Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004
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Haverá alguém que consiga rimar liberdade, igualdade e fraternidade, com Fidel Castro e Che Guevara, sem vomitar a seguir?
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Estou contra o plano em marcha de admissão da Turquia como membro da União Europeia.
Aliás, a proposta é exótica e o seu suporte mais consistente, misturando alhos com bugalhos, é a antiguidade da Turquia como membro da NATO, em que faz mais o papel de fornecedor de bases geoestratégicas que outra coisa. Verdade seja dita que a Turquia não tem nada a ver com o Atlântico e a sua admissão na NATO foi um entorce revelador da filosofia de guerra fria que orientou a criação da NATO.
Por um lado, a parte europeia da Turquia é pouco mais que simbólica. A Turquia é um país asiático e toda a sua cultura, hábitos e costumes são estranhos à civilização europeia. Com mais razões se pode considerar europeia a Rússia (outro país bicontinental).
O alargamento a esmo da União Europeia, tão frágeis que são ainda as últimas integrações e evidentes as exclusões que persistem, só pode acentuar as suas debilidades e transformar o projecto da construção europeia num dossier faz de conta.
Por outro lado, o regime turco tem ainda graves nódoas para limpar para que a sua candidatura pudesse, por hipótese, ser encarada as opressões de arménios e curdos, a situação em Chipre. E por falar em Chipre, seria um absurdo admitir a Turquia como estado membro da UE enquanto a recente admissão de Chipre só implicou a sua parte grega (ficando a parte turca excluída por imposição dos cipriotas gregos). Também a eventual adesão da Turquia ia avivar feridas, nomeadamente nos Balcãs, e potenciar inimizades com servos, croatas, montenegrinos e macedónios, estes sim bem mais próximos do contexto cultural europeu.
O argumento esgrimido a favor da adesão é bem conhecido com a Turquia
dentro da UE este país estaria mais
controlado no sentido da sua aproximação ao modelo democrático e diminuiriam os riscos de cair nos braços do fundamentalismo islâmico. Como se sabe o que verdadeiramente se pretende aproveitando a embalagem da pertença à NATO, é transformar a Turquia numa ponta de lança islâmica (moderada, colaborante, amiga dos ocidentais) contra os estados islâmicos adversos. Mas um e outro argumento desfiguram a UE como projecto, transformando-a em expediente geoestratégico. E isto é o empobrecer definitivo do projecto de unificação europeia, tão trôpega que se encontra no seu caminhar.
A Turquia pode e deve ser ajudada a consolidar a sua laicidade (sempre tão periclitante) e a sua modernização (na economia, no relacionamento social, nos direitos humanos, no funcionamento de instituições democráticas, no abandono de práticas genocidas e opressoras para com as suas minorias) mas nada disso contorna a realidade asiática da Turquia.
Se a Turquia for admitida na UE, temo que os defeitos de um Estado (sob pretexto de os controlar) sejam transformados em bons argumentos de adesão à Europa comunitária. E, a partir daqui, perde-se o critério da virtude democrática, abrindo-se caminho a que os
piores se cheguem à frente na fila de espera (qualquer dia, integra-se a Líbia para ter mão no Kadafi
). Tanto que há a fazer na consolidação da integração dos Estados recentemente admitidos, na preparação e ajuda às nações intrinsecamente europeias, porquê a história da Turquia? A UE como braço civil da NATO?
![foto02[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/foto02[1].jpg)
- Atenção à porcaria da droga, vê lá, não aceites ofertas duvidosas.
- Tá bem, tá bem. Ok. Eu não sou parvo. E tu, porque é que fumas?
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Concordo totalmente com
Vital Moreira. Mais, bato palmas. Porque demonstrou, mais uma vez, que é mais fácil apanhar um demagogo que um coxo.
Moral da história:
Quem tem casas de paredes feitas com dolo não nos passa atestado de tolo.

