Domingo, 31 de Outubro de 2004

Este é, para mim, o melhor tempo para dar largas ao vício de ler. Bem sei que se lê de todas as maneiras. Mas o aconchego que o fresco apela mais o efeito do som da chuva a tamborilar com os seus dedos de água, são apelos que convergem a obrigar a ler. Ler mais. Cada vez mais. E tantos são os volumes acumulados na fila de espera
Vamos a isso.

Este
novo blogue promete. Bem vinda à blogosfera, estimada Teresa. E, para já, aprendi que
chuinga é como os putos moçambicanos chamam à pastilha elástica. Bela e rica metáfora, digo eu. Venha a obra. Oxalá tenha paciência, que tantas vezes me falece, de aturar o embirrante
sapo.
![capt.xel10510310833.ukraine_presidential_election__xel105[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.xel10510310833.ukraine_presidential_election__xel105[1].jpg)
Sairá mais democracia? Ou haverá reforço dos
Filhos de Putin?
Sábado, 30 de Outubro de 2004

Ena camaradas, este é que vinha a calhar para o lugar do Carvalhas.
Li
isto e percebi. Oh se percebi. Antes, houve distracção minha ao não reparar na tabuleta não inscrita na porta do blogue: PROIBIDA A ADMISSÃO A ESTRANHOS, AMIGOS SÓ OS CÁ DA CASA. Não volto a incomodar a malta. Boa e talentosa malta, a quem muito devo de inspirada companhia. E que vou continuar a espreitar, tamanha é a diversidade do talento que por lá abunda. Mas, se tal se me permite, sem incomodar, aqui fica uma homenagem singela feita em boa cerâmica dedicada ao
besugo para, se ele quiser, pôr em cima da lareira.
ADENDA: Pois há gente de muito mau feitio. Além de mim, ainda restam mais uns tantos outros. Há até aqueles a quem estendemos a mão num gesto de paz e reconciliação e nos ferram o dente afiado em bravuras leoninas. E, se por azar, nos metemos com alguém de gostos vincados e selectivos nas artes, embirrando por exemplo com o bom e genial Modigliani (segundo o meu modesto gosto, um dos que melhor pintaram a mulher), então é que a sovela não entra no cabedal para restauro de rasgadela. Pois, o
besugo não aceitou a peça, nem sequer como enfeite. Achou-a péssima e que foi de péssimo gosto o atrevimento, ofensiva até como pretensa alusão comparativa da sua pessoa. Temos assim que talvez o
besugo seja um neo-realista dos sete costados, talvez em transição para o realismo social, não permitindo arrojos que não possam ser interpretados segundo o jogo da interpretação literal e inspiradora de uma boa exaltação épica. O jogo dos contrastes deve parecer-lhe uma infâmia de demagogos à procura de partido ou de patrão. Bordalo Pinheiro terá sido um grande sacana. E admito que odeie Picasso, a quem acusará de só pintar gajas feias. Malhoa e Medina, esses sim, talvez fixes na sua transparência de perfeição das formas. Paciência. Até porque os gostos não se discutem. Mas a peça não se perde por falta de préstimo. Terá lugar de honra devida ao mérito adquirido na missão falhada de sineiro de consideração e amizade. Culpa dele não foi que o meti em missão impossível e veio recambiado com uma litrada de fel despejada cabeça abaixo. Não irá para o sofá, isso não, que este está reservado para humanos descansos que, em desabridos de preguiça, poderiam escaqueirar a loiça. Que não fica em desabrigo, isso garanto eu.
![capt.lon81610292100.bin_laden_tape_lon816[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.lon81610292100.bin_laden_tape_lon816[1].jpg)
Não há razões objectivas ou subjectivas que te expliquem. Existes porque a paranóia existe. Vives porque matas. Matas porque estás vivo. Queres continuar a matar para continuar a existir. Existes mas não devias existir.
![capt.jrl10410301309.mideast_israel_palestinian_jrl104[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.jrl10410301309.mideast_israel_palestinian_jrl104[1].jpg)
Os mitos demoram a morrer. E até resistem à doença. Não são imortais (nada é) mas quase. Até se fortalecem com a doença e com a morte. Porque são âncoras a que se deita mão para se dizer obrigado à alegria consoladora de uma certeza. Destruir um mito quase custa tanto como espatifar uma ilusão. E só se sai de uma ilusão quando se tem a certeza de se ter encontrado outra.
![capt.mosb10110301352.russia_repression_mosb101[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.mosb10110301352.russia_repression_mosb101[1].jpg)
Comovo-me contigo, Irina. Olhando-te o rosto. Transportando, triste porque ainda magoada, o retrato do teu pai, Ignaty Kalina, diplomata soviético assassinado em 1938, apenas um coágulo humano na orgia de sangue dos negros anos do estalinismo.
![capt.mosb10310301339.russia_repression_mosb103[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/capt.mosb10310301339.russia_repression_mosb103[1].jpg)
Hoje, centenas de russos concentraram-se na praça em frente de Lubianka (sede do antigo KGB, em Moscovo) em recordação das vítimas da repressão soviética. Deixaram flores num monumento ali erguido há 12 anos uma pedra trazida de um gulag nas Ilhas Solovsky. Como não estar solidário com eles?

