Sexta-feira, 30 de Julho de 2004

Com que então, amanhã e em solene peregrinação, o Conselho de Ministros sobe atà à Invicta! Tratem bem a rapaziada, amigos portuenses.
(Uma dúvida me assalta: se o Porto é a Capital do Trabalho, o que faz lá o Governo Santanete? O
leit-motiv estará na pós-curtição na Ribeira?)
(Segunda dúvida: será desta que o
Alex vai arranjar amigos por aquela banda?)

É isso mesmo. Se já tínhamos o enjoo das teens e tias
santanetes, a que se vieram juntar, em concerto de monotonia, as centristas e maduras
socranetes, já era mais que tempo de ribalta para as esquerdistas, emancipadas e dominadoras
alegretes.
Estas sim, vão mostrar que
mais igualdade não se procura numa bandeja, conquista-se e impõe-se.
E assim vos saúdo. Bem aparecidas, digo eu. Mais: tanta falta que cá faziam.

"Tirando o eterno ministro Álvaro Barreto, o Governo que aqui chegou ao
poder é o da geração do Compromisso Portugal - esse encontro de
privilegiados do regime que entendia ter chegado a sua hora de passaram de
beneficiários passivos a gestores do poder. Eles aí estão em funções,
supostamente para servirem Portugal sob a chefia de Santana Lopes - uma
contradição nos termos que não pode deixar de incomodar muitos deles. A
malta do Compromisso Portugal não se deteve a pensar ou não se atreveu a
explicar a Santana Lopes que desmantelar, baralhar, confundir a orgânica do
Governo resulta apenas em perda de tempo, de eficácia e de dinheiro."
(no artigo de
hoje de
MST)

Ainda não tinha saudado o aparecimento de mais um excelente blogue colectivo de muito boa escrita e ainda melhor visão cortante da lusitana paisagem. Trata-se do
Esplanar.
Como amostra para teste de qualidade, aconselho a leitura deste
post. Em poucas linhas, está ali o retrato desta nossa moderna sociedade e de como hoje as pessoas se cruzam nas suas profissões. Aliás, por vezes, surpreende-me o pouco que se fala das experiências profissionais. E eu vou-me convencendo que só pode ser por pudor.

Da sua voz vem-me a melodia de uma das vozes mais bonitas de Portugal, entrando noite dentro e iludindo o limite dos afazeres dos
pides, exagerando as nossas lutas para nos dar a confiança de que o fascismo estava quase a acabar.
(a merda estava na manhã seguinte quando constatávamos que o bom povo português não seguia as consignas da
Rádio Voz da Liberdade)
Da sua poesia, vêm-me as páginas mais conseguidas do romantismo tardio e que nos faz a ponte com Camões, atravessando barricadas, polícias de choque e o atrevimento de fazer amor com carácter de urgência como outro poeta cantou.
(a merda estava nas lágrimas de raiva que se tinham de secar ao tentar escutar, vezes a mais, o vento que não passava, apesar das trovas)
Da sua prosa poética fica-me um capítulo de
Rafael onde ele disse
tudo sobre a guerra colonial.
(a merda foi que passei por parecido e talvez só por isso tenha percebido tudo o que o seu talento lhe fez contar e que nunca devia ser contado por nunca dever ter acontecido)
Do seu tempo de governante soarista não esqueço que ele foi o sacana do poeta que matou o jornal
O Século.
(a merda é que, depois disso, passei a gostar mais de jornais que de poetas e assim se me estragou o gosto)
Do seu rosto nobre, frontal e belo vem-me o meu e o seu tempo de ideias e ideais que não têm lugar para se sentar desde que o
guterrismo os afogou dentro de uma pia de água benta.
(a merda é que Sócrates, que vai ganhar, não passa de um Guterres cínico)
Da sua candidatura que o recoloca como o Quixote da esquerda romântica, fica-me a ternura pelo seu sacrifício narcisista e congregador da idiotice de esquerda retro que lhe espetou com o
slogan de
mais igualdade, essa negação semântica.
(a merda é este desajuste no tempo, nas exigências, na radicalidade ética, no romantismo generoso da desforra, no sonho do primado do ser e do saber sobre o ter, na utopia de pensar amanhã, no amor a velhos e a crianças que não se usa, quando as altas cavalarias são para os aparelhos que enchem as cavalariças dos partidos)
Nunca desejei pertencer ao PS. Mas gostaria de ser militante do PS no breve minuto em que nele votasse. Para, mais uma vez, como lhe vai acontecer a ele, perder com o sabor romântico de esquerda, e depois ir comemorar mais uma derrota e uma resistência, com um cálice de Porto e um poema dele ou de Sophia, ouvindo Paredes, para continuarmos a acreditar nos valores da esquerda perdida e arredada.
(a merda é que Sócrates não é homem para Santana, porque é menos do quase mesmo, e assim nem sequer se poderá fazer o brinde de glória aos vencedores, restando o travo da honra dos vencidos)
Adendas:Primeira: Se quiserem traduzir este arrazoado sentimental em escrita directa, economizando tempo e paciência, leiam o que diz
este deputado (independente) do PS.
Segunda: Simplesmente magistral, ao correr da pena, o exercício de argúcia sobre a dicotomia direita/esquerda feita pelo
Jumento.
Quinta-feira, 29 de Julho de 2004

