O perdão real de Isabel II a Alan Turing não passa de uma demonstração de hipocrisia monárquica que só não surpreende de todo se tivermos em conta que provem de uma das mais pronunciadamente decadentes famílias reais. De facto, já bem entrados no século XXI, vir “perdoar” a pena aplicada a Turing em 1952 pelo “crime de homossexualidade” (cometido, por consentimento mútuo, com um outro adulto), o qual, cumulativamente, se submeteu a castração química para evitar a prisão, é uma indignidade acrescentada à monstruosidade que representou a repressão da homossexualidade na Grã Bretanha durante o século XX e que vitimou mais de 50.000 homens, criminalizados devido à sua orientação sexual ser divergente da maioria e consagrada como única. Mas, para além do farisaísmo do acto de se “perdoar” aquilo que nunca devia ser cometido, em vez do requerido como justo e que seria um pedido de desculpas a acompanhar a anulação à posteriori do processo judicial conexo, acontece que este “perdão” perante a punição dos homossexuais britânicos foi efectuada apenas para com Turing (uma celebridade, um génio, um herói) deixando-se as outras dezenas de milhares de homossexuais punidos pelas mesmas razões a permanecerem na memória da vergonha do castigo injusto. Ou seja, dificilmente se imagina um outro perdão real tão selectivamente “aristocrático”.
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