Domingo, 29 de Fevereiro de 2004
Luísa Araújo, da comissão política, frisou que o objectivo do PCP é eleger pelo menos três deputados para o Parlamento Europeu, mais um que actualmente, e alertou para a necessidade de explicar «onde se deve votar».
«É preciso repetir, repetir, repetir que se vota na foice e no martelo com o girassol ao lado», disse.
Embora não percebendo o papel do girassol, eu repito, repito, repito. Que não seja por causa disso que lhe vá faltar o terceiro deputado.
Sábado, 28 de Fevereiro de 2004
Sempre ouvi dizer que cada um é p'ró que nasce. Nesta linha, acho que benfiquista nasceu para sofrer. Com alguns intervalos, já se vê. Estou-me a lembrar dos brilharetes europeus de outrora. E da grande montra de troféus que pode ser vista e revista no espaço da Luz. Esse mesmo, o do glorioso. Caramba! É preciso dizer tudo? É claro que me refiro ao Complexo Desportivo da Luz. Muito mais que um estádio. Quase um símbolo. De uma nação, se quisermos colocar aqui uma pitada de exagero que nem nos fica mal. Essa bandeira vai regressar aos grandes escaparates onde o brilho é intenso e as vitórias alegram os corações. Digo eu, claro. Mas com convicção. Sem fanatismos. Desculpem qualquer coisinha mas a fé é inabalável e a esperança, apesar de ser verde, ao que dizem (sorriso), volta a morar numa das margens da Segunda Circular. Um abraço.
(texto enviado pelo meu blogamigo António Dias)
Confesso o meu culto de mistério para com as Irmãs da Caridade. Não sei porquê (ou se calhar sei bem demais) acho-as, na maior parte dos casos, atractivos entes de sensualidade contida e apetitosa.
Respeito-lhes a opção e a missão. Embora admita que, em alguns (ou muitos?) casos se tratam de mulheres desperdiçadas ou constrangidas.
Não sendo religioso, gosto delas. Sobretudo pela força tremenda das suas fragilidades. E porque a renúncia me merece o maior respeito.
Não é fácil captar o mistério da opção de se ser Freira. Se calhar fala a costela barreirense, mas eu entendo que Mestre Augusto Cabrita as viu como poucos.
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2004
Foto do Mestre Augusto Cabrita
Quinta-feira, 26 de Fevereiro de 2004
É natural. Julgo mesmo que acontece a todos. Rapidamente perdemos a memória dos primeiros tempos da infância. Dessa fase, ficará um ou outro flash mas terá de ser muito marcante para resistir à erosão do tempo. Num breve exercício, qual a idade mais recuada em que nos recordamos de nós próprios? Talvez a fase do início escolar e mesmo assim um ou outro breve episódio.
Pouco ou nada me lembro dos meus primeiros anos de vida. Por vezes dava comigo a olhar as fotografias guardadas de quando era muito pequeno e perguntava-me: mas este puto sou (fui) eu? E nunca me conseguia rever na personagem retratada.
Entre as fotografias que me guardaram de quando era mais catraio, havia uma (não sei onde pára) que me despertava especial curiosidade. Teria os meus quatro anos. O ambiente era campestre, tinha uma flor na mão e usava um chapéu de palha para me proteger do sol. O meu riso foi aberto para o fotógrafo e devia ser por cauda da novidade porque não me lembro de outra fotografia em que estivesse tão risonho.
Mirei e remirei essa fotografia vezes sem conta. Achei sempre que tinha ficado muito bem e que nunca tinha voltado a ser tão bonito. Melhor, ficou cá para mim a certeza de que, na altura da fotografia, foi a única vez em que a beleza me foi generosa.