Por este andar vai tudo de férias, até o
Alex vai passear de
inter-rail para apreciar as
vikings, e nós para aqui, com calor, a olhar para o boneco e sem saber que fazer. É que, este ano, parece que só os políticos não vão a banhos, e esses são tão sizudos. Sem os brincalhões, mais os criativos e os
opinion makers da
blogosfera, todos a fugirem às pinguinhas, isto está mesmo a ficar chato. Enfim. Talvez em Outubro volte a animar.

O
Jumento avisou que está quase a ir de férias. Mais que merecidas, depois de tanta trabalheira a manter-nos sempre informados e a conservarmos o gosto pelo humor ácido que, nele, é um hino limpo à vida. Mas estou cá em crer que, mesmo em férias, ele não vai meter pantufas nas ferraduras. Advinho-o a veranear com a bandeira dos alertas da lucidez. De qualquer forma, boas férias então.

Em política, muitas vezes é fatal tomar os desejos por realidade ou generalizar aos outros a nossa percepção, as nossas simpatias e antipatias.
Quantas vezes as nossas emoções, assentes nas
nossas crenças, esquecem que os outros também se regulam por emoções e por simplificações para se orientarem, transformando a política num jogo de afectos.
Sobre Santana Lopes, parece-me que a esquerda vive num jogo de engano. A debilidade estrutural da pessoa política, o seu nítido desajuste para a função e para a responsabilidade, a vacuidade de pensamento, levam à atracção fatal pela sua subestimação como fenómeno durável. O que pode ainda ser agravado pela fragilidade da sua legitimidade para o cargo em que está investido. Tudo isto se casando como propício a considerá-lo um mero epifenómeno.
A forma como Santana Lopes cumpriu o seu desempenho na Assembleia da República revelou a sua fragilidade política. Elas foram mais que evidentes. Mas revelaram aspectos novos na vida parlamentar e na luta partidária a não agressividade no relacionamento e a sinceridade a mostrar as suas debilidades. Aquela orfandade de maturidade e de capacidade para a função, foi exposta com uma candura quase apelativa de quem não sabe bem como foi ali parar mas com enorme gosto pessoal por ali estar.
Para os entendidos, é claro que aquilo não engana, os grandes mestres dos jogos de interesses revigorados nesta recomposição governamental estão lá, atrás dele, com ele, com uma força nunca vista. Parece haver ali um compromisso táctico Santana Lopes faz o papel do inocente, os pesos pesados dos interesses instalados fazem aquilo para que lá estão.
A oposição corre o risco de ter de jogar o jogo que mais interessa às forças governantes: concentrar na fragilidade de Santana Lopes os ataques e a agressividade, corroendo-o na sua representação de poder. Porque, aqui, em termos de sensibilidade comum e maneira de ser antiga, o efeito é bem capaz de ser contrário ao pretendido, despoletando simpatias até paternais para com o rapaz. Não tenho dúvida que a grande maioria dos portugueses preferirão a bonomia e infelicidade de Santana Lopes à radicalidade gritada da denúncia martelada. E excessos de agressividade e de tentativas de meter Santana Lopes no ridículo, exercidas por líderes alternativos (para mais, com credibilidades em baixo), poderá levar muitos a penderem para uma atitude de
defesa do Primeiro Ministro, bastando que ele saiba gerir convenientemente a
vitimização e a denúncia dos excessos. No meio das suas muitas dificuldades, nestes aspectos, Santana Lopes já demonstrou que se mexe como peixe na água.
O primeiro sinal será dado pelas próximas sondagens. Veremos se elas trazem surpresas ou não. E se se confirma a facilidade que alguns anteviam na capacidade de lidar com o populismo, desmontando-o. Ou seja, se a deslocação do político para o afectivo, é ou não um complicadíssimo problema da democracia.
Tanto que gostava que estivesse rotundamente enganado.
Quarta-feira, 28 de Julho de 2004

Este
post no Apócrifo sobre o bravo Louçã. Assino por baixo. Porque também não é por
ali que vamos lá.
Tens mesmo a certeza de que já passou o período da "tanga"? E como vamos mostrar a nossa beleza?

