Os tractores estão aí. Em marcha.
A questão agrária volta à ordem do dia. Lá teria de ser. Por muito que daí distraídas tenham estado as muitas gentes das urbes litorais. E mesmo querendo não se mata nem muda de uma assentada este país ruralizado
Outra vez, os tractores estão aí. Em marcha.
Agora não são os conduzidos pelos tisnados proletários do pão que o diabo amassou e lhes negou, devotos de Santa Catarina Eufémia e São Álvaro, defendendo com os punhos mal fechados pela carga de artrites a terra a quem a trabalha. Para esses já só resta uma ou outra missa de trigésimo ano dedicado a São Jerónimo, um santo de up-grading do new-look do populismo, e antes que as lembranças de lutas passadas não faleçam em votos, em autarquias e em comícios.
Outra vez, os tractores estão em marcha.
Por sinal, vêm da mesma região dos velhos e reformados famintos de pão e de terra, a quem mataram a utopia da redenção e o controle bem controlado dos senhoritos funcionários na profissão de plantarem revoluções porque tinham uma foice a decorar a bandeira rubra. Mas são diferentes. Incluindo os senhoritos. Esta é a segunda ou terceira geração paridas pelos velhos senhoritos agrários tudo mandantes, os da GNR e Pide à mão de telefonar, das fortunas ociosas estoiradas na jogatana e nas putas à conta da cortiça e do trigo protegido, os revanchistas de outras marchas de tractores e em que se borraram no susto há tanto tempo exorcizado. Os agrários mais do subsídio e da PAC que do lavrar, semear e competir. Os que quando chove ou seca, ou nem chove nem seca, metem papel para engordar conta de subsídio.
Têm um ar mais moderno e despachados estes outros tractores em marcha.
Pudera. Não são os feios e fortes de outros tempos oferecidos pelos camaradas búlgaros, polacos e soviéticos e que arrastavam “galeras” com rostos e punhos fechados controlados pelos senhoritos funcionários a justificarem a bandeira rubra e seus enfeites. Estes são tractores subsidiados marchando com gasóleo subsidiado e ociosos de culturas não feitas e por isso subsidiadas. Lustrando os novos-velhos senhoritos, mais senhoriais, os da CAP e da PAC, querendo novo ministro. Um ministro que não seja da agricultura mas dos subsídios. Para honrarem a memória dos avôs das jogatanas e das putas. Revolucionários também, pois claro. Um senhorito é um senhorito.
Tractores são tractores, agora em marcha e a lavrar caminhos de urbes.
Para terem um ministro que lhes vá no jeito da sementeira bancária. Por isso vêm às urbes. Onde está a banca, terra em que da semente sempre se colhe, faça chuva, vento, sol ou seca.
Não repararam? Os tractores estão aí. Em marcha.
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