Este desconcerto governamental, pela péssima utilização das sanfonas no trato dado à pauta da causa pública, ultrapassa qualquer noção de esquerda-direita.
Com Durão-Portas, havia a noção de estarmos perante o governo mais à direita desde a reinstalação da democracia. Agora, a dupla Lopes-Portas evidencia mais desarranjo e leviandade que um qualquer posicionamento no espectro político. Porque o mais evidente e saliente é a incompetência e a falta de decoro em dela não ter vergonha, quanto mais emenda. Até nos esquecemos da água que eles levam à azenha dos interesses instalados. Porque a água é tanta que inunda os ministérios e já salta das janelas.
Falou-se muito do perigo do
populismo a propósito da liderança Santana Lopes. E do perigo que representava a eventual adesão
popular a uma prática de governar sem referências nem carta de marear, dando o primado ao trato das circunstâncias segundo as marés. Mas aquilo a que se assiste está longe de aí chegar. Ficarão as intenções mas falta o talento para o engano e para a eficácia da demagogia. Porque o trato da propaganda e do afagar o pelo requer um suporte que este governo visivelmente não consegue caboucar.
O risco maior agora é baixar-se demasiado a bitola da medida da qualidade da governação. Ou seja, qualquer alternativa, por fraca que seja,
serve. E se este risco funciona
à direita (podendo dar lugar à tentação de experimentar uma direita forte e com norte), idêntico pode suceder em contágio
à esquerda. Traduzindo por miúdos, impulsionar o PS, sob liderança de Sócrates, à falta de exigência e de rigor pela fraca qualidade do contraponto. A preguiça na esquerda sempre levou à sua descaracterização. E a preguiça, na política como em tudo o mais, sempre foi mal apetecido. E contagioso. No caso, até podem dar-se recaídas. Para mais, o tal
centrão dos quinhentos mil eleitores que decidem as vitórias (votando ora PS ora PSD), é ele próprio a expressão mais acabada (e
suporte eleitoral) da preguiça democrática. Veremos se, à esquerda, a herança do
santanismo não vai remoçar a probabilidade do regresso ao
guterrismo de triste e fresca memória. Cruzes canhoto.
Quarta-feira, 29 de Setembro de 2004

Para ficar maluquinho de todo sem entender patavina onde vivo, só me faltava que os escândalos das sinecuras e mordomias na
CGD servissem de argumento ou pretexto para os defensores da privatização da
Caixa. Mas havemos de lá chegar. Ao cúmulo do descaramento santanete e ao meu desarranjo de discernimento.
Jorge, ajuda-me!

Uma trabalheira infernal isto de se ser gestor. Os suores, antes apanágio dos proletas de outras eras, transferiram-se agora para as frontes gastas dos gestores das andanças de agora. Uns autênticos novos escravos do bem comum. O mundo e a economia globalizaram-se, a empresa de hoje já é outra amanhã, uma dança com ritmo louco que gasta e desgasta os pobres gestores. Ninguém mais sofre como eles sofrem. Como se tanto não bastasse, há trabalhadores a mais em cada canto e por tudo quanto é sítio. Eles despacham, despacham, abatem, abatem, mas sobra sempre alguns trabalhadores a atrapalhar e que é preciso que não atrapalhem a economia. Muito menos, as finanças.
Leio a justificação de Mira Amaral para a choruda reforma da CGD. Leio também que a Comissão de Trabalhadores da Galp meteu a Procuradoria Geral da República ao barulho porque há por lá administradores, herança de António Mexia, que têm mais quinze e dezoito anos de antiguidade do que os anos de serviço à casa. Pelos vistos, está a ser hábito um gestor entrar ao serviço com antiguidade retroactiva.
Um escândalo e uma ilegalidade? Por quem sois, gestor sofre, justo será que descanse com menos sofrimento que aqueles que os gestores abatem ao serviço. O dourado da vida tem de recompensar os vencedores. Ai dos vencidos.

Não me convencem os argumentos esgrimidos para
justificar que Vicente Jorge Silva, demitindo-se de militante do PS, mantenha o seu lugar de
deputado independente na bancada parlamentar daquele Partido. Falo do que li no
Causa Nossa escrito pelo próprio e aquilo que Vital Moreira aduziu em sua defesa e justificação.
Por um lado, é perfeitamente falacioso dizer-se que VJS se demitiu após votação para SG do PS e antes de se saber o resultado, para não se dizer ou deduzir que o seu acto tinha a ver com os resultados. Não é possível que toda a gente soubesse, menos VJS, quem ia sair vitorioso. Admitir isso é passar testemunho de menoridade a uma pessoa que se destaca como excelente analista político. A teatralidade da escolha do momento decerto não se verificaria se Alegre tivesse as hipóteses que todo o mundo sabia que não tinha. Ou então, o apoio de VJS a Alegre foi uma leviandade que pretendia ser cruel para o apoiado.
Argumentar-se que VJS regressa à qualidade de
deputado independente com que entrou no Parlamento e que igual estatuto têm outros deputados pelo PS, é brincar com a substância das coisas. Um
independente é-o enquanto é. Depois de aderir, saindo, deixou de poder retomar a virgindade de origem. Passa automaticamente à qualidade de
ex. É uma opção sem retorno. Como acontece à donzela, depois da primeira noite a dormir com o namorado. Em VJS, há um acto de rotura partidária e a manutenção de um lugar na bancada parlamentar do partido que se renegou. Simples, se não complicarem.
VJS até podia dizer assim:
- Saí do PS. Mas fico como deputado. Pronto, então vá.E eu encolhia os ombros, tanto mais que já vi coisas bem piores. Desta forma, a justificação soa a areia deitada para os olhos.
Entendo que VJS devia abandonar a bancada parlamentar do PS. Mas por outros motivos. Acho que faz falta ao jornalismo. Mais falta no jornalismo que a curtir contradições de coerência lá nos Passos Perdidos.