Entretanto, a minha atracção por aquela fotografia tinha ainda qualquer coisa de misterioso que me prendia a ela. Durante anos, volta e meia, vasculhava no albúm familiar à procura dela. Tornou-se quase uma obsessão. Um dia, teria os meus catorze anos, percebi num instante o que me levava a perscrutar o raio da foto. Desvendei o raio do mistério. É que a fotografia estava excelente mas
o fotógrafo tinha-me cortado os pés. Não entendi como é que estando tão bonito, o fotógrafo (e meu tio) tinha feito aquele enquadramento desajeitado e logo ele que se ufanava de ser artista na arte. Resolvi exprimir a minha indignação e lavrei o meu protesto verbal. Mas o artista tinha as suas razões. O meu tio explicou-me que me enquadrara sem pés porque eu estava descalço por ainda não ter ganho estatuto social para calçar sapatos ou chinelos que fosse. Percebi a boa intenção mas achei mal que a vergonha (do fotógrafo, não a minha) tivesse impedido que a melhor de todas as minhas fotografias me mostrasse incompleto.
Desde que o mistério da tal fotografia foi desvendado, fiquei cá para mim com a ideia de que sou um tipo com azar: na única vez em que fui bonito, cortaram-me os pés por não haver dinheiro para comprar um par de sapatos!
Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2004
Soube da notícia pelo
Condutor da Caravana:
"O autarca comunista José António Canelas, de 51 anos, um dos militares do 25 de Abril de 1974, morreu terça-feira vítima de problemas cardíacos. Actualmente desempenhava as funções de vereador em regime de permanência na Câmara Municipal de Mora (CDU), distrito de Évora, onde também pertencia à comissão concelhia do PCP.
José António Canelas foi um dos militares de Abril de 1974, tendo integrado a coluna da Escola Prática de Cavalaria comandada por Salgueiro Maia."
Aqui ficam também as minhas condolências.
A Unesco atribuiu o Prémio Mundial da Liberdade de Imprensa ao jornalista (e poeta) cubano Raul Rivero que foi jornalista na Prensa Latina até 1988, optando então pelo jornalismo independente.
Em 2003 foi condenado a vinte anos de prisão por "atentado contra a independência ou a integridade do estado". Continua sob prisão e encontra-se doente.
O Prémio da Unesco tem o nome de Guillermo Cano, jornalista colombiano assassinado por denunciar as actividades dos barões da droga. O director-geral da Unesco, Koichiro Matsuura, afirmou "estou muito inquieto quanto às condições de detenção de Raul Rivero".
Aos defensores das liberdades, incluindo os que as querem amplas, o que se espera para exigir de Fidel Castro a libertação imediata de Raul Rivero?
O mundo é outro. A sociedade muda. As pessoas pensam diferente. Já não existe União Soviética.
Não há renovação que lhe valha. Sabe que se mudar acaba mais depressa que ficar na mesma.
Solução: Girar sobre si próprio. Sempre com o mesmo eixo.
Ah grande e saudoso Zeca. A falta que tu fazes a este país em estado de merda. Mas deixa que te diga, eu sei que ali está o rio. Como não podia saber? Acredita, eu sei mais uns tantos. Como tu sabias.
Ali está o rio
Dois homens na margem estão
Se um dá um passo o outro hesita
Será um valente? O outro não?
Bom negócio faz um deles
Tem o triunfo na mão
Do outro lado do rio
Só um come o fruto, o outro não
Ao outro passa o p'rigo
Novos castigos virão
Se ambos venceram o rio
Só um tudo ganha, o outro não
Na margem já conquistada
Só um venceu a valer
Perdeu o outro a saúde
Mas nada ganhou pra viver
Quem diz "nós" saiba ver bem
Se diz a verdade ou não
Ambos vencemos o rio
A mim quem me vence é o patrão
Terça-feira, 24 de Fevereiro de 2004
Não engraço com o Carnaval. Pronto. Quando chega o Carnaval procuro desaparecer para só aparecer à quarta-feira. Porque me custam todas as mudanças bruscas de identidade.
Sou democrata. Pronto. Cada um é como cada qual.
Não engraço com o Carnaval. Pronto. Desapareci. Foi uma beleza. Fugi com a minha amada e fomos plantar flores.
Sou democrata. Pronto. E imagino assim as minhas blogamigas
Cathy,
Lualil e
Deméter. Os meus sinceros desejos que se tenham divertido. Muito.
Segunda-feira, 23 de Fevereiro de 2004
("praça da jorna" de trabalhadores imigrantes em Lisboa)
Dá que pensar o relatório do Conselho da Europa e que apresenta indicadores sobre a evolução da população em Portugal:
- Em 2050, seremos menos um milhão de portugueses.
