Estamos agora entendidos sobre o absurdo a que chegou o contorcionismo da causa do NÃO pela boca desbocada de Marques Mendes (que deslindou uma das mais gritantes contradições argumentativas dos da sua causa):
"Há um certo consenso na sociedade portuguesa: as pessoas não querem o aborto livre, mas também não querem que as mulheres possam ir para a cadeia se forem forçadas a fazê-lo", afirmou o líder social-democrata, frisando que a descriminalização também é aceite por muitos membros da plataforma do "não".
Além do absurdo jurídico-penal de termos a figura de um crime isento automaticamente de castigo, haveria liberalização objectiva do acto de abortar até final da gravidez porque passaria a tratar-se, em qualquer altura, de um “crime teórico” sem consequências. E outra diferença de monta entre as consequências do SIM e do NÃO, além da existência ou inexistência da “barreira das dez semanas”, seria, para a mulher que abortasse, ter de fazê-lo clandestinamente ou no estrangeiro (dado que o SNS não poderia colaborar na efectivação de um “crime” mesmo que “teórico”) e o apoio médico-hospitalar a prestar a mulheres com complicações pós-abortivas o seria para com uma “paciente-criminosa”.
Além do mais, sabendo-se da situação de forte inferioridade numérica em que se encontra o grupo de deputados defensores do NÃO, o coelho tirado da cartola por Marques Mendes precisaria, para ser viável, que os deputados adeptos do SIM servissem a estratégia demagógico-legislativa da mal amanhada causa contrária. O que demonstra que, em desespero de causa, os adeptos do NÃO já andam a disparar tiros de artifício para o ar, brincando com coisas sérias.
Isto não é respeito pela vida, nem coerência, nem coisa alguma com o mínimo de decência. Chama-se sadismo sócio-legislativo. Que é o resultado natural de tanta hipocrisia acumulada.
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