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, organismo autónomo da Organização dos Estados Americanos, decidiu empenhar-se na resolução de três casos de violações dos direitos humanos em Cuba: julgamentos sumaríssimos e condenações à morte; julgamento e condenação de 70 dissidentes e opositores detidos entre Março e Abril de 2003; detenção ilegal de opositores por exercerem o direito à liberdade de expressão.
De acordo.
Praticamente por unanimidade (voto contra dos EUA, é claro), a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução (13ª desde 1992) a condenar o embargo - económico, comercial e financeiro - decretado pelos EUA contra Cuba - que vigora desde 1962, tendo sido ordenado por Kennedy - e que foi recentemente agravado pela Administração Bush.
De acordo.
Estas são duas faces da mesma moeda a violência contra a liberdade em Cuba e a estupidez do bloqueio da Administração dos EUA contra Cuba. Que, ao nível do pretexto, se alimentam num círculo vicioso como se fosse um jogo combinado e recíproco de causa e efeito que ajudam ao prolongamento da ditadura cubana.
O bloqueio a Cuba é uma das bóias para a ditadura castrista continuar a nadar. Porque alimenta a demagogia vitimizadora do regime e porque enferma da estupidez de análise de se pensar que as dificuldades de vida de um povo lhe espevitam o desejo de conquista dos direitos cívicos. A degradação das condições de vida do povo cubano conduz inevitavelmente a que o seu horizonte reivindicativo de cidadania se rebaixe à luta pela sobrevivência económica. E quando a cidadania desce para o desenrascanço para se chegar ao pão (através de esquemas ou da fuga do país), a liberdade bem pode esperar para depois. Porque, assim, a imagem dos Estados Unidos, para os cubanos, ou é uma bela ou é um monstro para uns, onde está a riqueza; para outros, quem lhes tira o acesso ao pão. A democracia não é para ali chamada.
Sexta-feira, 29 de Outubro de 2004

Sim. Melhor assim. Olhar o mar em abrigo com boa vista. Tempo antipático este. Chuva batida por vento, irrita. Irrita mesmo. Irrita sobretudo. Mesmo o sol quando espreita, parece que não é sol, mas um intervalo. E tudo em meias-tintas. Que nada é. Verão que se foi, Outono de raspão, Inverno só de ameaça. Até o clima parece timorato num mundo adiado em decisões. Modernices. O que se esperava? Com a enxurrada dos valores, foi-se a coragem. Macaquinho de imitação este raio de tempo. E resolveu tirar-me, de uma assentada, as minhas estações preferidas Primavera e Outono. Se formarem um Partido do Tempo, eu inscrevo-me como quinta coluna e vou passar o tempo todo a dizer mal dele. A culpa não é minha, é do tempo.

A revolução é o caminho da santidade para o altar do homem novo. Ai dos que fiquem pelo caminho, vacilem ou duvidem. Dar-lhes-ei uma boa dose de purgatório. Tenho masmorras para todos.
A hora é dos crentes e dos amigos dos crentes.
O dólar é obra do demónio. Eu vou prender o dólar. Mais, vou fuzilar o dólar.
Quinta-feira, 28 de Outubro de 2004

Imaginemos que a Turquia já faz parte da União Europeia. Logicamente, tinha direito a Comissário. Num pelouro condizente com a sua dimensão. E, com toda a probabilidade, seria muçulmano.
Imaginemos que esse Comissário abria o seu pensamento sobre o casamento, o papel e os direitos das mulheres. Logicamente, ia sair Corão na sua leitura nunca modernizada, porque o bom muçulmano segue-o na sua versão datada.
Depois desta história do Comissário candidato Rocco, o que aconteceria ao desgraçado do turco? Ou então, alguém me explique que os tais dez a quinze anos para a Turquia ser integrada na UE é o prazo considerado razoável para que o islamismo proceda à sua modernização.
Quarta-feira, 27 de Outubro de 2004

Ler Eduardo Lourenço é um teste à capacidade de meditar. Raramente, indica soluções e atalhos. Ele complexa o simples para que se veja à frente do nariz. Não nos facilita a vida se tivermos pressa em agarrar num slogan para irmos à manif. Estava tramado se entrasse no
Bloco, porque atrasava o programa das performances, ou noutros sítios onde o Secretário tem sempre razão e a militância é uma coisa porreira para ficar no retrato a dizer que sim.
Hoje, no Público (*), Eduardo Lourenço reflecte sobre a eventual adesão da Turquia à União Europeia. E convida a pensar.
(*) não encontrei o artigo na versão on-line

O DN está pelas ruas da amargura. Nunca se recompôs da sina de
jornal oficioso do regime. Tirando um ou outro parêntesis. Nem a
santa privatização lhe valeu. Do controlo estatal - estatal mesmo - ao controlo estatal - Santana/Delgado/PT - foi um passo de caracol. Tudo como dantes, quartel na Avenida da Liberdade.
O Delgado está a afirmar-se como um comissário duro. Ou controla ou mata.
Quem se ri disto tudo é o Belmiro. Ena pá, ele que é dono de tanta coisa, agora até o é do
jornal da oposição. O
homem mais rico é agora o
homem do contra. Capitalismo tardio contra o capitalismo de regência. Tarda nada, acordamos e estamos a viver na República Popular da Sonae. Com o José Manuel Fernandes em director do
Avante depois de Belmiro Azevedo ter comprado este jornal para ajudar ao centralismo democrático.