- Haverá, também em 2050, 2,5 idosos por cada jovem.
- Em 2002, o crescimento da população foi de 0,75% (os imigrantes contribuíram com 0,68% e os nacionais com apenas 0,08%).
- Em 2002, havia 238.746 estrangeiros a viver em Portugal (mais 14.770 que em 2001), correspondendo a 2,3% da população total.
Tendemos pois a transformar-nos num país cada vez mais habitado por velhos e por estrangeiros.
A relação idosos/jovens deve-se ao aumento do horizonte de vida e à baixa natalidade. Se o primeiro factor é positivo, a que se deve o segundo? O factor de falta de confiança no futuro não terá influência?
Quanto ao peso crescente do peso de estrangeiros a viver em Portugal, ele deve-se à fuga de economias deprimidas (África, Brasil e Europa de Leste). Uma cultura ainda arreigada de povo de emigrantes estará preparada para adoptar pacificamente uma situação de passagem a país de imigrantes?
Não tenho respostas sobre as questões levantadas. Tenho dúvidas e preocupações. Certeza só uma: não devemos passar-lhes ao lado. A menos que se queira deixar andar para a malta fixe vir a ter bons pretextos para organizar brutas manifs contra o racismo, a xenofobia e a exclusão social.
Serzedelo falou como entendido e foi taxativo:
Os estudos sobre homoparentalidade afirmam que as crianças desses pais crescem bem, com todo o amor e carinho, são estatisticamente tão heterossexuais como os filhos de pessoas heterossexuais, e têm até a vantagem de construírem modelos de masculino e feminino e de união familiar mais ricos e diversos do que as crianças que convivem só com famílias heterossexuais.
Está-se mesmo a ver que os que discordaram desta homilia serão, para o líder gay, homofóbicos sem direito a voto na matéria.
Eu não sou homofóbico, mas discordo. Porque acho que a tirada de Serzeledo é uma patranha prosélita de corporativismo dos elitistas da diferença.
Mas confesso: Assumo que sou serzedelofóbico. Prefiro Luis Villas-Boas.
Pois é. Empregados tem. Produtos também. Faltam é os clientes.
Imagem gentilmente enviada pela minha blogamiga
Deméter.
Domingo, 22 de Fevereiro de 2004
Adorei a última ilustração do tema que foi feita pelo
Blog do Alex. Simplesmente deliciosa. Agradeço ao Alex a paciência e a pesquisa que tem andado a fazer para dar continuidade a uma das minhas angústias expressas num post atrasado. Abraço.
Sábado, 21 de Fevereiro de 2004
Somos um povo de extremos.
Abunda quem trate os vivos como calha mas chore baba e ranho quando eles morrem.
Ainda se cospe para o chão mas muitos se incomodam se alguém se ri.
Há quem se choque com um beijo entre namorados mas desculpe uma ida às putas.
Andámos a explorar africanos durante séculos mas grita-se que a descolonização foi um crime.
Há quem assine um abaixo-assinado a favor do aborto e faça festa à porta do tribunal porque um juiz absolveu por falta de provas.
No Porto, são mais os que celebram Mourinho que Siza Vieira.
Em Lisboa, um adolescente retardado ameaça ser candidato a Presidente da República, enquanto tenta deitar abaixo a estátua do Marquês, mas há quem diga que ele fala bem e com graça.
Não gramamos os espanhóis mas há quem defenda que Portugal devia ser uma província de Espanha.
Gostamos dos brasileiros e das brasileiras mas há quem defenda que eles e elas deviam voltar para o Brasil.
Embirra-se com o Alberto João Jardim mas há quem ache imensa graça à Odete Santos.
Somos pelas liberdades mas há quem diga que em Cuba há democracia.
Acha-se Louçã como o político mais inteligente mas não se quer o indivíduo no governo.
Compram-se roupas aos ciganos mas não se querem os seus filhos nas escolas das nossas crianças.
Sabemos que estamos na cauda da Europa mas temos cá o Euro 2004.
Somos um povo plural.