mim, a melhor forma de mostrar afecto vivo por aquilo que se gosta com gosto de gostar mesmo. Com amor de paixão que não se deixa contaminar pela facção. Pode parecer estranho, mas (não só, mas também) navegando até ao
Zé Paulo no Brasil, vou dando corda ao meu gosto pelo País em que, hoje, o soba Chissano cede o lugar ao soba Guebuza, com o povo moçambicano sempre como fundo, ainda não como sujeito. Lá chegará, vou pensando, enquanto não desisto de acreditar que ele merece diferente e bem melhor que essa tripla desgraça colonialismo, frelimismo e renamismo.
![kino-kelkheim_projektor[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/kino-kelkheim_projektor[1].jpg)
Começa hoje, no Goethe-Institut em Lisboa, o
2º Festival de Cinema Alemão que se desenrola até ao dia 9 deste mês, com as restantes exibições (longas e curtas metragens) a terem lugar diariamente, a partir de amanhã, com três ou quatro projecções, no Cinema King. A iniciativa é uma organização conjunta do Goethe-Institut, da Medeia Filmes e do ABC Cine Clube de Lisboa.
Neste festival, serão projectadas obras realizadas no período 1999/2004, permitindo contactar com a mais moderna geração de cineastas germânicos. Um desafio, pois, aos cinéfilos que acreditam no cinema europeu.
Mais informações podem ser obtidas
aqui.

Muitas vezes acontece que a modéstia como forma de viver, diminui perante a fama e o proveito. Até pelo reconhecimento do real valor. Depende das actividades. Se se for um santo ou um escuteiro, claro que a modéstia faz parte do ofício. Quanto mais modesto, melhor. Mais notável será o santo, mais santo será o escuteiro. No meio das actividades artísticas, nomeadamente no teatro, ser-se modesto é um tremendo risco.
Canto e Castro foi um grande actor com uma desmesurada modéstia. Talvez por essa qualidade, ruim qualidade num actor, passe sem o devido sentimento de perda para o teatro português o desaparecimento deste grande artista.
Fica aqui a nota da minha profunda mágoa de saber que Canto e Castro partiu.
Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2005

As eleições do Iraque terão espalhado desilusões a esmo. Paciência. O anti-americanismo que meta uns cartuchos no bolso a aguardar melhores dias. Fizeram-se e foram, antes de tudo e apesar de tudo, nas condições excepcionais em que se processaram, uma afirmação democrática de um povo desabituado de escolher. Em muitas décadas, ou estava tudo decidido por todos ou caíram-lhe bombas em cima. Antes a decisão pelo voto. Que torna o Iraque num país a merecer que se trate imediatamente das condições para a sua desocupação. Soberanamente, sem ditadura e sem invasores. Não de sopetão mas segundo um plano que deve ser supervisionado pelas Nações Unidas.
Naturalmente, no mosaico étnico-religioso iraquiano, a paz não vai estar ao virar da esquina eleitoral. Os ressentimentos entranhados não secam com facilidade. Mas, a longa supremacia sunita, imposta pelo poder de Sadam, tem os dias contados. A maioria xiita e os curdos, contabilizaram-se agora. No fundo, uma recomposição entre maiorias e minorias. E as minorias, devendo conservar os seus
direitos como minorias, terão de atender a que o direito de governo compete a quem é maioria. Com regras de convívio, é claro. Ou seja, o contrário do que Sadam fez para com a maioria curdo-xiita. Não vai ser fácil, mas é possível. Pelo menos, existe uma base de vontade eleitoral expressa para legitimar opções de futuro para o país. E eu não posso deixar de me curvar com imenso e sincero respeito perante o longo calvário que o povo iraquiano percorreu para se chegar à boca das urnas.
Sempre tive dúvidas sobre a factibilidade do Iraque como país e que não foi mais que uma construção geométrica do velho império britânico. Ou os três painéis de identidade constroem uma identidade nacional que lhes permita o convívio, ou então melhor será que pacificamente se separem. A verdade é que, em tantos anos de existência, a qualidade de
iraquiano sempre foi mais uma forma de dizer que outra coisa. Imposta primeiro pelos britânicos e depois conservada anos a fio pelo clã do Partido Baas. Em que as identidades sunita, xiita e curda em vez de amalgamadas foram reprimidas por força do domínio de uma minoria (e que recebeu essa capacidade de domínio do facto de ter sido sunita a guarda pretoriana e castrense que serviu o aparelho militar otomano). Decidam politicamente, são os meus votos. Substituindo, sempre que possível, o falar das armas pela voz da vontade expressa.
![alkaiser[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/alkaiser[1].jpg)
Provavelmente, nenhum dos presos de Guantanamo será pessoa recomendável para convidarmos para beber um café. E se passarem bem ao largo, tanto melhor. Falta saber se a todos esta recusa se aplica.
Sem margem para dúvidas, o mais celerado dos celerados não perde a condição humana de ser tratado como humano. Mesmo que seja a nossa negação de humano. E, por isso, mantém direitos irrenunciáveis e irrecusáveis. Pela pior das malandrices, não se pode perder o direito a um julgamento sério, a defender-se e a usar todas as protecções conferidas pela lei.
A tentativa da Administração Americana de transformar os
presos de Guantanamo em excepção aos direitos humanos, é inaceitável. Porque indigno.
Constato, com satisfação, que, na justiça americana, vozes magistradas se levantam para impedir que, aos
presos de Guantanamo, seja aplicada a injustiça cidadã por via da isenção de direitos e própria das emergências dos actos em cenário de guerra. E esta voz da justiça, lembra que a democracia ainda mora ali. Com altos e baixos, crises e recaídas, mas está lá.
Estimo que os
verdadeiros criminosos que estão em Guantanamo paguem pelas atrocidades
provadamente cometidas. Não os quero metidos em
leva de limpeza, sem rosto e sem dignidade. Na hora do castigo, devem conservar a dignidade para entenderem o mal cometido. Para que sofram, não por arbítrio, mas em nome da preservação do bem. Também para que a justiça aplicada aos
presos de Guantanamo, no forte norte-americano incrustado na ilha cubana, não se compare, em ausência de direitos, à aplicada pelo ditador aos presos seus vizinhos da ilha-prisão.