Outra forma, mais sofisticada e ainda mais vernácula, de fruir o prazer das praias africanas.
(dedicada, com amizade, à estimada
Gotinha)

Por vezes, o vernáculo ajuda a comunicar. De forma incisiva e eficaz. Por exemplo, como mensagem de conservação ambiental e preservação da saúde pública e de partilha civilizada de espaços colectivos.
(imagem surripiada ao
Orlando que a atribui a uma praia angolana)
Terça-feira, 27 de Julho de 2004

O
Carlos Martins diz que a senhora da imagem é afegã. Não sei se o é mesmo ou apenas aparenta sê-lo. Mas eu vou pela ideia feita de que pouco interessa a pátria aqui para o caso. A beleza não é universal, como bem dizem os entendidos? Dizendo por outras palavras, se o Afeganistão está bem longe, para ter gosto em ver este bonito rosto não é preciso sairmos do sítio onde estamos.
Depois, e o Carlos também o explica, os
tallibans, com a mania de mandarem as donas taparem o rosto, esquecem que o tecido, qualquer tecido, não estica e há-de faltar em qualquer parte.
Pois, beleza e teologia, eis um excelente tema para se opinar. Quem lhe pega?

No quadro de apagada tristeza em que se viu o PS, depois da nefanda obra de descaracterização processada pelo
guterrismo, a preparação do seu Congresso e as corridas para o Secretariado Geral, são um espectáculo deprimente.
Os
socranetes contam as espingardas aparelhistas e encostam-se ao
centrão. São os restos
guterristas a calçarem as pantufas, direitos aos sofás de um poder que julgam cair-lhes no colo. Limitam-se ao não ambicioso projecto de serem
santanetes com
preocupações sociais. Propõem uma espécie de alternância que pouco mais seja que mudança de penteados.
João Soares faz o seu número dinástico. È a sua tragédia. Será sempre, politicamente, um pai em versão pobrezinha.
A
esquerda PS andou às voltas e meias voltas. Mexeu-se é verdade. Reuniu também. Unificou até plurais tendências e clubes. Mas partiu dos cacos do
hara-kiri emocional de Ferro que transformara a
sacristia guterrista num
clube de amigos de Alex, incapazes de passarem da moral para a política. Não aprendeu nada de nada. De mão em mão, de reunião em reunião, acabaram por cair debaixo das barbas de um trovador emocional e apelar-lhe ao sacrifício da locução das trombetas do protesto e da regeneração. Manuel Alegre já disse que só concorre a líder, a governação será com outro. Por outras palavras, basta-lhes que Sócrates não ganhe por unanimidade e aclamação.
Parece que todos, no PS, se resignaram ao triunfo do
aparelho. É assim que querem, é assim que será. A orquestra, triste orquestra, está pronta para a função.
Santana é o que é. Mas ninguém pode negar que é homem que nasceu com a estrelinha da sorte.
Que raiva!

1) Numa nota datada de 4 de Março de 1959, foi assim que a PIDE escreveu sobre um apreciado músico recentemente falecido:
Carlos Paredes, escriturário dos Hospitais Civis de Lisboa, membro do chamado partido comunista português com o pseudónimo de Franco, desde o princípio de 1957. Foi aliciado pelo co-arguido José Olaio Valente. Fazia parte da organização secreta comunista existente naqueles Hospitais e sob o controle daquele co-arguido.(transcrita em
Estudos Sobre Comunismo)
2) Carlos Paredes foi torturado pela PIDE, não falou perante os carrascos, esteve preso vários meses e foi expulso da função pública. Tornou-se
delegado de informação médica para ganhar o sustento. Só vários anos após o regresso da democracia, passou a viver da música e apenas para a música.
3) A democracia concedeu-lhe a honra de dia de luto nacional. Foi justo, acho eu que até não valorizo excessivamente estas coisas de Estado.
4) Recordar, a propósito do dia de luto nacional pela morte de Carlos Paredes, outras falhas e omissões, é, no meu entender, atirar ao corpo sem vida de Carlos Paredes uma nova bofetada a somar a tantas que ele sofreu em vida e que não mereceu. Pior se vierem com a história
sexista da diferenciação de tratamento dado a este
homem comparativamente com omissões graves para com duas
mulheres ilustres também recentemente falecidas (Sophia e Pintasilgo). Carlos Paredes foi um homem dos sons e da liberdade. Sons para todas as almas abertas. Liberdade para todos, mais para os outros e para as outras que para si próprio. As falhas de respeito e de consideração de Estado para com Sophia e para com Pintasilgo, podiam e deviam ter sido protestadas nas alturas próprias. Atirá-las para o ar na altura em que pouparam Paredes a uma injustiça póstuma parece-me, no mínimo, uma ofensa desnecessária. Embora agora ele já não se deva ralar grande coisa. Nem Sophia. Nem Pintasilgo.