Eu não sei se aquelas grades são feitas de esquerda.
Também não sei se o chão daquelas celas tem mosaicos de igualdade.
Muito menos adivinho se a luz coada daqueles pátios das prisões canta a internacional.
Impossível saber se a comida dada àqueles presos por delito de opinião sabe a causas proletárias e depois apetece levantar o punho fechado.
Até nem sei se a falta de liberdade em Cuba custa menos que noutro sítio qualquer.
Como também não sei se ser torturado por um pide cubano, em vez de doer, dá ganas de libertar o mundo do imperialismo.
E se ter um ditador tão antigo e tão teimoso, é coisa boa e vacina contra os males da globalização, diminui o número de mísseis que Bush manda disparar e baixa o perigo de Bagão aumentar os impostos.
Apenas sei que, pensando em Cuba, ia sentir-me infame se não pensasse em Raúl Rivero e nos seus companheiros.
![bl-10[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/bl-10[1].jpg)
Que me desculpe o
compadre Isidoro mas não resisto à transcrição deste naco:
é o que está a dar o iogurte magro a política do centro do meio a cerveja sem álcool o fato às riscas o tabaco sem nicotina a saúde moderada nas taxas a barba de três dias a guerra a computador a loucura sem maluco o bronzeado sem sol o ps sem socialismo o sexo na net o patrão sem rosto a falsa calvície a choruda reforma sem bulir o leite línea a corveta sem inimigo a música spunc spunc spunc spun a situação sem oposição o café com ermezetas o psd sem social-democracia a linguiça sem gordura o pc sem proletários as bicicletas estáticas o ministério da defesa sem tropa a maltosa a comprar a crédito a agricultura sem couves o presidente inodoro a comunicação social do umbigo o robalo de aviário a aviar o bagão sem tostão a canja sem ovinhos amarelos os mestres-escola sem a dita o aborto defendido por abortos e os abortos pela vida as câmaras sem ar o padre sem vocação o maluco sem loucura o livro sem papel o queque sem chá enfim o triunfo do lightsQue delícia de prosa. Tão quanto é desesperante este neutralismo sem gordura, sem nicotina, sem cafeína, sem álcool, sem valores, sem alegria, sem galhardia. E se não nos pomos a pau, por este andar ainda temos uma sociedade com 0% de pessoas por se achar que elas fazem mal à saúde. Uma sociedade sem. Até sem estômago para levar um murro e arrepeiar caminho. Mas os culpados têm nome, somos nós.
![image010[1].jpg](http://agualisa.blogs.sapo.pt/arquivo/image010[1].jpg)
Longe de mim a intenção de discutir ou polemizar à volta de precisões teológicas. Muito menos com o
amigo Alex que se mostra entendido na poda e corrigiu os dados que aqui apresentei num post (Nilo e Sinai - 29) sobre a religião copta praticada pela minoria cristã no Egipto.
No entanto, alertado pela chamada de atenção e não querendo dar guarida a falta de rigores que até podiam redundar num mau olhado ou perda de lugar na bancada da santidade eterna, fui conferir tudo direitinho. Da frente para trás e de trás para a frente. E conclui que acho que afinal não pequei na oração, presunção que se junta à certeza anterior de nunca, nesta matéria, ter pecado por intenção.
Confirmei e agora mantenho que a religião copta se consolidou na implantação do cristianismo no Egipto sob o manto protector do domínio romano no século IV dC (embora os cristãos se tenham refugiado no Egipto desde o início da sua perseguição pelos romanos), irradiando a partir de Alexandria, identificando o cristianismo como rotura com o paganismo egípcio e que, nomeadamente, levou a vários eventos de fortes marcas adopção de um nova escrita (também chamada copta e que era uma miscelânea da antiga língua egípcia mais inspirações romanas e gregas, tinha o alfabeto grego como base e a substituir o uso dos hieroglíficos); adopção do cristianismo copta como religião oficial e em consonância com a sua adopção imperial pelos romanos; tentativa de destruição dos sinais da civilização egípcia pagã (de que hoje restam marcas na picagem de símbolos, inscrições e figuras em alguns templos e degradações provocadas pela utilização profana de alguns outros).
É na luta pela hegemonia entre Alexandria e Bizâncio, no quadro do Império Romano do Oriente, que se gera o cisma entre as duas igrejas, em que a orientação copta é considerada heresia sob pretexto da sua não aceitação do dogma da Santíssima Trindade (uma espécie de conceito do divino a três dimensões Pai, Filho e Espírito Santo). A partir daqui, estabeleceu-se um papado autónomo em Alexandria que orienta esta confissão e que sobrevive até aos nossos dias mas que, no essencial, questão da Santíssima Trindade à parte, adopta uma concepção e um ritual com mais proximidades que diferenças relativamente ao catolicismo e às confissões ortodoxas.
No século VII dC dá-se a ocupação árabe e o processo de islamização. E são os árabes que criam o termo copta (de kopta) e que significa apenas egípcio, como forma de identificar o povo a dominar. A partir daqui, até aos nossos dias, o islamismo é adoptado como religião oficial egípcia (iniciando-se o período de minorização, com períodos de repressão, dos crentes coptas). A isto juntou-se a adopção do árabe como língua e escrita no Egipto e a marginalização da expressão copta falada e escrita.
Apesar de a maioria dominante árabe-egípcia/islâmica e a minoria egípcia/copta viverem muitos séculos em coexistência, existiram sempre tensões entre as duas comunidades e confissões. Um sinal disso é que se construíram mesquitas ao lado de todas as igrejas coptas, vincando a dualidade, e outro foi, com o aparecimento virulento do fundamentalismo islâmico no Egipto, a crispação e a intensidade de hostilidade para com os coptas que ainda é visível nos nossos dias e que deu lugar a migrações de muitos monges eremitas coptas para o deserto montanhoso da Península do Sinai (embora o principal símbolo religioso cristão ali perto do cume do Monte de Moisés seja o Mosteiro de Santa Catarina, cuja confissão é de filiação ortodoxa grega e onde vivem quarenta monges em permanência e todos eles cidadãos gregos).
Convido o
Alex, que me acusou de falta de rigor em história religiosa, a fornecer dados contraditórios dos ora invocados. Caso contrário, ele deve dar o braço a torcer, confessando a fragilidade da sua contradita e que, se não me punha a pau, me podia valer ter de curtir imerecidamente penas no purgatório (o copta, segundo a lógica).
Terça-feira, 28 de Setembro de 2004

