Há indubitavelmente um benefício atribuível ao contributo de uma parte qualificada do activismo pelo NÃO. Falo da chamada de atenção para a necessidade do alargamento da reflexão sobre o problema do respeito pela vida e da problemática do aborto e da sua prevenção. Ou seja, uma maior responsabilização pela gravidez. E o consequente combate à banalização da decisão de interromper a gravidez. Este contributo de parte do NÃO tem o mérito de contrabalançar posições clássicas e radicais historicamente entrincheiras no campo tradicional do SIM e que integravam o aborto no quadro de uma opção liberal arbitrariamente tomada pela grávida, justificando-se como mero património da caminhada da mulher para a “liberdade feminina”, liberta de qualquer ónus de responsabilização pelo fim de uma forma de vida (nunca aquilo que Lídia Jorge, com a maior infelicidade, chamou de “coisa humana”). Em súmula, parte da campanha do NÃO trouxe um ponto de contenção aos excessos irresponsáveis do esquerdismo pró-abortivo e mobiliza vontades para que o planeamento familiar e a gravidez ganhem mais atenção e melhor acompanhamento.
Naturalmente muitas destas posições no NÃO nem vão além do eleitoralismo nem representam mais que uma encenação instrumental de mascaramento das reais motivações e inspirações, servindo de cortina de fumo a propósitos impositivos onde não cabe nem a contracepção, nem qualquer planeamento familiar que não os dos “métodos naturais”, em que o culto da castidade é a bússola única da sexualidade, em que a mulher continua a ser reduzida à figura de reprodutiva. Suponho até que muitas destas mobilizações de energias subitamente disparadas para melhorar a gravidez, tornando-a mais responsável e melhor acompanhada, se esfumariam (e se esfumarão) no dia seguinte à data do referendo. Sabendo-se que todas essas boas vontades de ajuda e assistência se podem, e devem, praticar e alargar caso vença o SIM. Até com a vantagem enorme de ser feita perante adolescentes e mulheres não contrafeitas nem pressionadas pelo cutelo do Código Penal, portanto com a responsabilidade acrescida da liberdade.
Mal de quem não aprende com os contrários. Assim, que na feira desmontada após o referendo, não se percam os benefícios cívicos recolhidos em alguma teoria argumentativa do NÃO. Calando-se de vez o histerismo exibicionista do esquerdismo pseudo-libertino como afirmação da “mulher-caviar” com propriedade absoluta sobre a barriga quando grávida.
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