Num novo documento repescado no Passado/Presente dos autos de proibição de livros pela Censura do Estado Novo, de que restam uns admiradores de votos em concursos televisivos, parece-me uma excelente metáfora à forma como a mulher é considerada numa trincheira do referendo em campanha.
O relatório de proibição, assinado por um Capitão com avença de leitor-censor e datado de 1967, trata de um livro com tradução e edição brasileira, enviado pelos CTT (o que demonstra como os Correios no tempo do salazarismo também desempenhavam função de vigilância e controlo) para apreciação da Censura. O nome da obra chama-se “A MULHER” e mereceu este despacho clarividente do Capitão-Censor Borges Ferreira:
“É um livro científico, que todas as mulheres deviam ler, mas, para isso, devia ser tirado o capítulo XXXVII. É este capítulo que, a meu ver, estraga o livro e o torna impróprio de entrar nas nossas casas. Sou, portanto, de parecer, salvo melhor opinião, que o livro deve ser proibido de circular.”
Ficamos sem saber o que constaria do tal capítulo XXXVII que “estragou” o livro. Mas será necessário ter muita imaginação para supor que matéria trataria? O que não deixa de nos fazer pensar na similitude no que hoje se ouve e se traduz do essencial da propaganda do NÃO e que podia ser dito assim: “ As mulheres são uma maravilha e fonte de vida, desde que não se estraguem a usar o capítulo XXXVII. Se o fizerem, proíbam-se, por serem impróprias de entrarem em nossas casas, devendo ser entregues ao Código Penal”.
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