Duas muito jovens amigas podem ser sentidas como muito antigas amigas? Podem. Se podem. Mesmo parecendo, nos tempos que correm, coisa dos antigamentes e passado de moda.
Hoje, desata-se o último nó de uma equipa profissional que conseguiu a suprema coincidência e raridade de juntar um punhado de bons amigos acicatados pela performance ao serviço da mesma empresa. O exemplo era bom demais. Disse-me, um dia, o presidente da dita cuja que o melhor é que, numa empresa, as pessoas não se liguem por amizade por assim ser mais fácil competir e produzir. Achava ele que a solidariedade baixava o rendimento e o preferível é a adrenalina de olhar o próximo como rival a ultrapassar. Talvez com a faca na liga, as empresas andem melhor, sobretudo na hora em que as pessoas são quase apenas custos. Mas o gajo era néscio e media tudo pela sua avareza de mando e assim queria selva à sua volta. Tão néscio e tão desmedido que agora anda por aí feito ministro santanete, arrastando cultivadores de imagem pela trela.
Poder é poder. Mesmo se mais impante que consistente. A equipa foi-se desfazendo, pingando do insuportável. As mais resistentes foram as minhas jovens e antigas amigas. Tão antigas quanto jovens. Mas não tardou que uma rumasse ao seu ninho tripeiro. Agora vai-se o último elo desgastado da equipa. Perde a empresa, acho eu, de entendimentos às avessas com os saberes e quereres de gestores feitos ministros, neste tempo de lustre fácil.
O que um gestor, e muito menos um ministro, não tem poder é para desfazer amizades que são sempre antigas pela sabedoria do sentir.
O melhor para vocês, jovens, antigas e queridas amigas. Há mais mundos no mundo. E o melhor no mundo faz-se com amizade e serão sempre os solidários os melhores feitores de um mundo melhor. O gajo é parvo.

Que conspiração animada pode inspirar estes pândegos, felizes de terem nascido?
Para mais, tratando-se, como se trata, de dois blogueiros veteranos (um deles,
ferroviário na linha de Sintra e que assim está sob a alçada do Ministro dos Transportes; o outro,
poeta da fotografia e que trabalha, com artes de torneiro emérito, as ternuras da alma), mais um outro que resiste à faena de escrever na blogosfera (e, tratando-se de um mestre da palavra, um egoísta de partilhas).
Se calhar, nada conspiram. Apenas gozam o contraponto entre os vícios expostos dos que blogam e a catrefa de água lisa que o ciber-renitente parece carregar nas costas como puritana e excessiva referência.
Que nunca me doam os braços de abraçar estes amigos e orgulhos meus.
Segunda-feira, 27 de Setembro de 2004

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O contraditório é compatível com o estar político? Pois, e a coerência?
Alegrei-me com
Alegre. A sua campanha deu-me alegria de esperança e de reencontro com os valores. Vivi
Alegre como não pensava que isso já fosse possível. Para mais, num PS a quem apenas me liga o desconsolo de nele votar. Porque tudo o mais é bem pior e pelas piores razões.
Gostei que
Sócrates ganhasse e pela maioria que foi. Porque quero libertar-me do
pesadelo santanete e acho que ele é o capaz de tal missão. Esperando que, no PS, alguma coisa de
alegre tenha restado.
Nenhuma coerência nisto. Apenas a vontade de substituir um sonho pela vontade de terminar um pesadelo.
Ai, a ditadura do pragmatismo
Um dia destes ainda vou tentar ser coerente. Procurando escapar das cornadas do neo-liberalismo pimba que nos governa. Vai ser possível?
Domingo, 26 de Setembro de 2004

Fecho de ciclo de descoberta, de reencontro e de corte com a rotina. Hora de regressar. E o prazer de redescobrir o conforto da luz única de Lisboa. Mais a volta lenta da adaptação aos velhos ritmos e às velhas realidades. Regressar ao ninho, também e sobretudo. Mas não deixando de pensar na próxima fuga e no próximo banho de realidade alheia, fazendo com que o crepúsculo se confunda com o desejo de uma nova manhã, nunca esquecendo que o mundo é feito de muitos mundos.
Hora de nos lembrarmos que vivemos num país que, de desdita em desdita, é governado por um tal Santana Lopes; tem António Mexia como ministro e Luís Delgado como Mensageiro, Profeta e Gestor da Propaganda; os computadores derrotam as escolas, os professores, os jovens e os pais; a CGD é - mais que força bancária - um centro de reformas obscenas e de sinecuras para ministros desempregados; uma mãe assassina uma filha por uma questão de trocos de compras; as vítimas da Casa Pia continuam a esperar que haja um juiz disponível para julgar os seus abusadores; onde a Oposição foi a banhos. Um país que, de tão adiado, há-de acabar por acordar estremunhado. Se a preguiça da espera não lhe trouxer a senilidade da desistência e da apatia. E se os valores aguentaram tanto desperdício com o fútil, o inútil e o fascínio, novo-rico e selvagem, pelo neo-liberalismo.
Termino aqui as crónicas do
Nilo e Sinai. Para não maçar os
curiosos da blogosfera, vim para aqui, para este cantinho novo da
Água Lisa. Foi sobretudo um exercício pessoal de prolongar uma experiência que me enriqueceu, deixando a sua partilha para uns quantos pacientes de curiosidade e de amizade que descobriram o rasto deste refúgio mal disfarçado. Foi expressão de uma obsessão maçadora, eu sei. Mas não tenho remorsos porque também foi um teste de resistência a companhias e amizades.
È altura de voltar ao prosaico da vida lusa. Blogando? Talvez. Como diz o outro,
porque não? Sem motivos nem alegrias para o
porque sim, acrescento.
(Foto de Pedro Tunes)